Uma cadeira de rodas com uma caixa de engrenagens semelhante às marchas das bicicletas. Uma idéia simples, mas eficaz. Tanto que seu inventor, Luis Alberto Gómez, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é um dos 15 finalistas do Prêmio Philips de Simplicidade – Idéias Inéditas na categoria Profissional. Batizado de Multiplicador de Esforços para Portadores de Necessidades Especiais que se Deslocam em Cadeiras de Roda, o projeto pode ajudar os cadeirantes a vencerem muitas dificuldades de locomoção e a se tornarem mais independentes.
As cadeiras de rodas atuais utilizam como propulsão o esforço realizado pelo cadeirante, que “dirige” uma roda chamada motora. Esta roda motora é unida solidamente à outra roda, chamada roda de tração, que fica em contato com o chão. Assim, a força aplicada pelo cadeirante na roda motora passa diretamente à rota de tração. A proposta do pesquisador da UFSC é que se utilize uma caixa de engrenagens para conectar as duas rodas, o que diminuiria o esforço do usuário, conferindo mais liberdade durante a locomoção. O controle do mecanismo é feito através de uma alavanca localizada no apoio dos braços da cadeira e ligada à caixa de engrenagens, e a ação seria algo muito parecido como mudar as marchas de uma bicicleta.
Uma das grandes vantagens do mecanismo é que ele pode ser adaptado a qualquer tipo de cadeira de rodas, sem deixá-la mais pesada ou de difícil manuseio. Todas as conexões são feitas com cabos de aço flexíveis que permitem que a cadeira continue sendo dobrável, o que facilita seu transporte. Além disso, o equipamento é puramente mecânico: não existem baterias, motores ou cabos elétricos. Isso permite que possa ser montado e reparado de modo fácil e rápido em uma oficina de bicicletas.
“A idéia de simplicidade é uma tendência global. No caso de portadores de necessidades especiais, a simplicidade é fundamental”, explica Gómez. “Na minha proposta, a simplicidade está associada à funcionalidade: a cadeira utilizada não sofre grandes modificações, e o dispositivo é de fácil montagem e fácil reparo”, diz. Outro grande atrativo do projeto é seu baixo custo. “Em relação ao custo, a modificação deve custar R$ 200 por cadeira. Se comparados com os R$ 15 mil do custo de uma cadeira motorizada, é um preço bem acessível”, afirma o pesquisador.
Gómez conta que teve a idéia ao observar a dificuldade de locomoção de uma jovem vizinha cadeirante. “Poucos prédios possuem rampas de acesso, e quando possuem, as rampas têm uma inclinação maior do que a máxima permitida. Sem contar outros obstáculos como meio-fios, buracos nas calçadas e a própria topografia de algumas cidades”, explica. Com isso em mente, o professor começou a desenvolver um projeto para ajudar os usuários de cadeiras de rodas a vencerem os vários obstáculos que encontram todos os dias.
Para montar o protótipo, Gómez utilizará uma caixa de engrenagens já existente. Depois de realizar os primeiros testes práticos, ele pretende desenvolver uma caixa específica para as necessidades dos cadeirantes. O próximo passo seria a produção do mecanismo para um grande público. “A idéia de apresentar a proposta num concurso aberto tem tudo a ver com a sua divulgação. Ficaria muito feliz de ver as cadeiras ajudando pessoas portadoras de necessidades especiais a serem mais independentes”, declara.
O projeto está na segunda fase da premiação, e será julgado por uma comissão formada por especialistas de diversas áreas e pelo voto popular ainda este mês. O Prêmio Philips de Simplicidade procura reconhecer iniciativas que sejam simples, inéditas e que, de alguma forma, beneficiem a vida de seus usuários. A premiação é dividida em três categorias: Livre, Estudante e Profissional – na qual está inscrito o projeto de Gómez. O público pode votar no site do prêmio e o resultado final será divulgado no dia 14 de novembro.