Indicador de erosão poderá reduzir perda de solo

Através do projeto da Bacia do Vale Mogi-Pardo, pesquisadores criam novo indicador que quer apontar com mais precisão a quantidade perdida de solo por conta da erosão. A intenção é fazer uma reavaliação da tecnologia de manejo empregada e do tipo de cultura plantada pelos agricultores para tornar a relação com o solo mais sustentável.

Acentuação de declives, empobrecimento dos solos, assoreamento dos rios e desertificação são exemplos de estragos provocados pela erosão no solo. Alguns sistemas de produção agrícola são responsáveis pela erosão e geram prejuízos no meio rural ambientais e econômicos. Avaliar as perdas de solo por meio de um indicador de sustentabilidade é a proposta do Núcleo de Economia Agrícola (NEA) da Unicamp, como resultado do Projeto de Diagnóstico Ambiental da Agricultura no Estado de São Paulo – Bases para um Desenvolvimento Rural Sustentável. O estudo definiu como área piloto a Bacia do Vale Mogi-Pardo, que abrange cerca de 80 cidades, para a adaptação de metodologias de avaliação de impactos ambientais. E já diagnosticou a perda na região: 20 toneladas por hectare ao ano.

Erosão causa prejuízos no campo
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Sâo Paulo

O novo indicador de erosão foi criado a partir do método paramétrico de equação universal de perdas de solo, trazido dos Estados Unidos na década de 40 e adaptado às condições brasileiras pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), parceiro do NEA no projeto. O objetivo é diagnosticar o impacto causado pelas práticas agrícolas, técnicas de manejo do solo e propor políticas para o desenvolvimento rural sustentável. De acordo com o coordenador geral do projeto, e pesquisadordo NEA, Ademar Ribeiro Romeiro, com estes dados coletados é possível ter uma dimensão mais precisa do solo erodido com baixo custo, o que até então não acontecia. O indicador apontará com menor margem de erro quanto se perdeu de solo. “O sistema usado atualmente apenas contribui para estimar a porcentagem”, afirma.

O sistema que vem sendo usado avalia a erosão com base em informações de satélite e levantamento topográfico. Além de não apontar a prática de manejo e o tipo de tecnologia adotada no campo, nesse sistema o pesquisador tem que verificar in loco a condição da terra, o que representa um custo muito elevado. “Mesmo com o uso de alta tecnologia, não há informação detalhada dos locais. O satélite, um equipamento usado para o diagnóstico da região afetada com a erosão, não detecta os tipos de culturas produzidas e a tecnologia empregada. Estes dados são os grandes diferenciais do novo indicador e vão ajudar a chegar a um resultado mais preciso”, salienta Romeiro.

Para se chegar ao indicador, através do método paramétrico de equação universal de perdas de solo, são avaliados: o tipo e a aptidão do solo; a inclinação; as práticas agrícolas e conservacionistas empregadas. Romeiro ainda acrescenta que conhecer estas práticas é fundamental para se obter um resultado mais confiável, pois o dinamismo dos dados colhidos faz grande diferença para se saber a quantidade perdida de solo por cultura de plantio. Segundo um dos coordenadores do Módulo I do Projeto pelo IAC, Jenner Fernando Leite de Moraes, este indicador permitirá avaliar os solos mais críticos e diagnosticar qual tem perda elevada de cultivo, devido a exposição do solo, como é o caso da região de Socorro, São João da Boa Vista, áreas muito declinadas, onde predomina o cultivo da cana-de-açúcar.

O replantio com citrus, e a cobertura com gramínea no lugar de entrelinha de plantio, são destacados por Moraes por oferecerem uma grande proteção ao solo. “Estamos re-avaliando a condição do solo e ficamos surpresos durante nosso trabalho. Ficamos impressionados com a cultura de citrus pois vimos que o solo estava muito bem protegido e não esperávamos isso. Já a plantação de café deu indícios preocupantes: não haviam cuidados com a cobertura do solo”, comenta o pesquisador. O IAC tem sido responsável pelo mapeamento das culturas existentes, levantamento da conservação do solo, dos tipos de produção agrícola praticadas e de como está a dinâmica de desmatamento por conta da erosão.

