Efetividade das redes de Educação Ambiental depende de gestão e recursos

Desenvolver e difundir a cultura de rede é um desafio a ser enfrentado também pela educação ambiental, afinal, virtuais ou presenciais, as redes podem ser um espaço para troca de experiências, discussões e mobilização em torno de ações e proposições de políticas públicas, inclusive sobre temáticas ambientais. Esse foi o tom de um dos debates apresentados durante o I Encontro de Educação Ambiental, que ocorreu entre os dias 23 e 25 de setembro, na Unesp (campus de Botucatu-SP).

Desenvolver e difundir a cultura de rede é um desafio a ser enfrentado também pela educação ambiental, afinal, virtuais ou presenciais, as redes podem ser um espaço para a troca de experiências, discussão e mobilização em torno de ações e proposições de políticas públicas, inclusive sobre temáticas ambientais. Esse foi o tom de um dos debates apresentados durante o I Encontro de Educação Ambiental, que ocorreu entre os dias 23 e 25 de setembro, na Unesp (campus de Botucatu).

O papel das redes na concretização de novas conquistas e na ampliação das já alcançadas pelos educadores ambientais é algo que vem sendo sinalizado e incorporado no Brasil, principalmente a partir da criação da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), ocorrida durante os Fóruns de Educação Ambiental do início dos anos 90, em São Paulo, numa articulação de ongs, universidades e órgãos governamentais. A expansão dessa idéia concretizou-se nas atuais redes estaduais espalhadas pelo país e articuladas pela REBEA. Organizada a partir desta estrutura, a educação ambiental encontra atualmente como principais metas a promoção da inclusão de novos membros e instituições e a obtenção de recursos para gestão.

Segundo Patrícia Otero, representante da Rede Paulista de Educação Ambiental (Repea), as características típicas das redes – como horizontalidade, descentralização, flexibilidade e estímulo à autonomia – servem de contraponto à estrutura hierárquica que marca as instituições tradicionais (como as governamentais). “Estes princípios da estrutura das redes sociais permitem acreditar que elas são capazes de nos ajudar a tornar o mundo mais justo, mais equilibrado e mais saudável de se viver”, declarou Otero.

A representante da rede brasileira (Rebea), Vivianne Amaral, salientou, no entanto, que é preciso superar a visão romântica de que os princípios que regem as redes se concretizam espontaneamente. “Quando se opera uma rede (papel assumido por ela na Rede Brasileira entre 1999 e 2004), esta visão é insustentável. É preciso entender como o padrão organizacional da rede funciona, caso contrário, não vai acontecer nada em relação à autonomia, as multi-lideranças não vão aparecer, a comunicação não vai se dar, não vai haver trocas entre as pessoas”, destacou ela. Já para Haydée Oliveira, representante da Rede Universitária de Programa de Educação Ambiental (Rupea), a descentralidade das redes é, de certa forma ilusória. “São necessárias pessoas à frente deste processo de organização”, defende ela.

Para que isso ocorra, Vivianne Amaral argumentou que é fundamental que se obtenham recursos financeiros, garantindo a gestão e sustentação das redes. “Se não houver recursos para fazer encontros, profissionalizar a comunicação, fazer publicações e ter pessoas pagas para fazer a manutenção da rede, as redes vivem, mas vivem na sobrevida. Viram listas de discussão e ficam reduzidas no seu potencial de desenvolvimento da cidadania e no apoio à implantação da Política Nacional de Educação Ambiental”, disse Amaral.

As três debatedores do tema concordam que a organização em rede é fundamental para garantir um processo democrático de participação visando mudanças na sociedade, e como exemplo da importância dos recursos para as redes, Amaral citou o projeto “Tecendo cidadania”. Desenvolvido entre 2002 a 2004, com recursos provenientes do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), o projeto permitiu a ampliação da equipe gestora e a profissionalização da rede e teve como resultados a expansão do número de redes integrantes da rede brasileira e realização de oficinas de formação e encontros presenciais. A rede paulista também contou com recursos provenientes do mesmo edital do FNMA para desenvolver o projeto “Fortalecendo a REPEA” e, segundo Patrícia Otero, oficinas de capacitação sobre cultura de rede e uso de ferramentas de comunicação estiveram entre as principais ações realizadas. Assim, os recursos para estes dois projetos auxiliaram também a enfrentar outros dois grandes desafios das redes: o desenvolvimento e difusão da cultura de rede e de seus valores, e a inclusão (inclusive digital) de novos membros e grupos.

