Lançado primeiro guia sonoro para identificar sapos

Você já ouviu a barulheira de uma lagoa ao cair da noite? Às vezes não sabemos se são sapos, insetos ou mesmo a vegetação que range, imagine ainda poder distinguir entre as diferentes espécies de anfíbios ali presentes. Assim o faz o CD Guia Sonoro dos Anfíbios Anuros da Mata Atlântica lançado neste mês, produzido sob a coordenação de Célio Haddad, do laboratório de Herpetologia da Unesp de Rio Claro, e que reúne amostras do canto de 70 espécies de sapos, rãs e pererecas (anuros) da Mata Atlântica, além de um livreto com fotos e informações básicas em português e inglês.

Você já ouviu a barulheira de uma lagoa ao cair da noite? Às vezes não sabemos se são sapos, insetos ou mesmo a vegetação que range, imagine ainda poder distinguir entre as diferentes espécies de anfíbios ali presentes. Assim o faz o CD Guia Sonoro dos Anfíbios Anuros da Mata Atlântica lançado neste mês, produzido sob a coordenação de Célio Haddad, do laboratório de Herpetologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, e que reúne amostras do canto de 70 espécies de sapos, rãs e pererecas (anuros) da mata atlântica, além de um livreto com fotos e informações básicas em português e inglês.

Além de um agradável som, o material traz importantes dados que permitem a qualquer curioso identificar o animal e saber onde procurá-lo (na água, na beira da lagoa, na folhagem ou outros locais). Algumas espécies aparecem em mais de uma faixa, como é o caso do macho da rã-assobiadora que coaxa de forma bem diferente se seu intuito é atrair fêmeas ou espantar adversários. Além disso, há também exemplos de coros. Entre eles há um em que se pode ouvir a perereca-de-colete, a pererequinha-do-brejo, a perereca-verde, o sapo-ferreiro e a perereca-do-litoral, que se não puderem ser identificadas em conjunto, podem ser ouvidas individualmente nas faixas correspondentes. Os coaxos destes animais estão presentes no CD. Da esquerda para a direita: perereca-de-colete, pererequinha-do-brejo, perereca-verde, sapo-ferreiro e perereca-do-litoral

Para quem faz trabalho de campo, reconhecer vocalizações é essencial para localizar espécies de interesse ou fazer um inventário zoológico. Haddad afirma que os próprios especialistas têm necessidade de um guia como o CD recém lançado, uma vez que a fauna de anuros varia ao longo da mata atlântica.

Em muitos países uma abundância de guias de campo permite a qualquer pessoa investigar a natureza a seu redor. No Brasil, até agora existiam guias sonoros somente para cantos de aves, como os de autoria do ornitólogo Jacques Vielliard, da Unicamp. Outros países da América Latina, como Bolívia, Argentina e Panamá, já têm cantos de anuros disponíveis em CD. Nos Estados Unidos e na Europa a oferta é bem maior. Segundo João Giovanelli, um dos autores do CD brasileiro, a idéia surgiu do trabalho feito pela fonoteca da Biblioteca de Londres. Entre outras coisas, o acervo inclui uma riquíssima coleção de sons naturais, que se pode ouvir pela internet. O site traz também listas de guias sonoros de outras partes do mundo.

A Unesp de Rio Claro também possui um acervo que inclui vocalizações colhidas por Haddad desde a sua graduação, assim como amostras cedidas por colaboradores. O material já é suficiente para que, em breve, seja compilado um guia sonoro para o cerrado e o pantanal.

A mata atlântica abriga cerca de 50% da diversidade de anuros do Brasil, muitas das quais só ocorrem nela (endêmicas). Com a drástica destruição sofrida por esse ecossistema (resta apenas 7% de área original), muitas destas espécies podem estar ameaçadas de extinção. Segundo a Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, 13 espécies de anuros da mata atlântica estão ameaçadas.

Leia mais:

– Informações sobre sons da natureza (em espanhol)

– Fonoteca zoológica do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri (em espanhol e inglês)

Pesquisadora extrai enzima do abacaxi por quase a metade do preço de mercado

Um retorno quase imediato para quem separar e vender bromelina, uma enzima do abacaxi, que, entre outras funções, amacia carnes, tem propriedades digestivas e antiinflamatórias e compõe a fórmula de medicamentos. Essa é a conclusão da engenheira de produção química e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Claudia César. Ela analisou a viabilidade econômica de um processo de extração e purificação da bromelina, mostrando os custos e o retorno sobre o investimento. “O inesperado do trabalho é que o processo ficou muito barato”, afirma.

