Sensores são usados como recursos na alfabetização de alunos cegos

Um aparelho de sensores sonoros é mais um recurso na alfabetização cartográfica de alunos cegos. Quando acoplado a maquetes e a um computador, o dispositivo possibilita que a percepção de objetos via tato seja acompanhada pela pronúncia do nome do objeto.

Pessoas cegas têm, em geral, uma grande dificuldade em relação à compreensão do espaço que vivem. Para que possam conduzir seu dia a dia de forma plena e com autonomia, eles precisam reconhecer as ruas da cidade e ter pontos de referência, além de observar as diferenças entre os ambientes que freqüentam, através de outros sentidos. Um aparelho de sensores sonoros, desenvolvido na Unicamp, pode ajudar nisso, e é mais um recurso que será usado na alfabetização cartográfica de alunos cegos.

Marco Chella e João Vilhete, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação, da Unicamp, desenvolveram o dispositivo. Trata-se de uma caixa com 30 sensores, que funcionam acoplados a um computador e a qualquer tipo de maquete, como a de um prédio, ou mesmo a de uma cidade. Esses sensores possibilitam que a percepção de objetos pelos alunos cegos via tato seja acompanhada pela pronúncia do nome do objeto. “A utilização de maquetes pode ajudá-los na compreensão espacial”, afirma Chella.

Os sensores podem ser distribuídos pela maquete de acordo com o interesse do usuário. O dispositivo é conectado à porta serial de um computador, no qual devem estar armazenadas as informações sonoras referentes aos objetos representados nas maquetes. “Nós usamos o programa SuperLogo para fazer essa conexão, mas outro programa pode ser usado”, explica Vilhete. O som é ativado quando o aluno pressiona o botão do sensor.

O aparelho é um dos resultados de dois anos de pesquisa, patrocinados pela Fapesp, para a geração de material didático para o apoio de portadores de deficiência visual. Ele foi desenvolvido visando alunos do ensino fundamental, mas pode, segundo Chella, ser usado também por outro público. “Professores e alunos com os conhecimentos básicos em informática e com uma preparação adequada são capazes de utilizar as diversas ferramentas desenvolvidas para a elaboração das maquetes com sensores”, afirma.

A intenção é que a maquete não seja estática e seja modificada pelo próprio aluno. “A idéia é que o aluno construa sua própria maquete e a modifique de acordo com sua vontade ou para seu melhor aproveitamento”, afirma Vilhete. O objeto de estudo pode ser a escola, a vizinhança ou mesmo a cidade do usuário.

O pesquisador explica que a metáfora do Logo é que o computador precisa ser ensinado pelo usuário, neste caso, o aluno cego. E para que o aluno ensine ao computador, ele precisa checar todo o conhecimento que ele próprio tem sobre o objeto de estudo. “Nesse momento, ele pode perceber falhas em seu entendimento do espaço, e as corrigir ou complementar” explica Vilhete. Ou seja, para programar o computador, o aluno precisa reavaliar sua compreensão do espaço a ser ensinado.

Segundo Chella, o dispositivo é mais um recurso para que alunos cegos ampliem seus conhecimentos sobre o espaço geográfico em que vivem e atuam. “Ao incorporar a essas maquetes recursos tecnológicos criamos um ambiente mais rico e lúdico, que estimula e motiva o aluno”, destaca. Os pesquisadores afirmam também que as atividades com as maquetes devem ser acompanhadas pelo reconhecimento do campo, para que o aluno se sinta mais seguro e também tenha autonomia para fazer as modificações que achar necessárias na maquete.

“Nossa intenção é desenvolver propostas de ambientes sonoros que descrevam a geografia do local e dê informações [sobre ele]”, revela Vilhete. “Esses dispositivos poderiam ser colocados em lugares públicos, como nos pontos de ônibus e universidades”, acrescenta. Segundo o pesquisador, esses recursos dariam mais autonomia a pessoas cegas, que contariam com mais uma opção informativa, além da tátil, obtida através da leitura em braile.

Internet é ferramenta para cidadania, mas serve mais a autopromoção

O número de pessoas conectadas à internet aumenta no país e oferece cenário para os debates políticos a serem travados nas próximas eleições. Para o professor Francisco Marques da UFBA, a internet possibilita a discussão de temas públicos e pode ser usada para o aprofundamento de temas divulgados em rádio e televisão, mas ainda está muito mais relacionada com autopromoção do que com cidadania.

