Congresso debate novos tratamentos para diabetes

No Brasil, o diabetes provoca 30 mil amputações anuais em uma população entre 10 a 12 milhões de diabéticos, da qual metade não sabe ao menos seu diagnóstico. A questão e novos tratamentos para a doença foram abordados no Congresso Anual da Associação de Diabetes Juvenil, que ocorreu entre os dias 13 e 15 de outubro de 2006, em São Paulo.

Mais de 200 milhões de pessoas no mundo têm diabetes e estima-se que 3 milhões chegam ao óbito em função da enfermidade. Além disso, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), grande parte dos diabéticos não recebe os cuidados adequados. No Brasil, o diabetes provoca 30 mil amputações anuais em uma população entre 10 a 12 milhões de diabéticos, da qual metade não sabe ao menos seu diagnóstico. A questão e novos tratamentos para a doença foram abordados no Congresso Anual da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), que ocorreu entre os dias 13 e 15 de outubro de 2006, em São Paulo.

A insulina inalada é a uma das novidades que o congresso apresenta. “Embora a insulina seja a mesma, a via de aplicação é inovadora, principalmente para aqueles pacientes resistentes a aplicações injetáveis”, comenta endocrinologista Denise Reis Franco, pesquisadora do Núcleo de Terapia Celular e Molecular (Nucel) da Universidade de São Paulo.

Para 2007, a expectativa é a chegada de um sistema de infusão de glicose, assim como de um monitor de glicemia por meio de um adesivo em contato com a pele. Segundo Franco, que também é diretora científica da ADJ, atualmente esse monitoramento é feito a partir da extração de uma gota de sangue na ponta do dedo.

Já utilizado no Brasil, mas ainda pouco difundido, o sistema de infusão de insulina permite a queima do carboidrato ingerido. Em vez da aplicação por meio de seringa e agulha, há um aparelho que injeta insulina gradualmente ao longo do dia via cateter. A endocrinologista explica que, para cada refeição, o usuário programa seu aparelho com uma quantidade de insulina, baseada na quantidade de carboidratos ingeridos – aproximadamente 1 unidade de insulina para cada 15 gramas de carboidratos.

A pesquisadora do Nucel esclarece que ainda em protocolo de estudo, mas menos arriscado do que um transplante de órgãos, é a realização do implante de ilhotas – células do pâncreas que produzem insulina e glucagon, substâncias que agem como reguladores do metabolismo do açúcar.Segundo ela, a técnica é uma esperança de tratamento para diabéticos tipo 1, ou seja, aqueles que não possuem insulina, em função da destruição das células Beta que a produzem. Neste tipo de diabetes, o sistema de defesa do organismo não reconhece essas células e as ataca como se fossem corpos estranhos.

Uma vez que as células de ilhotas são injetadas no organismo do paciente, a expectativa é que se instalem no fígado e produzam insulina. O procedimento é internacionalmente realizado desde 2000. No Brasil, o Nucel em parceria com o hospital Albert Einstein é o único a realizá-lo desde 2002. A contrapartida dessa técnica é a necessidade de imunossupressão para evitar a rejeição do organismo às ilhotas. Embora mais leve do que aquelas envolvidas em transplante de órgão total, a imunossupressão é para o resto da vida. Nessa direção, Franco diz que esse procedimento é indicado para casos específicos, como aqueles que o paciente possui labiridade (hipoglicemia sem sintomas). A hipoglicemia é um estado de baixo nível de açúcar no sangue, que pode causar disfunções cerebrais graves, como o coma. “Imagine um paciente que está dirigindo. No caso de queda do nível de açúcar, não há tempo para providências se esse entra em coma”, ilustra a médica.

Para o diabetes do tipo 2, ou seja, a produção de insulina pelo pâncreas está comprometida, uma das expectativas para 2007 é uma droga análoga ao hormônio (GLP1) produzido no intestino, que estimula a secreção de insulina. Essa droga injetável estimula o próprio pâncreas no controle fisiológico da secreção de insulina, e promove um controle glicêmico sem hipoglicemia, e também viabiliza a redução das doses de insulina na terapia. De acordo com a pesquisadora, em contraponto com a insulina, a nova droga reduz a fome e, conseqüentemente, o peso. “Um dos grandes problemas da insulinização é o aumento de peso, além disso a necessidade de doses cada vez maiores, desequilibra o organismo”, comenta a diretora científica da ADJ. Segundo Franco, resultados de laboratório indicam um aumento de células beta em ratos, quando submetidos a terapia com a droga, o que revela uma chance de reverter a doença.

