O Projeto Genoma do Câncer iniciou em 2000 para tentar compreender as alterações genéticas que contribuem para as diversas formas de câncer humano e prometeu grandes avanços na medicina. No entanto, a complexidade das interações gênicas se revelaram muito maiores do que esperado e as respostas ainda estão por vir. “A biologia ainda é mais complicada do que compreendida”, alerta Jeremy Squire, do Instituto do Câncer de Ontário (Universidade de Toronto, Canadá). Os avanços teóricos nessa área são diversos, e em alguns casos se aproximam de aplicações médicas. Esses avanços foram discutidos no 51º Congresso Brasileiro de Genética, que ocorreu este mês.
Segundo a pesquisadora Sílvia Rogatto, da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, a idéia de instabilidade cromossômica como origem da doença “ficou esquecida e agora ressurgiu das cinzas”.Pesquisas recentes mostram que genes responsáveis por funções diversas na divisão celular parecem estar associados ao desenvolvimento da doença. Rogatto mostra que erros na divisão celular causam a instabilidade cromossômica, que se apresenta na forma de células com número alterado de cromossomos. A pesquisadora afirma que compreender esse funcionamento pode ser essencial tanto para um diagnóstico mais rápido da doença como para desenvolver novas formas de prevenção e tratamento.
Squire apresentou alguns exemplos de sucessos em terapia gênica, como os tratamentos para câncer de mama ou leucemia mielóide crônica. Apesar dos grandes avanços, a aplicação destes tratamentos ainda não pode ser generalizada, alerta o pesquisador. Os processos gênicos que causam o câncer ainda são mal compreendidos, de forma que nem todos os pacientes respondem ao tratamento. Além disso, os medicamentos são ainda extremamente caros, variando de 35 mil a 111 mil dólares por paciente ao ano, exemplificou Squire.
Uma crítica comum aos estudos genômicos é a tendência ao determinismo genético. No caso do câncer, é freqüente a busca genes ligados à doença. A suscetibilidade genética é um fator importante, como no caso do câncer de próstata que, segundo exemplo de Squire, na América do Norte é mais prevalente na população de origem africana. No entanto, ele lembra que o ambiente também exerce grande influência no surgimento de câncer, como no caso dos chineses: aqueles que permanecem em sua terra natal são menos propensos a desenvolver a doença do que os que habitam os Estados Unidos, fato que estaria ligado a uma dieta rica em gordura animal nos emigrantes, o que aumenta o risco desse tipo de câncer.
Ao fim do Projeto Genoma do Câncer, previsto para 2013, é esperado que haja uma maior compreensão dos padrões de expressão gênica típicos de cada câncer e dos efeitos ambientais que afetam seu desenvolvimento. Com isso, seria possível desenvolver tratamentos personalizados para cada paciente.