O debate ocorrido em Botucatu ecoa em parte as discussões teóricas acerca do papel e da configuração das redes. O otimismo sobre essa forma de organização é uma visão compartilhada pelo filósofo Pierre Lévy que a relaciona com o desenvolvimento da cidadania. Já o sociólogo Manuel Castells, por sua vez, alerta em sua obra A Era da Informação, que a promoção da mudança social na sociedade em rede é um processo complexo, devido a grande capacidade das redes de absorver novos insumos, acrescentando-os à própria rede e neutralizando-os.

Para saber mais:

– Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA)

– Rede Paulista de Educação Ambiental (REPEA)

– Rede Universitária de Programa de Educação Ambiental (RUPEA)

Mapa dos aqüíferos paulistas estará disponível em dezembro

O estado de São Paulo contará, a partir de dezembro, com um mapa de suas reservas subterrâneas. O Mapa dos Aqüíferos Paulistas, que visa apontar áreas que permitam uma exploração racional e segura das águas subterrâneas do estado, já está em fase de edição e terá versão impressa e em CD-ROM. A tiragem inicial será de seis mil cópias com distribuição gratuita para os comitês de bacias hidrográficas, órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa. O mapeamento é importante visto que várias cidades do estado de São Paulo estão localizadas sobre o aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo. Segundo uma pesquisa da Embrapa, é no estado que esse aqüífero corre maior risco de contaminação.

O estado de São Paulo contará, a partir de dezembro, com um mapa de suas reservas subterrâneas. Através de uma parceria entre o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Instituto Geológico (IG) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o Mapa dos Aqüíferos Paulistas, que visa apontar áreas para uma exploração mais racional e segura das águas subterrâneas do estado, já está em fase de edição e terá versão impressa e em CD-ROM. A tiragem inicial será de seis mil cópias com distribuição gratuita para os comitês de bacias hidrográficas, órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa.

O mapeamento é importante visto que várias cidades do estado de São Paulo estão localizadas sobre o aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo. Segundo uma pesquisa da Embrapa, é no estado que esse aqüífero corre maior risco de contaminação. Em vários municípios paulistas, a reserva é utilizada preferencialmente para abastecimento público.

Hidrossolidariedade

A cidade de São Carlos é uma das áreas de maior vulnerabilidade do Guarani, devido à sua natureza de recarga do sistema: ela está localizada diretamente acima do aqüífero, podendo contaminar facilmente suas águas, devido, entre outros fatores, à ocupação urbana desordenada, queimadas e ao uso de agrotóxicos. Para gerenciar as águas do Guarani e conscientizar a população sobre seu uso sustentável, é realizado, no município, o projeto Guarani Hidrossolidariedade.

O projeto é coordenado pelo Núcleo Integrado de Bacias Hidrográficas (NIBH), do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia da USP de São Carlos (EESC) e pela Associação Civil TEIA – Casa de Criação, uma organização não-governamental local. A iniciativa foi reconhecida pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em dezembro de 2004, através do Fundo da Cidadania que visa à divulgação e educação ambiental do uso racional da água.

“Hidrossolidariedade reúne as obrigações solidárias do Novo Código Civil Brasileiro e a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal 9.433/97), em torno da área denominada bacia hidrográfica, que é a unidade, por lei, para o planejamento e gestão dos recursos hídricos”, explica Eduardo Mario Mendiondo, coordenador do NIBH.

O objetivo do projeto é criar uma rede de informação e uma base de dados sobre o sistema hídrico. De acordo com Mendiondo, as atividades do NIBH são o monitoramento em bacias experimentais; e propostas de gerenciamento in loco através de pesquisas, artigos científicos, palestras e mini-cursos, incluindo material didático.

Os coordenadores também desenvolvem um processo de educação ambiental em algumas escolas públicas da cidade, para capacitar professores e outros cidadãos sobre a importância do aqüífero e sua preservação através de técnicas de reaproveitamento e reuso da água. Eles também elaboram materiais didáticos (maquetes) e informativos (folders, site na Internet) divulgando o papel do aqüífero na região, além de realizar fóruns e palestras. A idéia é incentivar o uso racional da água do Guarani, fomentando a participação da população na criação de associações de usuários de bacias.

