Programa leva fundamentos das geociências para a educação básica

O currículo disciplinar do ensino fundamental e médio, no Brasil, inclui ciências clássicas como química, física e biologia, mas exclui outras áreas de conhecimento fundamentais na formação da cultura contemporânea. É o que ocorre com a geologia. Buscando preencher esta lacuna e superar a falta de interdisciplinaridade no conhecimento que é oferecido na educação básica, o Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas mantém, desde 1996, um programa de formação e capacitação de professores em ciências da Terra. Atualmente, o programa tem pouco mais de sessenta professores da rede pública em suas fileiras, e vem produzindo resultados animadores: não apenas mostra ser possível formar um corpo docente capacitado para ensinar uma imagem sistêmica do planeta em que vivemos, como pode produzir nos alunos uma visão mais realista sobre os processos naturais que chegam a afetar muitos deles, como enchentes, alagamento e deslisamentos.

Como o conjunto de conhecimentos que chamamos de geologia está diluído em várias disciplinas na educação básica, o tratamento usualmente dado a esse campo científico geralmente deixa muito a desejar. Pedro Wagner Gonçalves, um dos pesquisadores do IG responsáveis pelo programa, afirma que “uma das principais deficiências na educação básica, com relação às ciências da Terra, é que não há uma ideia de sistema sendo trabalhada. Não há uma visão do planeta Terra como um sistema natural”. Pior: noções fundamentais para a concepção de mundo contemporânea, como a ideia de tempo geológico (escala de milhões a bilhões de anos), que são frutos do desenvolvimento das ciências da Terra desde o século XVIII, não são trabalhadas de maneira adequada, justamente pela falta de autonomia da geologia como disciplina na educação básica. Por esse motivo, o programa “exige que os professores façam uma introdução à geologia para os alunos”, diz Gonçalves. Como os docentes não têm formação prévia nos rudimentos da geologia que os possibilite fazer isso, o programa tem como pressuposto a capacitação dos professores, das mais diversas áreas, nos fundamentos das ciências da Terra. O objetivo do programa é “fazer um design do que pode ser ensinado e como relacionar disciplinas diferentes”, diz Gonçalves. Por isso, o trabalho é feito em eixos temáticos, que variam da teoria de sistemas (que lida com a ideia de transformação da natureza) ao estudo do meio-ambiente e do espaço urbano do ponto de vista ambiental.

Embora a execução do projeto seja feita de maneira individual pelos professores, em sala de aula, a preparação das aulas se dá de maneira coletiva – ela é feita entre o grupo todo, professores e pesquisadores. “Se queremos introduzir uma mudança curricular, é preciso criarmos uma dinâmica de colaboração, de áreas e backgrounds diferentes”, afirma Gonçalves. Para avaliar os avanços, tanto com relação à formação dos professores quanto à dos alunos, são utilizados vários métodos: gravam-se ou filmam-se os encontros do programa e as aulas, examina-se o registro no caderno do professor. Um membro do programa geralmente participa das aulas como observador, anotando os principais pontos da intervenção para futura discussão.

Segundo Gonçalves, o “processo de formação continuada de professores para ciências da Terra do IG busca investigar a formação dos alunos no sistema Terra junto com os professores”. Dessa forma, “o papel da universidade torna-se um papel mais interativo, de colaboração, do que de instrução específica”, arremata o pesquisador. No início do programa, os professores eram convidados a participar. Hoje, a participação tem sido voluntária, sem que seja necessária a ida dos pesquisadores até as escolas. Sinal de que a interdisciplinaridade e o esforço de compreensão de nosso planeta podem ser mais do que bem-vindas na educação básica.

Como estudantes interpretam a discriminação em universidades do Rio

Apesar da imagem de país multicultural e tolerante, o preconceito existe e está presente no cotidiano e na sociedade brasileira em suas mais diversas formas. Na maioria das vezes, ele se mostra de maneira velada e não explícita e, a partir dele, acontecem as ações discriminatórias. É o que mostra o estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Apesar da imagem de país multicultural e tolerante, o preconceito existe e está presente no cotidiano e na sociedade brasileira em suas mais diversas formas. Na maioria das vezes, ele se mostra de maneira velada e não explícita e, a partir dele, acontecem as ações discriminatórias. É o que mostra um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que por meio de um estudo qualitativo, buscou compreender como os diferentes processos da discriminação ocorrem entre estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da própria Uerj.

