Geneticista conclama cientistas a valorizarem uma ciência brasileira

O homenageado da 51º edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Genética é o professor emérito da Unicamp Bernardo Beiguelman. Seu curto discurso de agradecimento tinha tudo para ser burocrático, mas surpreendeu. O início humilde de sua fala não prenunciava o que estava por vir. O geneticista convidou seus colegas a reeditar na ciência o movimento antropofágico lançado por Oswald de Andrade em 1928. A proposta dos modernistas era ingerir e digerir elementos vindos de fora, e com isso torná-los brasileiros.

O homenageado da 51º edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Genética é o professor emérito da Unicamp Bernardo Beiguelman. Seu curto discurso de agradecimento tinha tudo para ser burocrático, mas surpreendeu. O início humilde de sua fala não prenunciava o que estava por vir. O geneticista convidou seus colegas a reeditar na ciência o movimento antropofágico lançado por Oswald de Andrade em 1928. A proposta dos modernistas era ingerir e digerir elementos vindos de fora, e com isso torná-los brasileiros.

O geneticista defende que o mesmo deve ser feito com a nossa produção científica, que deve libertar-se da subserviência que a caracteriza. Tal deferência está presente tanto entre cientistas como nas agências de fomento. Para ele, as publicações nacionais, mesmo que bem editadas e com circulação no exterior, não têm peso quando se analisa a produtividade de pesquisadores, além de a comunidade científica dar mais valor à pesquisa feita em colaboração com estrangeiros.

A pressão para que recém doutores façam pós-doutorado em países ricos causa, de acordo com Beiguelman, o escoamento de talentos para sociedades que não investiram em sua formação e não precisam deles. É preciso, portanto, que se empregue o conhecimento e a criatividade das mentes brasileiras para criar programas de pesquisa que visem resolver problemas locais. “Os “melhoristas” [especialistas que produzem organismos através de melhoramento genético] se aplicaram em desenvolver variedades de plantas mais produtivas adaptadas às condições locais, e em criar técnicas agrícolas de acordo com nossos ecossistemas. Isso faz com que hoje tenhamos uma ciência agronômica nacional. O mesmo é necessário para o resto da ciência brasileira”, exemplifica o geneticista homenageado, referindo-se à agronomia.

Bernardo Beiguelman foi contratado em 1963 pela Unicamp com a missão de fundar o primeiro departamento de genética médica da América Latina. Ao longo de sua carreira, foi autor de 432 trabalhos científicos entre livros, teses, artigos e comunicações científicas em congressos, foi Presidente da Sociedade Brasileira de Genética, da Associação Latinoamericana de Genética, é Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, e foi incluído por indicação dos seus pares entre os cem cientistas e instituições científicas fundamentais que deram contribuições decisivas para o progresso do Brasil e da ciência (Revista Superinteressante Nº 100). Apesar de aposentado desde 1997 da Unicamp, Beiguelman mantém vínculo no curso de pós-graduação em genética do Instituto de Biologia. Dentre suas linhas de pesquisa merecem destaque os trabalhos pioneiros sobre a resistência e suscetibilidade hereditária à hanseníase, as pesquisas sobre genética antropológica e uma série de trabalhos desenvolvidos mais recentemente sobre a epidemiologia de gêmeos, a qual poderá trazer informações importantes sobre a biologia da reprodução humana.

Leia mais:– Nada contra a clonagem – artigo de Bernardo Beiguelman na edição sobre clonagem da ComCiência, de dezembro de 2001.

Alto custo de produção emperra o desenvolvimento de energia do sol

Embora já utilizado pelo físico grego, Arquimedes (212 a C), como uma arma para queimar navios romanos por um sistema de espelhos, o sol perdeu espaço como produtor de energia. Se comparada ao petróleo, ao gás, à água corrente, a radiação solar mal entra nas estatísticas oficiais de recursos energéticos do país, segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) de 2005. Uma das principais dificuldades é o valor de instalações e a eficiência do sistema. Pensando nisso, o professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, Julio Bartoli, desenvolve pesquisas para melhorar um coletor solar de baixo custo para aquecimento de água. Ele construiu um coletor com 10% do valor de um convencional, cujo preço está na faixa de R$3 mil.