Com o crescimento no percentual de brasileiros que acessam a internet, que passou de 2,9%, em 2000, para 12,2%, em 2004, a rede mundial de computadores desperta o interesse e passa a ser cenário possível para o debate político neste ano. Em artigo publicado recentemente, o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Francisco Marques, debate a questão e argumenta que a internet possibilita a discussão de temas públicos. Para as próximas eleições, ele afirma que o meio eletrônico será usado para o aprofundamento de temas divulgados em rádio e televisão.

Segundo Marques, a internet é um espaço que permite que várias pessoas, antes sem espaço, consigam expor suas opiniões e defendam seus interesses. “A internet tem a capacidade de influenciar na discussão da coisa pública quando, por exemplo, permite que vozes e entidades antes marginalizadas se agreguem e dêem vazão aos seus argumentos”, diz.

No âmbito das próximas eleições, Marques acredita que a internet dará aos candidatos a chance de expor em detalhes aos eleitores seus programas de governo, de criticar adversários e ainda receber apoio ou sugestões para a futura administração. Para os eleitores que desejarem fazer propaganda dos candidatos com os quais simpatizam, a rede mundial de computadores facilitará a distribuição de material publicitário. Por meio da internet os eleitores poderão obter os materiais de campanha e redistribuí-los. Para o pesquisador, a internet também modificou efetivamente a dinâmica interna dos partidos, pois agiliza a circulação de informações entre os vários diretórios.

Quanto ao público que busca informações sobre política na internet, Marques avalia que quem freqüenta os websites são aqueles que na maioria das vezes interessam-se pelos temas políticos. Na opinião dele, as pessoas que são politicamente engajadas estão predispostas a cadastrarem-se para receber informativos do partido ao qual são simpáticos. Dessa forma, as mensagens encaminhadas aos eleitores serviriam como um “reforço das idéias e convicções já alicerçadas”.

O artigo de Franscisco Marques, Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil, aborda a temática política e a internet e foi publicado na revista Opinião Pública, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, edição de abril/maio.

Acesso no Brasil cresceu, mas está abaixo do percentual mundial

Segundo o último levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), Information Economy Report 2005, apenas 12 em cada 100 brasileiros têm acesso à internet o que totaliza cerca de 22 milhões de pessoas. O documento mostra que o Brasil está na décima colocação em número de internautas. No total existem mais de 875,6 milhões de pessoas conectadas à rede mundial de computadores no mundo.

Os dados da ONU mostram que o crescimento da internet no Brasil nos últimos anos tem sido tímidos. Mesmo com a elevação do percentual de 2,9%, em 2000, para 12,2%, em 2004, o país ainda se mantém abaixo da taxa mundial de acessos.

Questionado sobre a real dimensão da internet para o resgate da cidadania, o pesquisador ressalta que o acesso de poucos brasileiros à internet é um problema grave. Todavia, Marques compara que “não é possível esperar que todos os cidadãos do país sejam alfabetizados para, só aí, desenvolver pesquisa de ponta e investir em universidades.” Ele destaca ainda que a internet se expandiu em poucos anos, quando comparada a outras tecnologias de comunicação como base.

O pesquisador acredita, que “as esperanças de democracia digital tendem a crescer se o acesso a estas tecnologias for incrementado”. Ele analisa, entretanto que, no que se refere à política instituicional, a internet no Brasil está sendo usada mais como meio de autopromoção do que uma real ferramenta de comunicação que diminua a distância entre cidadãos e governantes.

Superinteressante muda linguagem para atrair leitores

Escrever ou reescrever? Formular um novo discurso ou reformular um discurso já existente? Essas são algumas das muitas perguntas que os jornalistas que escrevem sobre ciência se fazem todos os dias. Esclarecendo parte dessas dúvidas com a dissertação Gêneros do discurso, ciência e jornalismo: o tema da saúde em reportagens de capa da ’Superinteressante’, a pesquisadora Ariadne Mattos Olimpio debate elementos importantes para o jornalismo científico.