A pesquisa faz parte do doutoramento de João Luiz Bastos na UFPel. O doutor em epidemiologia Eduardo Faerstein, co-orientador de Bastos e membro do IMS da Uerj, sugeriu que a pesquisa fosse feita no Rio. “Ele me convidou para fazer o estudo na cidade, levando em consideração o fato de que a instituição onde atua tem alunado com perfil bastante diversificado do ponto de vista socioeconômico (renda, escolaridade, origem social) e demográfico (cor, sexo, idade). Achamos que esse perfil diversificado seria rico e interessante como contexto no qual a pesquisa seria conduzida”, comenta.

O estudo foi iniciado em 2008 e divulgado na edição de fevereiro de 2010 da Revista de Saúde Pública. A pesquisa envolveu cinco grupos de 43 alunos de ambos os sexos e autoclassificados nas categorias de cor/raça branca, parda e preta. A Uerj e a UFRJ foram escolhidas porque recebem alunos de realidades econômicas e sociais distintas e por possuírem um esquema de ingresso diferenciado, sendo que a instituição estadual reserva um número determinado de vagas para estudantes de baixa renda e classificados como pardos ou negros. Tendo em vista que a relação de candidatos por vaga de cada curso poderia influenciar de alguma maneira na discriminação e no preconceito, foram selecionados universitários de diferentes cursos: ciências sociais, educação física e medicina.

Durante os encontros com os cinco grupos, os pesquisadores utilizaram um roteiro que abrangia os termos preconceito e discriminação e que questionava os participantes acerca de suas experiências discriminatórias, estimulando os entrevistados a pensarem e discutirem sobre os conceitos e as ações. Os pesquisadores adotaram o método de interpretação de sentidos, em que se busca a compreensão do contexto, da razão e da lógica das afirmações feitas pelos entrevistados. Além disso, foram analisados também os fatores que afetam a percepção da discriminação e os cenários e motivos das experiências discriminatórias.

De acordo com Bastos, quando estimulados a pensar sobre os termos “discriminação” e “preconceito”, os estudantes apresentaram definições bastante rigorosas desses conceitos. Para eles, “preconceito estaria mais ligado a uma ideia pré-concebida em relação a algo ou alguém, podendo ser uma ideia tanto positiva quanto negativa – no sentido de depreciar ou vangloriar. Por sua vez, discriminação se associaria mais com comportamentos observáveis negativos, dirigidos a alguém e frutos de preconceitos previamente existentes”. Bastos lembra ainda que, à medida que as discussões dos grupos aumentavam, as diferenças entre esses dois termos ficava menos nítida.

A partir desse estudo, Bastos diz ainda que as situações de discriminação tornam-se mais difíceis de serem enxergadas por conta da intimidade, do tom de voz utilizado entre o discriminado e discriminador ou se a discriminação acontece de forma velada, por meio de piadas ou brincadeiras. “Tudo isso revela que a interpretação de um comportamento como discriminatório é dada por uma série de condições muito específicas e passageiras das relações que os indivíduos estabelecem entre si, sob a influência de experiências e relações passadas”. Logo, é possível concluir que a interpretação de um tratamento como discriminatório é bastante complexa, tendo que levar em conta a faixa etária dos participantes, os contextos de vida e níveis sociais e os tipos de relações interpessoais que estabelecem. Outra conclusão relevante da pesquisa está no fato dos participantes também se reconhecerem como perpetuadores de ações discriminatórias, agindo também, de certo modo, como discriminadores.

Na opinião do pesquisador, a principal contribuição do estudo está na percepção dos jovens como sendo discriminados em situações corriqueiras de suas vidas e nos mais diferentes tipos de relações, como com colegas de faculdade, familiares, outros tipos de profissionais, entre outras. “Outro aspecto digno de nota foram os relatos de que os jovens perceberam-se discriminados por mais de um motivo, simultaneamente”, explica. Bastos explica que a motivação para esse estudo veio de suas experiências pessoais, vivenciadas na infância. “Fui criado em conjunto com dois primos adotivos negros, em uma região no Sul do Brasil e presenciei algumas experiências de discriminação pelas quais eles passaram e que foram muito marcantes para mim”, finaliza.

