Supercondutor pode trazer inovações para medicina e eletrônica

Cientistas do Grupo de Vidros e Cerâmicas, da Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus Ilha Solteira, desenvolveram uma fina película supercondutora chamada de filme. O material, feito de cerâmica, oferece resistência próxima a zero e pode ser utilizado em diversas áreas como a medicina e a eletrônica.

Fazer a energia elétrica chegar ao seu ponto de destino sem perdas é o objetivo do desenvolvimento dos materiais supercondutores. Cientistas do Grupo de Vidros e Cerâmicas, da Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus Ilha Solteira, deram um passo a mais nessa busca e desenvolveram uma fina película supercondutora chamada de filme. O material, feito de cerâmica, oferece resistência próxima a zero e pode ser utilizado em diversas áreas como a medicina e a eletrônica.

De acordo com o coordenador do grupo, o físico Cláudio Luiz Carvalho, para funcionar como um supercondutor, o filme precisa estar a 160°C negativos, porque em baixas temperaturas os elétrons estão mais organizados e podem se locomover livremente. “A essa temperatura as partículas não se chocam e caminham mais rapidamente”, afirma.

Um dos avanços que a pesquisa liderada por Carvalho traz em relação aos demais materiais supercondutores existentes é o tamanho do filme. “Como é muito pequeno, o filme pode ser utilizado em componentes eletrônicos e contribuir para o aumento da velocidade da transmissão de informações. Isso permite, por exemplo, a fabricação de computadores mais rápidos”, afirma.

O uso do filme na área médica também é promissor, segundo Carvalho. “Se produzidos com material supercondutor, os aparelhos de ressonância magnética poderão oferecer imagens muito mais nítidas”, afirma o pesquisador. Além disso, o material pode ajudar no desenvolvimento de dispositivos que mapeiam o cérebro com maior precisão. “Sabemos que o cérebro gera campos magnéticos muito difíceis de serem detectados e os aparelhos que podem ser desenvolvidos com o auxílio do filme supercondutor terão a capacidade detectar esses campos”, diz.

Outra inovação trazida pela pesquisa é o barateamento dos custos de produção. Segundo Carvalho, os materiais supercondutores mais conhecidos operam a 240°C negativos e precisam ser resfriados com gás hélio para atingir essa temperatura. Já o filme, que trabalha a -160°C, utiliza o nitrogênio, que é uma substância muito mais barata e é fabricada no Brasil, ao contrário do hélio.

Além do barateamento da substância utilizada como refrigerante, a equipe da Unesp desenvolveu o filme a partir de um novo processo de fabricação que reduz os custos de produção. Carvalho explica que para obter os elementos que compõem o filme, foi utilizado um processo químico seguido de um tratamento térmico adequado. “Por esse método, encontramos um meio eficiente e mais barato de obter as substâncias necessárias para a composição, ao contrário do processo utilizado antes, que era físico e necessitava de aparelhos caros para evaporar os elementos”, afirma o pesquisador.

Obstáculos

Como o filme supercondutor é feito de cerâmica, além de pouco maleável, ele se quebra facilmente. Porém a pesquisa continua para superar esses obstáculos. “Estamos contornando a situação e vamos desenvolver um filme mais maleável e que não se quebra facilmente”, diz Carvalho. Ele acredita que até o final do ano o grupo tenha uma versão final do produto que poderá ser comercializado para empresas e instituições. “Mas já estamos buscando parcerias e dispostos à integração com as indústrias, como acontece nos EUA”, diz.

Preservação de energia

O embate recente entre usineiros e governo traz à tona não só o problema do álcool como combustível, mas retoma a discussão da utilização das fontes de energia no Brasil. Evitar o desperdício de energia seria uma das formas de minimizar o problema da escassez de fontes energéticas. “Nesse ponto os supecondutores podem trazer benefícios importantes”, afirma Carvalho. O pesquisador relata que já existem nos EUA testes de rede de distribuição de eletricidade com supercondutores.

Segundo dados obtidos no site da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a atual rede de distribuição no Brasil é composta basicamente por fios de cobre, um material que esquenta quando transporta eletricidade. Essa energia transformada em calor é desperdiçada e recebe o nome de perda técnica. A estimativa da perda técnica do fio de cobre é de 20%, já no filme supercondutor esse índice é próximo a zero.

