Matemática e redes neurais auxiliam no estudo da linguagem

Pesquisadores do Laboratório de Fonética e Psicolingüística (Lafape) do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp estão utilizando ferramentas da matemática e da computação para descrever e modelar dados lingüísticos. Com isso, acabam de desenvolver o embrião de um Banco de Dados Lexicais do Português Brasileiro, ainda em fase de testes, mas que, posteriormente, será aberto à comunidade científica. O banco de dados pode ser utilizado para a busca de palavras com um determinado som, recurso muito importante no trabalho de fonoaudiólogos com crianças que apresentam distúrbios fonológicos. E pesquisadores das artes, por exemplo, também podem utilizar a ferramenta para fazer uma análise do canto.

Pesquisadores do Laboratório de Fonética e Psicolingüística (Lafape) do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp estão utilizando ferramentas da matemática e da computação para descrever e modelar dados lingüísticos. Com isso, acabam de desenvolver o embrião de um Banco de Dados Lexicais do Português Brasileiro, ainda em fase de testes, mas que, posteriormente, será aberto à comunidade científica. O banco de dados pode ser utilizado para a busca de palavras com um determinado som, recurso muito importante no trabalho de fonoaudiólogos com crianças que apresentam distúrbios fonológicos. E pesquisadores das artes, por exemplo, também podem utilizar a ferramenta para fazer uma análise do canto.

Essa ferramenta é um servidor de aplicações web para busca de dados fônicos (sons de fala) e lexicais para a utilização via internet. É baseado no programa Listas – desenvolvido no Lafape em 1993, que contém o Mini-Dicionário Aurélio – e no Projeto CELEX da Comunidade Européia, desenvolvido por pesquisadores do Max Planck Institute e da Universidade de Nijmegen, ambos da Holanda. No projeto do banco de dados, utilizou-se o software livre PostGreSQL. Os primeiros dados inseridos no banco vieram da Linguateca, um centro de recursos sobre a língua portuguesa sediado em Portugal. Depois, os dados passaram por um convertor ortográfico-fônico, o Ortofon, também desenvolvido no Lafape em 1996.

Eleonora Albano, uma das coordenadoras do estudo iniciado em 2002, explica que a matemática, por meio da teoria dos sistemas dinâmicos, é utilizada para formalizar o movimento que a boca faz para produzir os sons. Um sistema dinâmico é algo que pode ser modelado matematicamente e que apresenta um caráter dinâmico, ou seja, varia com o tempo podendo ser possível prever seu comportamento futuro.

A fala é entendida como um movimento audível, segundo o conceito de fonologia articulatória. “A fala é tratada como uma orquestração, ou seja, vários pulsos funcionando simultaneamente.”, afirma Albano. Os pesquisadores do Lafape fizeram uma análise de linguagem experimental, utilizando gravações e simulações no computador. Além dos sistemas dinâmicos, os cientistas utilizaram as redes conexionistas (redes neurais ou sistemas que aprendem). “O programa científico que uniria o dinamicismo [teoria dos sistemas dinâmicos], o conexionismo [redes neurais] com a fonologia articulatória tinha tudo para tratar de linguagem. As redes conexionistas podem ir além do léxico, podem tratar de gramática.”, esclarece a pesquisadora.

O projeto do Lafape mostrou ainda que um sistema pode ser capaz de aprender duas línguas diferentes, reconhecendo suas diferenças lexicais e estruturais. Albano pretende dar continuidade neste projeto com o banco de dados Emília, que terá textos do Linguateca e do jornal Folha de S. Paulo, que foram tratados por especialistas e passaram por analisadores sintáticos, que esclarecem, por exemplo, o que é o verbo, o substantivo e o adjetivo de uma frase. “Eu estou dando o tratamento fônico [nesses dados], colocando a letra que mais se adequa a determinado som”, diz Albano.

Maiores informações: http://www.lafape.iel.unicamp.br/pessoal.htm

Livro em guarani auxilia na educação indígena no RS

As aldeias guarani do Rio Grande do Sul contam agora com um aliado para o ensino e a preservação de sua língua nativa: a obra Ayvu Anhetenguá (“Palavras Verdadeiras”) desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a Secretaria Estadual de Educação. Escrito inteiramente em guarani, o livro foi elaborado por uma comissão formada por professores de cinco aldeias que ouviram indígenas mais velhos e reuniram escritos e desenhos sobre a história do povo guarani.

“Ao anunciar a possibilidade de produção de um livro, para circular, principalmente, nas aldeias, ouvimos a disposição dos Guarani para produzí-lo. A obra poderia ser bilíngüe. Entretanto, como era a primeira, os Guarani acharam que ele deveria ser todo na língua guarani”, lembra Maria Aparecida Bergamaschi, professora da Faculdade de Educação da UFRGS e uma das coordenadoras do projeto, iniciado em novembro de 2003.

O objetivo principal do livro foi reunir professores indígenas e lideranças tradicionais das aldeias guarani para que, juntos, fizessem uma reflexão sobre a escola e a educação indígena. A obra faz parte do projeto de extensão intitulado “Educação Escolar Guarani e Kaingang: Formação de Professores e Produção de Material Didático-Pedagógico” da UFRGS.

Segundo Bergamaschi, o projeto é inovador: se a escola está nas aldeias ensinando a escrever, é necessário que circulem textos também na língua guarani. “O livro tem um grande significado, de afirmação e valorização de uma língua que resistiu a cinco séculos de colonização e se mostra vigorosa nas aldeias guarani. É um livro escrito pelos Guarani para os Guarani”, enfatiza a pesquisadora.

