Resistência do café à ferrugem é tema de workshop internacional

A incidência de ferrugem em algumas lavouras brasileiras, cultivadas com variedades de café resistentes ao fungo Hemileia vastarix Berk et Br, tem preocupado pesquisadores da área. A hipótese do surgimento de uma nova raça do fungo causador da doença ou, ainda, problemas na manipulação durante a fase de melhoramento serão temas em debate no seminário internacional, a ser realizado de 26 a 28 de setembro, na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Foram convidados pesquisadores de vários países- Suíça, Portugal, França, Inglaterra, Holanda – para intercâmbio de informações com os especialistas brasileiros no assunto.

A ferrugem é a doença mais comum das lavouras de café. O desenvolvimento de novos cultivares por meio de melhoramento genético é considerado pelos especialistas como a melhor alternativa para enfrentar o fungo Hemileia vastarix Berk et Br, que tem mais de 45 diferentes raças conhecidas, 17 só no Brasil. A resistência dessas variedades têm apresentado curta durabilidade em condições de campo, algumas apresentando até 10 % de contaminação. Embora ainda não represente perdas econômicas significativas ao produtor, se comparadas às provocadas pela ferrugem em cultivos tradicionais, existem várias pesquisas, hoje, para detectar as possíveis causas dessa perda de resistência dos novos cultivares, bem como formas de conter sua propagação.

“Quando o Hemileia atinge o cafezal formado a partir de sementes melhoradas, a severidade tende a ser menor do que em lavouras tradicionais”, explica Laércio Zambolim, pesquisador de Viçosa e organizador do workshop. No seminário, além da apresentação dos estudos mais recentes sobre o tema, a expectativa é de se firmarem acordos de cooperação internacional.

Mercado internacional

O Brasil é responsável por 40% da produção mundial de café e consome 14,4 milhões de sacas por ano, perdendo apenas para os Estados Unidos, primeiro no ranking de consumo, com 20 milhões de sacas por ano. Em 2005, o faturamento das exportações brasileiras de café deve atingir US$ 3 bilhões, 15% maior que os US$ 2,6 bilhões registrados no ano passado, segundo previsões do secretário de produção agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Linneu Costa Lima, divulgadas no site da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

O 1º Workshop Internacional Sobre Resistência Durável do Cafeeiro à Ferrugem será realizado pelo Departamento de Fitopatologia da UFV, com os apoios do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), do Centro de Investigações das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), de Portugal e do Institute de Recherche et Dévelopment (IRD), da França. Durante o evento será lançado um livro com artigos dos palestrantes. A programação completa está disponível no site: www.bioagro.ufv.br/workcafe.

Tradição em café

O Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro Com Resistência à Ferrugem na Universidade Federal de Viçosa foi iniciado em meados da década de 1970, a partir de uma cooperação com o Centro de Investigações das Ferrugens do Cafeeiro, localizado em Oeiras, Portugal. O material do banco de germoplasma utilizado nessas pesquisas vinha do Híbrido de Timor, uma variedade que serve até hoje como matriz para as pesquisas, já que possui fatores de resistência ao H. vastatrix e clones diferenciadores das raças fisiológicas de H. vastatrix. Em 1974 o Programa foi associado à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), e a parceria resultou no lançamento de sete variedades.

Mais tarde, na década de 1980, foi desenvolvida a Calda Viçosa, uma mistura de nutrientes e cobre que nutre o cafeeiro e proporciona o controle químico da ferrugem. Até hoje, esse composto é usado no Brasil, principalmente por pequenos produtores uma vez que o método é eficiente, econômico e não-poluente. Apesar de não ser a instituição brasileira com maior número de cultivares de café resistentes à ferrugem – a grande maioria foi criada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC)- a universidade conta com cerca de 80 professores e pesquisadores, 350 alunos de graduação e pós-graduação dedicando-se a pesquisa com café nas mais diversas áreas.