Iniciativas institucionais no Brasil

Apesar do nome, a Associação de Diabetes Juvenil cuida de pacientes de todas as idades e focaliza seus esforços na qualidade de vida dessas pessoas. Nessa direção, idealizou e incentivou a implantação da Rede Nacional de Portadores de Diabetes (RNPD), lançada durante o evento. Segundo o coordenador nacional da rede, o bibliotecário Lucas Soler, seu objetivo principal é promover a circulação de informações e lutar pela defesa dos direitos humanos e políticas públicas de saúde para os diabéticos. “Uma vez consolidada, a rede se estenderá a toda América Latina”, é o que comenta a representante da IDF no congresso, a jurista Susana Campella.

No congresso também foram lançadas duas cartilhas: uma voltada para os portadores do diabetes e a outra para as escolas. Na primeira, os direitos dos diabéticos são abordados, assim como os possíveis mecanismos jurídicos para defendê-los. A segunda expõe os melhores procedimentos para a comunidade escolar no trato de alunos diabéticos.

Além de exposições interativas, ocorreram no evento alguns cursos e o fórum de atualização e educação em diabetes. Para a psicóloga Graça Maria de Carvalho Camara, consultora de Educação em Diabetes da ADJ, “além da linguagem voltada para a conscientização da questão, percebemos a necessidade de dar mais informações para os profissionais de saúde”.

Possibilidade de escassez estimula melhor aproveitamento do látex

O estado de São Paulo é o principal produtor de látex do Brasil e um dos maiores em produtividade mundial, embora o país ainda importe cerca de dois terços da matéria-prima. Duas pesquisas realizadas na na área Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) focalizam o tema.

O estado de São Paulo é o principal produtor de látex do Brasil e um dos maiores em produtividade mundial, embora o país ainda importe cerca de dois terços dessa matéria-prima para seu consumo. Os números explicam porque a ciência se preocupa com a cultura da seringueira (heveicultura), cuja renda é proporcional aos lucros gerados pela cana-de-açúcar: os seringais geram R$ 6.000,00 por hectare. Atualmente, São Paulo conta com 60 mil hectares de seringueiras, gerando 24 mil empregos diretos e indiretos no campo. Somam-se ainda três mil empresários heveicultores (exploradores de látex). Dê olho neste panorama, duas pesquisas realizadas na área de Agricultura Tropical e Subtropical, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sob coordenação do pesquisador Paulo Gonçalves, focalizam a heveicultura.

Das duas pesquisas, uma já foi concluída e trata da obtenção do melhor porta-enxerto (porção da planta que forma o sistema de raízes) para receber os clones (cópia da planta, idêntica à original) de seringueira recomendados para plantio no estado de São Paulo. A outra pesquisa, ainda em andamento, tem por objetivo conseguir o melhor sistema para explotar o látex da seringueira no território paulista, já que um dos principais problemas encontrados na heveicultura nessa região é o alto custo da extração da borracha, que envolve mão-de-obra especializada, reduzindo os lucros do produtor. O termo explotação do seringal compreende uma série de operações com a finalidade de obter o látex, sua retirada do seringal e conservação. De acordo com Paulo Gonçalves, a forma de retirada do látex da seringueira é uma das práticas mais importantes da cultura, fator determinante para a vida útil do seringal e sua produtividade. “Além disso, a extração responde por aproximadamente 60% dos custos totais de borracha produzida. Ou seja, o processo de obtenção é decisivo para o sucesso do agronegócio da seringueira”, afirma Gonçalves.

Diante dessa necessidade do setor, a pesquisa em andamento, realizada pelo pesquisador Juliano Quarteroli Silva, tem como principal objetivo identificar o melhor sistema de explotação do látex, para cada um dos dez diferentes clones de seringueira para a região oeste paulista. Esse sistema envolve a viabilidade econômica e aspectos fisiológicos, como a seca do painel, importante enfermidade que provoca baixo rendimento ou obstrução completa da produção de látex e deformação da casca da árvore. “Provavelmente, essa enfermidade pode ser causada pela adoção de sistemas de explotação com alta freqüência de sangria e altas concentrações de estimulante”, afirma o engenheiro agrônomo. Ele ressalta, porém, que as causas da síndrome ainda não foram esclarecidas.

