Parceria entre Brasil e Finlândia estuda estruturas arqueológicas no AC

No final do mês de junho, trinta anos após sua descoberta, os geoglifos acreanos – estruturas que chegam a 215 metros de lado e quatro de profundidade – serão estudados por uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores brasileiros e finlandeses.

O tamanho impressiona. O quadrado escavado de 215 metros de lado, 15 metros de largura e quatro de profundidade e com cantos arredondados é apenas uma dentre cerca de 100 estruturas semelhantes que vem sendo descobertas no estado do Acre desde 1977. No final do mês de junho, trinta anos após sua descoberta, os geoglifos acreanos – como são chamadas essas estruturas – serão revisitados pela ciência. Uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores brasileiros e finlandeses irá estudá-los. Essa parceria internacional envolve a Universidade de Helsinque, a Universidade Federal do Acre e o Museu Paraense Emílio Goeldi.

O objetivo do trabalho é responder, pelo menos em parte, as perguntas que envolvem essa descoberta arqueológica: por que, como e quando foram feitos e que civilização está por trás de sua construção? “Por enquanto, os geoglifos são apenas perguntas”, admite o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, que integra a equipe que começará os estudos em junho. Ranzi participou como estagiário nos primeiros estudos dos geoglifos liderados pelo arqueólogo Ondemar Dias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, logo após sua descoberta no final da década de 1970.

O atual grupo de pesquisa obteve autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para explorar cinco sítios arqueológicos dentre 60 conhecidos. Ranzi conta que foi somente após o desmatamento da floresta para dar lugar aos pastos e fazendas que as estruturas foram encontradas. São quadrados e círculos perfeitos, às vezes concêntricos, com dezenas de metros de extensão, de modo que só são vistos do alto. A terra retirada foi cuidadosamente colocada nas bordas de modo a formar um perímetro gigante feito de uma depressão ao lado de uma elevação de terra. A precisão dos formas geométricas chama a atenção dos pesquisadores, que consideram pouco provável que elas tenham sido construídas dentro da floresta. “Essa região já foi uma grande savana com lhamas e outros animais”, explica Ranzi. “Ainda não sabemos se os geoglifos são dessa época ou se ainda foram feitos durante um breve período de alteração climática, por exemplo”, afirma.

Os sítios do Acre lembram os desenhos esculpidos a 700 quilômetros dali no deserto peruano de Nazca e descobertos em 1927. No Peru, as escavações tomam a forma de imensos animais só visíveis a grandes alturas. Essas obras ganharam fama depois que o livro Eram os deuses astronautas?, do escritor suíço Erich von Daniken, tornou-se um best-seller. Inspirado nos megadesenhos peruanos, Daniken teceu a teoria de que certas civilizações teriam sido visitadas por seres extraterrestres inteligentes.

De qualquer forma, os especialistas não acreditam que Nazca e o Acre tenham uma civilização ancestral em comum. Essa é a opinião de Ranzi e da arqueóloga Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará e do Museu Paraense Emílio Goeldi. Denise também está entre os pesquisadores que estudarão os geoglifos no mês que vem.

A arqueóloga acredita que as enormes valetas no Acre ajudam a quebrar um paradigma da arqueologia: o de que as grandes civilizações estariam instaladas apenas nas margens dos grandes rios. “Essas construções mostram que havia grandes sociedades também longe dos rios,” afirma a pesquisadora.

A idade das escavações continua sendo uma das maiores dúvidas. Duas amostras retiradas de sítios revelaram datações diferentes: 1.260 anos e 2 mil anos. Um dos objetivos do estudo em parceria com a Universidade de Helsinque é aprofundar o trabalho das datações nos sítios estudados.

A exemplo das figuras peruanas, o governo do Acre já estuda um meio de transformar os geoglifos em fonte de atração turística. Um encontro realizado no último dia 3 de maio reuniu autoridades e especialistas para discutir o tema. Tanto Denise Schaan como Alceu Ranzi vêem o turismo arqueológico como benéfico para a preservação das estruturas. “Desde que exista uma infra-estrutura que ofereça proteção ao turista e ao sítio e que dê ao visitante informações sobre o que ele está vendo, todos só têm a ganhar”, acredita Denise. “Foi por causa do desconhecimento que muitos geoglifos foram danificados. Conhecer é uma maneira de preservar”, afirma Ranzi.

O pesquisador ainda aposta que o Acre pode pegar carona no tráfego turístico já estabelecido em Nazca. “Cerca de 35 mil turistas visitam anualmente o deserto peruano. Se apenas 10% deles vierem ao Acre para conhecer os geoglifos, já serão 3,5 mil pessoas por ano incrementando a economia do estado”, calcula Ranzi. Com o término da construção da rodovia Pan-Americana que ligará o Brasil ao Peru, ainda mais turistas poderão viajar no tempo ao apreciar essas intrigantes e milenares obras.

