WiMesh é nova promessa para transmissão digital sem fio

Muito se fala sobre as tecnologias sem fio (ou wireless) como o futuro da transmissão digital de dados no mundo. Ainda pouco em evidência, porém, a tecnologia das redes Mesh sem fio promete revolucionar a comunicação pois segue uma lógica diferente das demais: quanto mais usuários ativos, mais eficiente é a transmissão.

Muito se fala sobre as tecnologias sem fio (veja reportagem na ComCiência) (ou wireless) como o futuro da transmissão digital de dados no mundo. No Brasil, a discussão sobre o leilão das faixas de freqüência de transmissão de 3,5 e 10,5 Ghz para WiMax, suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU), está no centro das atenções. As empresas que adquirirem as licenças no leilão poderão oferecer o acesso a essa tecnologia, que possui alcance de até 50 Km, bem maior do que o da já conhecida WiFi (de cerca de 100m). Ainda pouco em evidência, porém, a tecnologia das redes Mesh sem fio (também chamada WiMesh) promete revolucionar a comunicação, sobretudo nos grandes centros, pois segue uma lógica diferente das demais: quanto mais usuários ativos, mais eficiente é a transmissão.

O Seminário Futurecom 2006, realizado entre os dias 2 e 5 de outubro em Florianópolis (SC), trouxe como um dos temas as vantagens da tecnologia WiMesh. Para Josh Chai, diretor de desenvolvimento de soluções da D-Link, “o sistema WiMesh é revolucionário, mas poderá relacionar-se com WiFi e WiMax em função das necessidades dos usuários”.

A grande vantagem do WiMesh é a possibilidade de comunicação mútua entre todos os pontos de transmissão e acesso, sem a necessidade de direcionar o tráfego de dados para uma torre central. Assim, se um endereço da internet que interliga dois pontos falha, a rede automaticamente encaminha as mensagens por outra rota. “A comunicação pode acontecer de computador para computador, desde que eles estejam devidamente equipados com placas de transmissão e retransmissão capazes de permitir o contato com outras máquinas”, explica Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Faculdade Casper Líbero (SP). “E quanto maior o número de computadores com essa tecnologia, maiores as alternativas de transmissão, formando o que chamamos de ‘rede viral’”, diz.

Diferentemente, nas tecnologias WiFi e WiMax, a banda é compartilhada entre todos os pontos de acesso da rede, ou seja, a velocidade da transmissão (seja a uma taxa de 11 ou 75 Mbps) é dividida entre todos os seus pontos. Há necessidade de comunicação com uma central que recebe e reenvia os sinais, configurando uma topologia de rede em estrela. Dessa forma, redes WiFi ou WiMax ficam congestionadas e perdem eficiência enquanto redes Mesh ficam cada vez melhores quanto mais usuários estiverem conectados. Seria possível argumentar que as redes Mesh apresentariam, portanto, desempenho ineficiente no caso de poucos computadores conectados. Silveira contra-argumenta: “é possível contornar esse problema com computadores capazes de funcionar como ‘pontes’ de retransmissão mesmo que não estejam conectados”. Ele explica que a tecnologia permite que o equipamento presente nos computadores funcione como em stand by (espera).

Convivência de tecnologias

Qualquer tecnologia sem fio visa um bom desempenho, confiabilidade, ampla cobertura, segurança, mobilidade e preço acessível. Entre as três aqui mencionadas, há alternância de excelência em certos atributos. A tecnologia Mesh possui vantagens relacionadas à massificação de dispositivos do padrão Wi-Fi, com preços atrativos no mercado. O WiMax, porém, destaca-se pela qualidade do serviço. O sistema de acesso Wi-Fi, por sua vez, está presente em muitos computadores portáteis. Por isso a conexão do cliente por ponto não representa nenhum custo incremental e o acesso é oferecido em empresas, lojas e cafés.