USP recebe descarte de material eletrônico em desuso da população

Nos dias de hoje, quase todo mundo tem em casa algum equipamento eletrônico que não usa mais: celular, microcomputador ultrapassado, CDs. A partir do dia primeiro de abril, o Centro de Computação Eletrônica da USP passou a oferecer um novo serviço para a população de São Paulo: receber descarte de lixo eletrônico.

Nos dias de hoje, quase todo mundo tem em casa algum equipamento eletrônico que não usa mais: celular, microcomputador ultrapassado, CDs. Fica difícil decidir o destino dessas coisas depois que estão fora de uso, algo que parece acontecer cada vez mais depressa. A partir do dia primeiro de abril, o Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (USP) passou a oferecer um novo serviço para a população de São Paulo: receber descarte de lixo eletrônico.

No Brasil, em especial, a produção de lixo eletrônico por habitante foi recentemente considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a maior entre os países emergentes. A preocupação envolve tanto a necessidade de fazer a reciclagem e reaproveitamento de parte desse material como a tentativa de minimizar os impactos desse descarte, para evitar que substâncias potencialmente tóxicas às pessoas e ao meio ambiente poluam ainda mais as nossas cidades.

O encaminhamento do lixo eletrônico é feito pelo Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), que iniciou suas atividades no ano passado, quando passou a cuidar do descarte eletrônico da própria USP. Ele nasceu de uma necessidade percebida pelos funcionários do Centro de Computação Eletrônica (CCE), em relação ao lixo eletrônico ali produzido. Segundo Tereza Cristina Carvalho, diretora do CCE, as principais atividades do Cedir são a remanufatura de microcomputadores e o descarte sustentável de partes.

“Nós verificamos a possibilidade de arrumar ou turbinar o micro, e essa máquina que ainda está funcionando, nós emprestamos para projetos sociais”, diz Carvalho. Quando as partes não podem ser reaproveitadas, o Cedir procura dar o encaminhamento necessário para cada tipo de material, uma vez que as empresas de reciclagem são especializadas por material. “O que nós fazemos é desmontar todo o micro e classificamos as diversas partes. Por exemplo, plástico tem diversos tipos, então tem que separar por tipo de plástico; feito isso, nós mandamos para as empresas de reciclagem”, explica.

O Cedir recebe para descarte não apenas microcomputadores, mas todo tipo de material eletrônico, como impressora, equipamentos de rede, equipamentos de telefonia, celular e CD. De todo material recebido até agora, apenas a parte interna das fitas de vídeo cassete ainda não podem ser recicladas. Mas Carvalho ressalta que um laboratório está sendo montado na Escola Politécnica da USP para procurar soluções para esse problema.

Embora a iniciativa do CCE em buscar alternativas para o destino do lixo eletrônico seja pioneira na forma como pretende trabalhar com o público, a questão a ser levantada é quanto desse descarte inteligente seria necessário para aplacar essa crescente preocupação no país. Para a diretora do CCE, o maior problema relacionado ao lixo eletrônico no Brasil é a falta de legislação. “Os fornecedores, os vendedores de equipamentos eletro-eletrônicos, no Brasil, não tem a obrigação de fazer o que a gente chama de logística reversa, que é a reciclagem. Então, se não existe obrigação, ninguém faz”, observa.

As iniciativas existentes nessa área se limitam a alguns fabricantes de eletrônicos que aceitam o equipamento de volta após o uso. “Existem projetos sociais, ONGs vinculadas ao Ministério de Planejamento, que também repassam remanufatura de micros para projetos sociais. E existe também o Center for Digital Inclusion (CDI)”, completa Carvalho. Dessa forma, embora todas as iniciativas tenham grande importância, inclusive por revelar a maneira como a questão do descarte pode ser abordada para aumentar em muito a eficiência da reciclagem, é preciso uma maior participação, na forma de políticas públicas, para que essa questão tenha repercussão e resultados futuros abrangentes. Pois, como coloca Tereza Carvalho, “na realidade, o que as pessoas fazem é isso: ou elas guardam isso em casa ou elas acabam jogando no lixo normal”.

O serviço oferecido pela USP começa no dia primeiro de abril, quando o Cedir passará a atender pessoas físicas que agendarem uma visita no seu Help Desk. Os agendamentos podem ser feitos pelos telefones (11) 3091-6455 ou (11) 3091-6454. Os funcionários do Cedir respondem às dúvidas pelo e-mail: cedir.cce@usp.br. Mais informações no site: http://www.cce.usp.br/