MASP lança primeiro curso de História da Arte para deficientes visuais

Como ensinar um deficiente visual a perceber uma obra de arte? Como fazê-lo compreender espaços, linhas, contornos e até cores de uma pintura com os outros sentidos? O Curso Experimental de História da Arte para portadores de deficiência visual, realizado no Museu de Arte de São Paulo (MASP), mostra que é possível vencer esse desafio. O programa pesquisa estratégias inclusivas de alfabetização visual por meio do ensino da arte. “A arte pode contribuir para formar cidadãos mais críticos e participativos, além de ampliar o repertório de conhecimentos, exigidos muitas vezes em vestibulares e concursos públicos“, diz Valquíria Prates, professora do curso.

Como ensinar um deficiente visual a perceber uma obra de arte? Como fazê-lo compreender espaços, linhas, contornos e até cores de uma pintura com os outros sentidos? O Curso Experimental de História da Arte para portadores de deficiência visual, realizado no Museu de Arte de São Paulo (MASP), mostra que é possível vencer esse desafio. O programa pesquisa estratégias inclusivas de alfabetização visual por meio do ensino da arte. “A arte pode contribuir para formar cidadãos mais críticos e participativos, além de ampliar o repertório de conhecimentos, exigidos muitas vezes em vestibulares e concursos públicos“, diz Valquíria Prates, professora do curso.

Durante três horas, todas as manhãs de sábado, cerca de 15 alunos com perda total ou baixa visão reúnem-se para assistir às aulas gratuitas da professora. Trata-se de um projeto pioneiro na América Latina, financiado pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo em parceria com o Serviço Educativo do MASP. O envolvimento com o tema começou quando Prates estava na faculdade e teve uma bolsa de iniciação científica para desenvolver materiais de apoio para exposições no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Projeto Museu e público Especial, criado e coordenado pela professora Amanda Tojal. Posteriormente, trebalhou como consultora de vários museus e instituições culturais de São Paulo (MAB, FAAP, Fundação Bienal, Itaú Cultural). Hoje, as atividades envolvem o tema de sua pesquisa de mestrado, que é intitulada Políticas públicas para a inclusão escolar de pessoas com deficiência na América Latina, na Faculdade de Educação da USP. “Comecei a trabalhar com o conceito de inclusão, a partir do qual pessoas com ou sem deficiência podem, juntas, aprender sobre um mesmo conteúdo, desde que sejam previstos formatos diferenciados”.

Durante as aulas, os estudantes recebem noções gerais sobre a organização dos elementos visuais da pintura nas aulas teóricas e práticas, realizadas a partir do acervo do MASP, enriquecendo-se das vivências culturais anteriores de cada participante. “Estou me desafiando, porque não acreditava que dava para um cego compreender a pintura”, diz Maria Zuleide dos Santos, de 63 anos, depois de descrever a maquete do MASP. “É um prédio com um vão entre o piso e o teto, pilastras nos lados e paredes de vidro na parte de cima. Do lado de fora há um espelho d’água”, diz.

Por meio de mapas visuais em relevo e uma comparação com os objetos do cotidiano, os alunos podem ler as pinturas, entendendo a representação do mundo realizada pelo artista. Os portadores de deficiência exploram as formas e perspectivas da pintura comparando com figuras do dia a dia. Linhas e contornos podem ser compreendidos trabalhando texturas. Os círculos representados num quadro podem ser entendidos quando passam os dedos sobre a boca de um copo ou uma taça, por exemplo. Estudam retratos, natureza morta e paisagens, fazendo simulação e paralelos com objetos do dia a dia. “Com essa iniciativa o museu prepara-se para organizar seu trabalho de atendimento ao público numa perspectiva inclusiva, equiparando-se às desenvolvidas já por outras instituições internacionais”, diz Paulo Portella Filho, coordenador do Serviço Educativo do MASP.

O curso de História da Arte vem enriquecer o universo cultural do deficiente visual que hoje conta apenas com a visita monitorada oferecida por alguns museus e instituições culturais em dias específicos da semana ou em grupos, com material didático ainda precário em muitos casos. Hoje ainda existem poucos educadores preparados para descrever as obras e contextualizá-las para esse público específico.

Mais informações podem ser obtidas no Masp, pelo telefone (11) 6695.8708 ou pelo e-mail abcvisual@gmail.com

Tese critica a desestruturação da proteção social

O eixo condutor do trabalho é a identificação de dois movimentos opostos e determinantes da política social brasileira, entre 1964 e 2002. O mais recente, iniciado a partir da década de 1990, foi no sentido da desestruturação das bases do sistema de proteção social

Partindo da crítica à “modernização conservadora” e à agenda excludente do regime militar, Eduardo Fagnani, na tese intitulada “Política Social no Brasil (1964-2002) – entre a cidadania e a caridade” analisa, com vasto material, um conjunto de transformações na política social brasileira, em particular nas áreas da educação, saúde, previdência, assistência, seguro-desemprego, transporte público, saneamento e habitação. Tendo como pano de fundo os processos políticos e econômicos mais amplos, trata-se de um estudo de grande fôlego, que coloca novos questionamentos e alimenta o debate em torno da questão social no País.