Economia do hidrogênio no Brasil tem pouco investimento

O hidrogênio é fonte de energia eficiente e sustentável, embora cara. Essa é a opinião de Ennio Peres da Silva, do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp. Durante seminário no Instituto de Geociências são as principais constatações que o pesquisador, ele afirmou que apesar de fundamentais, investimentos e incentivos em P&D deste não tem acontecido no Brasil.

O hidrogênio é uma fonte de energia que se caracteriza pela eficiência, sustentabilidade e pelo alto custo. Apesar de investimentos e incentivos em P&D no setor serem fundamentais para o desenvolvimento da tecnologia, isso não tem acontecido no Brasil. Essas são as principais constatações que o pesquisador do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp, Ennio Peres da Silva, apresentou no último seminário do Instituto de Geociências da universidade. Ele mostrou o estado das principais tecnologias e programas brasileiros do uso energético do hidrogênio.

De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início de maio, o planeta tem condições financeiras e tecnológicas para impedir o aquecimento global, mas precisa de compromisso político entre os governos. Entre as medidas propostas para reduzir o efeito estufa, está justamente a economia do hidrogênio como energia, além da abolição dos combustíveis fósseis e adoção de novos padrões energéticos, nucleares e renováveis.

A maioria das fontes renováveis produz diretamente apenas energia elétrica, exceto biomassas, que fornecem combustíveis. Assim, a conversão de eletricidade em combustível é desejável, como é o caso do hidrogênio. “A tecnologia do uso desse elemento deve-se a soma de utilidade energética e vantagens ambientais. Pelo fato de não ser poluente pode ajudar a frear o aquecimento global. Apesar disso, não há reservatórios de hidrogênio no planeta. Uma das dificuldades é que para obtê-lo, é necessário dissociar compostos, pois ele se encontra apenas associado a outros elementos químicos”, afirma Silva.

Entre os processos de liberação de hidrogênio, além da eletrólise da água (eficiente e em aperfeiçoamento), é possível citar a reforma de hidrocarbonetos, como metano, derivados do petróleo e etanol. No entanto, a novidade tecnológica dos últimos anos é a célula à combustível, a partir de dispositivos que convertem diretamente a energia química em eletricidade – ao contrário dos métodos tradicionais, onde a energia química passa por diversas fases até se tornar elétrica. “Trata-se de uma tecnologia viável em diversas aplicações, podendo ser usada em larga escala, com baixo impacto ambiental. O desafio é justamente seu alto custo. Pode ser que haja uma aplicação mais intensiva até 2015, a velocidade do desenvolvimento da tecnologia vai depender das preocupações sócio-ambientais e investimentos”, alerta o pesquisador da Unicamp.

Programas estruturam a economia do hidrogênio

Além das pesquisas e debates na Unicamp, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), da USP, atua na área desde 2000. Em 2007, inaugurou o Programa de Células a Combustível e Hidrogênio (Procel), com o objetivo de gerar conhecimento e tecnologia na área. O coordenador do projeto, Marcelo Linardi, afirma que “a plena economia do hidrogênio prevê que ele venha de fontes renováveis, garantindo sustentabilidade”.

O hidrogênio como energia já tinha sido analisado na década de 70, em função da crise do petróleo. Mas foi só a partir das preocupações ambientais nos anos 90, que a idéia tomou força. Em 2002, foi criado no país o ProCac (Programa Células a Combustível), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), com recursos de fundos setoriais. Após reformulações, em 2005, a rede mudou para Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Economia do Hidrogênio.

Segundo dados do “Roteiro para a estruturação da economia do hidrogênio no Brasil”, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), com integração técnica do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), em 2010 o Brasil deve iniciar a geração comercial de hidrogênio a partir da reforma de gás natural e em 2020, do etanol. “É provável que em 2030 o hidrogênio tenha boa participação na matriz energética do país. A intenção agora é gerar fontes de conhecimento, fazer patentes e não apenas importar modelos prontos”, diz Adriano Duarte Filho, coordenador de tecnologias setoriais do MCT.

Mas, enquanto a viabilidade da economia do hidrogênio é discutida, pesquisadores contestam o atual panorama das pesquisas no Brasil: “Apesar da vigência do programa e de iniciativas privadas, os fundos setoriais não funcionam, então o programa está prejudicado financeiramente. Os grupos de pesquisa continuaram trabalhando, com pequenas parcerias e sem dinheiro do governo. A falta de ação do MCT fez com que o MME avançasse mais nessa temática, propondo um amplo programa de inovação. Porém, com a mudança de gestão neste ano, a inoperância continua”, denuncia Silva, que acredita que a célula a combustível será desenvolvida fora do Brasil. De fato, investimentos no setor, na Alemanha e nos EUA, foram superiores a 2,2 bilhões de dólares entre 1999 e 2005.

Superterceirização é tema de pesquisa

Os empregos terceirizados não param de crescer em todo o Brasil, com aumento de 300% nos últimos 20 anos. Esse foi o foco de um estudo encomendado à Unicamp pelo Sindeepres. Trata-se da maior radiografia já realizada sobre o setor.

