Apnéia do sono pode ter relação com posição do maxilar

Pesquisa aponta solução simplificada para a apnéia obstrutiva do sono: aparelhos orais para os maxilares, que reduzem a necessidade de cirurgia. O estudo mostra ainda que a mamadeira pode estar relacionada ao prejuízo no desenvolvimento do maxilar e desencadearia uma série de desorganizações respiratórias.

Uma pesquisa mostra que um simples aparelho dentário pode corrigir a apnéia obstrutiva, síndrome que provoca o fechamento da faringe durante o sono e atormenta as noites de cerca de 2% das crianças no mundo. A pesquisa, realizada no Departamento de Neurologia da Unicamp, observa que as crianças que sofrem desse distúrbio têm os maxilares pequenos e retraídos (mais próximos do pescoço). Um dos fatores que provoca essa diminuição é a amamentação em mamadeiras, que desestimula o crescimento dos blocos ósseos orofaciais e a respiração nasal.

“A mamadeira desequilibra tudo. Com ela, a criança engole muito fácil e rápido, sem exercitar a musculatura da face, prejudicando a formação dos maxilares e estimulando a respiração oral. A língua também muda de posição, fica com a chamada ’ponta baixa’ e dorso alto, reduzindo o espaço respiratório da garganta”, aponta a cirurgiã dentista Rosana Albertini, autora da pesquisa.

Respirando pela boca, as mucosas intraorais ressecam e ampliam a probabilidade de ocorrerem inflamações crônicas, como faringites, sinusites e amidalites. As mucosas intraorais e a língua, agredidas pelo ressecamento e inflamações, aumentam em 30% o volume. Essa hipertrofia invade o espaço vazio aéreo e impede que o ar passe mecanicamente do nariz para a garganta. O ar poluído e seco das zonas urbanas piora o quadro porque também agride as mucosas, ressalta a pesquisadora. “Nosso ar tem pouca umidade, devido à agressão ambiental. A tendência é que a apnéia obstrutiva aumente muito nos próximos anos por conta disso”.

A pesquisa desenvolvida por Albertini mostra que estimular os maxilares para frente pode prevenir a apnéia obstrutiva do sono, sem que haja a necessidade de recorrer a cirurgias. Uma vez deslocados para frente, cria-se entre a base da língua e a retrofaringe um espaço vazio para a respiração. “O traçado da língua, do palato mole, da úvula [a campainha], adenóide, amídala, da retro faringe e do espaço vazio devem ser respeitados para que o ar encontre espaço para passar do nariz para a faringe e ser inspirado para os pulmões. Esse espaço vazio deve ter, no mínimo, 10 mm de comprimento”, explica. Abaixo dessa medida, a criança já sofre com problemas obstrutivos. Um espaço menor que 4 mm pode provocar um acidente vascular cerebral pela falta de oxigenação. O tratamento com o dentista pode começar cedo, a partir dos dois anos de idade.

A apnéia obstrutiva do sono provoca dessaturação do oxigênio no sangue, diminui a oxigenação cerebral e o coração pode ter taquicardias. No dia a dia, a criança pode sofrer com sonolência, depressão e dificuldade de atenção e memorização provocadas pela noite mal dormida. Além disso, a falta do sono profundo pode acarretar deficit no crescimento.

Com a apnéia, a criança acorda muitas vezes durante a noite e não tem secreção adequada do hormônio do crescimento, cujo pico se dá durante o sono profundo. “Se não for tratada, ela tem grandes chances de não crescer, não engordar e ser um adulto pequeno”, adverte Rubens Reimão, neurologista especialista em distúrbios do sono.