Em escala laboratorial, a aplicação financeira em equipamentos fica em torno de R$ 12 mil e o prazo de retorno máximo é de cinco meses, estima a pesquisadora. Há também vantagem competitiva, porque o Brasil importa a bromelina. Em média, 100 gramas da enzima são vendidas por R$ 300. A pesquisadora da Unicamp chegou ao valor de R$ 10,65 por miligrama, preço sem adição de lucros, isto é, 100 gramas por R$ 165.

Em sua tese, defendida em dezembro, o método escolhido para estimar o preço foi o Mark-up, que consiste em somar ao custo unitário do produto uma margem fixa para obter o preço de venda. Essa margem deve cobrir todos os custos e despesas e propiciar um determinado lucro. Com a produção de 200 gramas mensais de purificado (da bromelina), e margem de lucro de 10%, em 25 meses o investimento retorna; mas se a margem de lucro for aumentada para 65%, o retorno é quase imediato, assegura.

No estudo, foram estimados apenas os custos diretos sem considerar a depreciação do equipamento. A pesquisadora também frisa que toda inovação possui o risco da incerteza. A restrição da bromelina na indústria se deve ao alto custo dela, analisa Ana Claudia César. Assim, o mercado comprador é uma das principais dificuldades para ampliar a extração do componente do abacaxi. “Há algum tempo, o Banco do Brasil abriu uma licitação para comprar bromelina para testes sanguíneos e espermograma, mas são iniciativas isoladas”, explica.

Há dez anos pesquisando a bromelina, Ana Claudia César separou a enzima por meio do processo de extração líquido-líquido em duas fases aquosas, que consiste em duas fases em contracorrente agitadas até atingir um equilíbrio. Uma das vantagens desse processo é que as duas fases resultam em produtos que servem para consumo humano. Os compostos polietilenoglicol (PEG) e etanol, empregados no processo de extração, podem ser reaproveitados, caracterizando uma alternativa sustentável.

A idéia da pesquisadora da Unicamp foi aproveitar os resíduos do processamento de sucos e compotas para a extração da bromelina. “Até os talos contém a enzima”, justifica. Segundo ela, o abacaxi é composto de 90% de água, mas 50% do extrato seco da fruta são proteínas. Com 46 quilos da fruta, chega-se a 8 quilos de precipitado, uma mistura de enzimas, açúcar e produto celular.

Indústria A utilização em fitoterápicos é um dos mais promissores empregos da bromelina, segundo Ana Claudia César. O pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Mattos, analisa que há uma demanda no mercado internacional de medicamentos à base de bromelina, os quais já são muito consumidos na Alemanha e nos Estados Unidos. Há um ano, ele desenvolve a pesquisa sobre propriedades farmacológicas da enzima. Mattos estuda a atividade antiinflamatória e imunomoduladora (aumento da efetividade do sistema imunológico) em animais.

Segundo o pesquisador, a vantagem do uso da bromelina como analgésico e antiinflamatório comparados aos não esteroidais (NAIDS, sigla em inglês), é que estes apresentam efeitos colaterais, como úlceras e gastrite. “Em algumas situações, a bromelina poderá vir a ser a droga de escolha, principalmente para as doenças inflamatórias crônicas como a artrite, com a qual o paciente tem que fazer uso do medicamento por um longo período de tempo”, explica. Mattos está desenvolvendo um projeto para integrar a cadeia produtiva desse medicamento fitoterápico, começando com o melhoramento genético da planta até a comercialização do produto.

Abacaxi O Brasil está entre os maiores produtores de abacaxi do mundo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2004, o país produziu 1,4 bilhão de toneladas e os estados que lideram a produção são Pará, Paraíba e Minas Gerais. No mesmo ano, foram exportadas 23.400 toneladas para países como Argentina (maior comprador), seguido da Itália. Já a Holanda lidera o ranking de compra das quase 15 mil toneladas de suco de abacaxi exportadas em 2004.

Atendimento integrado em acidente cerebrovascular ainda não é padrão no Brasil

Com uma palestra sobre os avanços e necessidades no tratamento do acidente vascular cerebral, ministrada pelo professor Ayrton Massaro, da Universidade Federal de São Paulo, em dezembro, o Departamento de Neurologia da Unicamp deu início a uma seqüência de ações para impulsionar a implantação de um programa de atendimento integrado a pacientes com AVC na cidade de Campinas (SP). “Poucos são os lugares que fazem o atendimento integrado. Muitas são as complicações”, comenta Massaro.