Para a efetividade do novo indicador será necessária a integração entre IBGE, Embrapa, IAC, prefeituras e órgãos municipais. Segundo Romeiro, eles serão responsáveis pela pesquisa local e informarão o funcionamento da cultura e tecnologia de cobertura de solo local existente. “Estes órgãos vão oferecer os principais dados para obtermos o novo indicador que fará a medição com precisão, pois o acesso deles à estas informações é muito mais fácil”, explica.

A novidade deve trazer questionamentos porque terá um impacto econômico para os produtores. “Os agricultores que estiverem com suas práticas de cultivo ultrapassadas, deverão mudá-las e aí, precisarão mexer no bolso”, alerta Moraes. Entretanto, tranquiliza ele, “haverá uma diretriz dos órgãos de extensão agrícola para indicar o melhor caminho aos agricultores e isto os beneficiará, pois os custos com a erosão tendem a ser muito maiores e podem ser evitados com a criação de políticas agrícolas voltadas para este problema”.

Além disso, Romeiro acredita que esta será uma forma de induzir as cidades à “concorrência” do melhor cuidado com o solo. A idéia é criar um ranking para saber em qual colocação está cada cidade e, como as políticas de incentivo agrícolas, estimular a redução da erosão local. “Assim como há o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) há a possibilidade de classificar as cidades para incentivá-las à melhoria de sua produção e o cuidado com o solo”, observa.

O indicador foi criado a partir do projeto da Bacia do Vale Mogi-Pardo, que ainda está em andamento e envolve 40 profissionais. Durante o projeto, que deverá ser concluído em julho de 2007, são usadas técnicas de sensoriamento remoto, sistema de informação geográfica e modelos matemáticos e estatísticos para a avaliação de toda a região. São ainda parceiros do projeto o Laboratório de Engenharia Ecológica da Faculdade de Alimentos da Unicamp, a Embrapa, o IAC e o Centro Regional Universitário Espírito Santo do Pinhal.

Angra-III reacende discussão sobre energia nuclear no Brasil

A construção da da usina de Angra-III ainda não foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética, mas continua o debate sobre benefícios e custos da energia nuclear e a possibilidade de o país adotar plano para instalar mais 7 usinas do mesmo tipo.

A inclusão da usina de Angra-III nas previsões do Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica, divulgado pelo governo em fevereiro, retoma a discussão sobre os benefícios e custos da energia nuclear. A construção da terceira unidade ainda não foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que também discute a possibilidade de o país adotar um plano para instalar mais sete usinas do mesmo tipo.

A geração de energia nuclear é criticada não apenas pelos por motivos econômicos, ambientais ou possibilidade de usos militares. A fábrica de enriquecimento de urânio, já existente em Resende (RJ), e que gera combustível para as usinas, também é alvo de críticas. Em contrapartida, alguns especialistas defendem os projetos nucleares como importantes alternativas energéticas para o país. Para o professor do Programa de Engenharia Nuclear da UFRJ Aquilino Senra, há três razões básicas que justificam a implementação de Angra-III. A primeira delas é a geração de recursos em vez das despesas contínuas com a manutenção dos equipamentos, adquiridos no final dos anos 1970. O professor afirma que só com esses aparelhos foram gastos US$ 750 milhões e a manutenção custa aos cofres públicos cerca de US$ 20 milhões por ano. A segunda é a preservação das equipes técnicas especializadas nesse tipo de tecnologia, que constituem uma competência nacional importante. E por último, Justificar a produção de urânio enriquecido no Brasil, com mais uma usina utilizando esse combustível.

Para colocar Angra III em atividade deverão ser gastos mais US$ 1,8 bilhão com a montagem da usina e seu descomissionamento (desmontagem e tratamento dos rejeitos após a desativação de um reator). Senra afirma que 70% desse valor deverá ser gasto no país e que a importância da energia nuclear cresce conforme aumenta o custo de outras fontes de energia, como o petróleo e a energia hidroelétrica. Há, porém, possíveis custos ambientais envolvendo a energia nuclear.