Distúrbios do sono e TDAH Reimão conta que os distúrbios do sono possivelmente estão relacionados a três tipos de fatores: psicológicos ou emocionais, biológicos (como a apnéia) e a maus hábitos adquiridos por trabalhados em turnos da noite ou, cada vez mais comum entre adolescentes, pela permanência infinita na internet. “A televisão já foi um problema importante, mas a internet é hoje o grande problema de distúrbio de sono em adolescentes, porque eles controlam a programação e ficam horas e horas nisso”. Mas, segundo o médico, a apnéia é o caso mais grave e preocupante. “A desoxigenação do cérebro traz alterações cognitivas”, diz. Segundo ele, um grupo muito afetado pelo distúrbio são as crianças com deficit de atenção e hiperatividade (TDAH): por volta de 10% a 20% dessas crianças têm apnéia, o que colabora muito para piorar o quadro.

Elas roncam, dormem de olhos abertos, têm maxilares pequenos, respiram pela boca, rangem os dentes, falam dormindo, mexem-se muito na cama, têm pesadelos com a morte, acordam com medo, choram dormindo, gritam, têm dores de cabeça durante o dia e não conseguem se concentrar. Devido à dificuldade de respirar, ficam sempre com o nariz entupido, dor de garganta, rinite crônica, mau hálito, tontura, mudança de voz (estão sempre com voz de gripadas), agitam pés e mãos, babam ou engasgam com a saliva porque respiram pela boca.

“Esse sintomas são comuns nas crianças que sofrem do distúrbio do sono, mas naquelas com deficit de atenção e hiperatividade a incidência e a freqüência com que aparecem são maiores”, comenta Rosana Albertini que, sob orientação de Reimão, começa a desenvolver no Departamento de Neurologia da Unicamp pesquisas sobre o distúrbio do sono nas crianças com o TDAH.

Insônias, mães e bebês

Outro grupo em que distúrbios do sono são bastante comuns é nos bebês. Reimão conta que a insônia é normalmente provocada pela alteração do controle da mãe em relação à criança. “A mãe que atende muito às solicitações do bebê durante a noite pode atrapalhar. Ela pega no colo, acende a luz, conversa, nina. Com isso, a criança desperta e demora mais ainda para voltar ao sono. Esse ritual piora cada vez mais a qualidade do sono”, explica. Entre os distúrbios,os mais freqüentes são sonilóquio (falar enquanto dorme), ranger de dentes, sonambulismo, pesadelo, terror noturno e sonolência excessiva de dia.

“De modo geral, os distúrbios do sono nas crianças não apresentam risco, mas costumam comprometer a qualidade de vida delas e eventualmente dos seus familiares”, conta Eduardina Telles Tenenbojm, pediatra e psicoterapeuta, que desenvolve na USP uma pesquisa sobre o perfil psicológico das mães de bebês que têm insônia.

De acordo com ela, a insônia dos lactentes é um quadro freqüente nas clínicas pediátricas e para os quais, na maioria dos casos, os medicamentos não são indicados. Os bebês, geralmente com idades entre 3 meses a 2 anos, têm dificuldade de iniciar ou de manter o sono durante a noite. Nesse estudo, Eduardina Tenenbojm pôde constatar que os familiares dos bebês que não dormem sentem sonolência diurna, irritabilidade, dificuldades de concentração e de memória, sintomas que caracterizam uma síndrome de privação de sono.

Construtivismo não é método para a alfabetização, diz pesquisadora

O debate acerca da polêmica sobre a melhor orientação para a alfabetização no país, reacendido este ano – depois que Fernando Haddad, Ministro da Educação, propôs a revisão dos Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa-, tem se acirrado entre os defensores dos atuais parâmetros, embasados por ideais construtivistas, e os pregadores do método fônico de alfabetização.

“O construtivismo não é um método, é um conceito”, afirma Silvia de Mattos Gasparian Colello, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alfabetização e Letramento (GEAL), da USP, acerca da polêmica sobre a melhor orientação para a alfabetização no país. O debate, reacendido este ano – depois que Fernando Haddad, Ministro da Educação, propôs a revisão dos Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa (PCN)-, tem se acirrado entre os defensores dos atuais parâmetros, embasados por ideais construtivistas, e os pregadores do método fônico de alfabetização. Para Silvia Colello, que faz parte do primeiro grupo, o problema da educação no Brasil não pode ser resolvido com métodos infalíveis e a língua escrita não pode ser concebida apenas como um código. Assim como o construtivismo, a alfabetização deve ser vista de maneira mais ampla e complexa, como um “sistema de implementação da linguagem”, diz a pesquisadora.

