Ciência e Tecnologia nas ruas de Caracas

No Fórum Social Mundial (FSM) Policêntrico, na Venezuela – Caracas, uma exposição itinerante de ciência e tecnologia atrai curiosos e, de uma maneira divertida, explica coisas comuns do cotidiano envolvendo conceitos científicos e tecnológicos. A exposição está na avenida Bolívar, local onde estão acontecendo as principais manifestações culturais e artísticas do FSM 2006, que começou na terça-feira, dia 24, e vai até e domingo, dia 29.

No Fórum Social Mundial (FSM) Policêntrico, na Venezuela – Caracas, uma exposição itinerante de ciência e tecnologia atrai curiosos e, de uma maneira divertida, explica coisas comuns do cotidiano envolvendo conceitos científicos e tecnológicos. A exposição está na avenida Bolívar, local onde estão acontecendo as principais manifestações culturais e artísticas do FSM 2006, que começou na terça-feira, dia 24, e vai até e domingo, dia 29.

Exposição de C&T em Caracas
Foto: André Gardini

Em um microônibus, com capacidade para 20 pessoas por vez, painéis com textos, imagens e vídeos contam a história de coisas comuns que levaram milhares de anos para chegar em nossas casas e resultaram do esforço de diferentes povos. Conforme explicações do Ministério de Ciência e Tecnologia Venezuelano, responsável pela exposição, o objetivo é mostrar que a ciência não está apenas nos centros de pesquisas e laboratórios, mas também em como fazer uma arepa (expressão da culinária venezuelana), levantar uma parede ou encher o tanque do carro de gasolina. A mostra, com o nome de “Ciência e Cotidiano” ficará até o final das atividades do FSM 2006.

Um dos painéis internos, “Gasolina em Movimento”, explica através de imagens e textos como a combustão interna se processa dentro do motor de um carro, e como a energia química se transforma em energia mecânica através do princípio de quatro tempos. Um motor de quatro tempos tem um ciclo composto dos tempos de admissão, compressão, combustão ou explosão e expulsão ou escapamento dos gases. Há outros painéis mostrando curiosidades científicas: “Como funciona a internet”; “Botando a mão na massa”; e um sobre o principal recurso mineral da Venezuela, o petróleo.

A Venezuela produziu em 2005, 3.3 milhões de barris dia. A estimativa da Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), quinta maior produtora mundial, é que sua produção ultrapasse os 3.6 e chegue a 5 milhões de barris dia até 2009. Se, por um lado, surgiram novos problemas geopolíticos para a Venezuela e aumentaram as tensões na relação bilateral com os Estados Unidos, por outro, o Produto Interno Bruto (PIB) venezuelano aumentou 29.6% em 2004.

Continuando a viagem pelo centro itinerante, em um dos painéis internos com o título “Venezuela: país petrolífero”, alguns mapas mostram as principais bacias petrolíferas e as refinarias da Venezuela. Já na saída da exposição, alguns painéis apontam a importância do petróleo em nossas vidas, não apenas como matéria prima da gasolina, mas também sua utilização pela indústria petroquímica, que transforma os derivados do petróleo em polímeros – as fibras sintéticas, plásticos, embalagens de alimentos, flores artificiais, etc – e não polímeros – os fertilizantes, solventes, detergentes, aspirinas, anestésicos, entre outros.

Leia mais:

Portal del Ministerio de Ciencia y Tecnología

Petróleos de Venezuela SA (PDVSA)

Países da Opep vivem constantes instabilidades

Ameaças ao patrimônio da humanidade na China

Mais de 50 mil Budas esculpidos nas Grutas de Yungang, na China, estão sendo corroídos pela ação de pó e dióxido sulfúrico vindos das indústrias e minas de carvão da região. Os especialistas associam a má conservação à força de intempéries como sol, vento e chuva, sendo necessárias medidas de emergência para evitar a deformação. “O governo chinês não é democrático e, na questão da preservação do patrimônio, está mais preocupado com os vestígios do império chinês do que com o budismo indiano, apesar de a maioria da população se declarar budista.”, diz Pedro Paulo Funari, arqueólogo e professor da Unicamp.

Mais de 50 mil Budas esculpidos nas Grutas de Yungang, na China, estão sendo corroídos pela ação de pó e dióxido sulfúrico vindos das indústrias e minas de carvão da região. Os especialistas associam a má conservação à força de intempéries como sol, vento e chuva, sendo necessárias medidas de emergência para evitar a deformação, de acordo com uma pesquisa divulgada na semana passada pela agência de notícias EFE. “O governo chinês não é democrático e, na questão da preservação do patrimônio, está mais preocupado com os vestígios do império chinês do que com o budismo indiano, apesar de a maioria da população se declarar budista.”, diz Pedro Paulo Funari, arqueólogo e professor da Unicamp.