O professor emérito do Instituto de Física da Unicamp Rogério Cezar de Cerqueira Leite afirma que até o momento não foi resolvida a questão do lixo atômico e que os custos da eletricidade produzida pela via nuclear ainda são superiores àqueles relativos à hidroeletricidade. Além disso, ele ressalta que o Brasil ainda possui reservas de potencial hídrico em abundância.

Para Leite, se o país compra pacotes fechados, como é o caso de Angra-III, não há como desenvolver capacitação tecnológica própria. Segundo o professor, o Brasil deve desenvolver tecnologia nuclear e para isso só há um caminho: construir seus próprios reatores, que inicialmente poderão ser de pequeno porte. Sobre o urânio enriquecido usado como combustível para as usinas, ele defende o domínio da tecnologia no país, que já possui uma fábrica em fase final de comissionamento (tornar a unidade operacional, produzindo um produto de qualidade desejável), mas ainda não oficialmente inaugurada.

Enriquecimento de urânio A fábrica de enriquecimento de urânio construída em Resende (RJ) é resultado de um convênio entre a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), fornecedor da tecnologia. Formada por quatro módulos, a fábrica terá um custo total de R$ 450 milhões. A energia elétrica por fonte nuclear é obtida a partir do calor da reação do combustível (urânio), que ferve a água de uma caldeira, transformando-a em vapor. O vapor movimenta uma turbina que dá partida a um gerador produtor de eletricidade.

O Brasil, dono da sexta maior reserva de urânio do planeta, está entre os nove países detentores da tecnologia e da produção em escala industrial do urânio enriquecido. Segundo a assessoria de comunicação da INB, essa é a fase mais sofisticada e que agrega maior valor no ciclo do combustível nuclear, representando um salto tecnológico. Porém, o país ainda não tem capacidade de produzir o suficiente para atender a sua demanda interna. Em 2010, a produção de urânio enriquecido no Brasil deverá representar uma economia de US$ 16 milhões por ano, que pode chegar a US$ 26 milhões em 2015.

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Reportagem sobre Energia Nuclear

Orgânicos mais seguros, convencionais menos nutritivos

Duas pesquisas internacionais comprovaram que os alimentos orgânicos protegem os consumidores dos pesticidas e que os alimentos produzidos pela agricultura intensiva moderna estão se tornando menos nutritivos do que os produzidos há 60 anos. Pesquisas brasileiras também comparam alimentos orgânicos e convencionais.

Duas novas pesquisas, uma realizada nos Estados Unidos e outra na Grã Bretanha, comprovaram o que os adeptos da agricultura orgânica sempre defenderam: que os alimentos orgânicos protegem os consumidores dos pesticidas (afinal, eles quase não são empregados nesse tipo de cultivo) e que os alimentos produzidos pela agricultura intensiva moderna estão se tornando menos nutritivos do que os produzidos há 60 anos.

Para comprovar isso, pesquisadores da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, analisaram a urina de crianças de três a 11 anos de idade durante um período em que foram alimentadas apenas com produtos orgânicos. Não encontraram metabólitos de malation e clorpirifos, dois pesticidas bastante empregados na agricultura convencional. Quando as crianças voltaram a se alimentar normalmente, eles rapidamente foram encontrados nas amostras.

No estudo britânico, realizado pela organização não-governamental The Food Comission (Comissão Alimentar), que defende o uso de alimentos mais saudáveis e seguros, foram comparadas estatísticas oficiais sobre alimentos à base de carnes e lácteos da década de 1930 e de 2002, e uma das constatações foi que o conteúdo mineral do leite, do queijo e da carne produzida pela agricultura intensiva caiu, durante esse período, para 70% do valor nutricional que tinham.

Na opinião do engenheiro agrônomo, difusor de tecnologia da Embrapa Hortaliças, Assis Marinho Carvalho, esses resultados parecem óbvios para quem já atua na área de produção orgânica e acredita nesse sistema. Mas os estudos são importantes para esclarecimento, até mesmo de profissionais da área agronômica.

