Biodegradação de plásticos pode prejudicar o meio ambiente

A idéia generalizada de que produtos biodegradáveis são benéficos para a natureza, pode ser um erro. Segundo pesquisadores do Centro de Tecnologia de Embalagem do ITAL, o processo de biodegradação pode emitir substâncias que contribuem para o aquecimento global e reduzir o oxigênio disponível na água.

Apesar de campanhas publicitárias disseminarem a idéia de que produtos biodegradáveis são benéficos para a natureza, pesquisadores do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) do ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) demonstram que supervalorizar materiais plásticos degradáveis pode ser um erro. As pesquisas realizadas ressaltam a importância da reciclagem e da diminuição do desperdício e tamanho das embalagens.

O engenheiro e pesquisador do CETEA Guilherme Castilho de Queiroz explica que, embora o processo de biodegradação aparente reduzir o acúmulo de resíduos sólidos, de fato pode emitir para o ar substâncias que contribuem para o aquecimento global e ocasionar a redução do oxigênio disponível na água, dentre outras conseqüências. “Caso o plástico degradável seja deixado em aterros, pode emitir metano na atmosfera, o que provoca explosões e contribui para o agravamento do efeito estufa. O oxigênio consumido na degradação também pode diminuir a taxa de oxigênio na água dos rios e matar os peixes”, argumenta Queiroz.

Isso não quer dizer, porém, que os materiais biodegradáveis não sejam importantes. Segundo o pesquisador, é preciso ressaltar que ser biodegradável não quer dizer necessariamente ser bom para o meio ambiente. Ele afirma que a biodegradação pode ser interessante, quando além da diminuição da geração de resíduos e da reciclagem dos materiais, é implantado um sistema de compostagem do lixo orgânico. “Os benefícios da biodegradação se encaixam a produtos que necessariamente vão para a água, como o detergente e xampus, mas não se deve generalizar esse efeito da biodegradação para os resíduos sólidos, como plásticos”, afirma Queiroz.

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, a empresa deve comprovar que o material produzido por ela é biodegradável, quando isso for divulgado para o consumidor. Além disso, a companhia deve provar que faz a compostagem e/ou reciclagem, não tendo apenas uma responsabilidade ambiental em potencial. Para a entidade não-governamental Plastivida, Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, a biodegradação deve ser feita dentro das condições determinadas pelas normas nacionais e internacionais da área. As normas técnicas para produtos biodegradáveis ainda estão em estudo no Brasil.

Reciclagem é melhor alternativa para gerenciar resíduos sólidos

Na opinião de Queiroz, outras condutas mais eficientes que a biodegradação devem ser estimuladas para gerenciar os resíduos sólidos. Uma delas é a redução da geração do lixo. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a quantidade de lixo produzida diariamente no Brasil naquele ano chegava a quase 230 mil toneladas.

Segundo Queiroz, diminuir essa quantidade passa pelo conceito de consumo sustentável, que deve ser aplicado pelo consumidor e pela indústria. Entre as possibilidades benéficas para melhorar a destinação dos resíduos sólidos está a reciclagem. “Muito mais interessante que a biodegradação é reciclar e investir para que seja feita a separação e a coleta. Deve-se cuidar para que esse material seja usado o máximo possível e evitar que sejam retirados recursos não renováveis da natureza”, explica o pesquisador.

O ideal para o meio ambiente é o Gerenciamento Integrado do Resíduo Sólido voltado para a redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética. “Deve-se pensar a questão ambiental de maneira integrada, dando prioridade à educação ambiental e à Política Nacional de Resíduos Sólidos, projeto do governo federal que ainda não saiu do papel”, conclui Queiroz.

Para saber mais

Plastivida

Política Nacional de Resíduos Sólidos

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

Cresce a participação da ciência no meio audiovisual

Nos últimos 20 anos, os meios audiovisuais brasileiros têm cedido cada vez mais espaço para a ciência. Essa é a opinião do professor de Física da UFRJ e diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Ildeu de Castro Moreira.

Nos últimos 20 anos, os meios audiovisuais brasileiros têm cedido cada vez mais espaço para a ciência. Essa é a opinião do professor de Física da UFRJ e diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Ildeu de Castro Moreira, que coordenou no início do mês o Festival de Cine e Vídeo Científico do Mercosul (Cinecien), promovido pela Rede Especializada de Ciência e Tecnologia do Mercosul (RECyT). “É o interesse pela ciência de forma geral que sustenta produções sobre o tema em diversos meios e ações pró-ativas, como a construção de museus de ciência”, diz.

