Rondônia é destaque na Semana de Ciência e Tecnologia

Rondônia é a grande surpresa da 2.a. edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em andamento desde o último dia 3 de outubro. O estado, com 28 cidades participantes e 316 atividades programadas, superou o Amazonas (dois municípios participantes e 221 atividades) e tudo o que foi realizado na região Norte no ano passado: 124 atividades, com a participação de 17 municípios.

Rondônia é a grande surpresa da 2.a. edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em andamento desde o último dia 3 de outubro. O estado, com 28 cidades participantes e 316 atividades programadas, superou o Amazonas (dois municípios participantes e 221 atividades) e tudo o que foi realizado na região Norte no ano passado: 124 atividades, com a participação de 17 municípios.

Porto Velho, por exemplo, conta com uma programação diversificada: a realização da V Semana de Matemática, sessões de vídeo sobre a importância das águas e matas ciliares, feira de ciências com o tema gestão ambiental, exposição sobre a extração de DNA do morango e palestra sobre os mecanismos da chuva ácida.

O tema da Semana Nacional de C&T nesse ano é “Brasil Olhe para a Água”. Cerca de 323 cidades e 816 instituições estão envolvidas através das 6228 atividades que foram cadastradas. “Nossa meta para a Semana de 2005 era de 4000 atividades”, conta Gloria Malavoglia, coordenadora-executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia em São Paulo. Todos os dados desse ano são superiores aos do evento de 2004, que realizou 1842 atividades, em 252 municípios, com a participação de mais de 500 instituições.

Outro destaque de 2005 é a região Nordeste, com 1574 atividades programadas e participação de 105 municípios. Na Semana de 2004, o Nordeste realizou 356 atividades em 17 cidades. Apesar desse salto significativo, a maior concentração de atividades (2610), assim como no ano anterior, continua na região Sudeste em 98 municípios. O estado campeão no número de atividades é o Rio de Janeiro (1110), seguido de São Paulo (891), estado que triplicou o número de atividades programadas para esse ano comparando com os dados de 2004 (273). Apesar disso, São Paulo teve uma diminuição no número de municípios envolvidos: são 49 cidades participantes, contra 55 registradas no último ano.

“A idéia da Semana é que a ciência se torne uma cultura no Brasil. Queremos formar uma sociedade cientificamente mais letrada. Antes mesmo da 1.a. edição em 2004, o objetivo era que ela se tornasse tradição no país com sua realização todos os anos no mês de outubro. Fazemos, assim, um movimento de popularização da ciência, já que são as escolas, universidades, museus de ciência, fundações de amparo à pesquisa, dentre outras instituições, que se mobilizam para que a Semana aconteça”, explica Malavoglia.

A Semana Nacional de C&T foi instituída por decreto do presidente Lula no dia 9 de junho de 2004. A coordenação nacional das atividades fica por conta da Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social, por meio do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCT.

Revitalização, especulação ou higienização?

A região central de São Paulo vem sendo palco de medidas polêmicas tomadas nos últimos meses pela prefeitura municipal. A mais recente é a construção de rampas com piso áspero na passagem subterrânea entre duas avenidas em São Paulo (Paulista e Dr. Arnaldo), que busca dificultar que moradores de rua lá se abriguem. A obra integra um conjunto de ações visando a revitalização do centro paulistano. Pesquisadores afirmam que, sob o pretexto da revitalização, está em curso um nítido processo de “higienização social”, mediante a expulsão da população pobre do centro.

A construção de rampas com piso áspero na passagem subterrânea entre duas avenidas em São Paulo (Paulista e Dr. Arnaldo), que busca dificultar que moradores de rua lá se abriguem, teve como justificativa a diminuição de assaltos no local. A obra integra um conjunto de ações visando a revitalização do centro paulistano, palco de medidas polêmicas tomadas nos últimos meses pela prefeitura municipal. O debate acadêmico sobre essas modificações, que se dão de forma semelhante em várias partes do mundo, volta-se agora ao que se classifica como processo de gentrificação (enobrecimento) da região central da cidade.

Reintegrações de posse de prédios ocupados por integrantes do movimento dos sem-teto (algumas envolvendo confrontos violentos entre moradores e polícia), intensificação da fiscalização contra comerciantes informais, tentativa de transferir catadores de lixo para fora do centro, desapropriação de imóveis na área conhecida como Cracolândia, e concessão de incentivos fiscais às empresas que lá se instalarem são algumas das medidas criticadas por pesquisadores das áreas de arquitetura, urbanismo e geografia. Eles afirmam que, sob o pretexto da revitalização, está em curso um nítido processo de “higienização social”, mediante a expulsão da população pobre do centro, e questionam a eficácia e a intenção dessas ações.