Com uma palestra sobre os avanços e necessidades no tratamento do acidente vascular cerebral, ministrada pelo professor Ayrton Massaro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em dezembro, o Departamento de Neurologia da Unicamp deu início a uma seqüência de ações para impulsionar a implantação de um programa de atendimento integrado a pacientes com AVC na cidade de Campinas (SP). Desde 2001, quando publicou o primeiro consenso brasileiro do tratamento da fase aguda do acidente vascular cerebral, a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares recomenda que o paciente seja transportado imediatamente para o local mais apropriado para a investigação e que todos os centros hospitalares habituados ao atendimento de pacientes com essa doença desenvolvam unidades de tratamento do AVC.

Embora algumas cidades já tenham implantado um sistema que integre atendimento pré-hospitalar com os centros especializados, a proposta está bem longe de ser o padrão nas emergências do Brasil. São Paulo possui apenas um centro de referência, no Hospital Albert Einstein, inaugurado em agosto de 2004. Porto Alegre é a região mais adiantada, com 6 centros de atendimento ao AVC. “Poucos são os lugares que fazem o atendimento integrado. Muitas são as complicações”, comenta Massaro.

“Estamos iniciando uma seqüência de ações para que, futuramente, a gente possa olhar para o paciente com AVC com uma perspectiva mais favorável, sabendo que existe tratamento para a causa e quais medidas devem ser tomadas para que essa situação possa ser efetivamente modificada”, diz Li Li Min, do Departamento de Neurologia da Unicamp.

Atendimento integrado A idéia é que o atendimento ao paciente com AVC decorrente de isquemia aguda seja semelhante ao atendimento do infarto agudo do miocárdio, com a indicação do tratamento em centros especializados, em unidades de terapia intensiva neurológica, ou mesmo em unidades específicas para o tratamento do AVC. A eficiência do tratamento dos pacientes com AVC agudo depende diretamente do conhecimento dos seus sinais e sintomas pela população, da agilidade dos serviços de emergência, incluindo os serviços de atendimento pré-hospitalar e das equipes clínicas, que deverão estar conscientizadas quanto à necessidade da rápida identificação e tratamento desses pacientes.

O tempo entre o início dos sintomas e a avaliação clínica inicial pode interferir na conduta terapêutica adotada posteriormente pelo neurologista aos pacientes com AVC isquêmico agudo. O erro na interpretação dos sinais e sintomas pode impedir o diagnóstico, levando, conseqüentemente, a um tratamento inadequado. O diagnóstico diferencial entre o AVC isquêmico e o hemorrágico é outra etapa fundamental para definir o tratamento na fase aguda e deve ser confirmado o mais rápido possível pela tomografia computadorizada de crânio. Os exames complementares, realizados paralelamente à avaliação clínica, permitem direcionar o tratamento.

De acordo com Ayrton Massaro, o programa integrado engloba o reconhecimento da doença, suporte clínico inicial, diagnóstico e decisão quanto ao tratamento. “Mas tudo isso deve ser feito em menos de três horas”. O caráter de urgência no atendimento ao paciente passou a ter muito mais importância com a descoberta do medicamento rtPA (fibrinolítico ou trombolítico), que, se utilizado em pacientes com AVC isquêmico em até três horas, reverte o processo em até 30%, impedindo a necrose do tecido cerebral por falta de oxigênio e nutrientes. “O tempo no atendimento é fundamental. O emergencista tem que estar treinado e capacitado para reconhecer o AVC e agir rápido”, afirma o médico.

O AVC isquêmico caracteriza-se pela obstrução de uma das artérias do cérebro, privando a região de oxigênio e de nutrientes trazidos pelo sangue. O fibrinolítico ou trombolítico dissolve essa obstrução e faz o sangue voltar a circular e alimentar o tecido cerebral, evitando a necrose. A maioria dos pacientes não recebe o medicamento porque não chega ao hospital no tempo adequado. Daí a necessidade de integrar ao serviço de atendimento pré-hospitalar o transporte para o hospital.

No entanto, Massaro observa que é preciso realizar um estudo sobre as necessidades de cada região da cidade antes de criar as unidades de atendimento. Um estudo realizado recentemente sobre a mortalidade do AVC em São Paulo constatou que quanto mais rica a região, menor é a taxa de mortalidade. A zona leste de São Paulo é a região que apresenta maior mortalidade. “A cidade precisa integrar o resgate, com unidades bem localizadas para acesso mais fácil à população. A gente tem que saber o que é bom para os nossos próprios pacientes”.