Os empregos terceirizados não param de crescer em todo o Brasil, com aumento de 300% nos últimos vinte anos, trazendo não apenas vantagens, mas desvantagens para o trabalhador. Essa é conclusão de um estudo encomendado à Unicamp pelo Sindeepres (Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços). Trata-se da maior radiografia já realizada sobre o setor.

O levantamento revela que o número de terceirizados aumentou sete vezes no estado de São Paulo, entre 1985 e 2005. Nesse período, foram criados três milhões de empregos formais, sendo que 12% foram gerados nos empreendimentos envolvidos com a terceirização de mão-de-obra. O ritmo de crescimento das empresas de prestação de serviços foi ainda mais expressivo. No período, aumentou quase 25 vezes, passando de 257 para 6.308.

Segundo Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Unicamp e coordenador da pesquisa, a expansão da terceirização se deve a dois fatores, a partir do Plano Real, em 1994: “O setor privado passou a conviver com baixa inflação, mas influenciado por juros altos, valorização cambial e impostos. Além disso, as empresas brasileiras foram pressionadas pelo avanço da abertura comercial e financeira indiscriminada, sem mecanismos compensatórios adequados”, explica Pochmann. A terceirização foi o caminho mais fácil e imediato para diminuir os custos de contratação da mão-de-obra.

O setor público também teve participação nessa mudança nas relações de trabalho. As iniciativas de ajuste fiscal, como a privatização de estatais e a Lei de Responsabilidade Fiscal, apertaram o cinto das despesas públicas. “Como os estados, por exemplo, têm um limite a ser gasto com a folha de pagamento, optaram por terceirizar várias atividades”, afirma o pesquisador. Por conta disso, recentemente, a terceirização não está somente nas áreas secundárias das empresas. A chamada “superterceirização”, referente às funções principais, ganhou corpo. Em 1985, 2,9% dos terceirizados estavam nas atividades finais das empresas. Vinte anos depois, esse percentual foi de 41,9%.

A superterceirização apresenta vantagens para alguns como isenção de impostos e redução de gastos com direitos do celetista, como férias e décimo terceiro salário. Entretanto, ela precarizou postos de trabalho definidos por condições e relações de trabalho tradicionais. Além da renda menor, cerca de dois terços dos terceirizados estão em empresas há menos de um ano, o que mostra a alta rotatividade desse mercado. Como solução, Pochmann defende o avanço na regulação pública do trabalho: “A legislação precisa incluir diferentes modalidades de contratação e garantir um parâmetro mínimo para que todos possam ter seus direitos protegidos. Defendemos uma reforma trabalhista inclusiva, já que a terceirização de pessoas e empresas veio para ficar”.

Para o pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp, Amilton Moretto, a terceirização é fruto da própria reorganização das empresas, graças à tecnologia e à abertura da economia: “Nos anos 90, houve reestruturação modernizadora e defensiva para redução de custos, além do avanço tecnológico. As conseqüências foram o desemprego e a terceirização, alternativa para que as empresas pudessem se ajustar à demanda, evitando estoques”, explica o pesquisador, que também enfatiza o enfraquecimento dos movimentos sindicais como resultado do processo.

Na opinião de Moretto, as pesquisas acadêmicas em trabalho são fundamentais e desafiadoras no cenário atual: “A pesquisa no Brasil é dificultada, pois há muita precarização e informalidade no trabalho, o que prejudica levantamento de dados. Mas é claro que a apreensão com a organização do mercado e as relações de trabalho é cada vez maior”. Entre as maiores preocupações dos estudiosos de economia, estão: o papel do sindicalismo frente aos trabalhadores terceirizados, a organização social para regular o trabalho, os impactos fiscais da terceirização no país, assim como a previsão das ocupações mais promissoras no futuro e a atuação do setor educacional nesse contexto.

Terceirização chega à pesquisa e desenvolvimento

A terceirização já atingiu também o setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no mercado globalizado, gerando emprego em países que investem na formação de pesquisadores. Os clientes desses serviços perceberam que podem economizar tempo e dinheiro ao utilizar o conhecimento de pesquisadores experientes espalhados pelo mundo e ainda facilitar o envio de novos produtos para o mercado.

De acordo com estudo da Forrester Research, a procura de empresas norte-americanas por serviços de P&D deve-se também a uma redução na oferta de talentos locais. Desde os anos 90, os PhDs em física e engenharia, por exemplo, diminuíram, respectivamente, 22% e 15%. Cada vez menos cientistas estudam e trabalham no próprio país. Em conseqüência disse cresce a terceirização e contratação de P&D no exterior.

No Brasil, a onda de terceirização nesse segmento abre portas para as universidades, institutos de pesquisa e pequenas empresas prestadoras de serviços de alta tecnologia concorrerem na busca de participação em projetos de empresas globais. Os serviços terceirizados de P&D competem com os tradicionais convênios firmados entre empresas e universidades. Por meio deles, empresas como a IBM desenvolvem produtos com baixo custo, formam especialistas e selecionam talentos.

Para saber mais:

Sindeepres