Carvalho lembra que na década de 1960, pesquisadores franceses já mostravam que o DDT (pesticida) passava do leite para os fetos humanos, provocando mortes, abortos e deficiências. E o mesmo foi evidenciado na Baía de Minamata, no Japão. Ele próprio desenvolveu uma tese comparando cenouras produzidas pelo sistema orgânico com similares do sistema convencional e concluiu que as orgânicas seriam mais produtivas e apresentavam menor custo, além de serem mais saborosas e mais nutritivas que as produzidas pelo sistema convencional. Defendida na Universidade de Brasília (UnB), em janeiro de 2004, a tese de Carvalho foi premiada durante o 45° Congresso Brasileiro de Olericultura, realizado em Fortaleza, em agosto de 2005.

Em seu estudo, ele comparou oito espécies de cenouras produzidas no verão em sistema orgânico e convencional no período de novembro de 2002 a fevereiro de 2003. As análises de laboratório e pesquisas de campo estenderam-se durante todo o ano de 2003. “As principais vantagens da cenoura orgânica, além da textura e sabor, foram o maior teor de sólidos solúveis (que produzem um suco com mais polpa, além de diminuir o gasto com energia durante o processamento) e matéria seca (que contribui para uma maior conservação após a colheita e está relacionada às fibras, que ajudam a melhorar o funcionamento do intestino)”, relata. “Para resíduos minerais (que aparecem nas cinzas, em função do uso de fertilizantes) e açúcares (relacionados à doçura e carboidratos), as cenouras provenientes do sistema convencional apresentaram maiores teores. Quanto à fibra bruta e carotenóides (precursor da pró vitamina A), [os índices] foram indiferentes”, completa.

Para comparação do sabor, foram realizados 137 testes em Taguatinga, no campus da UnB, na feira de orgânicos do Ceasa-DF e no restaurante da Embrapa. As pessoas não sabiam que tipo de cenoura estavam provando. A maioria preferiu as orgânicas, especialmente as cozidas no vapor.

A pesquisadora Renata Galhardo Borguini, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), órgão ligado à Secretaria de Agricultura, em Pindamonhangaba, também estudou em seu mestrado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) o conteúdo nutricional de um alimento orgânico: o tomate. Segundo ela, ainda não foi possível detectar diferenças em relação ao alimento convencional, mas tentará comprovar sua superioridade nutricional em sua tese de doutorado, também sobre tomates, em fase de finalização.

Ponderada, afirma que embora tenha visto vários estudos sobre o tema, acredita que as afirmações sobre melhor qualidade dos orgânicos podem ser exageradas, e não devem ser generalizadas, pois existem estudos mal controlados que não levam em conta vários fatores que podem interferir nos resultados, como a variedade dos alimentos, a região de produção e a qualidade das sementes. Ela diz ainda que avaliar a qualidade nutricional dos alimentos convencionais fundamentando-se apenas em estatísticas pode não ser a melhor estratégia.

Tendência

Embora apresentem preços de 30 a 500% superiores aos alimentos convencionais, muito caros para o padrão do povo brasileiro, pode-se afirmar que o consumo dos alimentos orgânicos no país é uma tendência para uma parcela da população. “A produção cresce 30% ao ano”, diz Carvalho. Além disso, relata, uma pesquisa recente feita pelo Sebrae e pela Federação da Agricultura em Brasília (DF) apontou que mais de 2000 produtores mostraram interesse em migrar para esse sistema.

O pesquisador Enrique Ortega, do Laboratório de Engenharia Ecológica da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, afirma que os preços dos orgânicos até que são baixos quando se considera quanto tempo e quanto trabalho tem a natureza para formar uma reserva de petróleo, base dos fertilizantes, dos pesticidas e do transporte empregados pela agricultura convencional. Exploradas com maior ênfase a partir da década de 30, as reservas petrolíferas, segundo o professor, devem durar no máximo até 2030, quando será necessário buscar novas alternativas. “Melhor buscar antes”, alerta. Entre as opções, acredita, está a agricultura orgânica, por não necessitar de petróleo para o seu desenvolvimento.