Com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo e econômico de clones de seringueira, sob diferentes sistemas de sangria, a pesquisa envolve análise de vigor, produção, seca do painel e parâmetros econômicos. “Estamos estimando os custos totais, receita líquida e ganho líquido para cada clone por sistema de explotação”, diz Quarteroli, que iniciou as análises em março de 2006. A conclusão da pesquisa será em janeiro de 2008, mas já há resultados de melhores sistemas de sangria para três clones estudados.

Com base nos estudos, o aluno explica que as hipóteses científicas são que a redução da quantidade de sangrias, de acordo com os sistemas estudados, além de diminuir os custos de produção e, conseqüentemente, proporcionar maior ganho líquido, poderá diminuir o trauma às plantas, aumentar o tempo de regeneração do látex entre duas sangrias e reduzir enfermidades fisiológicas, como a seca do painel. “Um possível decréscimo da produção ocasionado pelos sistemas de baixa freqüência de sangria poderá ser minimizado com a adoção de um sistema de estimulação adequado”, avalia. Segundo Quarteroli, os estudos desenvolvidos, por enquanto, são restritos à SP, não podendo ser aplicado a outras culturas de seringueira do país, enquanto não houver pesquisas que comprovem sua eficiência em outros tipos de solo, clima e biodiversidade.

Especialistas alertam para escassez de látex no mundo

A seringueira é a maior fonte de borracha natural. Única entre os produtos naturais, a borracha natural é possuidora de elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste, propriedades isolantes de eletricidade, e impermeabilidade para líquidos e gases. É obtida das partículas contidas no látex, por meio de cortes sucessivos de finas fatias de casca, processo denominado de sangria.

A espécie H. brasiliensis é a fonte principal de borracha natural produzida no mundo. Sua produção mundial em 2005 foi de 8.682 mil toneladas, para um consumo de 8.742 mil toneladas do qual mais de 79% é originária do sudeste asiático, em países como a Tailândia (33%), Indonésia (26%), Índia (9%) e Malásia (13%). O Brasil, hoje, é responsável por cerca de 1% da produção mundial de látex.

No entanto, o cenário futuro de produção de seringueira não é nada otimista. A previsão de economistas internacionais, segundo Paulo Gonçalves, é de que as curvas de produção e consumo tendam a divorciar-se nesse milênio, quando o mundo, em 2020, estará produzindo cerca de 7,06 milhões de toneladas, diante de um consumo de 9,71 milhões de toneladas, representando séria escassez dessa matéria-prima no planeta.

Em razão de sua importância econômica para o Brasil e dessa preocupação entre pesquisadores, a seringueira também tem sido estudada, em diversos aspectos, por grupos de pesquisa da Embrapa e Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), com apoio da Fapesp e CNPQ.

Para saber mais sobre látex:

Instituto Agronômico de Campinas – Programa Seringueira

Ambiente Brasil

Cigarros light: ilusão de opção menos prejudicial

Esta é uma das conclusões apontadas pelo estudo recém-publicado no periódico online American Journal of Public Health, conduzido por Hilary Tindle, da Universidade de Pittsburgh. Entre os 12.285 fumantes pesquisados, um terço dos que fumam cigarros light acreditam ser esta uma opção mais saudável. Cerca de 50% desses fumantes têm menos intenção de parar em relação aos outros.

Esta é uma das conclusões apontadas pelo estudo recém-publicado no periódico online American Journal of Public Health, conduzido pela pesquisadora Hilary Tindle, da Universidade de Pittsburgh. Entre os 12.285 fumantes pesquisados, um terço dos que fumam cigarros light acreditam ser esta uma opção mais saudável. Cerca de 50% desses fumantes têm menos intenção de parar em relação aos outros. A pesquisa ainda concluiu que este efeito aumentava conforme a idade dos fumantes, tendo seu pico em adultos com 65 anos ou mais. As mulheres de alta escolaridade constituem-se no mais expressivo grupo de consumidores deste tipo de cigarros. Os resultados da pesquisa preocupam à medida em que demonstram que os fumantes de cigarros light acreditam estar causando menos prejuízos à sua saúde.

