Prédio da Esalq é reconhecido por seu valor histórico

Em dezembro de 2006, foi concedido à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da USP localizada em Piracicaba, o título de Patrimônio Público Estadual, pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). O título vem após uma espera de 23 anos e abre novas possibilidades de obtenção de recursos para preservação do patrimônio.

No dia 12 de dezembro, foi concedido à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da USP localizada em Piracicaba, o título de Patrimônio Público Estadual, pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). O título vem após uma espera de 23 anos. Em 1983, indignada com as alterações feitas no prédio central para a instalação de aparelhos de ar-condicionado, uma aluna do curso de agronomia formalizou o pedido de tombamento junto ao Conselho. Em 2001 novo pedido foi feito, desta vez, solicitando o tombamento de outras áreas além do prédio central. Cerca de 25% do orçamento anual da Esalq destina-se à manutenção geral do campus, cerca de R$1,5 milhão em 2006. Com o tombamento, abrem-se novas possibilidades de obtenção de recursos juntos a órgãos e fundações atuantes na área de preservação do patrimônio.

Foram tombados 941,5 hectares (24,6% da área total do campus, que conta com 3.825 hectares – nada menos que 50,44% de toda a USP), que compreendem: o edifício central; o prédio da engenharia; pavilhão de horticultura; prédio da química (que conta com a inscrição “chimica” em sua fachada); antiga usina (atual estação de tratamento de água); almoxarifado e oficina; antiga colônia (atual centro de vivência); residências construídas próximas à alameda principal; antiga residência do diretor (atual museu); antigos estábulos, terreiro, armazéns, residências vinculadas aos campos de café; o parque e seu paisagismo; o sistema viário do entorno; e as zonas de cultivo e de mata preservada. Bustos, telas e retratos integrantes das edificações também foram contemplados. O tombamento implica na preservação das características originais do patrimônio e na proibição de novas construções na área delimitada.

Em 3 de junho de 1901, a Escola Prática Luiz de Queiroz, então uma instituição de ensino médio, passou a funcionar num prédio alugado pelo estado, no centro da cidade. Em 1905 as obras do edifício central tomaram fôlego na área doada desde 1896 por Luiz de Queiroz, engenheiro agrônomo e veterinário formado na Europa, que impôs uma cláusula que determinava o prazo de dez anos para o início das atividades da escola de agricultura por ele idealizada. Em 1925, a escola passa a ser de ensino superior, e, em 1934, com a fundação da USP em 1934, passa a ser um de seus campus.

O prédio central foi projetado, em 1895, por José Van Humbeeck, funcionário do serviço público do estado de São Paulo entre 1896 e 1911. Foi ele o autor de várias escolas públicas da época (principalmente do interior), idealizando soluções padronizadas, que resultaram em prédios que guardam semelhanças entre si. A concepção original do projeto da escola de agricultura consistia num longo edifício, com fachada de 100 metros, simétrico, com três corpos transversais que se destacavam. Ele seria o centro da escola, eixo principal de suas atividades, que, deveriam ser distribuídas, por um lado, na “fazenda modelo” (composta por terreiro, destilaria, tanques para piscicultura), e por outro, com o “posto zootécnico” (jardim, cavalariças, criação de bicho-da-seda, galinheiros, e pocilga modernos).

Da concepção original, só o edifício principal com os dois anexos foi executada. Os demais elementos previstos foram construídos em outras áreas da fazenda, e o parque ocupou os lugares da “fazenda modelo” e do “posto zootécnico”. Provavelmente seja de Humbeeck o projeto do pavilhão de zootecnia, já que o prédio guarda muitas semelhanças com o edifício central.

A partir de 1945 a Esalq começa a passar por grandes alterações, reformas e ampliações. Com isso, muito de seu aspecto original foi alterado. É datado deste ano a grande reforma do edifício central, que foi aumentado em mais um pavimento, elevação do frontão, alargamento do piso superior, que passou a ter as mesmas proporções que o térreo, construção de arcadas de alvenaria em substituição das estruturas metálicas anteriores.