A melhor tecnologia, na verdade, varia de acordo com o contexto em que ela se insere. Para Chai, “as tecnologias são muito mais complementares do que concorrentes”. Ele diz que a maioria das experiências com o WiMesh no mundo combina a tecnologia com o Wi-Fi. De acordo com Silveira, pode-se perfeitamente usar o WiMax para levar a conexão até uma empresa, que, internamente, utilize outra forma de interconexão, como o WiFi ou o WiMesh. “Sistemas híbridos podem ser muito interessantes”, afirma. Assim, a escolha do sistema vai depender das aplicações às quais ele irá se destinar e a expansão de um deles não necessariamente suplantará definitivamente o outro.

A consolidação das tecnologias sem fio depende da padronização dos sistemas de transmissão. Essa padronização, denominada protocolo, define como um programa deve preparar os dados para serem enviados para o estágio seguinte do processo de comunicação, especifica o formato de dados e as regras a serem seguidas. “É como uma linguagem, que permite a comunicação entre dois interlocutores”, compara Silveira. O órgão que define essa padronização é o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE, na sigla em inglês). WiFi e WiMax têm a vantagem de já terem sido padronizados pelo IEEE. Já o WiMesh ainda está em processo de padronização, mas está em vias de se tornar o padrão IEEE 802.11s, atualmente em discussão. Chai afirma que “o Wi-Mesh deverá ser padronizado até meados de 2007″.

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Livro inédito aborda crenças sociais em domínios como a educação

O livro Auto-eficácia em diferentes contextos, organizado por Roberta Gurgel Azzi e Soely Polydoro, da Faculdade de Educação da Unicamp, que será lançado ainda este ano, aborda a teoria da auto-eficácia e sua importância, entre outras coisas, para o planejamento docente.

O livro Auto-eficácia em diferentes contextos, organizado pelas docentes da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, Roberta Gurgel Azzi e Soely Polydoro, é resultado de estudos brasileiros inéditos em teoria social cognitiva e está em fase final de revisão, previsto para ser lançado ainda este ano pela editora Alínea. Além de apresentar as idéias do psicólogo canadense Albert Bandura, pesquisador da Standford University – autor que se tornou referência para a teoria social cognitiva, cujo conceito central é a auto-eficácia -, o livro aborda em cada capítulo um domínio específico em que a teoria pode ser estudada, como por exemplo, a importância da auto-eficácia para o planejamento docente.

Segundo Bandura, auto-eficácia é a crença nas habilidades individuais de organizar e exercitar os recursos para administrar situações com vistas no futuro. Pesquisas realizadas na área comprovam a relação entre a crença de auto-eficácia do professor e os resultados conseqüentes na educação. Em relação à capacidade do professor em ensinar, por exemplo, é observado que, a partir de sua auto-eficácia, ele escolhe estratégias de ensino para manter o controle da aula.

Ainda de acordo com Bandura, a auto-eficácia dos professores aparenta ser um bom indicador de sucesso acadêmico do aluno. Para Polydoro, uma das organizadoras do livro, os estudos que relacionam a auto-eficácia e a docência também mostram que a capacidade do aluno pode estar ligada à promoção do ambiente educacional mediado pelo professor. Assim, a auto-eficácia influencia a motivação e o aprendizado.

O livro é dirigido a pesquisadores, profissionais e estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes áreas do conhecimento, com destaque para as áreas de psicologia, educação, saúde e esporte. “Os Estados Unidos possuem a maioria das publicações na área, sendo que em português existem poucos textos. Quando muito, alguns capítulos de livros abordam o tema. Será uma publicação inédita no Brasil”, afirma Polydoro, também coordenadora do Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação Superior (PES).

O PES atualmente desenvolve duas grandes pesquisas na área de auto-eficácia. Uma delas, “Investigando percepções de auto-eficácia no contexto educativo”, em fase de coleta de informação, foca as crenças do aluno, do professor do e gestor em organizar e executar determinadas ações. O corpus da pesquisa abrange tanto alunos no ingresso quanto no final dos cursos de licenciatura, e o estudo aborda como eles estão em termos de sua crença de auto-eficácia para a futura prática docente. “Até para pensar a formação do professor, que é uma das preocupações do PES”, diz Polydoro. O objetivo final desse estudo é possibilitar intervenções que favoreçam o aprendizado. Outro grupo em análise é de professores no início de carreira, de diferentes áreas do conhecimento como matemática, educação física ou idiomas estrangeiros.