Entre os eventos recentes sobre a participação da ciência nas produções audiovisuais estão o seminário “História da ciência no cinema”, promovido em outubro de 2005 pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, o Simpósio Ciência e Arte 2006, realizado no Rio de Janeiro no mês de outubro e, no mesmo mês, a II Mostra de Ciência no Cinema em Campinas do Labjor/Unicamp.

Apesar do crescimento e da boa qualidade de muitas produções audiovisuais sobre ciência no Brasil, há ainda muito a ser feito para que o país se aproxime da realidade internacional. Moreira acredita que essa presença da ciência no vídeo decorre de uma onda de interesse científico, que sucede outras, como a fase de 1870 (grande interesse pela ciência aplicada), a da década de 1930 (quando o Brasil começou a se pronunciar em ciência básica) e o período pós Segunda Guerra Mundial.

Para se ter uma idéia de como o país ainda está em posição desfavorável no contexto mundial, basta constatar que enquanto cerca de 20% dos europeus freqüentam museus anualmente, no Brasil, essa cifra cai para aproximadamente 1%. Em número de planetários, o Brasil apresenta apenas 10% da quantidade observada na Índia (que está em torno de 300).

Outro aspecto a se considerar na produção de vídeos sobre ciência é a carência de produções de ficção de qualidade. “O Brasil poderia explorar mais a vertente da ficção para levar a ciência ao grande público”, afirma Moreira, “essa é uma forma excelente de aprendizado com entretenimento e talvez seja a mais difícil de se produzir”. O que ocorre, muitas vezes, é a criação de imagens que passam uma visão deturpada da ciência, com conceitos científicos errados. “Um desserviço prestado à sociedade”, lamenta.

Mas muitas produções que abordam o tema da ciência, se não transmitem os assuntos de forma plenamente satisfatória, trazem ao público o assunto como tema de discussões relevantes. Moreira cita a novela “O Clone”, transmitida pela rede Globo em 2001, como um veículo de massa que levou a população a pensar sobre questionamentos importantes, embora tenha cometido deslizes informativos, como a estereotipagem da figura do cientista, entre outros.

O Festival Cinecien, que acaba de ocorrer, teve uma primeira versão no ano passado, na Argentina, e mostra-se mais aberto à participação dos países mercosulinos. Segundo Moreira, neste ano, o regulamento foi discutido pelos países do bloco de forma mais integrada. Quanto aos resultados, o coordenador do evento está bastante satisfeito. Foram submetidos 184 filmes e premiados quatro, além de oito menções honrosas e da premiação de uma categoria especial (veja a lista de filmes premiados). As categorias de premiação foram: vídeos e filmes didáticos, programas para TV, longas e curtas-metragens documentários e ficção. Segundo o físico, a presença do Brasil no festival foi significativa, o que revela uma penetração mais efetiva da ciência no cotidiano das pessoas. “O material produzido no Brasil é muito rico, com temas que variam de nanotecnologia a astronomia, e a divulgação por meio de eventos como esse é fundamental para que as produções tenham maior acesso a recursos de órgãos de fomento”, afirma.

Interdependência marca relações entre Estado e mídia no Brasil

Octavio Penna Pieranti, pesquisador da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, analisa, em artigo publicado no periódico Lua Nova, a relação de interdependência da mídia e políticas brasileiras e defende a necessidade de uma revisão urgente das leis que atualmente regulam a comunicação social no Brasil.

A mídia, no Brasil, não pode ser entendida sem a política. Isso porque, desde a chegada da imprensa em território brasileiro, essas duas esferas de poder são marcadas por uma relação de interdependência. Octavio Penna Pieranti, pesquisador da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), analisa em artigo publicado na última edição de Lua Nova: revista de cultura e política (n° 68), essa relação e confirma a necessidade de uma revisão urgente das leis que atualmente regulam a comunicação social no Brasil.

O pesquisador começou sua análise na origem da imprensa no Brasil, no século XVIII, seguiu até 1962, quando o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT) foi criado, passou pelo período da ditadura militar, a abertura democrática, até chegar à crise na mídia brasileira – da década de 1990 até o início deste século.

