Inova Unicamp lança caderno com propostas de parcerias

A Agência de Inovação da Unicamp, Inova, lançou este mês uma base de dados com propostas de projetos para serem desenvolvidos em parceria entre a universidade e empresas. O objetivo do caderno é oferecer uma vitrine dos projetos elaborados originalmente para os workshops de parceria, programa da Inova em operação desde 2003. A consulta aos dados é livre e ocorre por meio do site da Agência Inova.

A Agência de Inovação da Unicamp, Inova, lançou este mês o Caderno de Propostas de Projetos de Pesquisa para Parceria, (C4P), um banco de dados contendo todos os projetos apresentados por pesquisadores da Unicamp durante os workshops de parceria, realizados a partir de meados de 2003. O diretor executivo da Inova, Roberto Lotufo, explica que o caderno é uma espécie de portifólio do que é produzido na instituição, uma ferramenta que deve atrair empresas para parcerias com a universidade. As informações sobre os projetos podem ser obtidas no site da Agência.

Estão disponíveis para consulta os 107 projetos propostos durante os eventos já realizados, segundo José Milani, assessor técnico da Inova responsável pelos workshops. Desde que o programa teve início, ocorreram 30 workshops, e atualmente mais dois estão em andamento.

Para Lotufo, um dos grandes desafios a serem enfretados é estabelecer projetos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento entre pesquisadores das empresas e pesquisadores das universidades. Como a taxa de sucesso das parcerias é baixa, afirma, o processo torna-se caro. Foi com o intuito de aumentar o volume de parcerias de sucesso a baixo custo que os workshops de parcerias surgiram, justifica.

O diretor de parques tecnológicos e incubadoras de empresas de base tecnológica da agência, Eduardo Grizendi, explica que o C4P é mais um elemento facilitador para as parcerias entre as empresas e a universidade. Por meio da ferramenta de busca os internautas poderão descobrir se a Unicamp possui alguma competência em determinada área de interesse deles.

Grizendi enfatiza, entretanto, que nada substitui o contato entre os pesquisadores e os empresários. “São nos workshops de parceria que ocorre a real aproximação entre a universidade e a empresa”, diz. Mas de todo modo, ele acredita que a nova ferramenta será útil para atrair mais empresas para a instituição.

Workshops de parceria

As empresas possuem demandas. A universidade gera tecnologias. A função dos workshops de parceria é aproximar esses dois agentes, conforme sintetiza Grizendi. Os workshops são compostos por duas reuniões. Na primeira, a empresa vai até a Unicamp para expor sua demanda aos pesquisadores da instituição. “As empresas chegam até nós querendo melhorar um produto ou processo e até mesmo para conhecer quais são as novas tecnologias criadas na área em que atuam”, esclarece Milani.

Após esse primeiro encontro, a Inova abre inscrições, via eletrônica, para os pesquisadores apresentarem projetos que possam ser de interesse da empresa. Com base nas propostas enviadas, a Inova organiza um relatório de projetos para a empresa. Na segunda reunião, os pesquisadores que enviaram propostas vão até a firma apresentar os projetos elaborados.

Com a conclusão dessas etapas, a empresa seleciona os trabalhos de interesse. “Normalmente a empresa e o pesquisador responsável pelo trabalho escolhido iniciam uma negociação. Um plano de custos e prazos é elaborado pelo pesquisador com auxílio da Inova e repassado para a empresa”, conta Milani. Quando a negociação é concluída, um convênio entre a Unicamp e a empresa é firmado.

Lotufo acredita que esse encontro entre pesquisadores e empresas é uma das grandes vantagens do processo. Os worshops, menciona, por serem eventos abertos a todos os pesquisadores da instituição, permitem verificar quais desses profissionais estão interessados a parcerias universidade-empresa. Lotufo menciona ainda que os worshops de parceria são “ambientes de discussão de novas idéias e trazem para a Universidade os principais desafios a que as empresas estão sujeitas.

Grizendi declara que na maioria dos casos as tecnologias não estão completamente de acordo com a demanda da empresa e que precisam ser adaptadas, o que deve ser financiado pelas firmas, já a partir de parceria estabelecida. “Uma das grandes vantagens dos workshops de parceria para a instituição é a atração de recursos privados para financiamento dos projetos”, afirma ele. Quem também ganha com isso são os estudantes envolvidos nos trabalhos, que saem da universidade mais preparados para o mercado e podem, até mesmo, ser empregados nessas empresas parceiras, avalia Milani.

Grizendi menciona que o programa de workshops de parceria é um trabalho com resultados a médio e a longo prazo. “Já tivemos casos de empresas voltando para fechar as parcerias quase um ano após a realização do workshop”, lembra.

Tecnologia de reciclagem está em negociação

Em abril deste ano, a Cavo, empresa de gerenciamento de resíduos e conservação ambiental, iniciou os contatos com a Unicamp por meio de um workshop de parceria. “O interesse da empresa era conhecer as novas tecnologias para tratamento de resíduos industriais e hospitalares”, conta o supervisor de inteligência estratégica da empresa, Antônio Carlos Januzzi.

Ao todo, a Cavo recebeu 13 propostas de projetos dos pesquisadores da Unicamp. Atualmente, explica Januzzi, o departamento de pesquisas da empresa está analisando a viabilidade de quatro propostas apresentadas.

