Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de remédios para emagrecer

O Brasil está entre os cinco maiores importadores mundiais de drogas controladas, como o femproporex e anfepramona (medicamentos utilizados para emagrecer). Juntamente com a Espanha, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, o país importa 78% de remédios anorexígenos produzidos no planeta. Para discutir o alto consumo de remédios, a Unicamp promoveu o Fórum Permanente e Interdisciplinar de Saúde A Terapêutica e o Uso Racional do Medicamento, no dia 18 de agosto.

O Brasil está entre os cinco maiores importadores mundiais de drogas controladas, como o femproporex e anfepramona (medicamentos utilizados para emagrecer). Juntamente com a Espanha, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, o país importa 78% de remédios anorexígenos produzidos no planeta. Para discutir o alto consumo de remédios, a Unicamp promoveu o Fórum Permanente e Interdisciplinar de Saúde A Terapêutica e o Uso Racional do Medicamento, no dia 18 de agosto.

Elisaldo de Araújo Carlini, professor da Escola Paulista de Medicina e membro da Junta Internacional para o Controle de Narcóticos (INCB, sigla em inglês) das Nações Unidas tratou do uso indiscriminado das drogas para emagrecer. Carlini mostrou que, desde 1988, o Brasil vem sendo advertido pelo INCB pela volumosa entrada dessas substâncias. Embora as políticas do Ministério da Saúde tivessem reduzido o consumo dessa classe de medicamentos de 1994 a 1997, a legislação se tornou mais permissiva em 1998 e o uso subiu mais de 500% em relação aos anos anteriores. Chile e Argentina, depois de advertidos pelo INCB, tomaram medidas para diminuir a importação dos emagrecedores. Portugal agiu de forma mais drástica, proibindo o comércio de substâncias como o femproporex e anfepramona em fórmulas manipuladas.

De acordo com o professor, são raros os casos que necessitam de drogas anorexígenas. De 80 a 90% dos consumidores deste tipo de medicamento estão com o peso ideal ou um pouco acima dele, e nove entre dez são mulheres, influenciadas pelos padrões de beleza atuais ou da chamada “Síndrome de Barbie”. Para alcançar o peso tido como ideal, corre-se o risco de sofrer irritação, nervosismo, insônia, taquicardia, hipertensão e dependência, alguns dos efeitos colaterais dessas substâncias que, muitas vezes, são consumidas via automedicação.

Uso racional

Na tentativa de mudar a cultura da prescrição médica e de formar profissionais mais críticos quanto à influência da indústria farmacêutica, Thaís Queluz da Unesp de Botucatu e Eduardo Coelho da USP apresentaram um modelo de curso sobre o uso racional de medicamentos, implantado na grade curricular de suas faculdades. Esse projeto visa diminuir erros de prescrição, reações adversas de medicamentos, gastos públicos e privados desnecessários. “Nós só conhecemos parte da informação do medicamento”, afirma Coelho, referindo-se à classe médica.

Em 1968 foi abolida dos currículos das escolas de medicina a disciplina de Terapêutica, que tinha o mesmo propósito do curso proposto pelos pesquisadores da Unesp e USP. Segundo Queluz, este fato coincidiu com a expansão da indústria farmacêutica no mercado brasileiro. O tema voltou a ser discutido com o I Curso Nacional sobre o Ensino para o Uso Racional de Medicamentos, realizado em 2002, quando alguns participantes formaram o Grupo Paulista para o Ensino do Uso Racional de Medicamentos. A disciplina está sendo implantado em vários cursos de medicina em São Paulo.

Brasil é e vai continuar tecnologicamente dependente

Pesquisadora da Fiocruz afirma que o país precisa adotar uma política pública voltada para o desenvolvimento de tecnologias nacionais no setor de saúde. Enquanto o país não investe na área continua importando medicamentos e a dependência tecnológica aumenta.

Parece que determinações e regras quanto à posse de patentes de medicamentos fazem parte de uma realidade distante do cotidiano brasileiro. Porém, se tornam mais próximas quando se depara com o fato de que uma única empresa é detentora da patente do único medicamento que poderia reduzir a intensidade da ação da forma humana da gripe aviária e ainda evitar infecções. Em caso de uma grande epidemia, essa empresa poderia faturar bilhões vendendo o produto. Isso se, realmente, conseguisse atender a toda a demanda.

