Trabalhadores e professores unem-se por “Universidade Global do Trabalho”

Objetivo é oferecer ao trabalhador maior capacidade analítica e de negociação em tempos de desregulamentação do trabalho. Curso piloto já funciona desde 2004, na Alemanha, e novos devem ser abertos na América Latina, Ásia, Europa e América do Norte nos próximos anos.

A Unicamp é “parceira” em um ousado projeto: a constituição de uma Universidade Global do Trabalho, que estreite a relação entre sindicatos do mundo todo, a Organização Internacional do Trabalho e a comunidade científica. Hansjörg Herr, coordenador da iniciativa, esteve no Brasil no início de setembro para conhecer melhor a situação do país e observar as pesquisas desenvolvidas na área.

No escopo do plano, um curso piloto de mestrado em “Políticas do Trabalho e Globalização” está sendo realizado na Universidade de Kassel e na Escola de Economia de Berlim, com 23 alunos de diversas nacionalidades, desde 2004. Hansjörg Herr classificou a experiência como um “sucesso”. Alguns exemplos do êxito são a criação de um grupo (de alunos e professores) realmente internacional e a organização de estágios para estudantes em Genebra, na sede da OIT, e em Bruxelas, na confederação de sindicatos europeus (ETUC). Depois desse experimento, o objetivo é implementar cursos de mestrado no Brasil e na África do Sul para, nos próximos anos, disseminá-los para outras universidades da América Latina, África, Ásia, Europa e América do Norte.

O Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT/IE) da Unicamp acompanhou de perto a concepção do projeto e teve, através do professor e pesquisador Davi José Nardy Antunes, participação em seminários e exposição de trabalhos na Alemanha.

A capacidade analítica e a habilidade política dos trabalhadores são fundamentais para enfrentar questões que, cada vez mais, têm minado a regulação do trabalho em âmbito internacional. Um projeto que vise à qualificação estratégica e tenha o rigor da academia para os sindicatos é, certamente, um fortalecimento para a classe nos áridos debates sobre políticas econômicas e sociais.

Preguiças brasileiras estão negligenciadas

O Brasil possui cinco espécies de bicho-preguiça, que acabam sendo desconhecidas em função de seus hábitos discretos. Embora sejam animais simpáticos, os especialistas alertaram, durante o 51º Congresso nacional de Genético, concluído no último dia 9, que os animais têm sido negligenciados. “Precisamos olhar com mais cuidado para a preguiça. Por que nos interessamos tanto pelo urso-panda, e outras espécies exóticas? Há de se fazer algo em prol da preguiça”, pediu João Morgante do Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação do Departamento de Biociências da USP.

O Brasil possui cinco espécies de bicho-preguiça, que acabam sendo desconhecidas em função de seus hábitos discretos. Embora sejam animais simpáticos, os especialistas alertaram, durante o 51º Congresso nacional de Genético, concluído no último dia 9, que os animais têm sido negligenciados. “Precisamos olhar com mais cuidado para a preguiça. Por que nos interessamos tanto pelo urso-panda, e outras espécies exóticas? Há de se fazer algo em prol da preguiça”, pediu João Morgante do Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação do Departamento de Biociências da USP.

Juntamente com outros três especialistas, Morgante apresentou dados sobre a conservação, filogenia (relações de parentesco) e filogeografia dos dois únicos gêneros existentes no Brasil: Choloepus, das preguiças-de-dois-dedos, e o Bradypus, das preguiças-de-três-dedos, com 4 espécies. Mas não foi sempre assim. Registros fósseis mostram que existiram cerca de 100 gêneros de preguiça no continente Americano, antes da extinção ocorrida há cerca de 11 ou 12 mil anos (fim do Pleistoceno). Entre as razões que tentam explicar a extinção estão drásticas mudanças ambientais e a chegada do homem na América do Sul.