Carvalho explica que o filme desenvolvido por sua equipe é voltado para equipamentos elétricos de pequeno porte, mas com o desenvolvimento e o barateamento das técnicas poderemos ter no futuro redes de distribuição de eletricidade com supercondutores. “Isso pode evitar o desperdício de muita energia”, afirma o pesquisador.

Casos de gripe aviária em outros países trazem prejuízos para o RS

O Rio Grande do Sul, segundo maior exportador de aves do Brasil, criou um Comitê para o Enfrentamento da Pandemia de Influenza Aviária (Gripe do Frango). O diagnóstico da doença em outros países já afeta a economia da região: a produção da indústria avícola teve uma diminuição de 10 a 15%, segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

O Rio Grande do Sul está se mobilizando para combater a ameaça da gripe aviária, doença causada pelo vírus H5N1. No estado, foi criado o Comitê para o Enfrentamento da Pandemia de Influenza Aviária, que tem como um de seus objetivos elaborar um plano de combate à doença. O estado é o segundo maior exportador de aves do Brasil, e o diagnóstico da gripe aviária em outros continentes já causa reflexos na economia da região.

Para Carlos Salle, professor da faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a ameaça da doença não afeta só a indústria, mas toda a população: “devemos levar em conta que a proteína de origem avícola está acessível ao bolso das camadas mais carentes da população brasileira e sua produção viabiliza o minifúndio, diminuindo o êxodo rural e o engrossamento dos cinturões de miséria em volta dos centros urbanos.”, afirma.

“A situação está propícia para a pandemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) está estimulando os países a se prepararem. O Comitê criado no Rio Grande do Sul é intersetorial: inclui as secretarias de saúde e agricultura, faculdades de Medicina e Medicina Veterinária, além da Defesa Civil”, conta a médica Marilina Bercini, do núcleo de doenças de transmissão respiratória da Vigilância Epidemiológica do Rio Grande do Sul. O Comitê intensificará as medidas de vigilância nas fronteiras, portos e aeroportos, além de coordenar, acompanhar e avaliar as ações técnicas e de mobilização social em todo o Estado. Ele será composto por uma coordenação executiva e por quatro subcomitês: vigilância em saúde e assistência, saúde animal e ambiental, laboratório e comunicação social e educação em saúde.

O diagnóstico da doença em países da Ásia e Europa já fez a produção da indústria avícola gaúcha ter uma diminuição de 10 a 15%, segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Salle, da UFRGS, ressalta que os países importadores não devem temer a carne que vem do Brasil, porque o processo de criação e comercialização de aves é bastante diferente daquele dos países asiáticos, onde foram encontrados casos da gripe aviária. “Aqui, ao contrário de lá, as aves industriais, frangos de corte e poedeiras comerciais são criados com o menor contato possível com os seres humanos, e a população brasileira adquire o produto já industrializado e não in natura. A carne de frango e os ovos são submetidos à inspeção veterinária federal, estadual e municipal antes de serem oferecidos ao mercado”, explica o professor da UFRGS.

Vacina O Instituto Butantan, em São Paulo, já começou as pesquisas para produzir as vacinas contra o vírus H5N1. Até o final do ano, a estimativa é que o país conte com 20 mil doses. Entre julho e agosto, ela começará a ser testada em humanos.

Os sintomas da gripe aviária são: mal-estar, tosse, garganta inflamada e febre. O vírus é mortal para as aves. Até agora, foram registrados casos de contaminação entre animais e de animais para humanos, mas ainda não foi diagnosticada nenhuma mutação do vírus que permita sua transmissão entre humanos. Segundo a OMS, 184 pessoas já foram contaminadas pela doença desde 2003, sendo que 103 dessas morreram.

Maior referência da botânica brasileira se moderniza em seu centenário

Cem anos após sua publicação, está disponível na internet o mais completo inventário botânico do Brasil. Um consórcio de instituições, encabeçado pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), é responsável pela Flora Brasiliensis On-Line, versão eletrônica da obra do alemão Carl Friedrich von Martius.