O parque da Esalq é o único do país com estilo inglês, obra do arquiteto belga Arséne Puttmans, professor auxiliar de paisagismo da escola entre 1905 e 1913, e também autor, no mesmo período, dos projetos paisagísticos da Praça da República, do Parque da Independência do Museu Paulista (antigo Museu do Ipiranga), ambos em São Paulo, e do Parque do Campo de São Bento, em Niterói. De acordo com Henrique Sundfeld Barbin, que defendeu dissertação de mestrado versando sobre o parque da Esalq, é característico do estilo inglês de paisagismo a promoção do contato do observador com a natureza, rompendo com a retidão e a simetria das linhas em seu traçado. Com alamedas curvas, o parque em estilo inglês da Esalq, que segue sem grandes alterações desde sua concepção em 1907, induz o observador a acreditar que está caminhando numa mata fechada, graças à ilusão criada pelo paisagista de ora conduzir o observador a pontos de destaque situados entre os maciços de vegetação – por vezes situados a longas distâncias -, ora impedir totalmente qualquer visão que não seja a da mata.

Além da ornamentação, a função original do parque era a de prover com uma grande coleção de plantas os estudos botânicos realizados na escola. Seu minucioso planejamento pôde tornar possível que, com quase 100 anos, seja quase auto-sustentável, havendo pouca necessidade de interferência para sua manutenção.

Pesquisa sobre dança sinaliza importância da produção brasileira

Um estudo inédito realizado no Instituto de Artes da Unicamp aborda a técnica desenvolvida pelo bailarino Klauss Vianna e chama a atenção para a importância das pesquisas brasileiras na área. O trabalho será publicado em livro, com lançamento previsto para 2007.

Abordar a sistematização da técnica desenvolvida pelo bailarino Klauss Vianna e registrar seus conceitos inovadores sobre dança foram os objetivos do estudo desenvolvido pela coreógrafa e pesquisadora em dança contemporânea, Jussara Miller. Realizado como pesquisa de mestrado no Instituto de Artes na Unicamp, em 2005, o trabalho de Miller será publicado como livro, com lançamento previsto para 2007. A indicação para publicação considerou seu ineditismo e o valor como registro documental.

A escuta do corpo: sistematização da técnica Klauss Vianna trará não apenas a abordagem da técnica criada pelo coreógrafo, mas uma pesquisa histórica sobre Klauss, sua mulher Angel e seu filho Hainer, também bailarinos. “Esse trabalho de pesquisa é importante, pois valida a história e a técnica criada por um bailarino brasileiro. Precisamos valorizar o que é nosso, pois na área de dança muitos voltam-se para a produção externa, em detrimento da brasileira. Ainda temos um olhar colonizado”, argumenta Miller.

Segundo a pesquisadora, o mineiro Klauss Vianna revolucionou a dança em todo o Brasil, ao questionar a rigidez do ensino da dança na década de 1940. Ele propunha maior liberdade de criação de movimentos, a partir da consciência corporal. Isso porque a técnica Klauss Vianna pressupõe que, antes de aprender a dançar, é necessário que se tenha consciência do corpo, como ele é, como funciona, quais suas limitações e possibilidades. Propõe princípios da física e da anatomia para o estudo dos ossos e suas articulações, que segundo ele, funcionam como alavancas e dobradiças que levam ao movimento. Em suma, o movimento é gerado a partir dessa consciência.

Miller explica que com o aprofundamento dos estudos em anatomia e nas artes plásticas, o bailarino também passou a estudar uma nova maneira de ensinar dança. Hainer Vianna iniciou um trabalho de sistematização da técnica criada pelo pai, pois percebeu que as idéias em conjunto formavam uma nova estrutura de ensino, e fez uma elaboração didática da pesquisa, possibilitando que futuras gerações conheçam e apliquem esse trabalho. A técnica Klauss Vianna é aplicável não apenas na dança, mas no teatro, para músicos e todos que buscam qualidade de vida, na medida em que trabalha com a reeducação postural. Miller ressalta ainda que a técnica não exclui outros estilos de dança, e não é direcionada apenas para as artes cênicas. “Ela serve para a vida diária”, conclui ela.

Precisão proporciona subjetividade ao movimento

Na opinião de Miller, o trabalho de Vianna liberta o corpo de qualquer maneirismo ou concepção pré-estabelecida de forma de movimento. A pesquisadora esclarece que o método é dividido em três etapas: processo lúdico, processo de vetores e processo criativo. Na primeira o objetivo é o reconhecimento do corpo e do espaço, por meio da identificação das articulações ósseas e do tônus muscular com as idéias de peso, apoio e resistência, assim como o eixo global – integração do corpo com a gravidade na conquista do equilíbrio. Segundo Vianna, os movimentos são gerados por forças opostas, como por exemplo, quando a coluna vertebral é movimentada graças à oposição de movimentos do osso sacro e do crânio.