Tuca comemora 40 anos de Morte e Vida Severina

“Esta cova grande em que estás com palmos medida/É a conta menor que tiraste em vida/É de bom tamanho nem largo nem fundo/É a parte que te cabe neste latifúndio”. Este é um dos trechos mais famosos do poema Funeral de um lavrador, da peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Em homenagem aos 40 anos de estréia dessa peça, o Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), faz uma apresentação especial gratuita do espetáculo, no dia 22 de setembro. As comemorações também contam com exposições, vídeos e uma instalação virtual.

“Esta cova grande em que estás com palmos medida/É a conta menor que tiraste em vida/É de bom tamanho nem largo nem fundo/É a parte que te cabe neste latifúndio”. Este é um dos trechos mais famosos do poema Funeral de um lavrador, da peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Em homenagem aos 40 anos de estréia dessa peça, o Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), faz uma apresentação especial gratuita do espetáculo, no dia 22 de setembro. As comemorações também contam com exposições, vídeos e uma instalação virtual.

Musicada pelo cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, a premiada peça foi encenada pela primeira vez em 11 de setembro de 1965, no próprio Tuca. Foi um enorme sucesso na época, o público aplaudiu de pé a história da viagem do retirante nordestino Severino que abandona o sertão em direção ao Recife, em busca de melhores condições de vida. A estréia marcou um efervescente momento histórico, político e cultural do país, no qual a arte foi usada como instrumento de manifestação política contra a repressão iniciada no golpe militar do ano anterior.

“A peça fez com que o estudante universitário acordasse para a sua participação cultural e encontrasse no teatro um veículo de comunicação veemente e interativo. Ele é tão persuasivo que continua até hoje”, diz a professora Lucrecia D’Alessio Ferrara, da PUC-SP, doutora em Literatura, que participou da montagem da peça na época. Segundo ela, Morte e Vida Severina despertou o estudante universitário para a poesia de João Cabral de Melo Neto, que passou a fazer parte do currículo do ensino médio e dos vestibulares.

Na época, para colocar o projeto em prática, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC-SP convidou o psiquiatra e escritor Roberto Freire (diretor-geral do grupo), Silnei Siqueira (diretor de atores) e José Armando Ferrara (cenógrafo). O espetáculo só foi possível, porque contou com o apoio financeiro de muitos estudantes e artistas. Chico Buarque, na época cursando a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, chegou a vender seu fusca velho, apelidado de Clóvis, para investir no espetáculo. Roberto Freire rifou a linha telefônica e o artista plástico Aldemir Martins doou seus quadros. Foi até criado um diploma simbólico, pelo publicitário Carlito Maia, chamado “Ordem do Tucano”, para distinguir aqueles que colaboravam. Ao final das apresentações, havia “canjas musicais” com grandes nomes como Elis Regina, Dorival Caymmi e Geraldo Vandré.

A peça foi apresentada em várias regiões do país. A repercussão junto ao público e à crítica foi tão grande que o espetáculo viajou para a França, onde recebeu o prêmio do 4º Festival Universitário em Nancy, em maio de 1966. Morte e Vida Severina excursionou também pelas cidades de Lisboa, Coimbra e Porto, em Portugal. Na volta da turnê internacional, o grupo teatral foi recebido no aeroporto de Congonhas por muitos estudantes e seguiu em carro aberto para o Tuca.

“Com o endurecimento do regime militar, aos poucos o grupo acabou se dispersando. O teatro universitário não deslanchou para a sociedade brasileira, os movimentos de valorização à cultura popular foram dissipados pela ditadura e desde então a PUC-SP não teve um projeto cultural daquela envergadura”, diz o professor de teologia e jornalismo dessa universidade, Jorge Cláudio Ribeiro, responsável pela pesquisa e elaboração do site em homenagem aos 40 anos.

ABN publica consenso para diagnóstico e tratamento da doença no Brasil

A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) acaba de publicar as recomendações consensuais para o diagnóstico, exames complementares e avaliação cognitiva e funcional da doença que será tema de debates em todo o mundo nesta quarta-feira, 21, data instituída pela ONU como o Dia Mundial do Alzheimer.