Já havia desmatamento quando Von Martius conheceu o Brasil.

O inventário mais completo da flora brasileira foi feito… há 100 anos! Trata-se da Flora Brasiliensis, do médico e botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), restrita a poucos por ser preciosa e rara. A partir de hoje qualquer pessoa poderá admirar as ilustrações da obra, com o lançamento da Flora Brasiliensis On-Line durante a 8a Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), em Curitiba. A obra em formato digital será o ponto de partida para uma atualização e ampliação do original. Os avanços resultantes no conhecimento sobre a taxonomia (classificação) das plantas brasileiras será essencial para o manejo da biodiversidade, como ressalta a Iniciativa Global de Taxonomia, um dos planos estratégicos da Convenção de Diversidade Biológica.

A versão digital da Flora Brasiliensis é resultado de um consórcio de instituições. As ilustrações foram digitalizadas com alta resolução no Jardim botânico de Missouri, Estados Unidos. O portal na internet é obra do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), em Campinas, com direção de Vanderlei Canhos. A equipe do Cria desenvolveu uma tecnologia que permite ampliar as imagens sem perder resolução, de forma que o internauta pode enxergar um nível de detalhe que nem os ilustradores viram quando fizeram os desenhos. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Fundação Vitae e a Natura.

Von Martius chegou ao Brasil em 1817, como parte da comitiva austríaca que a companhava a arquiduquesa Leopoldina. Passou três anos no Brasil, ao longo dos quais percorreu 10 mil quilômetros passando pelas regiões Sudeste, Nordeste e Norte, e retornou à Alemanha com material para diversas obras sobre o Brasil. A Flora Brasiliensis consiste em 130 fascículos, dos quais o último foi publicado em 1906, após a morte do autor. São 22.767 espécies descritas, com ilustrações para 3811 delas. Estima-se que no Brasil existam cerca de 50 mil espécies de plantas, de forma que o catálogo mais abrangente que possuímos está longe de ser completo.

Roteiro percorrido por Von Martius entre 1817 e 1820.

Informações serão complementadas

A tecnologia de ampliação das imagens desenvolvida pelo Cria permitirá que as pranchas botânicas sejam utilizadas por especialistas, quase como se tivessem diante de si uma planta debaixo de uma lupa. Porém, o site recém lançado ainda não soluciona por completo a dificuldade de acesso às informações da obra de Von Martius porque contém somente as ilustrações, e não o texto escrito pelo especialista alemão. Vanderlei Canhos diz que os textos estão sendo digitalizados em Missouri e serão incorporados ao site, mas não serão traduzidos do latim. Segundo ele, são textos extremamente técnicos e úteis somente para botânicos, que lêem latim. No futuro, explicações dirigidas ao público leigo serão inseridas no site do Cria.

Arrabidaea inequalis, hoje Cuspidaria inequalis

Flora Brasiliensis On-Line servirá como ponto de partida para promover um 2019avanço no conhecimento sobre as plantas do Brasil. O próximo passo, coordenado pelo botânico George Shepherd, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é atualizar a nomenclatura utilizada por Von Martius, de acordo com o conhecimento atual, para a produção de um catálogo das plantas do Brasil. A botânica Lúcia Lohmann, da Universidade de São Paulo (USP), é responsável pela revisão das bignoniáceas, a família do ipê. De acordo com sua avaliação, das 357 espécies dessa família que constam da obra de Von Martius, somente 40% permanecerão inalteradas. A botânica da USP coordena também um grupo de pesquisadores internacionais com o intuito de recolher todo o conhecimento disponível sobre a flora brasileira, que poderá ser adicionado ao site do Cria. “Uma coisa interessante deste projeto é o fato dele ser dinâmico. Isto é, o objetivo não é só colocar a obra on-line, mas servir de ponto de partida para realmente revisar a Flora do Brasil. É a base para a taxonomia do futuro!”, comemora.

A iniciativa representada pela Flora Brasiliensis On-Line é pioneira. Não há ainda outros projetos do mesmo tipo em andamento, mas Canhos acredita que as inovações que permitem tão alta qualidade de imagem serão sem dúvida úteis para disponibilizar outras obras científicas para o público.