Neurologistas querem mudar tratamento de acidente vascular cerebral

Apesar de ser uma das doenças de maior taxa de mortalidade no país, o acidente cerebrovascular ainda não faz parte das prioridades da maioria dos hospitais. Durante o Simpósio de Neurovascular, realizado pelo Departamento de Neurologia da Unicamp no dia 25 de maio, neurologistas apresentaram experiências diversas e defenderam a necessidade de mudanças no atendimento e tratamento de pacientes.

A importância do pronto atendimento ao paciente vítima de acidente vascular cerebral (AVC) foi o principal tema discutido no Simpósio de Neurovascular realizado pelo Departamento de Neurologia da Unicamp, no dia 25 de maio. O evento, que reuniu neurologistas de todo o país, celebrou os 40 anos da fundação do departamento. Os palestrantes falaram da necessidade de esclarecer a opinião pública sobre a gravidade da doença – primeira causa de incapacitação em adultos e umas das três principais causas de mortalidade no país – e pressionar a categoria médica e os governos para a disseminação de serviços especializados para esse tipo de emergência, como já é patente no atendimento dos casos de infartos cardíacos, doença semelhante ao AVC.

“O AVC está abandonado no Brasil. É comum nos hospitais não haver tratamento para o AVC e isso é catastrófico”, lamentou o neurologista Maurício Friederich, da PUC-RS. Friderich falou sobre a experiência do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Em 2002, foi implantada uma Unidade Vascular de Emergência, com especialistas em doenças vasculares, funcionando exatamente como as unidades vasculares para infarto do coração, tão comuns no país. A capital gaúcha possui outras cinco unidades semelhantes.

O modelo assistencial conta com neurologistas e cardiologistas, apoiados por cirurgiões cardíacos, vasculares e radiologistas intervencionistas. As equipes receberam treinamento, assinaram documentos de co-responsabilidade e os neurologistas têm um compromisso com o hospital de, seja qual for a situação, chegarem na emergência em 30 minutos quando forem solicitados para atender um caso de AVC. Dentro do hospital, os setores de exame e cirurgia ficam próximos para que o paciente seja rapidamente atendido e tratado. Existe ainda regulação de tempos e indicadores de qualidade. “Nós não perdemos mais pacientes na Emergência. Não há mais justificativa para isso”, comentou o médico.

O projeto de Porto Alegre inclui também a divulgação dos conceitos do AVC e das Unidades Vasculares na cidade, por meio de campanhas. De acordo com o médico, a resposta da população a essas campanhas é gradativa. “Nos últimos 4 anos vemos uma mudança na consciência sobre o que pode ser feito para salvar aquele paciente. É absurdo, no entanto, hospitais que não possuem esse tratamento”.

Ricardo Afonso Teixeira, da PUC-Brasília, trouxe a experiência do Hospital Santa Luzia, no DF, um hospital particular, que atende cerca de 12 pacientes com AVC por mês. A implantação da emergência para AVC reduziu as mortalidades em 18% e diminuiu em 29% a perda da autonomia nos pacientes após a doença. Segundo ele, o resultado da implantação dessas unidades é a “super especialização” do grupo envolvido e maior freqüência de trombólises – tratamento de desobstrução das veias cerebrais – nos casos de AVC isquêmico agudo. “O modelo de Serviço de AVC deve garantir o rápido acesso à emergência, a recanalização das veias cerebrais, prevenção primária e secundária e a reabilitação do paciente”, explica Teixeira.

A informação para prevenção e rápido reconhecimento dos sintomas é também uma etapa fundamental para esse serviço, complementa o neurologista, sugerindo a necessidade de maior articulação entre sociedade e hospitais. “O acidente cerebrovascular é tratável e nós precisamos conscientizar os médicos e as pessoas disso”, diz.

Quanto mais rápido o paciente receber o tratamento, menores serão as seqüelas cognitivas do acidente, principalmente nos casos de AVC isquêmico agudo. O caráter de urgência no atendimento ao paciente passou a ter mais importância a partir da descoberta do medicamento rtPA (fibrinolítico ou trombolítico). Aplicado em até três horas após a ocorrência desse acidente vascular, o rtPA pode reter as seqüelas em até 30%, impedindo a necrose do tecido cerebral por falta de oxigênio e nutrientes. O medicamento é manipulado por neurologistas da Europa e dos Estados Unidos desde o ano 2000. No Brasil, começou a ser utilizado em 2002, após a publicação do primeiro consenso brasileiro sobre o uso de trombolítcos no acidente vascular cerebral isquêmico agudo.

O AVC isquêmico caracteriza-se pela obstrução de uma das artérias do cérebro, privando a região de oxigênio e de nutrientes trazidos pelo sangue. O trombolítico dissolve essa obstrução e faz o sangue voltar a circular e alimentar o tecido cerebral, evitando a necrose. Por razões óbvias, o medicamento não pode ser utilizado em casos de AVC hemorrágico, logo o diagnóstico do tipo de acidente vascular deve ser preciso.