Refletindo sobre este tema, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Ministério da Saúde, Claudia Chamas, especialista em propriedade intelectual, afirma que o Brasil está em situação deficitária no que se refere ao desenvolvimento de inovações que contemplem a área de saúde. “Como o Brasil não detém tecnologia, precisa importar os produtos. Dessa forma, a balança comercial do setor é extremamente deficitária”, afirma. Dados do Ministério da Saúde mostram que o déficit comercial brasileiro no setor de fármacos e medicamentos é de aproximadamente US$ 3,5 bilhões.

Para Claudia, falta ao país a adoção de políticas públicas consistentes e de longo prazo que possam alavancar o número de inovações na área de fármacos. Ela acredita que, também por falta de políticas públicas, o país seja ineficiente na atração de investimentos privados para o setor. Como o país investe pouco, a dependência tecnológica cresce à medida que as inovações são mundialmente geradas. Uma saída seria o Brasil estabelecer prioridades dentro do setor de fármacos e medicamentos e investir maciçamente.

Mesmo considerando-se otimista, Cláudia diz não observar indícios de que a situação de dependência tecnológica no setor de fármacos irá se reverter em curto prazo.

De acordo com a pesquisadora, um dos argumentos utilizados pelas empresas para não investirem no Brasil era a falta de uma legislação que protegesse as criações. Com a entrada em vigor da Lei 9.279, de 1996, a Lei de Propriedade Intelectual, os produtos farmacêuticos tornaram-se passíveis de patenteamento. Mesmo com a lei, o volume de inovações geradas pelo setor privado ainda é muito pequeno, avalia.

O outro lado

A consultora de propriedade intelectual, Leila Cabral, da InfoConnection, acredita que o volume é pequeno porque os empresários brasileiros estão “acordando” para a necessidade de criar inovações para o setor de fármacos. Ela argumenta que a legislação que protege os inventos farmacêuticos tem menos de 10 anos, período considerado curto para a elaboração de pesquisas e criação de medicamentos no setor de saúde. “Para a inovação em medicamentos precisamos de cinco a oito anos em média. Para depósito da patente outros cinco”, contabiliza.

Leila acrescenta que o volume de investimentos para inovação no setor de fármacos é alto e de risco. Esses fatores seriam responsáveis pela cautela dos empresários quanto à aplicação de recursos de grande monta. Para ela, a decisão de investir mais ou menos em inovações passa pela demanda pelos produtos, nichos abertos de mercado e retorno financeiro alcançado com determinado investimento.

País faz pesquisa, mas não gera inovação

Quanto à pesquisa em si, Cláudia ressalta que o Brasil tem capacidade instalada para realização de trabalhos importantes na área de saúde. Atualmente as maiores responsáveis por essas pesquisas no país são as instituições públicas, apoiadas com recursos governamentais. Mesmo assim, o número de pesquisas é peque e, além disto, existe uma desconexão entre as pesquisas realizadas e a utilização desses conhecimentos, observa. Para ela, a solução desse hiato entre o que as instituições de pesquisa criam e aplicação dos conhecimentos gerados será possível quando uma gestão tecnológica estratégica for adotada.

Leia mais: Política de ciência, tecnologia e inovação em saúde

Software diferencia texto científico de textos sem sentido

Novo software, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, identifica textos desconexos com 86,7% de garantia. O Inauthentic Paper Detector está disponível na Internet e se propõe a diferenciar textos científicos produzidos por humanos de conjuntos de frases sem sentido gerados em computadores.

