Cadeia produtiva influi na estrutura de redes genômicas

A crescente complexidade nas pesquisas atualmente demanda organização de novos arranjos e formas de cooperação entre atores do processo de inovação. Focalizando as redes genômicas nesse contexto, a engenheira de alimentos Eliane Laranja Dias desenvolveu um estudo sobre as relações entre redes genômicas, cadeias produtivas e políticas públicas e privadas no Brasil.

A complexidade que envolve a pesquisa atual demanda a organização de novos arranjos e formas de cooperação entre distintos atores que fazem parte do processo de inovação. Focalizando as redes genômicas nesse contexto, Eliane Laranja Dias, engenheira de alimentos e coordenadora do setor de projetos de pesquisa do Laboratório de Genômica e Expressão da Unicamp, desenvolveu um estudo sobre as relações entre redes genômicas, cadeias produtivas e políticas públicas e privadas no Brasil.

Dias realizou um estudo comparativo entre dois projetos de sequenciamento genético, conduzidos atualmente no Brasil, o do fungo Crinipellis perniciosa (causador da doença vassoura de bruxa em cacaueiros), e o projeto Genolyptus, que trabalha com o eucalipto. O primeiro deles, com forte viés de política pública, procura enfrentar um dos principais problemas fitopatológicos do país, o ataque de fungos aos cacaueiros, e resgatar uma atividade de grande importância econômica e social na Bahia. O segundo projeto, formado por uma rede nacional de pesquisa em eucalipto, visa aumentar a produtividade e competitividade de um dos setores de destaque na geração de divisas para o país, o de papel e celulose.

A pesquisadora explica que as redes da vassoura de bruxa e do eucalipto foram escolhidas por serem bons exemplos de tarefas complexas como mapeamento, sequenciamento, bioinformática, o que exige a integração de várias áreas do conhecimento e altos investimentos. Foram analisadas a dinâmica das duas redes, a formação de recursos humanos e a produção de artigos científicos, visando apontar as motivações para a formação dessas redes e verificar a influência de diferentes elementos na sua estruturação, configuração e desenvolvimento, tais como: dinâmica técnico-concorrencial dos mercados em questão, organização da pesquisa e processo inovativo, papel estratégico dos atores envolvidos.

Segundo a pesquisadora, a estrutura das redes genômicas está relacionada ao grau de organização das cadeias produtivas dos setores em questão. A partir do estudo, constatou-se que quanto mais coordenada uma cadeia produtiva, mais rapidamente os problemas são solucionados e maior é possibilidade de cooperação (caso do papel e celulose), ao passo que a desarticulação de cadeias prejudica a resolução de problemas (caso do cacau). Outra constatação da pesquisa é que o Estado foi ator relevante no desenvolvimento da pesquisa científica.

Redes genômicas do cacau e do eucalipto: semelhanças e diferenças

A vassoura de bruxa disseminou-se em maio de 1989, quando foi descoberto o primeiro foco da praga em uma plantação de cacau no sul da Bahia. Em menos de três anos, a produção brasileira caiu em mais de 50% e o país, na época o segundo maior produtor de cacau em todo o mundo, passou a importar o fruto. Assim, a criação da rede genômica aconteceu para solucionar um problema fitossanitário da cultura e desenvolver a rede de pesquisa genômica na Bahia.

Já o projeto Genolyptus foi lançado em fevereiro de 2002, em Brasília, para aumentar a produtividade do eucalipto e a competitividade da indústria brasileira de papel e celulose, a partir de pesquisas pré-competitivas.

Segundo a pesquisa de Dias, a origem das redes proporcionou diversidades entre elas. No caso do cacau, poucas instituições se envolveram na rede. Além da Unicamp como coordenadora, o trabalho ficou restrito ao estado da Bahia. As indústrias, de modo geral, não se preocuparam com o cacau brasileiro. Apesar disso, os resultados foram positivos: alta produção científica, capacitação de recursos humanos e consolidação da rede genômica na Bahia.

Já a rede genômica do eucalipto envolveu diversas instituições e universidades em todo o Brasil, contando com um diferencial: o investimento de quatorze empresas privadas, interessadas no melhoramento genético e na inovação. A rede mostrou-se bem articulada e com visibilidade internacional. Uma ampla base de dados foi gerada, assim como o sequenciamento de 150 mil genes e troca de informações científicas.

A pesquisa de Eliane Laranja Dias, orientada por Maria Beatriz Bonacelli e Débora Luz de Mello, será defendida como dissertação de mestrado ao Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências, no dia 28 de agosto.

Rede do cacau é debatida em congresso de fitopatologia

De 14 a 18 deste mês, aconteceu o 39º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado pela Sociedade Brasileira de Fitopatologia, juntamente com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Embrapa e demais órgãos ligados à agricultura da Bahia. No evento foram apresentados e discutidos temas técnico-científicos de interesse atual para a agricultura brasileira, dentre os quais, o do controle da vassoura de bruxa.

A palestra Impactos do controle da vassoura de bruxa na preservação da biodiversidade – uma experiência com cacau, ministrada pelo pesquisador da Ceplac, Uilson Vanderlei Lopes, mostrou como a preservação da mata atlântica na região está atrelada à continuidade da produção de cacau. Segundo o pesquisador, os produtores mantêm a mata, pois o cacaueiro precisa de sombra para sobreviver. “Nas regiões onde o cultivo acabou, a mata também foi destruída, pois o espaço é utilizado em outras culturas”, destacou.

A destruição da cadeia produtiva do cacau baiano está viva na memória de todos. Dois técnicos do órgão foram acusados de disseminarem a vassoura de bruxa de maneira criminosa por motivos políticos. “Foi triste ver toda a degradação da lavoura, pois sabíamos que o fungo só chegaria na região através do homem ou da compra de sementes contaminadas”, afirma Lopes, pesquisador que trabalha no órgão há 15 anos.