Mariana Fix, pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, avalia que há a clara intenção de mudança do perfil da população. “A gestão atual – diz ela -reafirmou várias vezes que a habitação social não faz parte do projeto de renovação da área central”. Programas de moradia para a população de baixa renda do centro estão entre as principais reivindicações do Fórum Centro Vivo (FCV), o qual a pesquisadora integra. Fundado em 2000, o FCV reúne grupos organizados dos movimentos populares urbanos, sindicatos, estudantes, pesquisadores de universidades, entidades de defesa de direitos humanos, cultura e educação, que são contrários à forma como a intervenção no centro está sendo implementada. “A linha central é de um projeto tradicional de revitalização de áreas centrais, marcado pela exclusão”, critica Mariana Fix.

Já o engenheiro Marco Antônio Almeida, presidente executivo da Associação Viva o Centro (AVC), não vê esse caráter excludente na revitalização do centro. “Não se trata de obrigar ninguém a sair do centro, mas também não se deve incentivar a vinda deles (população pobre)”, defende ele. Surgida em 1991, a associação congrega principalmente empresários interessados nas modificações da região central.

Para Almeida, as ações recentes da prefeitura paulistana atendem, em linhas gerais, o tipo de recuperação do centro defendido pela AVC. “O que falta ao centro é um sistema eficiente de gestão”, afirma o engenheiro. “O centro precisa ser melhor cuidado. Os problemas do centro são essencialmente questões de zeladoria e segurança urbana”, complementa. Ainda segundo o presidente da AVC, a região central de São Paulo caracteriza-se pela multifuncionalidade e diversidade, que devem ser preservadas e inclusive aproveitadas para fins turísticos.

Em relação à população, Almeida defende que moradores de rua devem receber assistência social do poder público. Para aqueles que moram em prédios ocupados, a solução seria outra: “Existem áreas enormes a menos de mil e quinhentos metros do núcleo central, onde podem ser feitos conjuntos habitacionais de poucos andares”, sugere Almeida ressaltando que reformar prédios da área central para abrigar essa população não é uma alternativa adequada. Segundo ele, o alto custo de manutenção desses edifícios, com o qual os moradores não poderiam arcar, “ocasionaria novamente a deterioração e o risco de dominação por marginais”.

Exemplo emblemático

Segundo Mariana Fix, a região conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo, é ilustrativa das reais intenções das intervenções, na medida em que mescla interesses privados e uso do poder público. Em 1999, a inauguração da Sala São Paulo, parceria entre governo estadual e iniciativa privada para transformação da estação de trem Júlio Prestes em espaço para apresentações culturais, representou a tentativa inicial de promover modificações na região, estigmatizada pela deterioração e violência. “Os agentes do processo diziam que estavam promovendo um salto civilizatório na Cracolândia e que a inauguração da Sala não era simplesmente um equipamento cultural. O que de fato estava em jogo era um projeto de transformação do centro que incluía a regeneração do tecido urbano, a revalorização da área, e mais explicitamente, a retomada dos negócios imobiliários”, afirma a arquiteta.

Para ela, o recente decreto municipal que declara 105 mil m2 da região como utilidade pública representa uma nova etapa do processo, no qual o poder público municipal desapropriará imóveis situados na área e tentará transformá-la em um pólo tecnológico.

A arquiteta lembra ainda que a lógica que move a revitalização de áreas centrais deterioradas é evidenciada pelo geógrafo Neil Smith na obra As novas fronteiras urbanas: gentrificação e cidade revanchista (livro ainda não traduzido para português). Dentre muitos teóricos que analisam o fenômeno de gentrificação como algo presente na maior parte das cidades do mundo, Smith observa as regiões centrais de cidades norte-americanas a partir do pós-guerra, identificando um processo de especulação imobiliária. “Para o autor, o baixo custo das terras nessas áreas é considerado pelos investidores como potencial de gerar lucro, caso haja intervenção do poder público a partir de mudança no uso do solo ou grandes investimentos, por exemplo. Após a instalação das primeiras empresas eleva-se o preço da terra, gerando, na perspectiva dos investidores, um processo virtuoso de renovação”, explica a arquiteta.

Segundo Fix, a promoção deste processo é o que pauta o projeto de revitalização do centro de São Paulo na atualidade. “No entanto, sua implementação no centro de São Paulo é, por razões históricas, dificultada, pois se formam ilhas dentro das regiões deterioradas”, afirma a arquiteta. Já o presidente da Viva o Centro discorda de que é a valorização imobiliária que se busca no processo de requalificação do centro. “O que se quer promover é justamente o oposto: aumentar o uso social das terras”. Segundo Almeida, São Paulo cresceu seguindo um planejamento inadequado, caracterizado pela expansão horizontal da cidade, alavancada pela especulação imobiliária. Para ele, trazer a população da periferia para áreas desocupadas mais próximas ao centro representaria um uso mais racional das terras e permitiria uma gestão mais eficiente da cidade. Assim, a proposta de recuperação do centro estaria inserida num projeto mais amplo para a cidade.

