Humor torna agradável e aquece comércio eletrônico

Fazer compras não é só uma atividade de aquisição de produtos, afirma a pesquisadora Claire Dornmann, da Universidade de Carleton, no Canadá. Dornmann fez um estudo de como o uso do humor em páginas de comércio eletrônico pode tornar o processo da compra mais agradável e até mesmo melhorar as vendas.

Fazer compras não é só uma atividade de aquisição de produtos, afirma a pesquisadora Claire Dornmann, da Universidade de Carleton, no Canadá. Ela apresentou o trabalho “Semiótica do Humor no Comércio Eletrônico Hedônico”, que desenvolveu junto com o pesquisador Robert Biddle, durante a Conferência Internacional de Semiótica Organizacional que aconteceu entre os dias cinco e sete de julho na Unicamp, em Campinas (SP). Dornmann e Biddle fizeram um estudo de como o uso do humor no design de websites de comércio eletrônico pode tornar o processo da compra mais agradável e até mesmo melhorar as vendas.

O trabalho parte do princípio de que o ato de fazer compras também pode ser considerado uma atividade recreativa. “Em alguns produtos, isso é mais destacado, como pacotes de turismo ou música, em produtos ou serviços que têm valor emocional”, explica a pesquisadora. Nesses casos mais específicos, o humor poderia ser uma importante técnica para melhorar o design de páginas de comércio eletrônico. “A produção do humor depende de fatores complexos, mas milhares de pessoas apreciam as mesmas piadas. O humor não tem fronteiras, ele penetra todo contexto social”, afirma.

De acordo com Dornman, embora o humor já seja amplamente usado nas propagandas na TV e no rádio, esse aspecto ainda não é explorado com o mesmo alcance no comércio eletrônico. Comunicadores usam o humor para destacar seu produto frente ao produto dos oponentes. Por isso, segundo ela, um design com humor pode ser o diferencial na hora de decidir pela compra na internet, já que muitos sites oferecem o mesmo tipo de produtos e serviços. A tarefa do designer é ter sucesso em reproduzir na internet o ambiente de entretenimento que ele tem na loja real, recordando a sensação de quando se sai às compras com um amigo, por exemplo.

Em seu estudo, a canadense aponta dois elementos a serem considerados quando o designer opta por usar o humor: o tipo do produto ou serviço em questão e o perfil do usuário. “A forma como a audiência reage ao humor depende de variantes demográficas como etnia, idade, gênero, e educação”, aponta Dornman. “Por isso, o uso do humor é difícil em cenários internacionais”.

Segundo a pesquisadora, uma boa dose de humor é recomendável para produtos de pouca informação ou que envolvam pouca identificação pessoal. “Muitas evidências sugerem que as escolhas que fazemos durante as compras são frequentemente baseadas em fatores afetivos e emocionais, e não na procura de informações sobre o produto”, argumenta Dornman.

Um dos exemplos citados por ela é o de uma agência de turismo francesa que usou uma referência do filme francês O fabuloso mundo de Amelie Polain. Neste filme, o duende de cera do jardim de Amelie viaja pelo mundo e manda fotos suas nos mais diversos pontos turísticos do mundo. A agência usou o mesmo duende para destacar suas viagens. Para cada locação, o duende aparecia vestido a caráter: no México de sombreiro; nos Alpes, aparelhado para o esquiar.

De forma geral, o trabalho mostra que o humor funciona melhor quando aplicado em relação ao produto, e não de forma aleatória: a chave é relacionar o humor ao produto e o fazer interagir com a mensagem. Além disso, para ser eficiente, o uso do humor tem que ser apropriado. Dornman lembra que existem muitas formas de humor, e algumas podem chatear pessoas. “Alguns gêneros de humor estão na fronteira entre o engraçado e o ofensivo e são inapropriados para o contexto comercial”, destaca.