As indústrias e minas de carvão na China são altamente poluentes e de acordo com Funari, dificilmente o governo chinês tomará atitudes que possam diminuir o ritmo dessas atividades para preservar os budas. Segundo ele, as minas de carvão são responsáveis por grande parte da geração de energia barata do país e absorvem a mão de obra desqualificada existente lá. Além disso, o patrimônio religioso é subordinado ao desenvolvimento econômico, e a prioridade é a melhoria de vida da população.

A poluição é uma ameaça aos objetos arqueológicos porque sua ação é gradativa e perceptível só a longo prazo, daí a importância de estudos que detectem alterações e alertem os governos para que tomem providências.

Os vestígios arqueológicos espalhados pelo mundo só são conhecidos hoje devido a práticas de conservação. Em Atenas, capital da Grécia, por exemplo, desde 2004 a legislação limita o uso dos automóveis e prioriza o transporte público para diminuir a quantidade de gases poluentes em contato com a Acrópole. Essa construção é o mais antigo e importante monumento da civilização ocidental e receb​_e mais poluição devido a sua localização no alto da cidade.

Em Yungang está o maior grupo de grutas preservado do país, tombadas pela Unesco como Patrimônio Cultural Mundial em 2001. Esse título trouxe benefícios culturais e econômicos, mas o órgão não tem poder de gerenciamento ou decisão e pode apenas sugerir ações de preservação.

Patrimônio brasileiro

No Brasil, os vestígios de valor patrimonial são considerados recentes e datam em sua maior parte do século XVIII, como as cidades coloniais mineiras, edifícios religiosos e fortalezas em grandes cidades como Salvador e no Rio de Janeiro. A responsabilidade de conservação dos locais tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é dos municípios, que nem sempre conseguem conter a intervenção da população. Nas cidades de Ouro Preto e Mariana, no interior de Minas Gerais, por exemplo, há impasses quanto à colocação de objetos contemporâneos nas casas, como antenas parabólicas, construções irregulares, bem como quanto ao livre trânsito de veículos pesados. “Ações simples como a manutenção de redes de TV a cabo em toda a cidade e o investimento em carros elétricos para transportar as cargas vindas das rodovias para abastecimento da cidade podem agradar aos dois lados”, afirma o arqueólogo da Unicamp.

Quanto às grandes cidades brasileiras, a poluição ainda não foi apontada como vilã da preservação do patrimônio. Desde 1993 vigora no país uma legislação que fixa os limites quanto à emissão de poluentes para os veículos, porém não há inspeção para os automóveis fabricados antes dessa lei. Se isso ocorresse, de acordo com Funari, os níveis de poluição cairiam (e consequentemente a futura ameaça à arquitetura também), mas 60% dos automóveis teriam que deixar de circular, o que tornaria a inspeção uma decisão politicamente inviável.

Ministério do Meio Ambiente discute preservação do Pantanal

Esta semana, organização Conservação Internacional do Brasil (CI) apresentou oficialmente o relatório sobre o desmatamento no Pantanal ao coordenador do Programa Pantanal do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Cabral, e aos representantes do Ibama. Foi cogitada a proposta de monitorar o desmatamento na maior área alagável do mundo, na qual o setor de geoprocessamento do Ibama e a CI trabalhariam em parceria. “Cabral se mostrou aberto para ações conjuntas, mas não há nada formalizado”, relata Sandro Menezes, gerente do Programa Pantanal da CI.

Esta semana, organização Conservação Internacional do Brasil (CI) apresentou oficialmente o relatório sobre o desmatamento no Pantanal ao coordenador do Programa Pantanal do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Paulo Cabral, e aos representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Foi cogitada a proposta de monitorar o desmatamento na maior área alagável do mundo, na qual o setor de geoprocessamento do Ibama e a CI trabalhariam em parceria. “Cabral se mostrou aberto para ações conjuntas, mas não há nada formalizado”, relata Sandro Menezes, gerente do Programa Pantanal da CI.

Pantanal
Até 2004, 17% da vegetação foi desmatada. Créditos: Theo Allofs/CI

Os dados levantados pela ONG apontam que a pecuária, a plantação de culturas exóticas e as carvoarias são as principais causas da destruição de 17% da cobertura vegetal desse ecossistema. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul se destacam no agronegócio brasileiro, sendo os estados com o maior rebanho bovino no país que, em 2003, somavam quase 50 milhões de cabeças de gado (aproximadamente 25% do rebanho nacional). E das quase 50 mil toneladas de soja produzidas, em 2004, o Mato Grosso, cujo governador – Blairo Maggi – tem o título de maior produtor individual de soja no mundo, contribuiu com 14 mil toneladas do grão (29% da produção brasileira).