“A associação do uso deste tipo de cigarro com pessoas mais inteligentes ou intelectualizadas é também uma falácia marqueteira. Por trás dos ‘menores teores’, está a mensagem subliminar que os cigarros light são cigarros menos prejudiciais à saúde, o que não é a realidade a respeito do assunto”, afirma a médica e professora de pneumologia da Unicamp e Puccamp, Mônica Corso. Ela explica que os cigarros light foram desenhados para fornecer teores reduzidos quando fumados em situações experimentais nas quais são utilizadas “máquinas de fumar”. Nelas, o fluxo de ar, a freqüência e a duração da tragada são parâmetros fixos. “Ocorre que, ao serem fumados por pessoas reais, que modulam o tempo de inalação, o volume de ar, a fumaça aspirada e outros detalhes do ato de fumar, os níveis de nicotina entregues são semelhantes aos dos cigarros comuns. Os cigarros light têm mais poros no filtro, de modo que há um aumento da ventilação no ato de fumar. No entanto, o fumante, sem perceber, aperta os lábios e impede esta maior ventilação durante a tragada”.

Outro estudo produzido no Japão e divulgado pela agência Fapesp em 2004, demonstrou que, ao trocarem cigarros com 1,1 mg de nicotina por cigarros com 0,1 mg, os fumantes não reduzem o consumo de nicotina em dez vezes, como imaginam, e sim, em média, em apenas duas vezes, ou menos. Esta investigação mostrou também que, ao fumarem este tipo de cigarros, os dependentes contumazes de nicotina podem utilizar práticas compensatórias, como tragar mais profundamente, ou fumar em maior quantidade. Dentre os 458 homens estudados, aqueles que fumavam mais de 40 cigarros light por dia não demonstraram em seus exames de urina redução considerável da cotinina – substância resultante da quebra da nicotina pelo organismo – no sangue.

Mesmo nos light, encontram-se na fumaça do cigarro mais de 4700 substâncias tóxicas diferentes. Da combinação com uma delas, o monóxido de carbono, e a nicotina, para além das doenças cardivasculares, ocorrem processos químicos no aparelho gastrointestinal do fumante que podem resultar em úlceras gástricas. No aparelho respiratório, tal combinação resulta em doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC). Esta sigla abarca duas doenças: a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. “No Brasil, estima-se que a DPOC ocorra em pelo menos 15% dos fumantes, o que permite estimar uma prevalência de cerca de 8 milhões de portadores de DPOC”, alerta a Mônica Corso.

Abandonar o vício é a única maneira de preservar a saúde, dizem os especialistas. De acordo com as orientações do Instituto Nacional do Câncer, em sua página na internet, o que traz satisfação ao fumante é o modo como ele consume a nicotina, substância que efetivamente vicia. A nicotina é uma droga psicoativa e que causa dependência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Com mecanismos de ação no organismo semelhantes às da cocaína, a nicotina age no sistema nervoso central, e demora em torno de 9 segundos para chegar ao cérebro. O tabagismo é considerada uma doença e está classificada no Código Internacional de Doenças (CID-10) no grupo de transtornos comportamentais e mentais provocadas por substâncias tóxicas. O uso de nicotina provoca vasoconstrição, aumentando a freqüência cardíaca, provocando hipertensão arterial e uma maior adesividade plaquetária.

Propaganda enganosa

Baseado no argumento de que os cigarros light levam os consumidores a acreditar que estão, de alguma forma, preservando sua saúde, o juiz federal americano Jack Weinstein qualificou como “ação coletiva” um processo contra as principais indústrias do tabaco americana: Philip Morris, R.J. Reynolds Tobacco Co., Lorillard Tobacco Co.. O advogado Michael D. Hausfeld, que moveu a ação, argumenta que as empresas sabem dos efeitos nocivos dos cigarros light à saúde de seus consumidores, mas não divulgam tais informações com vistas à preservar seus lucros. Para ele, se os fumantes de cigarros light soubessem desses efeitos – similares aos comuns – teriam esperado descontos de 50% a 80% do preço do maço. Baseada nesta simulação, a indenização prevista gira em torno de US$ 200 bilhões. Já não é a primeira vez que processos com indenizações milionárias se abatem sobre a indústria do tabaco; entretanto, elas costumam ser revertidas no decorrer do processo judicial.

No Brasil, em março de 2001, o Ministério da Saúde regulamentou uma medida (Resolução da Anvisa nº 46) proibindo o uso dos termos classes, ultra baixos teores, baixos teores, suave, light, soft, leve, teores moderados, altos teores, e outros que possam induzir o consumidor a uma interpretação equivocada no uso de derivados do tabaco. Desde então, é proibido no país o uso da denominação light nos maços. No entanto, as diferentes cores e tons usados nos maços continuam sugerindo aos consumidores que estes são menos prejudiciais.