Além disso, a pesquisadora alerta que deve-se tomar cuidado com o encadeamento de imagens mentais formadas pelo usuário. Quando o internauta entra numa página de comércio eletrônico, ele imagina a loja, embora o site não seja a loja real. Alguns sites usam como símbolo para o ato de compra a imagem de um carrinho de compras, como o dos supermercados. O problema está quando o encadeamento de idéias leva o usuário a interpretações que o designer gostaria de evitar. O uso do carrinho de compras pode ser pouco apropriado, por exemplo, para uma joalheria online, porque leva o internauta à imagem de uma situação mais popular, como no supermercado, e não à imagem de compra de um produto mais fino e sofisticado.

“A função do humor é criar uma sensação de bem-estar”, afirma Dornman. O homem ri para aliviar a ansiedade, reduzir a tensão e escapar da frustração. Nesse contexto, o humor pode ajudar a tornar a navegação do usuário mais agradável, mesmo quando completando tarefas mais complexas e demoradas, que normalmente causam algum desconforto ao usuário, como preencher o cadastro das lojas, e encomendar os produtos. “O humor pode melhorar a experiência do usuário e motivar emoções que ajudam na decisão de comprar”, conclui a canadense.

Classificação racial divide opiniões sobre sistemas de cotas

Os projetos de lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial, se aprovados pelo Congresso Nacional, tendem a diminuir ou aumentar o preconceito e o racismo? Essa questão vem dividindo o país. Os “contrários” apontam os riscos da classificação legal de raças, os favoráveis lançam-se da história de desigualdade e opressão das minorias e pedem reparações.

Os projetos de lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial, se aprovados pelo Congresso Nacional, tendem a diminuir ou aumentar o preconceito e o racismo na sociedade brasileira? Essa questão vem dividindo intelectuais e formadores de opinião no país. De um lado, os “contrários” baseiam-se nos riscos de se definir os direitos da população segundo as raças, pois o respaldo legal a esse conceito poderia acirrar o conflito e a intolerância. Do outro, os favoráveis lançam-se da história de desigualdade e opressão das minorias para pedir reparações às injustiças cometidas hoje. A última pesquisa Datafolha sobre o tema, feita nos dias 17 e 18 de julho com 6.264 pessoas acima de 16 anos, aponta que a maioria dos brasileiros (65%) é a favor da adoção das cotas. Mas a aprovação diminui à medida que aumenta a renda familiar e a escolaridade do entrevistado e apenas 9% dos entrevistados se dizem bem informados sobre o Estatuto.

“Cada vez que se classificam as pessoas por raças estabelece-se uma divisão que parece natural, biológica, mas que na verdade não é. Cria-se um corte artificial na sociedade”, afirma antropóloga da USP, Eunice Ribeiro Durham. Diferente da biologia do século 19, que apontava a existência de um conjunto de características físicas e biológicas próprias de uma só raça, a antropologia tem proposto que a noção de raça é uma construção, não é dada naturalmente.

Durham é contrária à classificação racial e argumenta que “o conceito moderno de raça implica em diferentes níveis de concentração de certas características genéticas nos grupos. Conseqüentemente, não existe uma raça pura, que apresente 100% de determinada característica”. Nessa perspectiva, o uso de características como a cor da pele, cabelo, largura do nariz e espessura labial, para considerar uma pessoa como negra ou branca, seriam problemáticas. “Cerca de 98% da população mistura essas características. E assim não dá para dizer onde termina uma raça e começa outra”, pondera Durham. O enquadramento em uma categoria ou outra dependeria, desta forma, da opinião do próprio indivíduo, o que, em sua opinião, poderia gerar distorções em busca de privilégios.

Os favoráveis às cotas, entretanto, acreditam que o discurso da miscigenação tende a ser usado para minimizar a existência de racismo e das desigualdades raciais no Brasil, pois é associado à democracia racial. “A opressão racial é um fato que independe dos saberes da genética molecular comprovarem que, considerando-se o DNA como o material hereditário e o gene como unidade de análise biológica, é absolutamente impossível dizer se estas estruturas pertencem a uma pessoa negra, branca ou amarela. O que significa que geneticamente não há raças humanas. O que não autoriza ninguém a dizer que o racismo não existe”, afirma Fátima Oliveira, médica e secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, em reportagem à revista ComCiência.