A importância da adoção desse tratamento é estatística: cerca de 85% dos pacientes que chegam aos hospitais com AVC são tipo isquêmico. Entretanto, apenas 2% desses casos são submetidos ao tratamento com trombólise, em todo o Brasil. A maioria dos pacientes não recebe o medicamento porque não chega ao hospital no tempo adequado. Outras razões para a subutilização do medicamento também foram apontadas pelos médicos durante o Simpósio: o pouco conhecimento sobre os sintomas do AVC isquêmico; o receio de ocorrer uma hemorragia cerebral devido ao uso do medicamento; e falta de verbas para investir na adoção do tratamento.

Ayrton Massaro, da UNIFESP, lembra que em São Paulo apenas dois hospitais implantaram o atendimento ao AVC: o Albert Einstein, em 2005, e o Sírio Libanês, esse ano. Para ele, a grande dificuldade é trazer o tratamento do AVC à prática de atendimento dessa doença. “A neurologia precisa mudar seus conceitos, para sair desse estado de defasagem. As instituições precisam ter consciência de que o AVC é um problema social no país”.

Trabalho infantil agrava saúde e tem reflexos cíclicos nas gerações subseqüentes

Alexandre Nicollela, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, analisou as condições de trabalho de crianças e concluiu que as que trabalham no campo têm melhores condições de saúde, provavelmente, por estarem mais próximas ao cuidado dos pais. Os resultados surpreenderam o próprio autor, que esperava encontrar os maiores impactos no trabalho rural.

O problema do trabalho infantil está longe de encontrar uma solução. A baixa renda e escolaridade familiar, além de fatores culturais e a má qualidade do ensino contribuem para o ingresso do jovem no mercado de trabalho. Alexandre Nicollela, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, analisou as condições de trabalho de crianças e concluiu que as que trabalham no campo têm melhores condições de saúde, provavelmente, por estarem mais próximas ao cuidado dos pais. Os resultados surpreenderam o próprio autor, que esperava encontrar os maiores impactos no trabalho rural. Ele analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1998 e 2003, para 144 mil pessoas de 5 a 20 anos.

Menina de 10 anos em Açaí (PA). Trabalho infantil rural traz menos prejuízos à saúde. Foto: Adão Macieira

Nicollela acredita que as famílias rurais têm capacidade de restabelecer a saúde da criança, o que provavelmente ocorre pelo fato de as atividades rurais serem exercidas próximas aos pais. “Trabalhos de extremo risco, como o corte de cana-de-açúcar, de fato são cada vez mais combatidos, não tendo, portanto, grande peso na média dos resultados”, afirma o pesquisador, que defendeu tese de doutorado sobre o tema em maio. As conseqüências do trabalho infantil urbano – notadamente vendedores ambulantes e empregados domésticos – seriam, por exemplo, problemas respiratórios, queimaduras, fraturas, cortes e dores musculares.

Especialistas da área ratificam que, num país onde grande contingente de crianças exerce trabalho infantil, há uma conseqüente perda no nível de saúde da população, acarretando declínio na produtividade nacional, impacto negativo na renda per capita e podendo ainda influenciar a decisão de investimento externo na nação.

Dados da PNAD de 2003 indicavam a existência de 5,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade ocupadas no Brasil, sendo a maioria na faixa de 15 a 17 anos. A atividade agrícola concentrava a maior parte desse contingente. Os números, embora ainda altos, indicam um avanço. Em 1992, quase 10 milhões de crianças com idade entre 5 e 17 anos trabalhavam. A legislação brasileira estabelece que a idade mínima para admissão no trabalho é de 16 anos, sendo uma das mais rígidas neste sentido, equiparando-se a dos Estados Unidos e da França.

Além dos quesitos saúde e renda, a assistente social Márcia Guedes Vieira destaca no artigo “Trabalho infantil: a dívida da sociedade mundial com a criança”, publicado pela organização Cáritas Brasileira, que os conflitos de horários, as longas horas de trabalho e suas condições extremamente difíceis tornam o acesso das crianças à educação, quando disponível, praticamente impossível, causando perdas no rendimento e evasão escolar. Além disso, o volume de responsabilidades que não condizem com a sua idade ou o seu fracasso em não realizar uma tarefa corretamente interferem fortemente em sua auto-estima.

Para Vierira, é difícil acreditar na possibilidade de existência de trabalho infantil que não prejudique o desenvolvimento psicológico, físico, emocional, intelectual e social da criança. “Não podemos dar a uma criança a responsabilidade de prover uma família, ou de assumir tarefas para as quais ela não está, ainda, preparada. É responsabilidade dos adultos, da sociedade e do Estado”, completa.