As informações sobre os ancestrais e as origens genéticas das preguiças podem ajudar na sua conservação. Horácio Schneider, da Universidade Federal do Pará em Bragança, tem estudado as relações de parentesco entre as espécies de preguiça, assim como com seus parentes mais próximos – os tamanduás. Apesar de sua pesquisa representar um importante avanço no conhecimento da genealogia desses animais, os dados disponíveis deixam dúvida quanto a eventos evolutivos mais antigos. Para solucionar essas dúvidas, Schneider afirma que será necessário utilizar seqüências de outros genes assim como uma análise comparativa de espécies fósseis.

Outro agravante na pesquisa é a dificuldade em observá-las. Paula Ruiz, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que é possível caminhar por dias sem encontrar nenhuma preguiça. Ao contrário de outras espécies, as preguiças não costumam ser capturadas em armadilhas. “É impossível fazer conservação sem conhecimento da ecologia do animal em questão”, declarou Ruiz.

A espécie mais amplamente distribuída pelo território nacional é a preguiça-comum ou preguiça-de-óculos (Bradypus variegatus). Apesar de ocorrer em florestas de quase todo o Brasil, a bióloga Nádia de Moraes-Barros, do grupo de pesquisa de Morgante, pouco se sabe a respeito de sua história demográfica, densidade populacional e padrões de migração. Os estudos da bióloga indicam que as linhagens da Amazônia e da Mata Atlântica da preguiça-comum representam unidades evolutivas distintas, além de haver uma diferença marcada entre o norte e o sul da Mata Atlântica. Para ela é preciso estabelecer, pelo menos, três unidades de conservação para essa espécie.

Atualmente, a única espécie brasileira reconhecida como ameaçada é a preguiça-de-coleira, B. torquatus. As preguiças são animais de vida longa, baixa taxa reprodutiva, com populações isoladas e com baixa variabilidade genética. Por serem sedentárias e alimentarem-se unicamente de folhas, são extremamente sensíveis ao desmatamento, o que resulta em um alto risco de extinção. Ironicamente, o tempo corre rapidamente contra a conservação destes animais, por isso os especialistas pedem estratégias reais de conservação.

Leia mais

  • Encruzilhada genética, artigo de Marcos Pivetta no número 108 (fevereiro de 2005) da revista Pesquisa Fapesp sobre o trabalho feito pelos grupos de pesquisa brasileiros a respeito do bicho-preguiça.
  • What does it mean to be a sloth? (O que significa ser uma preguiça?), artigo de Craig Holdrege (em inglês).

Desenvolvimento na área depende de articulação dentro das universidades

O Ministério da Educação (MEC) entregou à Casa Civil uma nova regulamentação para a educação a distância (EAD) no país no dia 30 de agosto. A intenção é, segundo Ronaldo Mota, secretário de Educação a Distância do MEC, garantir parâmetros mais claros para os cursos a distância, como a equivalência em relação aos cursos presenciais para todos os níveis de ensino e o controle de qualidade. O futuro e a qualidade dessa área de ensino, entretanto, podem depender muito mais do desenvolvimento de políticas para a educação a distância dentro das próprias universidades.

O Ministério da Educação (MEC) entregou à Casa Civil uma nova regulamentação para a educação a distância (EAD) no país no dia 30 de agosto. A intenção da nova regulamentação é, segundo Ronaldo Mota, secretário de Educação a Distância do MEC, garantir parâmetros mais claros para os cursos a distância, como a equivalência em relação aos cursos presenciais para todos os níveis de ensino e o controle de qualidade, já previstos desde a reforma educacional de 1996, porém de forma menos explícita. O futuro e a qualidade dessa área de ensino, entretanto, podem depender muito mais do desenvolvimento de políticas para a educação a distância dentro das universidades do que das novas leis em si.

A nova regulamentação vem no momento em que o governo federal quer dar um impulso maior a educação a distância para tentar alcançar a meta do Plano Nacional de Educação de colocar 30% da população de jovens entre 18 e 24 anos na universidade. Para isso, seria preciso aumentar em 200% a oferta de vagas no ensino superior. Como alternativa, o MEC pretende investir 270 milhões de reais no Pró-licenciatura, projeto que oferece cursos de licenciatura não presenciais para professores da rede pública em exercício mas sem habilitação.