A partir da idéia de que os movimentos do corpo são proporcionados pelo direcionamento ósseo, Vianna mapeou oito vetores de força no corpo humano, distribuídos dos pés à cabeça: metatarsos, calcâneos, púbis, sacro, escápulas, cotovelos, metacarpos e sétima vértebra cervical. Para o bailarino, esses vetores estão inter-relacionados, compondo a direção óssea. No processo de vetores, o intuito é compreender que cada um deles aciona musculaturas específicas e que juntos, formam o movimento.

A partir dessa consciência, o executor inicia o processo de criação da dança, momento de subjetividade e de interpretação individualizada, baseada em direcionamentos precisos. Essa consciência oferece maior liberdade ao criador e o professor torna-se mero facilitador do movimento, ao invés de dar as regras do jogo.

A técnica, mais difundida a partir dos anos 1990, foi bem recebida no meio acadêmico, por ter cunho científico e aplicar a anatomia ao movimento. No entanto, segundo Miller, existem críticas em relação à sistematização da técnica: “Ninguém contesta Klauss Vianna, mas sim a sistematização do que ele criou, porque alguns estudiosos não querem formalizar algo que tende a ser livre. Mas não se trata de aprisionar o trabalho e sim deixar suas bases mais claras para construir e pesquisar um caminho, validando sua técnica entre pesquisadores”.

Pesquisa em dança no Brasil é pouco difundida

Arte e ciência têm uma estreita relação no âmbito acadêmico, no ensino e na pesquisa. Isso se reflete no número crescente de cursos de graduação e pós-graduação em dança no país, a exemplo da Unicamp, USP, Unesp, UFBA entre outras. Para Eusébio Lobo, do Instituto de Artes da Unicamp, as pesquisas na área estão ampliando e o Brasil pode ser considerado um país de excelência: “Temos inúmeras pesquisas em arte, que se intensificaram a partir da década de 90. Nessa época, muitos mestres e doutores foram formados e a relação dança-universidade intensificou-se. Em termos de quantidade, Europa e EUA são mais ricos devido a questões históricas que influem nesse levantamento. Mas quando falamos em qualidade, nossos trabalhos não deixam a desejar”, afirma. Segundo Lobo, um dos maiores problemas enfrentados é a ausência de uma bibliografia popularizada sobre dança. “Temos muito material de pesquisa, ao contrário do que as pessoas imaginam. O problema é que isso fica restrito aos bancos de dados das universidades, pois o mercado editorial valoriza pouco esse filão”, opina.

Para saber mais:

Vianna, Klauss. A Dança. Editora Summus, 3ª edição, São Paulo-SP, 2005.

Bibliografia de Pesquisa em Dança no Brasil: www.luciavillar.com.br

Instituições de ensino e pesquisa investem em tecnologia para jogos educacionais

O portal de conteúdo educativo Clickidéia mostra que os games podem ser utilizados como meio para o ensino e aprendizagem. Acessado há cinco anos por escolas de todo o país, o portal prepara um novo projeto para 2007. Mas uma escola de Campinas (SP) aponta que mesmo os projetos inovadores de tecnologia no ensino podem ter que ser repensados.

Os jogos eletrônicos estão presentes na vida cotidiana de crianças, adolescentes e adultos, e são um instrumento de mediação cultural que pode auxiliar na relação ensino-aprendizagem. Pensando nisso, o portal de conteúdo educativo Clickidéia projeta para 2007 implantar uma área específica de jogos educacionais interdisciplinares para atrair a atenção de alunos e professores. Os jogos serão desenvolvidos pela própria equipe do Clickidéia, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, coordenados pelo professor Eduardo Galembeck, responsável pelo Laboratório de Tecnologia Educacional do IB, que trabalha com software educacional e educação à distância.

“Hoje sabemos que recursos proporcionados pelos jogos eletrônicos despertam a atenção, motivando o estudo, principalmente de conceitos que muitas vezes são considerados desinteressantes ou abstratos demais”, afirma Cacilda Augusto Alvarenga, coordenadora pedagógica do portal, que tem a professora Vera Solferini, do IB/Unicamp, na coordenação geral. O conteúdo, que atenderá a todas as áreas (humanas, exatas e biológicas), será pensado para alunos dos ensinos fundamental e médio. Cada área já tem um especialista responsável pelo conteúdo disponibilizado (por exemplo, textos e recursos gráficos), além dos profissionais de tecnologia da informação e webdesigners responsáveis pela parte técnica e visual.

