ONG detecta pesticidas em produtos da Coca e Pepsi na Índia

Três anos após revelar a presença de resíduos de pesticidas em refrigerantes na Índia, a ONG Centre for Science and Environment (CSE) repetiu os estudos e ratificou a denúncia. Ao testar, neste ano, 57 amostras de 11 marcas de produtos da Coca-Cola e da PepsiCo, de indústrias de 12 estados indianos, a CSE identificou que todas as amostras continham resíduos de três a cinco diferentes tipos de pesticidas.

Três anos depois de revelar a presença de resíduos de pesticidas em refrigerantes na Índia, a organização não-governamental Centre for Science and Environment (CSE) repetiu os estudos e ratificou a denúncia. A CSE divulgou testes feitos este ano com 57 amostras de 11 marcas de produtos da Coca-Cola e PepsiCo, de indústrias situadas em 12 estados indianos. Todas as amostras continham resíduos de três a cinco diferentes tipos de pesticidas. Em média, o nível de resíduos era 24 vezes superior ao estabelecido como “normal” pelo Bureau of Indian Standards (BIS), órgão de padronização e normatização do país.

Um dos problemas é que a padronização do BIS para refrigerantes, embora estabelecida, ainda não foi oficialmente implementada no país e, por isso, não precisa ser formalmente respeitada. A CSE afirma ter realizado esses testes novamente para mostrar que, a despeito da denúncia de 2003, nada mudou quanto ao assunto no país – principalmente por omissão dos órgãos competentes, como o BIS e o Ministério da Saúde. O alvo da pequena, porém influente ONG, não é a Coca ou a Pepsi, mas sim o governo e sua falha em proteger a saúde pública, segundo avaliação da revista The Economist.

O estudo levou o governo do Estado de Kerala, no sul da Índia, a proibir a produção e a comercialização dos produtos das duas empresas – fechando um mercado potencial de 30 milhões de clientes. Outros estados impuseram sanções parciais, proibindo a venda de refrigerantes da Coca e da Pepsi em escolas, universidades, hospitais e estabelecimentos públicos.

Em meio a tudo isso, o subsecretário de Comércio Exterior dos EUA, Franklin Lavin, enviou uma carta ao secretário de comércio da Índia, expressando a confiança de que o governo da Índia trataria as companhias de cola de maneira justa. Desta forma, deixou subentendido o recado dos norte-americanos, que aparentemente estão prontos para retaliações. Cedendo à pressão, o Ministro da Saúde da Índia divulgou o resultado de novas análises, as quais não encontraram resíduos de pesticidas nas duas garrafas de refrigerantes testadas. A CSE desqualificou fortemente os testes “oficiais” realizados numa amostra tão pequena.

As multinacionais processaram o Estado de Kerala e pediram à Justiça que decretasse a inconstitucionalidade do embargo, que foi suspenso no dia 22 de setembro, quando a Corte indiana atendeu ao pedido das companhias. Nos outros estados, a restrição às vendas de refrigerantes continua vigorando. Especula-se que, agora, o Estado de Kerala processará a Coca e a Pepsi por danos à saúde pública.

Além da briga em torno dos pesticidas, há anos fábricas da Coca-Cola são acusadas de serem responsáveis pela escassez e deterioração da qualidade da água no local onde estão instaladas. Inclusive, há no Estado de Kerala pelo menos uma unidade proibida de operar por este motivo. É uma batalha que parece longe de terminar.

A Coca e a Pepsi, que juntas detêm 95% do mercado indiano de refrigerantes, encamparam medidas para amenizar os danos à imagem provocados pelas denúncias e embates com a CSE, por sua vez apoiada por outras organizações que engrossaram as críticas às multinacionais. Por exemplo, as multinacionais encomendaram análises de seus produtos a renomados institutos de pesquisa – como fez a Coca ao Central Science Laboratory, do Reino Unido -, se reuniram com representantes do governo indiano para longas conversas e realizaram coletivas para a imprensa, além de gastarem muito com anúncios publicitários em jornais e na TV. Esses atestavam a segurança dos refrigerantes para a saúde humana e indicavam que o nível de pesticidas em seus produtos é inferior ao permitido, sendo menor que os encontrados em outros alimentos, como chás, frutas e produtos lácteos. Mesmo assim, as vendas caíram no mínimo 10% imediatamente após a implementação das sanções.

Sobre os pesticidas, a Coca-Cola India afirma em nota que os refrigerantes são produzidos no país com o mesmo nível de pureza que a água engarrafada na União Européia – critério tido globalmente como o mais exigente do mundo. A companhia informa ainda que seus processos industriais são iguais em todas as partes do globo e incluem mais de 400 testes de qualidade de materiais. A Pepsi, por sua vez, disse que obedece as exigências legais dos órgãos de saúde, tanto na Índia quanto no restante do mundo.