No método fônico, a alfabetização se dá através da associação entre símbolo e som. Para que a criança se torne capaz de decifrar milhares de palavras, ela aprende a reconhecer o som de cada letra. De outra forma, ela teria que memorizar visualmente todo o léxico, algo ineficiente do ponto de vista dos defensores do método fônico. O método parte da regra para a exceção.

Por outro lado, a orientação construtivista apóia-se na familiarização das crianças com textos inteiros e condizentes com a realidade dos alunos (como o nome de cada um, por exemplo). Diferentemente do reconhecimento de frases descontextualizadas como “Ivo viu a uva”, a alfabetização não implica apenas decifrar um código. Para alfabetizar, a criança deve ser levada a participar da linguagem escrita. Para isso, é necessário um diagnóstico prévio que aponte qual é a relação do sujeito com o texto. Assim, podem-se definir estratégias e exercícios que façam o aluno ler e escrever.

Para Sílvia Colello, os PCN não devem subestimar as crianças e nem reduzir o ensino àquela relação unívoca em que o professor ensina e o aluno silencia. Rodeadas por estímulos visuais e sonoros, televisões, computadores e videogames, seria equivocado crer que elas se interessariam e se reconheceriam verbalmente com frases como “o boi bebe e baba”.

Segundo a professora, é interessante notar que os defensores do método fônico no Brasil são psicólogos, em sua maioria. “Eles não lidam com a língua enquanto sistema em implementação. Eles estão preocupados em encontrar uma metodologia que seja objetiva e controlada, para ensinar a ler e a escrever. Mas só isso não é suficiente hoje em dia”, afirma. De acordo com Colello, pode-se até ensinar a criança a ler e a escrever, mas se anulará o gosto que ela poderia vir a ter pela leitura.

O grande argumento contra os parâmetros construtivistas é o péssimo desempenho do Brasil em diversas avaliações nacionais e internacionais, como no Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) e em avaliações da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) desde que o conceito foi incorporado nos PCNs, em 1996.

Ao reiterar que o construtivismo não é um método, mas um conceito por trás dos pressupostos da alfabetização, Silvia Colello alfineta: “Não sou ingênua a ponto de dizer que o construtivismo vai salvar a educação brasileira. Mas, parece que muitas pessoas o interpretaram assim: ’Ah, que bom! Chegou um novo método [salvador]!’” Para ela, o problema do ensino no Brasil tem muitas determinações, entre elas a falta de investimento em formação dos professores. Além disso, a pesquisadora afirma que o construtivismo não entrou efetivamente na grande maioria das escolas, apesar de todas se dizerem construtivistas.

Já os defensores do método fônico, ao contrário, acreditam que o problema da alfabetização no Brasil é justamente o uso do “método” construtivista, e nessa avaliação, desconsideram o contexto econômico e social do país.

Em entrevista à Folha de São Paulo, falando sobre a péssima posição do Brasil em nível de leitura entre 32 países, Fernando Capovilla, do Departamento de Psicologia Experimental da USP, explicita sua desconsideração à degradação social como um dos fatores de piora do ensino: “Há quem atribua [o mau resultado] ao subdesenvolvimento, à violência urbana, blábláblá. Bobagem”. Fernando Capovilla, por e-mail, afirmou que os PCNs em alfabetização são estritamente cumpridos por parte dos professores e são rigidamente fiscalizados pelas secretarias de educação, ao contrário do que diz Silvia Colello.