O treinamento de agentes comunitários para a formação de novas associações acontecerá ainda este ano. “O curso terá três etapas: a conscientização do uso racional da água, do custo ambiental de seu desperdício e de sua má utilização. As turmas terão entre 40 e 50 participantes”, conta o educador Carlos César Mascio, coordenador do curso e associado da ONG Teia.

Resistência do café à ferrugem é tema de workshop internacional

A incidência de ferrugem em algumas lavouras brasileiras, cultivadas com variedades de café resistentes ao fungo Hemileia vastarix Berk et Br, tem preocupado pesquisadores da área. A hipótese do surgimento de uma nova raça do fungo causador da doença ou, ainda, problemas na manipulação durante a fase de melhoramento serão temas em debate no seminário internacional, a ser realizado de 26 a 28 de setembro, na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Foram convidados pesquisadores de vários países- Suíça, Portugal, França, Inglaterra, Holanda – para intercâmbio de informações com os especialistas brasileiros no assunto.

A ferrugem é a doença mais comum das lavouras de café. O desenvolvimento de novos cultivares por meio de melhoramento genético é considerado pelos especialistas como a melhor alternativa para enfrentar o fungo Hemileia vastarix Berk et Br, que tem mais de 45 diferentes raças conhecidas, 17 só no Brasil. A resistência dessas variedades têm apresentado curta durabilidade em condições de campo, algumas apresentando até 10 % de contaminação. Embora ainda não represente perdas econômicas significativas ao produtor, se comparadas às provocadas pela ferrugem em cultivos tradicionais, existem várias pesquisas, hoje, para detectar as possíveis causas dessa perda de resistência dos novos cultivares, bem como formas de conter sua propagação.

“Quando o Hemileia atinge o cafezal formado a partir de sementes melhoradas, a severidade tende a ser menor do que em lavouras tradicionais”, explica Laércio Zambolim, pesquisador de Viçosa e organizador do workshop. No seminário, além da apresentação dos estudos mais recentes sobre o tema, a expectativa é de se firmarem acordos de cooperação internacional.

Mercado internacional

O Brasil é responsável por 40% da produção mundial de café e consome 14,4 milhões de sacas por ano, perdendo apenas para os Estados Unidos, primeiro no ranking de consumo, com 20 milhões de sacas por ano. Em 2005, o faturamento das exportações brasileiras de café deve atingir US$ 3 bilhões, 15% maior que os US$ 2,6 bilhões registrados no ano passado, segundo previsões do secretário de produção agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Linneu Costa Lima, divulgadas no site da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

O 1º Workshop Internacional Sobre Resistência Durável do Cafeeiro à Ferrugem será realizado pelo Departamento de Fitopatologia da UFV, com os apoios do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), do Centro de Investigações das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), de Portugal e do Institute de Recherche et Dévelopment (IRD), da França. Durante o evento será lançado um livro com artigos dos palestrantes. A programação completa está disponível no site: www.bioagro.ufv.br/workcafe.

Tradição em café

O Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro Com Resistência à Ferrugem na Universidade Federal de Viçosa foi iniciado em meados da década de 1970, a partir de uma cooperação com o Centro de Investigações das Ferrugens do Cafeeiro, localizado em Oeiras, Portugal. O material do banco de germoplasma utilizado nessas pesquisas vinha do Híbrido de Timor, uma variedade que serve até hoje como matriz para as pesquisas, já que possui fatores de resistência ao H. vastatrix e clones diferenciadores das raças fisiológicas de H. vastatrix. Em 1974 o Programa foi associado à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), e a parceria resultou no lançamento de sete variedades.

Mais tarde, na década de 1980, foi desenvolvida a Calda Viçosa, uma mistura de nutrientes e cobre que nutre o cafeeiro e proporciona o controle químico da ferrugem. Até hoje, esse composto é usado no Brasil, principalmente por pequenos produtores uma vez que o método é eficiente, econômico e não-poluente. Apesar de não ser a instituição brasileira com maior número de cultivares de café resistentes à ferrugem – a grande maioria foi criada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC)- a universidade conta com cerca de 80 professores e pesquisadores, 350 alunos de graduação e pós-graduação dedicando-se a pesquisa com café nas mais diversas áreas.