​_Detalhes da pesquisa

Segundo a CSE, as análises conduzidas em seus laboratórios revelaram: Um coquetel de três a seis pesticidas estava presente em todas as amostras; os níveis de Lindane (cancerígeno) eram 54 vezes maiores que o padrão BIS; em uma amostra da Coca-Cola de Kolkata, chegava a ser 140 vezes superior; os níveis de Clorpirifós (neurotoxina) eram 47 vezes superiores, chegando a 200 vezes numa amostra de Mumbai; o Heptaclor, banido na Índia, foi encontrado em 71% das amostras, em níveis quatro vezes superiores ao padrão do BIS; a quantidade média de pesticidas encontradas em todas as amostras foi de 11,85 partes por bilhão (ppb), enquanto o padrão total para refrigerantes, segundo o BIS, é de 0,5 ppb; a Pepsi-Cola continha 30 vezes mais resíduos e a Coca-Cola, 27 vezes mais, em média.

Setor automotivo busca P&D em universidades do país

Quando o assunto é P&D no setor automotivo, a novidade é a crescente procura por centros de pesquisa e universidades no Brasil por parte da indústria automotiva internacional. Isso é o que revela um projeto de pesquisa realizado no Instituto de Geociências, da Unicamp.

Quando o assunto é Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no setor automotivo, a grande novidade é a crescente procura por centros de pesquisa e universidades no Brasil por parte da indústria automotiva internacional. Isso é o que revela o projeto de pesquisa “Mapeamento de competências e parcerias em P&D em Instituições de Pesquisa: pesquisa, metodologia e aplicação”, coordenado por Ruy Quadros, do Instituto de Geociências, da Unicamp.

Segundo ele, o Brasil já é utilizado como plataforma de exportação por multinacionais da indústria automobilística, mas há alguns anos o país vem se tornando também referência em P&D na área. Várias montadoras criaram ou estão instalando no país centros de design e engenharia destinados à criação de carros que serão produzidos aqui e no exterior, além de protótipos que vão influenciar o setor nos próximos anos.

O principal objetivo do projeto realizado foi “explorar as recentes mudanças na natureza do P&D na indústria automotiva brasileira”, tendo como foco a pesquisa cooperativa entre empresas e instituições de pesquisa e o outsourcing (terceirização). A pesquisa foi encomendada pela Renault, que visa a mapear as competências de pesquisa existentes nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil. “A Renault está de olho nos países emergentes, pois temos P&D mais baratos e flexíveis”, afirma Ruy Quadros.

O projeto da Unicamp, iniciado em abril de 2004 e concluido no segundo semestre deste ano, apresentou os resultados da aplicação de um questionário respondido por 40 grupos de pesquisa em tecnologias de materiais, com trabalhos relevantes para a indústria automobilística. A partir dele criou um banco de dados com informações sobre a atividade de pesquisa tecnológica nas instituições de pesquisa brasileiras, relevantes para a indústria automobilística, partindo de 265 grupos de pesquisa.

O estudo revelou que a contratação de universidades e institutos de pesquisa para a realização de atividades de P&D e serviços tecnológicos pela indústria automotiva é maior do que se pensava e continua aumentando. Só no setor automotivo, são cerca de quatrocentos contratos. Além disso, apontou que a pesquisa contratada por essa indústria concentra-se principalmente nas áreas de polímeros e compósitos, ligas metálicas e biomateriais. Embora o número de contratos seja expressivo, o estudo sinalizou que a procura por serviços tecnológicos é maior do que por pesquisa na indústria automotiva.

Outros dados interessantes constatados dizem respeito as pesquisas no setor automotivo, que se concentram, em termos regionais, no sudeste e sul do Brasil, sendo que a primeira região detém 68% dos grupos de pesquisa envolvidos. Ao mesmo tempo, 56% dos grupos pertencem a apenas seis universidades: USP/SP-SC, UNICAMP, UNESP, UFSC, UFSCar, UFRJ, sendo quatro delas paulistas. A maioria dos grupos está ligada à engenharia e engenharia mecânica.

O trabalho observou ainda que, embora crescente, a pesquisa cooperativa com as empresas do setor automotivo é frágil em termos de continuidade e profundidade: são raros os casos de contratos contínuos e de longo prazo, a maioria dos contratos é de um a dois anos. Há, porém, casos de contratos de longo prazo, de pesquisas financiadas pelo governo, como a Pematech/VW-UNESP, que é pesquisa em biomateriais, financiada pela FINEP e Agrostahl-USP, pesquisa em ligas metálicas, apoiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.

“Não tendo centro de pesquisa, a empresa demanda trabalho da universidade, em especial, na hora de implementar coisas novas, fora do parâmetro costumeiro. Serviços tecnológicos resolvem problemas que a engenharia interna da empresa não dá conta.”, constata Ruy Quadros. Na opinião dele, essa relação entre a empresa e a universidade fortalece ainda mais a inovação: “Estamos aplicando hoje um modelo mais moderno: a inovação em rede. Nesse caso, o laboratório de pesquisa está conectado à laboratórios de outras empresas/universidades. As fontes externas para a inovação são importantes para a exploração de oportunidades tecnológicas e de mercado”, conclui o professor.