Durante o período do regime militar, os setores de radiodifusão e de imprensa foram analisados sob dois vértices. O primeiro refere-se aos investimentos em infra-estrutura e a modernização das transmissões de rádio e televisão, que durante os governos militares, notadamente o de Castelo Branco (1964-67) e de Arthur da Costa e Silva (1967-69), se destacaram com grandes investimentos em melhorias técnicas. O segundo analisa o controle exercido pelo governo através do corte de ajuda financeira às empresas não alinhadas ao regime e através da repressão e da censura naquelas antipáticas às leis militares. O Ato Institucional número 1, por exemplo, de 1964 e o Ato Institucional número 5, de 1968, suspenderam as garantias constitucionais. Outras medidas foram tomadas para limitar a liberdade de expressão. “O Decreto-Lei 898, de 1969, conhecido como Lei de Segurança Nacional, e a Lei 5.250, de 1967, conhecida como Lei de Imprensa, estabeleceram limitações à manifestação de pensamento e à liberdade de imprensa. Aliadas a outros dispositivos legais, essas regulamentações facilitaram a coerção, por parte de atores ligados ao governo federal, a profissionais de imprensa”, explica Pieranti.

Com o fim do regime, o primeiro civil no comando do Ministério das Comunicações foi Antonio Carlos Magalhães, que permaneceu no cargo durante todo o governo de José Sarney. “A família Magalhães é dona da TV Bahia (afiliada da TV Globo) e de jornais e controla outras emissoras no interior do estado”, lembra Pieranti. Ele enfatiza ainda o caso da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja aprovação da emenda que autorizou a reeleição teria sido possível graças – entre outros fatores – a distribuição, pelo Ministério das Comunicações, de 1.848 Estações Retransmissoras de Televisão (RTVs). “Quase 400 dessas RTVs, principalmente as destinadas a deputados, senadores e prefeitos, receberam autorização para funcionar em dezembro de 1996, apenas um mês antes da votação em primeiro turno da emenda da reeleição na Câmara dos Deputados. As concessões, mais uma vez, contribuíram decisivamente para que o poder público pudesse aprovar uma medida polêmica”, afirma.

Antigas práticas foram não apenas mantidas como também ampliadas, como é o caso do atual regime de concessão pública de rádio e TV para parlamentares, embora o código de ética o proíba. Não é novidade que inúmeros parlamentares detém concessões de meios de comunicação. Segundo dados divulgados pela Agência Repórter Social, um terço dos senadores e mais de 10% dos deputados eleitos para o mandato de 2007 a 2010 controlam rádios ou televisões. No entanto, no último dia 20 de dezembro, os parlamentares da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara, responsáveis por analisar e aprovar as concessões, rejeitaram 83 pedidos alegando falta de documentos para uma análise detalhada dos pedidos (leia matéria). publicada na Carta Maior.

Outro momento que ilustra a interdependência mídia-política é a crise no setor de comunicações nos anos 1990. Consequentemente houve diminuição da circulação de revistas entre os anos de 2000 e 2002 de 17,1 milhões para 16,2 milhões de exemplares por ano, enquanto os jornais passaram de 7,9 milhões para 7 milhões de exemplares ao ano. Entre as emissoras de TV, a Manchete acabou vendida, depois de 15 anos de funcionamento, por estar afundada em dívidas. A dimensão da crise se tornou pública quando associações representativas das empresas do setor pediram ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) R$1,2 bilhão para a compra de papel jornal e de R$ 5 bilhões para o refinanciamento de dívidas. A intervenção pública no setor privado das comunicações põe em dúvida, acredita Pieranti, o papel essencial da imprensa que é o de fiscalizar o poder público. “Trata-se de pilares equivocados sobre os quais se organizam as empresas de radiodifusão e de imprensa: elas dependem excessivamente das verbas constantes do poder público e parecem preferir assim fazê-lo a buscar outras fontes de renda”, analisa.

Segundo o autor da pesquisa, em todos os períodos, inclusive no atual, é possível identificar um eixo central nas relações entre governo e meios de comunicação, seja através do repasse de verbas, empréstimos ou veiculação de propagandas de estatais. Por isso, ele é incisivo ao afirmar a urgente necessidade de reformulação das leis que regulam o setor de comunicações no Brasil. Outro ponto destacado são as legislações ultrapassadas e a fragilidade das leis mais recentes. “Tramitaram e ainda tramitam no Congresso Nacional diversos projetos de lei que têm como objetivo a regulação da atividade jornalística e da radiodifusão, faltando, ainda, passados quase vinte anos do fim do regime militar, suas aprovações“, explica. É necessário ainda políticas públicas mais transparentes para o setor de comunicações, de modo a facilitar investimentos sem o comprometimento da liberdade e da isenção da imprensa.

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