As políticas voltadas ao trabalho infantil, sugere Nicollela, devem ser elaboradas em conjunto com outras políticas de renda, educação e saúde familiar, tais como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e o Bolsa Escola, atualmente incorporado ao Bolsa Família. Ele ressalta também a importância da educação materna, com orientações sobre os perigos de algumas atividades laborais infantis e sobre como cuidar da saúde da criança. E completa: “Deve-se ainda incluir nas políticas focadas em crianças e adolescentes programas específicos para aqueles que por algum motivo continuam trabalhando, orientando-os para que tenham menor exposição ao risco e se protejam quanto a eventuais riscos associados à profissão”.

Atualmente, o que se vê, diz o pesquisador da Esalq, é um círculo vicioso: “crianças trabalhadoras têm estado de saúde pior, menor tempo para estudar e capacidade reduzida de aprendizagem, tornando-se adultos com baixo capital humano (escolaridade, habilidades, conhecimentos), o que os levará a colocar seus próprios filhos no mercado de trabalho”.

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Embrapa organiza rede de inovação e prospecção tecnológica para o agronegócio

A Embrapa coordena atualmente a instalação de uma Rede Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio – Ripa – no país. Por meio de reuniões em cada uma das macroregiões brasileiras – Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte – foram identificadas as oportunidades e problemas do setor. A idéia é elaborar políticas e tecnologias que permitam o incremento do agronegócio, afirma o diretor executivo do programa, Paulo Cruvinel.

Como a produção de grãos brasileira saltou de 1,5 toneladas/hectare, em 1991, para 2, 7 toneladas/hectare em 2003? Tecnologia é a resposta para essa elevação considerável de produtividade. Sementes melhoradas, manejo de culturas e maquinários adequados são alguns dos agentes geradores desse aumento nas safras. Porém, o trabalho para alavancar a produtividade, gerar mais renda e incrementar a qualidade dos produtos do campo ainda não parou. O desafio atual encabeçado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecueária (Embrapa), em parceria com várias instituições ligadas ao setor, é criar uma Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio (Ripa).

Paulo Cruvinel, coordenador executivo da Ripa, explica que o objetivo da criação da rede é levantar as potencialidades no setor de agronegócios, levando em consideração as especificidades de cada uma das macroregião do Brasil (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte). As primeiras ações realizadas para o surgimento dessa rede foram reuniões envolvendo produtores rurais, governos, instituições de pesquisa e terceiro setor em cada região. Desses encontros surgiram listas de demandas, vulnerabilidades e uma agenda de oportunidades com alcance de 10 anos para cada local.

No momento, o trabalho está voltado para a instalação de comitês gestores regionais compostos por representantes de cada setor da sociedade que participou das reuniões. Neste ano, as equipes das regiões Sul, Sudeste e Nordeste já começaram a trabalhar. “Os comitês gestores do Norte e Centro-Oeste devem ser formalizados ainda neste ano”, afirma Cruvinel. Ainda fazem parte do projeto a criação de redes regionais de multiplicadores e um portal para a transferência de informações sobre agronegócio. A rede já dispõe de um portal, mas ele serve apenas como meio de divulgação das atividades já desenvolvidas.

O coordenador executivo da Ripa argumenta que entre os maiores benefícios da rede está a aproximação dos setores ligados ao agronegócio (setor produtivo, governantes, insitutos de pesquisa e terceiro setor), além do levantamento de oportunidades para cada região. Ele acredita que, com base nessas informações, cada grupo poderá trabalhar para a concretização das oportunidades que surgirem no campo em negócios de sucesso.

Além da Embrapa, fazem parte da coordenação da Ripa a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Listen Local Informatio Systems,a Fundação para o Incrementeo da Pesquisa e do Aperfeiçoamento Industrial (Fipai), o Instituto de Estudos Avançados da Usp e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).

Campo adota rapidamente as inovações tecnológicas

Para o chefe-geral da Embrapa Instrumentação Agropecuária, Landislau Marin Neto, as melhorias tecnológicas desenvolvidas por institutos de pesquisa com o intuito de incrementar as atividades no campo são rapidamente adotas pelo produtores. Na opinião dele, esse fato pode ser comprovado pelo aumento na produtividade do campo.

Mais produtividade no campo tem impacto direto em números como do Produto Interno Bruto (PIB) ou das exportações brasileiras. As exportações do agronegócio brasileiro cresceram 7,3% no primeiro quadrimeste desse ano com relação a 2005, segundo levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA) do governo do estado de São Paulo. O volume exportado soma US$14,04 bilhões.

Na opinião do diretor da Parques Tecnológicos e Programas de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica da Agência de Inovação da Unicamp, Eduardo Grizendi, o agronegócio está profissionalizado no país. Para ele, existe no setor um ambiente favorável para o desenvolvimento de negócios e para o incremento tecnológico, motivado pela visibilidade do retorno do investimento. Grizendi avalia ainda que no agronegócio o ciclo de inovação se completa. “No Brasil, são desenvolvidas pesquisas, criadas de novas técnicas e produtos, por fim a inovação tecnológica é usado no campo”, afirma.