Ferramenta nacional facilita comunicação entre jogos eletrônicos em rede

Projeto em desenvolvimento no Instituo de Computação (IC) da Unicamp em conjunto com a empresa Délirus Entertainment – Tempo Soluções em Informática, denominado “Middleware para jogos eletrônicos de alto desempenho em rede”, visa facilitar a construção de jogos para diversos jogadores em rede e, assim, reduzir o custo de sua implementação.

Projeto em desenvolvimento no Instituo de Computação (IC) da Unicamp em conjunto com a empresa Délirus Entertainment – Tempo Soluções em Informática -, denominado “Middleware para jogos eletrônicos de alto desempenho em rede”, tem como objetivo facilitar a construção de jogos multiplayer (envolvendo diversos jogadores) em rede e, assim, reduzir o custo de sua implementação. Esse barateamento na produção pode impulsionar a indústria brasileira de jogos nesse mercado ainda dominado por empresas estrangeiras.

Esta Middleware é uma ferramenta de computação para o desenvolvimento de jogos eletrônicos capaz de controlar o fluxo de mensagens dos games através da verificação dos jogadores que mais se comunicam entre si. “Na mesma sala no jogo, os personagens podem trocar mensagens diretamente entre si através da Middleware, sem passar pelo servidor. E não importa que um esteja no Brasil e outro no Japão”, afirma Sérgio Jábali, diretor de tecnologia da Délirus. Independente da velocidade do processador do computador, qualquer pessoa pode participar do jogo multiplayer distribuído, pois a Middleware só usa a máquina quando a pessoa está jogando. “A ferramenta possibilitará maior rapidez aos jogos multiplayers, pois sua arquitetura permitirá que sejam destinadas aos jogadores apenas as mensagens necessárias”, diz Jábali.

Representação do Middleware
Imagem: Renzo Assano

 

Normalmente, o servidor recebe informações de todos os jogadores, processa o novo estado do jogo e em seguida envia os resultados em mensagens para todo mundo. O servidor processa o tempo todo, ocupando muito a rede. Com a melhor distribuição das mensagens pela Middleware, o servidor fica mais livre. “O jogo poderá ser processado um pouco em cada computador, de cada jogador”, diz Jábali. Assim, a Middleware possibilitará aumentar ainda mais o número de jogadores. “Num jogo de tiro, em que o gamer [jogador] tem que ser muito rápido em suas ações, como o Quake multiplayer, o limite é de 32 jogadores ao mesmo tempo. Com a Middleware e a computação distribuída, a previsão é que esse número pode chegar a 300 jogadores simultâneos”, completa.

Os problemas como desempenho do servidor, rede congestionada com alta latência -tempo que um bit demora para trafegar de um computador para outro – e a necessidade de uma banda muito larga serão contornados com a utilização da ferramenta. Segundo Jábali, a característica inovadora desta Middleware é justamente que com sua utilização, o controle de transmissão das mensagens do jogo será mais distribuído, tornando o processo mais dinâmico. “Ao invés de sobrecarregar um servidor centralizado, a Middleware partilhará o processamento do jogo multiplayer através dos computadores dos jogadores”, afirma.

De acordo com Ricardo Anido, diretor do IC/Unicamp, esta ferramenta poderá ainda ser acoplada a qualquer plataforma de jogo, facilitando e acelerando o desenvolvimento de jogos multiplayer e multiplataforma (como PC, celular e web). “Como o desenvolvimento destes jogos requer maior habilidade de design e programação e investimentos ainda mais altos do que os singleplayer – para apenas um jogador -, as pequenas empresas brasileiras encontram uma forte barreira para penetrar no mercado dos multiplayers”, diz Jábali.

Incentivo à produção nacional

Segundo Anido, outro objetivo da Middleware é gerar software livre para facilitar a construção de jogos multiplayer em rede. Sistemas pagos para produção de jogos chegam a custar centenas de milhares de dólares. Assim, a ferramenta poderá facilitar a produção dos multiplayer para as empresas nacionais, incentivando o desenvolvimento desta indústria. Fato importante se consideramos que, segundo a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), existem 55 empresas do ramo no país, sendo que 10 foram criadas nos últimos dois anos.

A primeira versão da ferramenta será focada em computadores de mesa que usam sistemas operacionais Windows, Linux e Macintosh, e vai usar uma técnica semelhante à utilizada atualmente por redes de compartilhamento de arquivos, sendo uma das poucas no mundo a fazer isso com jogos. A primeira fase do projeto já possibilitou uma melhor distribuição das mensagens nos jogos multiplayer e recebeu o apoio financeiro de R$ 100 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A iniciativa privada, através da IBM, também contribuiu com US$ 10 mil. A Universidade Federal do Mato Grosso do Sul é outra parceira do desenvolvimento da Middleware. Segundo Jábali, a ferramenta já está disponível, mas ainda não há um site oficial. Também ainda não está definido como será o acesso à ferramenta pelas empresas desenvolvedoras de jogos.

O Projeto Middleware para jogos eletrônicos de alto desempenho em rede (“Projeto Peers”)

Modalidade CT-INFO FINEP

Coordenador Ricardo Anido – IC/Unicamp

Investimento R$ 100.000,00 (Finep) e US$ 10.000,00 (IBM).