Os atuais programas de computador chegaram a uma sofisticação tão grande que há editores de textos com recursos que não se restringem à mera correção ortográfica, mas inclusive produzem textos para o usuário. A variedade é grande: há programas que geram poesia e outros que fazem textos com o formato de artigos científicos. A diferença é que esses textos não fazem sentido algum. Para ajudar a distinção desse tipo de produção textual, quatro pesquisadores da Universidade de Indiana nos Estados Unidos apresentaram um novo software que identifica textos desconexos, o Inauthentic Paper Detector. O programa está disponível na internet e se propõe a diferenciar textos científicos produzidos por humanos de conjuntos de frases sem sentido, gerados por computadores. Os pesquisadores garantem que o programa diferencia automaticamente textos científicos de conjuntos de frases sem sentido com 86,7 % de garantia.O trabalho foi apresentado no final de abril em uma Conferência da Sociedade de Matemática Industrial Aplicada (SIAM) no estado americano de Maryland. A motivação para o desenvolvimento do software foi uma situação vivida por outros estudantes. Em abril do ano passado, três alunos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) se inscreveram para participar de uma conferência usando um trabalho produzido por um programa de computador, e para sua própria surpresa, o texto foi aceito. Os estudantes fizeram alarde pela Internet, inclusive com uma campanha para recolher fundos para financiar a viagem ao congresso. Os três só não participaram porque a organização soube a tempo de cancelar seu convite.Wyatt Clark, James Costello, Mehmet Dalkilic e Predrag Radivojac, da Universidade de Indiana, dizem que o novo software faz a diferenciação das duas formas de redação, mesmo que o programa não entenda o conteúdo do texto. Para chegar ao programa, os pesquisadores coletaram 1.390 artigos autênticos, de diversas revistas científicas, escritos em inglês. “Nosso objetivo era ter uma amostragem ampla de documentos autênticos de acordo com o assunto, estilo de exposição e tamanho”, explicam. Também coletaram 1.000 textos não autênticos escritos em inglês, obtidos do site SCIgen – An Automatic CS Paper Generator.“Observando coleções de textos não autênticos, nós percebemos que parece existir um fluxo de informação ou coerência semântica nos textos autênticos, ausente nos textos não autênticos”, explicam.Os programadores de Indiana explicam que um texto autêntico é uma seqüência de centenas ou milhares de frases sintaticamente corretas que, juntas, também fazem sentido. Para eles, um texto não autêntico é um texto gerado por um computador que, apesar de ter frases sintaticamente corretas, juntas elas não fazem sentido algum para o leitor. E eles lembram que, mesmo isoladamente, o fato de a frase estar correta sintaticamente não quer dizer que ela faça sentido.“No momento, a maioria dos textos disponíveis no ciberespaço é produzida por humanos”, afirmam os pesquisadores. “Entretanto, esse cenário pode mudar nos próximos anos”, avaliam.Qualquer um pode ter um texto desenvolvido por computador. Um dos programas mais conhecidos está disponível no endereço eletrônico http://www.elsewhere.org/pomo, onde o usuário tem, em poucos segundos, um texto à disposição, gramaticalmente correto, mas que não faz sentido algum. A cada entrada, o internauta dispõe de um texto diferente. “Esses sites geradores de textos científicos são como uma brincadeira, não podem ser levados a sério”, afirma o físico Marcelo Knobel, da Unicamp. Segundo ele, os textos gerados não poderiam passar por textos científicos originais, se analisados por um pesquisador da área.E talvez nem o novo identificador de textos desconexos possa ser levado a sério. Dos seis textos colocados à prova pela redação da ComCiência, três gerados por computador e três originais, dois foram classificados erroneamente. Um texto gerado pelo site “Communications from Elsewhere” foi classificado como original, e um texto original foi classificado como desconexo. “Naturalmente, podem também existir categorias de textos explicativos, com nenhum sentido, que mesmo assim são parecidos com textos autênticos”, argumentaram os pesquisadores de Indiana numa reportagem à revista alemã Spiegel. “Não é claro para nós como isso pode ser alcançado”, reconhecem.Enquanto a brincadeira dos alunos do MIT de gerar textos científicos sem valor é vista como sátira, estudantes de informática e pesquisadores de inteligência artificial se vêem frente a um problema: Como se pode, com a ajuda de um computador, diferenciar de fato textos com sentido de textos sem sentido? Isso é possível?Um grupo da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) trouxe ao Brasil um projeto do MIT que pretende fazer com que os computadores se tornem capazes de entender fatos relacionados ao conhecimento geral que constituem o nosso senso comum. O projeto “Open Mind Common Sense” (OMCS) está criando uma base de informações sobre senso comum a partir da colaboração de internautas. No site do projeto qualquer um pode se cadastrar e colaborar. Hoje a base de conhecimento do OMCS no Brasil possui mais de 102 mil fatos conseguidos a partir dos 1.114 colaboradores registrados no site do projeto.Segundo Fabiano Pinatti, pesquisador do OMCS, a falta de “senso comum” prejudica os textos gerados por computadores porque pode levar a geração de textos que não sejam entendidos pelo público alvo. Segundo ele, o mesmo cenário acontece quando duas pessoas de hábitos diferentes se comunicam. “Imagine alguém de São Paulo escrevendo para um amigo de Várzea da Roça. Na carta ou e-mail ele coloca ‘cara, comprei um ap da hora’. Será que o amigo dele, nascido e criado em Várzea da Roça, vai saber o que ele comprou?”, questiona o pesquisador.De acordo com Pinatti, o conhecimento de senso comum pode ajudar em traduções, porque considera semântica e contexto, e ajuda na composição do texto pelo remetente e na interpretação e compreensão do texto pelo destinatário da mensagem. Ou seja, o conhecimento dos fatos cotidianos pode tornar os computadores mais inteligentes e quem sabe, no futuro, mais capazes de diferenciar com certeza um texto sem sentido de um trabalho científico sério.