Exemplos de atividades

No contrutivismo, que trabalha com textos inteiros e reais

Livro dos Desertos – A professora propõe um tema: “Vamos estudar o deserto?” Como os bichos e as plantas conseguem viver no deserto? Onde estão os desertos? Todos estão no mesmo lugar? Eles [os alunos] vão trabalhando com resoluções de problemas. Aí, a professora mostra jornais com matérias e mapas da corrida Paris-Dakar, por exemplo. Os alunos são levados a discutir a trajetória, os tipos de acidentes que aconteciam no deserto, como os competidores se alimentavam, enfim, depois que eles chegam a alguma conclusão, a professora pede para que escrevam o que eles aprenderam sobre o tema. As crianças dizem “Mas eu não sei escrever, professora!”. Ela, então, incentiva: “Escreva do jeito que você sabe! Peça ajuda ao seu amigo!” “Eu quero escrever que no deserto não tem chuva.” Sem o compromisso do certo e do errado, as crianças são alfabetizadas. Depois de escritos vários textos (sobre as plantas, os bichos do deserto, etc), os trabalhos são compilados em uma espiral, a criança aprende a escrever escrevendo o Livro dos Desertos. (por Silvia de Mattos Gasparian Colello, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alfabetização e Letramento da USP)

No método fônico, que associa letras a sons

Jogo de percurso – Cada criança retira, em sua vez, um pequeno cartaz de uma caixa de papelão. No cartaz há uma figura desenhada (pode ser um animal como camelo, um veículo como trem, um brinquedo como boneca, e assim por diante). A professora pergunta ao grupo qual o nome da figura. No grupo, uma criança pode saltar à frente é gritar. “É um camelo!”. As demais, naturalmente, repetem o nome do animal na figura. A professora então pergunta quantos sons tem essa palavra e pede para contarem todos juntos /c/ /a/ /m/ /e/ /l/ /o/ dizem eles (no método fônico as crianças não pronunciam os nomes das letras, mas sim seus sons!). “Então, vamos contar quantos sons tem essa palavra?”, estimula a professora. Enquanto pronuncia os sons todos de novo, ela vai mostrando os dedos um a um. Nesse ponto uma criança do grupo (uma qualquer, já que sempre é espontâneo e voluntário) salta à frente e diz: “Tem 6, professora! Tem 6 sonzinhos!”. Isso, diz a professora. E pronuncia, enquanto conta com os dedos. “Então, pessoal, quantas casas o Júnior vai andar?” “Seis casas!”, gritam todos. (por Fernando César Capovilla, professor associado em psicologia experimental humana do Instituto de Psicologia da USP, via e-mail)

Nova forma de cuidado parental descrita em anfíbios

Em algumas espécies de cecílias, parentes vermiformes dos sapos, os filhotes se alimentam da pele modificada de suas mães. Este tipo de comportamento não era conhecido entre os anfíbios.

Fêmea de Siphonops annulatus cuida dos filhotes recém-nascidos.
Foto: Carlos Jared

 

Elas se parecem com minhocas, têm tentáculos na cabeça como caramujos e se chamam cobras-cegas. Conhecidas também como cecílias (do latim cecus, que quer dizer cego), são na verdade anfíbios, parentes dos sapos. De hábitos fossórios (subterrâneos) e por isso pouco conhecidos, esses animais ocultam surpresas. Uma equipe internacional que inclui os pesquisadores brasileiros Marta Antoniazzi e Carlos Jared, do Instituto Butantan, descreveu na revista científica Nature (440, 13 de abril) uma forma de cuidado parental inédita: a pele alterada das mães serve de alimento para seus filhotes recém-nascidos. “Não se conhecia nada parecido na classe Amphibia”, diz Célio Haddad, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.