O Clickidéia já possui diversas ferramentas interativas para criação e publicação de trabalhos de alunos e professores. Entre elas, destaca-se o Baú de Idéias, espécie de blog através do qual os leitores têm a oportunidade de comentar os trabalhos disponibilizados. O portal, disponível há cerca de 5 anos, tem o apoio institucional da Unicamp e do CNpQ, e hoje, está presente em diversas escolas estaduais, sendo 132 apenas na Bahia. Atualmente, 250 mil alunos e 5.550 professores de todo o país têm acesso ao Clickidéia, onde já foram publicados 4.500 trabalhos. Duas escolas de Campinas (SP) funcionam como laboratório do portal. Elas acessam as novas ferramentas, metodologias e conteúdo, que são atualizados mensalmente, e avaliam. Atualmente o Clickidéia é de acesso restrito: apenas escolas, professores e alunos parceiros têm acesso.

Além de conteúdo, o Clickidéia também disponibiliza programas de capacitação para o processo de implantação da cultura digital nas escolas, que muitas vezes têm computadores, mas não têm projetos pedagógicos para a utilização dos recursos. “O uso das novas tecnologias nas escolas ainda é muito recente. Mesmo em instituições privadas, não existem muitos projetos para um uso adequado da Internet no ensino. Quando não há um trabalho pedagógico sistematizado e o direcionamento dos professores, um trabalho de pesquisa solicitado, por exemplo, pode muitas vezes resultar em um conteúdo desqualificado, até com erros conceituais”, diz Alvarenga.

“No caso dos jogos eletrônicos voltados para a educação, são poucas as instituições que investem na área. O objetivo de se desenvolver jogos interdisciplinares e implantá-los no portal é trabalhar conteúdo educativo através de jogos de estratégia, raciocínio e resolução de problemas relacionando às diferentes áreas de conhecimento. O jogo educativo é motivacional, pois possibilita interação que incentiva os alunos a acessarem o conteúdo várias vezes. A motivação, como sabemos, é um dos elementos de grande importância para que a aprendizagem aconteça”, completa.

Outra instituição que trabalha com a tecnologia na aprendizagem é a Escola do Sítio, também de Campinas (SP), que atende ao ensino fundamental e médio. “O projeto inicial da escola, o Geração Clique, vem sofrendo algumas mudanças. No início, a idéia era aproveitar o interesse dos alunos e instrumentá-los com as novas tecnologias, para que eles próprios interferissem nas aulas juntamente com o professor, que passaria a se identificar mais com as ferramentas, adaptando suas aulas às tecnologias. O trabalho durou 4 anos desse modo, mas hoje, a Escola do Sítio utiliza outros caminhos”, afirma Maria Helena de Sá, diretora pedagógica da escola. Depois de certo tempo, percebeu-se que os alunos já não ajudavam mais os professores a se capacitarem nas novas tecnologias e que eles as utilizavam para fins pessoais e não escolares.

Quando a professora de inglês incentivou os alunos a criarem uma página para a web, utilizando a língua estrangeira, onde as crianças disponibilizariam textos curtos falando de seus interesses, a turma se envolveu com o projeto. Mas quando o tema era, por exemplo, Egito antigo, os alunos diziam preferir utilizar as novas tecnologias para falar de bandas, por exemplo. “Era divertido, mas fora do contexto escolar. Quando percebemos que estávamos nos utilizando de um ‘quase método’ que mostrava desgaste em relação ao interesse e desafio aos alunos, a escola resolveu repensar o projeto, que no início foi definitivamente inovador e possibilitou muito aprendizado tanto aos professores quanto aos alunos. Percebeu-se ainda que os professores não se envolviam muito com as tecnologias e que precisavam de capacitação para aplicá-las ao ensino, o que acontece hoje e possibilita mais trocas entre eles e os alunos”, completa Helena de Sá.

Exemplo de experiência interessante do Geração Clique foi o jogo Ortografia, criado por uma aluna da 5ª série, que possibilitou o envolvimento de colegas de sala e professores nas aulas de português. “Os colegas gostaram muito da experiência, pois era uma forma diferente de trabalhar esse conteúdo escolar. Mas ainda havia dificuldade da apropriação das tecnologias pelos professores, que passavam a depender dos alunos para desenvolver essa atividade, por exemplo, com outras turmas”, diz a diretora pedagógica. O Geração Clique está sendo atualmente reavaliado e adaptado à realidade da escola; considerando ainda os avanços tecnológicos e a dificuldade da escola em acompanhá-los.