Edson Lopes Cardoso, ativista do movimento negro e editor do Jornal Irohín, garante que, nos últimos quatro anos, não houve indícios de que os conflitos tenham se acirrado nas universidades brasileiras que espontaneamente implantaram sistemas de cotas. Outro argumento utilizado pelos que defendem as cotas é que, mesmo que os conflitos raciais aumentassem, seriam enfrentados e resolvidos com maior transparência e eficácia, minimizando a impunidade diante da discriminação racial no meio universitário.

Na opinião de Cardoso, identidade e cidadania se constroem e afirmam na história. “Mas a história dos negros no Brasil tem 350 anos de escravidão e isso exige reparação”, diz. A compensação viria, inicialmente, de políticas públicas em benefício das minorias – as chamadas ações afirmativas.

Não há, contudo, uma ingenuidade na crença de que isso resolveria o problema da exclusão social, mas sim de que aceleraria as mudanças estruturais necessárias para tornar a sociedade mais democrática e pluralista. “É apenas uma medida para atender os efeitos dessa desigualdade acumulada historicamente. Em paralelo, deve-se combater as causas, por exemplo, universalizando o acesso à pré-escola, ao ensino fundamental e ao superior de qualidade”, ressalta o ativista. Ele lembra, ainda, que o Brasil é signatário da Convenção Internacional pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, das Nações Unidas (1965). Portanto, está obrigado a implantar ações especiais (afirmativas) datadas – ou seja, com prazo de vigência pré-estabelecido -, para garantir a minorias os direitos que elas não usufruem em função do racismo.

Para os que defendem que este estabelecimento de benefícios contrariamente intensifica a segregação, o caminho para promover a igualdade racial passa pela redução da desigualdade econômica. A professora Eunice Durham enumera algumas alternativas, como o estabelecimento de políticas de desenvolvimento econômico e de desenvolvimento educacional, bem como a implantação de campanhas organizadas no mercado de trabalho (para eliminação do termo “boa aparência” nas ofertas de emprego, por exemplo). Ela destaca ainda a importância de preparar os cidadãos e combater o preconceito, tanto entre alunos como professores, já na pré-escola e no ensino fundamental. “Isso não é uma situação que a lei resolva”, diz.

O PL de Cotas (PL 73/1999) torna obrigatória a reserva de vagas para negros e indígenas nas universidades públicas. Complementarmente, o Estatuto da Igualdade Racial (PL 3.198/2000), estabelece cotas raciais no serviço público (número mínimo de cargos públicos destinados a negros) e concede incentivos para empresas privadas que utilizem cotas raciais na contratação de funcionários, bem como procura assegurar igualdade no usufruto de serviços públicos de saúde e moradia, entre outros.

No último dia 29 de junho, cerca de 115 pessoas assinaram o manifesto “Todos têm direitos iguais na República Democrática”, no qual pediam que senadores e deputados rejeitassem tais projetos de lei. Como resposta, cinco dias depois, mais de 300 pessoas assinaram o “Manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial”, conclamando os congressistas para a aprovação urgente dos mesmos. Ambos manifestos foram enviados ao presidente do Senado, Renan Calheiros.

Leia mais:

Íntegra dos manifestos contra e a favor das cotas (fonte: Jornal Folha de São Paulo, 04/07/2006)

Fungo abre caminho para a reciclagem de resina não biodegradável

Pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) estudaram um meio para reciclar a resina fenólica, usada em colas e adesivos e na construção civil, e que não pode ser derretida ou reciclada. A chave está no fungo de podridão branca (Phanerochaete chrysosporium), que quebra a cadeia da resina, possibilitando a geração de um subproduto solúvel em água.

