O projeto Gestão de Risco de Inundações Urbanas aborda três etapas: previsão e prevenção (antes da ocorrência de chuvas), programa de alerta e controle (durante a ocorrência) e reabilitação/recuperação das áreas atingidas pela inundação. Os pesquisadores monitoram permanentemente as variáveis meteorológicas usuais, como pressão, temperatura e umidade relativa em um determinado terreno. A partir da abordagem do clima local, é estimado o “quanto” de chuva que poderá precipitar em instantes subseqüentes ao monitoramento. Dessa forma, é possível ter uma noção de quanta vazão poderá escoar pelos rios e/ou canais urbanos, dando uma idéia dos diferentes níveis de perigo de inundação.
De acordo com Pedro Caballero, pesquisador do NIBH e coordenador regional adjunto da Defesa Civil do estado de São Paulo (Região Central), com um sistema de alerta antecipado para enchentes, a Defesa Civil poderá isolar e evacuar uma área específica com até duas horas de antecedência (utilizando recursos existentes e disponíveis no Brasil) evitando perdas econômicas e humanas em áreas de risco.
O projeto de gestão desenvolvido pelo NIBH seria útil para prefeituras que não contam com sistemas simples de previsão de chuvas, ficando sem preparo algum para enfrentar os problemas causados pelas inundações e tendo grandes prejuízos, já que os custos de reabilitação e recuperação após inundações são, em média, trinta vezes maiores que os custos de investimentos em prevenção antecipada. “A abordagem das prefeituras municipais e governos estaduais a respeito das inundações é circunstancial: são medidas paliativas que não solucionam o problema”, conta Caballero, ao enfatizar que as atenções ainda ficam concentradas no controle quantitativo das enchentes ou inundações (medidas estruturais) e não nos aspectos qualitativos da água e nas medidas não estruturais, como seguros, capacitação da comunidade, alerta antecipado e previsão de inundações.
No Brasil, observa-se que não há uma cultura de prevenção de inundações. “Isso vem dos costumes estabelecidos no país desde a colonização: ocupação de várzeas, fundos de vale, margens de rios e o desrespeito à tradição oral dos ancestrais e indígenas sobre o comportamento do meio ambiente”, acredita Caballero.
Uma pesquisa do IBGE mostrou que, entre 2000 e 2002, 2.263 municípios brasileiros (41% do total) declararam ter sofrido algum tipo de alteração ambiental que afetou as condições de vida da população: 16% tiveram deslizamento de encosta e 19% sofreram inundações. Dos municípios que sofreram alteração ambiental por causa de inundação, a maioria encontra-se na região Sudeste (48%), seguido pela região Sul (23%), Nordeste (16%), Norte (8%) e Centro-Oeste (5%). Em São Carlos, interior de São Paulo, cada inundação que ocorre no centro tem um custo médio de 300 a 500 mil reais.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o mundo foi alvo de 600 inundações nos últimos dois anos e meio, que mataram cerca de 19 mil pessoas e causaram prejuízos de US$ 25 bilhões – excluindo o tsunami de dezembro na Ásia, que matou mais de 180 mil. Caballero diz desconhecer países com um contexto de preparação e prevenção total contra inundações em todos os municípios e regiões de risco, mas lembra que “existem países com ações efetivas e modificadoras em áreas específicas de bacias e micro bacias ou municípios, com retornos muito confiáveis e que devolvem a dignidade humana aos cidadãos e ao meio ambiente, como a Costa Rica (bacia Rio Uruca), os EUA (estado do Texas), a Espanha (bacia do Guadalquivir) e a maioria das regiões de risco do Japão”.