Mariana Fix, contudo, não acredita que seja essa a intenção do atual projeto de requalificação do centro. “Há claramente uma disputa pelo uso da terra. A elite não abre mão que ali seja o centro da elite”, diz a arquiteta. “Tenta-se reafirmar que existe um projeto de convivência (entre diferentes segmentos da população), enquanto na prática o projeto é muito mais pautado pela violência”.

Para saber mais: Prós e contras da revitalização de centros urbanos

Software inédito auxilia portadores de baixa visão no uso do computador

Uma dissertação de mestrado do Instituto de Computação, com coordenação e apoio do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas, resultou em uma ferramenta inédita: um software para pessoas portadoras de baixa visão. O software é pioneiro porque só são encontradas no mercado ferramentas para pessoas com visão normal ou com perda total de visão, para os quais são normalmente usados sintetizadores de voz, como o Dosvox, o Virtual Vision e o Jaws, que fazem a leitura da tela. “Os portadores de baixa visão são esquecidos”, lamenta a pesquisadora responsável pelo desenvolvimento do programa, Maria Betânia Bôer.

Uma dissertação de mestrado do Instituto de Computação, com coordenação e apoio do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas, resultou em uma ferramenta inédita: um software para pessoas portadoras de baixa visão. O software é pioneiro porque só são encontradas no mercado ferramentas para pessoas com visão normal ou com perda total de visão, para os quais são normalmente usados sintetizadores de voz, como o Dosvox, o Virtual Vision e o Jaws, que fazem a leitura da tela. “Os portadores de baixa visão são esquecidos”, lamenta a pesquisadora responsável pelo desenvolvimento do programa, Maria Betânia Bôer.

Em seu trabalho, Betânia explica que são considerados portadores de baixa visão aqueles que enxergam entre 10% e 50% do que uma pessoa normal enxerga. Segundo ela, as pessoas desse grupo, em geral, não se distinguem facilmente daquelas consideradas cegas ou, dependendo do seu grau de percepção da luz, não se diferenciam das que têm visão normal. Essa dificuldade de distinção pode trazer alguns problemas, como o baixo rendimento escolar por causa de ausência de ferramentas educacionais com indicação específica para esses casos. “Esse é o diferencial do nosso software: ele potencializa o resíduo visual dos portadores de baixa visão e dá maior autonomia para o seu uso”, pondera.

A ferramenta desenvolvida pela pesquisadora consiste em um software com recursos de desenho, pintura e escrita e tem como objetivo melhorar a visualização e o uso dos conteúdos em um monitor de computador a partir da ampliação da tela e do jogo de contrastes de cores. O software recebeu o nome de “Quatro Estações”, porque possui quatro diferentes configurações de cores, cada uma representando uma estação do ano. Para primavera, as cores são fundo amarelo, com caracteres pretos; no verão, as cores são preto e branco; no outono, vermelho e branco; e no inverno, azul e branco. De acordo com a pesquisadora, foram escolhidas as cores que melhor se adaptaram às dificuldades apresentadas pelos usuários portadores de baixa visão.

O “Quatro Estações” foi desenvolvido a partir de uma pesquisa de campo feita em duas escolas do interior de São Paulo voltadas para atendimento de alunos com necessidades especiais. Na Escola Especial da cidade de Araras, os testes avaliaram a ferramenta na prática e a cada resultado foram feitas novas alterações no programa, até a sua oitava versão. Os alunos usaram o software para criação de cenários e desenhos, reunidos em um livro também construído a partir da mesma ferramenta. Já na Associação de Deficientes de Fernandópolis, foi usada a última versão da ferramenta, para confirmar a sua qualidade e adequação às necessidades dos alunos de baixa visão.

Nessas escolas, o programa “Quatro Estações” foi usado em conjunto a uma mesa digitalizadora tablet (uma pequena plataforma que exerce a função de mouse) e a uma caneta especial, que permitiram a reprodução dos movimentos da caneta de forma ampliada na tela do computador. “Mas também é possível usar a ferramenta sem a mesa digitalizadora. È só substituir por um mouse”, afirma Betânia. Segundo ela, o grande benefício verificado é que o software permite que o aluno trabalhe a uma distância razoável da tela do computador, ao invés de ter que aproximar muito os olhos do monitor, ou mesmo da caneta, para observar o que está desenhando ou escrevendo. “Ao forçar os olhos, o aluno pode piorar seu resíduo visual”, destaca.

De acordo com dados do último censo escolar do Ministério da Educação, no período de 1996 a 2000 a matrícula de alunos com algum tipo de deficiência visual na educação básica apresentou um aumento de 134,2%. Entretanto, ainda há falta de profissionais preparados para atender a esses alunos, e mesmo falta de ferramentas indicadas para certas especificidades. Dados do último censo realizado pelo IBGE no ano 2000 indicam que aproximadamente 9,8% da população brasileira possuía algum tipo de deficiência visual, índice muito acima do previsto pela Organização Mundial de Saúde, que estima um número de portadores de deficiência visual entre 1% e 1,5% da população total de países em desenvolvimento.