A outra pesquisa, “A auto-eficácia nas produções de Albert Bandura: contextualizando contribuições”, traz para o contexto brasileiro a teoria de Bandura. Este projeto teve financiamento do Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão (Faepex) da Unicamp, que possibilitou viagem acadêmica aos Estados Unidos – durante a qual se coletou as obras do autor a serem estudadas -, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Estes apoios foram de extrema importância para reunir artigos de Bandura, o que permite hoje um estudo sobre as idéias do autor ao longo do tempo. Com o material que temos, dispomos de condições de conhecer bem sua obra. Ele em pessoa nos ofereceu muitas separatas de artigos que teríamos muita dificuldade em obter, alguns da década 50”, afirma Roberta Azzi. Espera-se, com este projeto, contribuir com a produção de textos que apresentem e problematizem as idéias e estudos deste autor, assinalando também sua contribuição em diferentes campos do conhecimento.

A maioria dos colaboradores do livro que está sendo finalizado é da FE, como Anita Liberalesso, Evely Boruchovitch e Márcia Brito, mas a coletânea também inclui autores de instituições portuguesas, como os professores Diana Vieira e Joaquim Luís Coimbra, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Destaca-se, ainda, o autor José Aloyseo Bzuneck, professor do Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina, brasileiro precursor na abordagem do tema da auto-eficácia docente relacionada à motivação. Ele é uma das referências no país em relação ao estudo da teoria social cognitiva, cujo conceito central é a auto-eficácia.

A teoria de Bandura

site que tem o maior conjunto de informações sobre a teoria, principalmente sobre o conceito de auto-eficácia, é de responsabilidade de outro especialista, Frank Pajares, professor da Emory University. Em seu site, é possível visualizar a amplitude de países e domínios envolvidos com o tema. Quando o grupo de pesquisadores brasileiros começou a se envolver cada vez mais com ele, também criaram um site agrupando informações sobre estudiosos do país, cujo principal objetivo é possibilitar o intercâmbio entre pesquisadores e áreas de estudo. “Este encontro possibilita o fazer ciência”, diz Polydoro.

O próprio Bandura produziu o Guide for Creating Self-Efficacy Scales, guia com elementos para a construção dos instrumentos de estudo, se preocupando não apenas com a teoria, mas com questões de metodologia. “Em suas obras, o autor destaca a relação de três elementos importantes para a análise da auto-eficácia: o ambiente, o comportamento e os fatores pessoais. A partir deste pressuposto, há a idéia de ‘agente humano’, ou seja, de que os indivíduos possuem capacidades que dão a eles condição de ser alguém atuante para tomar decisões, desenvolver e alcançar metas”, diz Polydoro.

Outros conceitos importantes na área são: a “auto-regulação”, que significa o monitoramento e o julgamento da ação, e a “modelação”, ou seja, o agente aprende também observando, não apenas através da participação direta. “A partir da idéia de auto-regulação, considera-se o desenvolvimento moral do individuo, tema em constante discussão na atualidade, ou seja, como as pessoas trabalham com as regras, normas e valores da sociedade, justificando suas ’saídas’”, afirma Polydoro.

Esses conceitos centrais da teoria social cognitiva serão tratados em outro livro em produção, denominado Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos, com previsão de publicação para início de 2007 pela Artmed. Esta obra, de caráter teórico, é organizada pelo próprio Albert Bandura e tem como autores, além de Roberta Azzi e Soely Polydoro, Frank Pajares, Fabian Olaz, Anna Edith Bellico da Costa e Fábio Iglesias.

Vacina contra HPV não descarta exames preventivos para as mulhere

Aprovada em agosto pela Anvisa, a nova vacina contra HPV está na pauta da mídia e dos congressos médicos. O que pouca gente sabe é que ela não descarta a necessidade de a mulher fazer exames preventivos e que um instituto brasileiro busca, sem muitos recursos, criar uma vacina nacional e mais barata.