A utilização de fontes renováveis de energia (solar, eólica, biomassa e hidrelétricas de pequeno porte) tem sido discutida desde a Eco 92. Em 1994, a energia solar ganhou apoio dos Ministérios de Ciência e Tecnologia (MCT) e de Minas e Energia (MME), que estabeleceram diretrizes para disseminar a energia solar e eólica, como a formação de centros de pesquisa e a definição de investimentos formalizada pela Declaração de Belo Horizonte. Regiões remotas do País, do litoral nordestino do Rio Grande do Norte ao Pará, foram priorizadas para aplicação da energia solar, especialmente a fotovoltaica (que transforma a energia solar em elétrica). Mas existe também a possibilidade de transformar a luz solar em energia térmica.

Apesar desses esforços, o professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, Julio Bartoli, explica que a luz solar ainda não é utilizada em larga escala no Brasil pelo alto custo de instalações e pouca eficiência dos sistemas de conversão de energia. Ele desenvolve pesquisas para melhorias de um coletor solar de baixo custo para aquecimento de água, projeto que teve auxílio da Fapesp no estudo da viabilidade técnico-econômica. Um dos principais elementos para baratear o gasto é o material da placa coletora, feita de PVC (policloreto de vinila), composto termoplástico para sacos de lixo, bolsas de sangue e até forro do teto de casas.

A equipe de Bartoli construiu um coletor com 10% do valor de um convencional, cujo preço está na faixa de R$3 mil. O público consumidor imaginado por ele é a população de baixa renda, que tem como principal gasto o chuveiro elétrico na conta de luz. As placas de PVC foram adaptadas dos forros da parte interna de casas. Elas são ocas e têm espessura de 10 mm, por onde a água passa e seaquece. O efeito termo-sifão (convecção) movimenta o líquido na placa coletora, sem a necessidade de intervenção, ou seja, sem a utilização de bombas de água. Na caixa d’água, a água quente é menos densa e fica na parte superior e a fria na parte inferior.

Para controlar a temperatura da água nos dias mais frios, pode-se usar um sistema solar-elétrico, isto é um chuveiro com regulador de temperatura pode ser instalado. Bartoli fez alguns estudos preliminares nos protótipos e encontrou a eficiência térmica não muito menor dos coletores convencionais (com tubos de cobre ou alumínio). A temperatura da água pode alcançar 50 graus, mas há certos inconvenientes, como um dia sem sol, que obriga o uso de outra fonte energética e os banhos, que devem ser mais curtos. Mas a economia na conta é significativa. Para se ter uma idéia, o aquecimento de água representa 25% da conta de luz na classe média. Além disso, o sol é uma fonte energética limpa e o PVC pode ser reciclado.

Bartoli também pretende desenvolver coletores com materiais plásticos reforçados para alcançar temperaturas de 70 graus inclusive para uso na indústria. Neste caso, o uso de uma cobertura transparente para produzir o efeito estufa, como nos coletores convencionais, permitiria aquecer a água com maior eficiência. Os próximos estudos serão realizados em um protótipo instalado, em agosto, na casa de caridade Bom Pastor em Campinas (SP).

Outras experiências

No exterior, Alemanha e Espanha têm programas de tarifa especial para a eletricidade de origem fotovoltaica. O primeiro criou uma indústria própria para atender a sua demanda interna. E, na Espanha, houve uma ação conjunta de universidades, centros de pesquisa e empresas, que desenvolveram novos materiais e conceitos, modificando, por exemplo, placas de silício para melhorar a captação da luz do sol.