Escrever ou reescrever? Formular um novo discurso ou reformular um discurso já existente? Essas são algumas das muitas perguntas que os jornalistas que escrevem sobre ciência se fazem todos os dias. Esclarecendo parte dessas dúvidas com a dissertação Gêneros do discurso, ciência e jornalismo: o tema da saúde em reportagens de capa da ’Superinteressante’, a pesquisadora Ariadne Mattos Olimpio debate elementos importantes para o jornalismo científico. A dissertação foi defendida em junho, no Departamento de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo (USP).

A pesquisadora analisou as reportagens de capa sobre saúde da revista Superinteressante em três períodos distintos: 1988 e 1989; 1995 e 1997; e 2002 e 2003 sempre sob a ótica da análise do discurso. Segundo Olimpio, a escolha dessa publicação deveu-se ao fato de ser um veículo comercial, com uma tiragem grande (mais de 400 mil/mês) e certa tradição dentro do jornalismo científico. Já a opção pelo tema saúde relaciona-se com o interesse que desperta nos leitores. “Isso ocorre porque geralmente as notícias sobre saúde não só informam, mas também orientam o comportamento do leitor já que dão dicas sobre cura e prevenção de doenças”, diz.

Para analisar o texto da revista nos três períodos, a pesquisadora recorreu ao Círculo de Bakhtin. Usando conceitos como dialogismo, gêneros do discurso e polifonia, Bakhtin considera o diálogo a essência da linguagem. De acordo com ele, a linguagem constrói-se não somente com o interlocutor direto, mas também com os indiretos. Nesse sentido, quem fala também está dialogando com o que já foi dito em lugares e tempos diferentes. Desse modo, os sentidos dos enunciados sempre são construídos no diálogo.

Olimpio percebeu diferenças consideráveis no diálogo proposto pela revista Superinteressante nos três períodos analisados, principalmente no que diz respeito à forma de atrair o leitor. Segundo ela, no primeiro período os títulos foram mais impessoais e existiam poucas marcas dialógicas (formas de criar identidade com o leitor). Já no segundo período, palavras como “você” passaram a ser usadas com freqüência, característica acentuada no último período. “Essa foi uma das formas de criar uma identificação direta com o leitor”, diz a pesquisadora.

A mudança temática é outra forma de mudar o diálogo com o leitor. De acordo com Olimpio, o primeiro período foi marcado por notícias que tratavam da cura de doenças, já no último, o tema preferido é a prevenção, e por isso as notícias deixam de ser somente informativas, passando a orientar também o comportamento do leitor. “Há nesse aspecto, uma grande mudança no diálogo entre a revista e seu leitor”, afirma

Essas alterações são visíveis também nas fotos e ilustrações. De rebuscadas e bem elaboradas, as imagens tornaram-se mais simples e ligadas ao cotidiano. Por exemplo, no terceiro período é comum a presença de imagens de pessoas fazendo atividades triviais, como correr. “Assim, as fotos representam atividades que são recorrentes no universo do leitor”, diz Olimpio.

Apesar das diferenças, também há muitas semelhanças. A principal é a manutenção dos cientistas como principais fontes de informação. “Mais do que isso, o discurso científico é predominante em todos os períodos analisados”, diz a pesquisadora. Mas mesmo que as fontes se mantenham, a forma de transmitir a informação se transformou, de acordo com Olimpio. “Antes o discurso científico trazia explicações, no último período traz conselhos para a vida prática do leitor”, diz. Olimpio ainda observa que com o passar do tempo a Superinteressante passou a buscar cada vez mais fontes de fora do Brasil.

A forma de citar o discurso da ciência também foi parecido. A forma utilizada é o discurso direto preparado, que cria um certo distanciamento com a fonte. Essa forma caracteriza-se pelo uso de aspas com frases ditas pelo cientista.

Outra forma de criar identidade com o leitor, é antecipar perguntas que o público pode fazer. Essas perguntas tornam o texto mais didático e mais atraente. “Essa também é uma característica encontrada de forma mais acentuada no último período analisado”, afirma a pesquisadora.

Respondendo a pergunta inicial desse texto, Olimpio considera o jornalismo científico uma formulação de um novo discurso com suas peculiaridades próprias. “Não é uma simples reformulação de discurso (do científico para o jornalístico), mas sim a produção de um novo enunciado”, diz.