Para o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ademar Romeiro, não há necessidade de desmatar para alcançar o desenvolvimento do agronegócio. “A agricultura ocupa apenas 16% da área agrícola do país; o que certos grupos procuram são terras férteis em territórios não ocupados”, ressalta. Ele acrescenta que “deve-se intensificar a pecuária e a agricultura na maior parte do país, menos no Pantanal”. A sugestão do economista é desenvolver apenas atividades compatíveis, como o turismo ecológico e até mesmo a agricultura extensiva, utilizando a ocupação populacional como um trunfo para proteção do Pantanal.

Lei ambiental

A própria legislação ambiental não contempla algumas características do local, o que contribui para a diminuição de áreas protegidas. Uma das brechas da legislação consiste no licenciamento para a derrubada da mata. Segundo o relatório apresentado pela CI, Estimativa de perda da área natural da Bacia do Alto Paraguai e Pantanal Brasileiro, dos 87 municípios da Bacia do Alto Paraguai (BAP), 22 que tiveram mais de 80% de suas áreas desmatadas conseguiram licença ambiental da Secretaria do Estado do Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Sema/MS) para a derrubada de vegetação nativa.

Paulo Cabral explica que, para autorizar o desmatamento, exige-se um levantamento da área da propriedade e não se leva em conta a supressão da floresta municipal. Assim, cidades que já tinham a vegetação bastante degradada conseguiram licenças, como aconteceu em Camapuã (MS). Além da preservação das matas ciliares e encostas, o Código Florestal prevê uma reserva legal mínima de 20% de mata nativa nas áreas de cerrado. Segundo Menezes, uma alternativa é aumentar a porcentagem de reserva legal. “Em conversas que temos com pecuaristas, eles receberam bem o aumento desse percentual”, afirma.

Além disso, de acordo com o coordenador do Programa Pantanal, o Código de 1965 não considerou as características dos rios pantaneiros. A lei regulamenta que os territórios que margeiam cursos de água devem ser de Áreas de Preservação Permanente, “uma interpretação a que se pode chegar é que a área de planície do Pantanal poderia ser reconhecida como área de preservação, porque fica difícil definir o curso do rio”, esclarece.

A conservação de matas ciliares da região pantaneira foi baseada em rios da região Sudeste e Sul, os quais possuem calhas profundas. No entanto, os rios sazonais da BAP – onde o Pantanal está inserido – apresentam períodos de cheias e secas, dificultando a demarcação dessa área. “Há necessidade de definir melhor o que seria uma área de preservação permanente levando em consideração as especificidades do Pantanal”, avalia.

Levantamento

Capivara
Desmatamento nas nascentes acelera destruição do bioma Créditos: Theo Allofs/CI

De acordo com o estudo, o ritmo de desmatamento anual aumentou de 1,5% (entre 1985 e 1993) aos atuais 2,3% (entre 2000 e 2004), ou seja, 45% da área da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e 17% da cobertura vegetal original do Pantanal foram destruídas. E, se ma2019ntido o ritmo de desmatamento, dentro de 45 anos a vegetação nativa do Pantanal terá desaparecido. Feito a partir das imagens de satélite do sensor Modis (Espectroradiômetro de Imageamento de Resolução Moderada, na sigla em inglês) e do levantamento de licenças ambientais, o estudo apresenta uma margem de erro de 10%.

O Pantanal é um dos biomas brasileiros menos protegidos, apesar da importância e da singularidade desse ecossistema. Atualmente, 3% da área estão protegidos por unidades de conservação de proteção integral ou reservas particulares do patrimônio natural. Neste ano, serão investidos R$ 11 milhões destinados a fortalecer essas unidades, principalmente na Serra da Bodoquena (MS) e na Chapada dos Guimarães (MT). Quantia que Mas Paulo Cabral julga não ser suficiente para alcançar a meta de preservar 10% desse território.

Antônio Carlos de Moraes, professor de geografia da Universidade de São Paulo (USP), acredita que o Pantanal preservado tem valor econômico incalculável, pela raridade, pelo banco genético, pelo atrativo para fluxos turísticos e pelos estoques de água. Para ajudar na preservação, o pesquisador também defende uma política de ordenamento do território.

Ações

Em dezembro, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, editou uma portaria para a constituição para a constituição do Conselho Gestor da Reserva da Biosfera do Pantanal, que terá por competência elaborar e monitorar o plano de ação da reserva. O documento foi assinado durante a abertura da II Conferência Nacional do Meio Ambiente. O Conselho está em fase de composição dos 30 membros e funcionará como um fórum de discussões, com a participação de setores da sociedade e do governo. A previsão é que ele comece as atividades em fevereiro, quando haverá definição do estatuto, reformulação do Programa Pantanal e avaliação ambiental estratégica.