No final de agosto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a entrada no país de uma vacina para prevenção do HPV (papiloma vírus humano), um dos fatores de risco para o câncer de colo de útero – doença que mata cerca de quatro mil mulheres anualmente no Brasil. A nova droga foi testada no país em 15 diferentes centros de pesquisa, que acompanharam mais de 3400 mulheres por cinco anos.

A nova vacina é profilática, ou seja, preventiva para mulheres que não tiveram nenhum contato com HPV. Ela não exclui, no entanto, a continuação de exames preventivos como o Papanicolau. “Se a mulher se vacinar e não fizer o Papanicolau, ao invés de se proteger, estará com maior risco de contrair o vírus”, afirma a oncologista e pesquisadora do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp Sophie Derchain.

O Ministério da Saúde ainda não sabe a viabilidade financeira dessa vacina, mas no mercado norte-americano ela é vendida a 120 dólares (em torno de 260 reais) e deve ser tomada em três doses (a segunda e a terceira doses são aplicadas no segundo e sexto mês após a primeira injeção). Enquanto isso, o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan, em São Paulo, busca desenvolver uma vacina nacional mais barata contra HPV.

Há um ano e meio Paulo Lee Ho, pesquisador do Butantan, estuda uma vacina feita com um fungo diferente do utilizado na vacina importada e com maior rendimento de produção. Segundo ele, os resultados são promissores, pois o grupo já conseguiu expressar a proteína L1, que estimula a formação de anticorpos contra o HPV, com rendimento similar ao que ocorre na vacina de Hepatite B, com custo de cerca de US$ 0,25 a dose (pouco mais de R$ 0,50).

O projeto nacional, no entanto, ainda busca financiamento e deverá levar ao menos mais quatro anos para ser concluído. Lee Ho acredita que o preço da vacina lançada agora no país deverá ser reduzido, principalmente devido a estudos com vacinas alternativas, como o do Butantan. “Como instituto público, nossa vacina, quando ficar pronta, chegará ao consumidor de forma gratuita pelo sistema público de saúde”, prevê o pesquisador.

A vacina importada foi descoberta por dois pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (EUA), Douglas Lowy e Jonh Schiller e licenciada por duas gigantes farmacêuticas, a Merck Sharp & Dohme, que lança o produto agora, e a Glaxo Smith Kline, que provavelmente lançará o seu em 2007. De acordo com o Diretor de Comunicação da Merck, João Sanches, a multinacional vai trabalhar em parceria com o governo brasileiro para que ela seja acessível. A nova droga tem eficácia no combate a quatro tipos de HPV (nomeados pelos cientistas como 6, 11 ,16 e 18), em mulheres entre 9 e 26 anos, que ainda não iniciaram sua vida sexual. Ainda estão em andamento estudos para avaliar a eficácia da vacina em homens de 16 a 26 anos de idade e mulheres de 27 a 45 anos. Sophie Derchain afirma que existem mais de cem diferentes tipos de HPV, muitos deles ainda sem nomeação pelos pesquisadores, só detectáveis através de exame.

Estatísticas

Em todo o mundo, cerca de 630 milhões de homens e mulheres estão infectados pelo HPV. A transmissão do vírus é feita pelo contato genital com a pessoa infectada e por via sanguínea, de mãe para filho, na hora do parto, ou pelo contato com objetos contaminados, como toalhas, roupas íntimas, vasos sanitários e banheira. A maioria das infecções desaparece sem tratamento, porém 99,7 % dos casos de câncer do colo do útero estão relacionados a essas infecções, daí a preocupação dos médicos e a necessidade de detecção precoce. Nos casos mais graves, o HPV pode causar cânceres cervical, vaginal e vulvar; e nos homens pode causar câncer de pênis ou ânus. As conseqüências da infecção, no entanto, acabam sendo menores neles, pois as verrugas que se formam, são mais visíveis e facilitam o diagnóstico e tratamento precoce.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é a quarta causa de morte por câncer em mulheres, registrando 19 mil novos casos anualmente.