Seis aldeias atuaram ativamente no projeto: Tekoá Anhetenguá (Lomba do Pinheiro, município de Porto Alegre); Tekoá Pindó Miri, Tekoá Nhundy e Tekoá Jataíty (Itapuã, Estiva e Cantagalo, respectivamente, todas no município de Viamão); Tekoá Porã (município de Barra do Ribeiro) e Tekoá Guapoi Porã (município de Torres). Na UFRGS, houve a participação da Faculdade de Educação, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e do Instituto de Letras. Foram impressos mil exemplares, financiados pela Secretaria Estadual da Educação e distribuídos para todas as aldeias guarani do estado, mesmo as que não possuem escola. Há ainda exemplares nas bibliotecas da UFRGS e da Secretaria da Educação. “Estamos iniciando uma segunda edição do projeto. Ampliamos o número de aldeias participantes do projeto, e os Guarani, agora, querem escrever mais um livro, o que mostra a importância e o valor atribuído por eles à primeira obra”, afirma Bergamaschi.

Povo Guarani

Os índios guarani vivem na Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil onde, além do Rio Grande do Sul, estão presentes nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), estima-se que existam, ao todo, 34 mil índios guarani no Brasil.

SUS vai pagar despesas de acompanhante

A partir de dezembro, qualquer gestante atendida pelo Sistema Único de Saúde(SUS) terá direito a ter um acompanhante, com seus custos garantidos, pela portaria do Ministério da Saúdede, que entra em vigor agora em dezembro. A medida foi publicada no Diário Oficial da União em 6 de dezembro, e vem regulamentar a lei, sancionada em abril deste ano, que obriga o governo a permitir a presença de um acompanhante escolhido pela gestante na sala de parto. No mesmo dia, a enfermeira Odaléa Maria Brüggemann defendeu tese sobre o assunto, no departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp).

A partir de dezembro, qualquer gestante atendida pelo Sistema Único de Saúde(SUS) terá direito a ter um acompanhante, com seus custos garantidos, pela portaria do Ministério da Saúdede, que entra em vigor agora em dezembro. A medida foi publicada no Diário Oficial da União em 6 de dezembro, e vem regulamentar a lei, sancionada em abril deste ano, que obriga o governo a permitir a presença de um acompanhante escolhido pela gestante na sala de parto. No mesmo dia, a enfermeira Odaléa Maria Brüggemann defendeu tese sobre o assunto, no departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp).

Em seu estudo, Odaléa investiga a importância de um acompanhante durante e após o trabalho de parto. Como base da pesquisa, ela mediu o nível de satisfação em vários procedimentos antes, durante e após o parto num grupo de 212 gestantes – 105 acompanhadas e 107 sem acompanhamento- atendidas no Hospital Estadual de Sumaré, entre fevereiro de 2004 e março de 2005. O questionário incluía variáveis como cuidados e orientação médica durante o parto,e foi aplicado em até 24 horas depois do parto. A enfermeira constatou que as mulheres acompanhadas tiveram um índice de satisfação cinco vezes maior em relação aos resultados apurados no grupo de controle. Em se tratando do pré-parto, o índice foi oito vezes maior, quando comparado com as mulheres que não tiveram acompanhante.

A tese inclui, ainda,uma pesquisa qualitativa com onze profissionais de saúde. Os entrevistados admitiram que o apoio emocional garantido pela presença de um acompanhante não interfere na rotina hospitalar ou na conduta clínica. Segundo Odaléa, a presença do acompanhante resgatou nos profissionais o significado do nascimento, provocando uma atitude mais humana e menos rotineira. Mas, alerta a pesquisadora,“se não houver essa atitude positiva dos profissionais em relação ao acompanhante, de nada adianta a lei”.

Embora essa prática seja recomendada pela Organização Mundial da Saúde para a humanização do nascimento, existem poucos exemplos na América Latina. O Uruguai foi o primeiro país a ter uma legislação para garantir esse direito às mulheres; na vizinha Argentina, a lei foi implantada há dois anos. O fato de só agora o Brasil ter acordado para essa necessidade deve-se ao receio por parte dos profissionais de saúde, de que o acompanhante poderia introduzir infecções ou interferir nas atividades médicas.

De acordo com outros estudos científicos, nacionais e internacionais citados na tese e que envolvem mais de 5 mil mulheres, as gestantes ficam mais seguras e confiantes durante o parto, quando acompanhadas por alguém de sua confiança. As pesquisas mostram que essa presença pode significar uma redução nas medicações para alívio da dor, na duração do trabalho de parto, no número de cesáreas e nos casos de depressão pós-parto.

Dificuldades

A realidade brasileira, contudo, coloca em dúvida a implementação da lei. Segundo o médico e diretor associado do Caism, Renato Passini Júnior, que já viajou pelo país como membro da comissão avaliadora dos cursos de residência médica em ginecologia e obstetrícia, a maior parte das maternidades públicas funciona com espaço limitado para a equipe médica e de enfermagem. “A lei tem um significado bonito para a humanização do parto, mas o governo precisa melhorar a infra-estrutura de seus hospitais.” diz.

Os hospitais públicos e conveniados terão seis meses para adequar e reorganizar o espaço disponível para permitir acompanhantes durante o parto. O Ministério da Saúde pretende repassar um incentivo financeiro adicional para cada Autorização de Internação Hospitalar (AIH), garantindo ao acompanhante o recebimento de acomodação e refeições. A portaria de regulamentação da lei foi assinada pelo ministro da saúde, Saraiva Felipe, durante a II Conferência Internacional sobre Parto Humanizado, realizada no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro último.