O eixo condutor da tese é a identificação de dois movimentos opostos e determinantes da política social brasileira, entre 1964 e 2002. O primeiro movimento aponta a estruturação das bases institucionais e financeiras de um sistema de proteção social no Brasil, esboçado a partir de 1930, impulsionado em meados dos anos 1970 e que vai ganhando traços mais universais com a Nova República; e o segundo, em sentido contrário, aponta a desestruturação daquelas bases a partir de 1990.

O trabalho foi considerado como de grande relevância por vários pesquisadores. Aloísio Teixeira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou: “já adotei como bibliografia obrigatória”. Cláudio Salm (UFRJ) disse que, a partir daquele momento, o trabalho de Fagnani seria uma referência na área. Além dos dois, a professora Sônia Draibe e João Manoel Cardoso de Mello (UNICAMP) estavam na banca. A orientação do trabalho foi do professor José Carlos Braga (UNICAMP).

O estudo é dividido em quatro partes: “A modernização conservadora (1964-1984)”, “Rumo ao Estado Social (1985-1988)”, “As primeiras contra-marchas (1987-1989)” e “A contra-reforma liberal (1990-2002)”.

Geneticista conclama cientistas a valorizarem uma ciência brasileira

O homenageado da 51º edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Genética é o professor emérito da Unicamp Bernardo Beiguelman. Seu curto discurso de agradecimento tinha tudo para ser burocrático, mas surpreendeu. O início humilde de sua fala não prenunciava o que estava por vir. O geneticista convidou seus colegas a reeditar na ciência o movimento antropofágico lançado por Oswald de Andrade em 1928. A proposta dos modernistas era ingerir e digerir elementos vindos de fora, e com isso torná-los brasileiros.

O homenageado da 51º edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Genética é o professor emérito da Unicamp Bernardo Beiguelman. Seu curto discurso de agradecimento tinha tudo para ser burocrático, mas surpreendeu. O início humilde de sua fala não prenunciava o que estava por vir. O geneticista convidou seus colegas a reeditar na ciência o movimento antropofágico lançado por Oswald de Andrade em 1928. A proposta dos modernistas era ingerir e digerir elementos vindos de fora, e com isso torná-los brasileiros.

O geneticista defende que o mesmo deve ser feito com a nossa produção científica, que deve libertar-se da subserviência que a caracteriza. Tal deferência está presente tanto entre cientistas como nas agências de fomento. Para ele, as publicações nacionais, mesmo que bem editadas e com circulação no exterior, não têm peso quando se analisa a produtividade de pesquisadores, além de a comunidade científica dar mais valor à pesquisa feita em colaboração com estrangeiros.

A pressão para que recém doutores façam pós-doutorado em países ricos causa, de acordo com Beiguelman, o escoamento de talentos para sociedades que não investiram em sua formação e não precisam deles. É preciso, portanto, que se empregue o conhecimento e a criatividade das mentes brasileiras para criar programas de pesquisa que visem resolver problemas locais. “Os “melhoristas” [especialistas que produzem organismos através de melhoramento genético] se aplicaram em desenvolver variedades de plantas mais produtivas adaptadas às condições locais, e em criar técnicas agrícolas de acordo com nossos ecossistemas. Isso faz com que hoje tenhamos uma ciência agronômica nacional. O mesmo é necessário para o resto da ciência brasileira”, exemplifica o geneticista homenageado, referindo-se à agronomia.

Bernardo Beiguelman foi contratado em 1963 pela Unicamp com a missão de fundar o primeiro departamento de genética médica da América Latina. Ao longo de sua carreira, foi autor de 432 trabalhos científicos entre livros, teses, artigos e comunicações científicas em congressos, foi Presidente da Sociedade Brasileira de Genética, da Associação Latinoamericana de Genética, é Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, e foi incluído por indicação dos seus pares entre os cem cientistas e instituições científicas fundamentais que deram contribuições decisivas para o progresso do Brasil e da ciência (Revista Superinteressante Nº 100). Apesar de aposentado desde 1997 da Unicamp, Beiguelman mantém vínculo no curso de pós-graduação em genética do Instituto de Biologia. Dentre suas linhas de pesquisa merecem destaque os trabalhos pioneiros sobre a resistência e suscetibilidade hereditária à hanseníase, as pesquisas sobre genética antropológica e uma série de trabalhos desenvolvidos mais recentemente sobre a epidemiologia de gêmeos, a qual poderá trazer informações importantes sobre a biologia da reprodução humana.

Leia mais:– Nada contra a clonagem – artigo de Bernardo Beiguelman na edição sobre clonagem da ComCiência, de dezembro de 2001.