Já no Brasil, depois da Declaração de Belo Horizonte, centros de pesquisa, como o Centro de Referência em Energia Solar e Eólica (CRESESB), iniciaram pesquisas e o governo investiu em programas de eletrificação rural, com o intuito de facilitar o acesso à energia em regiões isoladas. Também o calor do sol para aquecer água se difunde principalmente na região sul e sudeste. De acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado e Aquecimento, (Abrava), existiam, em 2002, cerca de 250 mil coletores solares residenciais.

PUC inaugura primeiro Centro interdisciplinar de Ciência e Religião do Brasil

Eutanásia, aborto e pesquisa com células tronco embrionárias são algumas das questões que envolvem a ciência nos últimos anos. Pesquisar de maneira interdisciplinar esses e outros temas, fazendo um elo com os estudos sobre religião, e incentivar o diálogo com a sociedade como um todo, é o objetivo do Centro Cardeal Arns de Estudos Interdisciplinares da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CECREI/PUC-SP), inaugurado no último dia 25 de agosto.

Eutanásia, aborto e pesquisa com células tronco embrionárias são algumas das questões que envolvem a ciência nos últimos anos. Pesquisar de maneira interdisciplinar esses e outros temas, fazendo um elo com os estudos sobre religião, e incentivar o diálogo com a sociedade como um todo, é o objetivo do Centro Cardeal Arns de Estudos Interdisciplinares da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CECREI/PUC-SP), inaugurado no último dia 25 de agosto.

O Centro visa suprir a carência de pesquisas com este recorte no Brasil, porém existentes em várias universidades norte-americanas e européias, onde o assunto é amplamente difundido. A relevância do tema também é demonstrada pelos seminários da Associação Americana para o Progresso da Ciência – AAAS, entidade que congrega 262 centros de pesquisa sobre o assunto e que desde 2001 promove seminários anuais com pesquisadores do mundo todo sobre a temática ciência e religião. O objetivo do CECREI também é funcionar como um fórum de debates para a consolidação de outros grupos de pesquisa, inclusive em outras instituições, promovendo um intercâmbio de professores e estudantes de instituições nacionais e estrangeiras, além de fomentar a realização e participação em palestras e congressos.

Para o físico e teólogo Eduardo Rodrigues da Cruz, diretor do CECREI, a idéia de estabelecer um diálogo entre ciência e religião está ancorada em semelhanças entre as duas áreas: “Embora Ciência e religião tenham metodologias distintas, a diferença não significa incompatibilidade, porque teologia é um estudo racional da religião, baseado em fontes empíricas que utilizam, muitas vezes, a própria ciência na fundamentação de suas hipóteses”, diz

Este diálogo será viabilizado por meio de três linhas de estudo sobre a religião no mundo moderno: Religião e Ciências Naturais; Bioética; Economia, Globalização e Gerenciamento Empresarial. Trata-se de um recorte temático que engloba grandes polêmicas atuais e abre espaço para várias pesquisas. “Vamos acentuar novas possibilidades de pesquisa que podem surgir no Brasil, pela indução de certos temas e da colaboração de pesquisadores e grupos que antes pouco se comunicavam”, diz Eduardo Cruz.

A importância da interdisciplinaridade e de um olhar crítico sobre ciência e religião para o desenvolvimento de estudos científicos sobre o tema também é reconhecida por outros pesquisadores que estiveram presentes na inauguração do Centro: “A emergência do sagrado com toda a sua força na segunda metade do século XX e início do século XXI vem despertando a comunidade científica brasileira para a compreensão deste fenômeno, a semelhança do que ocorre na Europa e Estados Unidos”, diz o professor Antônio Máspoli de Araújo, coordenador de pós graduação em Ciência da Religião da Universidade Mackenzie.“Essa iniciativa vem ocupar um espaço necessário para o aprofundamento dos estudos na área de ciência e religião, porque produção científica neste sentido ainda é rarefeita no Brasil, se comparada com outros países”, conclui.