Segundo a assessoria do MEC, os recursos a serem investidos nos próximos quatro anos irão não só para bolsas destinadas aos professores que farão os cursos, tutores, professores formadores e professores pesquisadores; mas também para a formulação e execução dos cursos, o que implica a montagem de laboratórios previstos nas propostas de cada uma das instituições de ensino superior.

De acordo com Sérgio Franco, diretor do Departamento de Políticas em EAD, na prática, a qualidade dos cursos de graduação a distância vai depender consideravelmente da articulação das universidades. Isso porque cabe a elas definir a oferta dos cursos a distância, o número de vagas, a metodologia usada e os custos. Segundo ele, o incentivo do MEC para que as universidades públicas se engajem nas políticas de EAD visa evitar que o desenvolvimento da modalidade fique restrito ao ensino comercial ou corporativo. “Grandes empresas cobram muito pela EAD, enquanto dentro da universidade há iniciativas como a do NIED”, afirmou Franco.

O Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) é um centro multidisciplinar da Unicamp que desenvolve tecnologias para serem usadas em todos os níveis de ensino. Um dos seus projetos, o Teleduc, é um ambiente virtual que permite a administração de cursos pela Internet. Criado na época da explosão do uso da informática na educação, o Teleduc é utilizado hoje por muitas instâncias espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. No total, 267 cursos de várias áreas e grupos de troca de informações usam o NIED como servidor.

A média é de 1.530 acessos semanais, concentrados principalmente no final de semana. A interatividade entre alunos e professores é apoiada por uma série de ferramentas como correio eletrônico, grupos de discussão dos temas, mural e o bate-papo. Mas seu uso depende do preparo do professor em utilizar a nova tecnologia. Um docente pouco habilitado pode subutilizar as ferramentas, e assim perder parte das possibilidades de interação proporcionadas pelo ambiente virtual.

Segundo Heloísa Vieira Rocha, coordenadora do Teleduc e pesquisadora da área há 20 anos, sem conscientização por parte dos educadores, o ensino a distância pode se tornar um retrocesso em relação aos novos paradigmas na educação. “A educação deve manter o aspecto humano. Não se pode dispensar a atenção mais individualizada que o computador possibilita. Deve-se aproveitar as ferramentas de interatividade que ele oferece”, avalia.

No começo do ensino a distância, as principais ferramentas foram apostilas enviadas pelo correio, mas hoje não há como dissociar a EAD da Internet. E o crescimento nessa área impressiona. De acordo com a Associação Brasileira de Ensino a Distância, o número de alunos de cursos a distância aumentou 107% entre os anos de 2003 e 2004. São 215 cursos de EAD reconhecidos pelo MEC, ministrados por 116 instituições espalhadas pelo país. Esse crescimento foi proporcionado em grande parte pela expansão do uso da Internet no Brasil.

A coordenadora do Teleduc afirma que há uma grande indústria da EAD no Brasil. “A educação a distância é apresentada como a grande solução [para o acesso ao ensino no país], porque é possível treinar pessoas sem que elas saiam do trabalho”, diz Heloísa Rocha. Por outro lado, a pesquisadora lembra que a EAD não pode substituir o ensino presencial. “As duas são formas de ensino complementares. Não se pode pensar que se vai educar o Brasil a distância”, explica.

Na teoria, a EAD pode ser vista como um dos meios de se democratizar o ensino no país, uma vez que dá à população distante dos grandes centros tradicionais de ensino e pesquisa a possibilidade real de acesso à formação sem sair de suas cidades. “A EAD não é mais barata do que a educação presencial. Ela gera condições melhores para quem mora em lugares afastados”, explica Sérgio Franco. As novas medidas anunciadas pelo MEC, entretanto, não são vistas como suficientes para controlar a qualidade do EAD pelo mundo acadêmico. Um dos contrapontos apontados é a possível perda de importantes características no aspecto educacional. “Educação não é só passar informação. Tem que se possibilitar discussão, encontros”, resume Heloísa Rocha.