Dura e flexível, a resina fenólica, usada em colas e adesivos e na construção civil, não pode ser derretida ou reciclada como polietileno, o plástico das garrafas descartáveis. Para evitar que ela fique acumulada nos lixões, como ocorre no Brasil, pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) estudaram um meio para reciclar esse produto. A chave para a quebra da molécula está no fungo Phanerochaete chrysosporium, convenientemente chamado de fungo de podridão branca, que quebra a cadeia da resina, antes não biodegradável, possibilitando a geração de um subproduto solúvel em água.

Segundo Adam Gusse, um dos autores do artigo publicado em maio no periódico Environmental Science and Technology, apesar de ser possível a implantação em escala industrial, pode haver problemas com a cultura do fungo, como a regulação da temperatura e a reprodução do organismo em grande quantidade. Além disso, a pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp Lúcia Innocentini Mei ressalta que a viabilidade econômica fica comprometida, pois não se demonstrou até que ponto o bolor é eficiente ou rápido na degradação da resina.

Foram testadas 11 linhagens de fungos, cinco de podridão branca e um de castanha, cuja habilidade comum era biodegradar poluentes. De acordo com o estudo, esta é a primeira vez que foi demonstrada a quebra das resinas fenólicas por meio da mudança de coloração do fungo de amarelo para rosa (cor dos monômeros, estruturas que compõem parte da resina). No entanto, os especialistas do Instituto de Botânica de São Paulo, Vera Lúcia Ramos Bononi e Dácio Matheus, lembram que “essa função não é tão nova, mas vem sendo estudada desde 1989, quando se descobriu a capacidade destes fungos (basidiomicetos) degradadores de lignina em degradar poluentes orgânicos recalcitrantes [como pesticidas e corantes]”, diz o pesquisador. Análises brasileiras também indicaram a capacidade desse fungo de quebrar fenóis (substância que associada ao formaldeído constitui a resina fenólica). Na opinião do professor do Instituto de Química da Unicamp, Nelson Duran, como essa função era conhecida, já era possível concluir que o fungo degradaria a resina também.

Brasil

Embora não seja de uma linhagem nacional, o fungo de podridão branca ou ligninolítico desperta o interesse de pesquisadores brasileiros. Um dos que trabalham com esse organismo decompositor, Duran, acrescenta que seu uso possibilita a adição de menos quantidade de derivados de cloro para branquear o papel. Isso significa uma menor produção de organoclorados – compostos tóxicos que se acumulam nos organismos e podem causar doenças como transtornos hormonais, neurológicos, debilidade no sistema imunológico e câncer. O Instituto de Botânica de São Paulo também emprega o fungo há mais de dez anos para a descontaminação de solo com organoclorados contidos em agrotóxicos e que podem permanecer em atividade no solo por até 30 anos.

Até 1993, a empresa de produtos químicos Rhodia descartava organopoluentes, como o hexaclorobenzeno (HCB) e o pentaclorofenol (pó-da-china), em aterros clandestinos na Baixada Santista (SP). Quando o fato foi descoberto, a empresa e o Instituto de Botânica desenvolveram alternativas para desintoxicar, com a ajuda do fungo de podridão branca, uma área com cerca de 33 mil toneladas de organoclorados.

Dados de 2004 da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) apontam que, nesse ano, as empresas instaladas no país produziram quase 192 mil toneladas da resina fenólica e o principal destino foi a indústria de colas e adesivos, que consumiu 81% do produto. Já nos Estados Unidos, país onde a indústria química possui o maior faturamento do planeta (US$ 516 bilhões), a produção anual da resina gira em torno dos em 2,2 milhões de toneladas.

Embora a pesquisa tenha sido realizada apenas no laboratório e os obstáculos para a utilização do fungo sejam muitos, Adam Gusse acredita que essas barreiras podem ser transpostas devido à quantidade de conhecimento já acumulado sobre o emprego desse microorganismo em projetos industriais de larga escala. As informações do artigo sobre o processo de degradação podem servir também de subsídios para a mudança de atitudes com relação à resina fenólica e a conservação da madeira.