O consenso foi desenvolvido e publicado pelo Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN nos Arquivos de Neuro-psiquiatria deste mês. O objetivo principal do trabalho é padronizar as condutas para o diagnóstico clínico da doença no Brasil, a fim de otimizar a relação possível entre o tempo de avaliação e definição correta do problema.

“A importância do consenso é que todos os médicos envolvidos – neurologistas, psiquiatras, clínicos, geriatras – passam a falar a mesma língua, usar os mesmos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, acumulando assim experiências em nível nacional”, aponta o professor e pesquisador Benito Damasceno, do Departamento de Neurologia da Unicamp, que participou do desenvolvimento desta publicação.

O consenso segue o princípio de que o diagnóstico de Alzheimer pode ser feito, na maioria das vezes, por meio do exame médico, com a exclusão de outras possibilidades de doenças detectadas em exames complementares, e que estes exames devem ser de aplicação simples e breve. “A simplificação consiste, primeiro, em constatar os déficits da memória e mais alguma outra função cognitiva por meio de uma entrevista e de um mini-teste cognitivo; além disso, a possibilidade de outras doenças pode ser afastada por meio de exames de laboratório (dosagem de vitamina B12, ácido fólico, hormônio da tireóide e tíreo-estimulante, exame de sífilis, etc.)”, descreve Damasceno. O pesquisador ressalta ainda que a simplificação e abreviação dos exames não comprometem a qualidade do resultado final: “o consenso e sua difusão vai exatamente ajudar a educar mais médicos em condutas relativamente simples, menos dispendiosas, evitando os inúmeros exames desnecessários”.

Considerar as particularidades do Brasil foi um dos pontos primordiais para iniciar a pesquisa. Diversos países já publicaram recomendações semelhantes, que freqüentemente são seguidas pelos especialistas brasileiros. A aplicação desses consensos é limitada, porém, pelas dificuldades do sistema de saúde nacional e pelas especificidades culturais, sociais e econômicas da população brasileira. Devido às condições básicas de saúde dos brasileiros, alguns exames laboratoriais podem ser mais ou menos úteis para o diagnóstico diferencial em nosso país. Além disso, as circunstâncias do atendimento médico ainda são bem distantes das existentes nos países ricos, de modo que o tempo de avaliação e os custos dos procedimentos também devem ser levados em conta.

Doença sem cura

O mal de Alzheimer é a mais freqüente doença neurodegenerativa e a causa mais comum de demência, afetando cerca de 5% das pessoas em torno de 65 anos. Essa porcentagem aumenta para até cerca de 45% nos grupos acima dos 90 anos. Há ainda registros de casos em jovens, geralmente relacionados a um componente genético. Estima-se que existam 18 milhões de pessoas afetadas pela doença no mundo. No Brasil, esse número chega a 1,2 milhões. A doença não tem cura, mas existem medicamentos que melhoram os sintomas.

Provocada pela morte de células cerebrais, a doença de Alzheimer leva a uma atrofia do cérebro e à formação de cicatrizes em forma de estruturas microscópicas chamadas “placas senis”. Na medida em que as células morrem e são formadas as placas senis, o cérebro não consegue mais funcionar como deveria. O diagnóstico é feito com base na exclusão de outras causas de demência pela história do paciente (depressão, perda de memória associada à idade), por exames de sangue (para detectar hipotireoidismo, deficiência de vitamina B, etc.), tomografia ou ressonância (múltiplos infartos, hidrocefalia) e outros exames.

Os sintomas começam com os pequenos esquecimentos, que vão se agravando gradualmente. A pessoa torna-se confusa, algumas vezes agressiva, passa a apresentar alteração da personalidade, com distúrbios de conduta e termina por não reconhecer os próprios familiares e nem a si mesma, quando colocada frente a um espelho. À medida que a doença evolui, ela se torna cada vez mais dependente de terceiros. Iniciam-se as dificuldades de locomoção e comunicação, quando o doente passa a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares do cotidiano como comer, tomar banho, pentear os cabelos e vestir-se.