O artigo trata de uma cecília africana, a espécie Boulengerula taitanus. Porém, a semente inicial foi a observação da espécie brasileira Siphonops annulatus, por Carlos Jared e colegas em meados de 1993, durante trabalho de campo na Mata Atlântica do sul da Bahia. A equipe brasileira notou que durante o cuidado parental as fêmeas, que em geral são de cor chumbo-escuro brilhante, se tornavam esbranquiçadas e fosca2019s. Como os pesquisadores já haviam observado que os filhotes ficam sempre perto da mãe, sua primeira suposição foi de que elas secretavam alguma substância cujo odor atrairia sua prole. Não era um chute à toa: o palpite vinha do estudo de outro animal, a anfisbena ou cobra-de-duas-cabeças, que apesar da semelhança com as cecílias é na verdade um réptil. Jared já tinha demonstrado que as anfisbenas se comunicam por meio de secreções odoríferas.

Em plantações de cacau as cecílias se refugiam debaixo dos “casqueiros”. Foto: Carlos Jared.

Para conferir a hipótese, a equipe pôs filhotes longe de suas mães em grandes caixas cheias de terra e matéria orgânica. “Mesmo se deslocando no meio subterrâneo, rapidamente voltavam ao aconchego da mãe enrodilhada”, conta Jared. Mas a observação não ficou retida no Instituto Butantan. O pesquisador comentou o achado com o colega Mark Wilkinson, no Museu de História Natural de Londres, Inglaterra. A novidade atravessou continentes, até encontrar-se com uma observação feita por Ronald Nussbaum, da universidade de Michigan nos Estados Unidos. Ele vira, em uma cecília sul-americana recém nascida, dentes inesperados.

Cuidado parental As cecílias são diversas em sua forma de se reproduzir. Algumas põem ovos (ovíparas), dos quais fêmeas de certas espécies tomam conta até a eclosão. Em outras os filhotes se desenvolvem dentro da mãe (vivíparas), e com dentículos especializados raspam uma secreção nutritiva produzida pela parede interna do oviduto (canal por onde passam os ovos). As espécies ovíparas dispõem de nutrientes dentro do ovo, e não têm os tais dentes raspadores. Daí a surpresa de Nussbaum ao ver dentes em cecílias recém saídas do ovo. Ficou intrigado até que soube das observações dos brasileiros, e as peças se encaixaram.

Os pesquisadores então se dedicaram a observar o comportamento de filhotes e mães em cativeiro, e a analisar a pele destas. O comportamento marcante relatado no artigo da Nature foi observado oito vezes entre 21 fêmeas com filhotes mantidas em cativeiro. O especialista em anfíbios Célio Haddad diz que a escassez de eventos observados não põe em dúvida a descoberta. Ele já manteve cecílias em terrários com lados de vidro, e diz que só via os animais quando saíam para buscar comida. Jared explica como fazer para observar cecílias: pôr metades de coco raspadas na superfície do terrário. Os animais se instalam debaixo desses abrigos, que podem ser erguidos no escuro, cuidadosamente, para pequenos flagrantes de intimidade. De fato, as observações filmadas mostram sem sombra de dúvida que filhotes se alimentam da pele da mãe.

A pele das cecílias sofre modificações importantes durante o período de cuidado parental. Além da diferença na coloração visível a olho nu, fatias examinadas ao microscópio mostram mudanças celulares importantes. A camada externa da pele das fêmeas com filhotes chega a dobrar em espessura, devido ao alongamento das células que ficam cheias de vesículas. Essa epiderme é rica em lipídios, como o leite produzido por mães mamíferas.

A descoberta de alterações tão drásticas, tanto em mães como em filhotes, mostra o pouco que se sabe sobre as cecílias. As observações em espécies brasileiras não foram ainda publicadas. Mas Jared adianta que a “nova” forma de cuidado parental já foi observada em duas espécies brasileiras, Siphonops annulatus, da Mata Atlântica, e S. paulensis, típica de cerrado e caatinga.

No Brasil são conhecidas cerca de 30 espécies de cecília, das quais cerca de dez estão no gênero Siphonops. O próprio pesquisador brasileiro está descrevendo uma espécie nova, do sul da Bahia. Resta muito por descobrir sobre esses animais, e somente o grupo do Butantan estuda sua biologia e ecologia.