Uma das pesquisas que chamou a atenção da empresa foi o processo de reciclagem do lodo galvânico. O lodo é um efluente tóxico, que não pode ser jogado no ambiente por ter em sua composição metais pesados como cobre, zinco, níquel e cromo, conforme explica o professor do Departamento de Engenharia de Materiais, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Rodnei Bertazzoli. Só o Estado de São Paulo produz 234 mil toneladas de resíduos da indústria de galvanoplastia ao mês.

A técnica desenvolvida na Unicamp por Bertazzoli solubiliza o lodo e passa a mistura por um reator eletroquímico cilíndrico. Dentro desse cilindro acontece a separação dos metais pesados (por meio de eletrólise) que são retirados da solução na forma de cilindros metálicos ocos. Segundo o pesquisador, 80% do lodo é metal e pode ser reaproveitado. Os 20% restantes são substâncias não tóxicas, afirma.

Esses metais retirados do lodo viram matérias-primas para produção de tubos trefilados completando o processo. Esses tubos podem ser usados na condução de água quente na construção civil, aponta.

Segundo o pesquisador, o reator cilíndrico poderia funcionar em escala industrial em cerca de um ano. Para isso a máquina deverá ser adaptada mantendo as proporções.

Mais informações: Programa Workshops de Parceria

Interação entre pesquisadores, população e poder público é foco de projeto de recuperação ambiental

Integrar conhecimentos e ações de instituições de pesquisa, população e poder público é o desafio de um projeto desenvolvido na cidade de Campinas (SP). O objetivo do projeto é realizar um amplo levantamento de dados sobre meio físico, vegetação e população da bacia, os quais possam dar suporte ao planejamento de políticas públicas que promovam melhorias na qualidade ambiental e nas condições de vida.

Integrar conhecimentos e ações de instituições de pesquisa, população e poder público é o desafio de um projeto desenvolvido na cidade de Campinas (SP). O projeto “Recuperação ambiental, participação e poder público: uma experiência em Campinas”, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), teve início em abril de 2003, envolvendo pesquisadores e técnicos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e Prefeitura Municipal de Campinas, além da colaboração do Instituto Florestal e das Universidades de Brasília (UnB) e São Marcos (campus de Paulínia-SP).

O projeto é mais conhecido como “Projeto Anhumas”, pois tem como foco de atuação uma importante bacia hidrográfica do município: a bacia do ribeirão Anhumas. O objetivo principal do projeto é realizar um amplo levantamento de dados sobre meio físico, vegetação e população da bacia, os quais possam dar suporte ao planejamento de políticas públicas que promovam melhorias na qualidade ambiental e nas condições de vida.

A bacia do Anhumas abrange uma área de aproximadamente 150 km2, sendo que cerca de 50% dela se encontra urbanizada. A heterogeneidade social na bacia – que abriga quase 300 mil habitantes – é marcante: condomínios luxuosos em áreas nobres contrastam com favelas localizadas nos fundos de vales. Entre os problemas ambientais existentes na bacia, destacam-se a poluição das águas e o desmatamento.

“A concepção básica do projeto é a de que não se consegue resolver os problemas ambientais sem considerar a questão social”, explica Roseli Torres, bióloga, pesquisadora do IAC e coordenadora-geral do projeto. Segundo a pesquisadora, a participação da população é fundamental para isso. “Quando elaboramos o projeto, achávamos que era importante envolver o poder público, mas não era suficiente. Não queríamos ficar na dependência de conseguir implementar as ações somente via poder público; queríamos construir um vínculo com a comunidade”, revela a bióloga, que também é uma das idealizadoras do projeto. “O objetivo é conseguir construir um diagnóstico da bacia a partir de vários olhares, inclusive o olhar da comunidade”, complementa.

Uma das formas de participação mais direta da população no diagnóstico da bacia se dá no mapeamento de riscos ambientais. Nessa atividade, moradores e membros de diversas entidades situadas na bacia são convidados para reuniões públicas nas quais compartilham seus conhecimentos e experiências para levantar e localizar os riscos ambientais existentes nos diferentes setores da bacia (alto, médio e baixo cursos).

Os geógrafos Archimedes Perez Filho e Salvador Carpi Júnior, ambos do Instituto de Geociências da Unicamp e responsáveis por essa parte do projeto, explicam que as informações e mapas produzidos nas reuniões são, depois de compilados e organizados, apresentados novamente à comunidade, servindo de base para proposição de soluções aos problemas apontados. “Já existem grupos se organizando para intervir em algumas situações de risco que foram levantadas na bacia”, destaca Carpi Júnior.

Perez Filho lembra que a reunião com maior número de pessoas foi a ocorrida para mapeamento dos riscos ambientais do médio curso da bacia, região onde são encontradas favelas habitadas por uma população bastante vulnerável ao risco de inundações. “A grande participação dessa população demonstra o interesse em encontrar alternativas para um problema concreto e frequente”, afirma o pesquisador. Uma das metas atuais do projeto é ampliar ainda mais o envolvimento da população, estimulando a articulação e troca de experiências entre os movimentos organizados dos diferentes setores da bacia.

Vegetação nativa e formulações de políticas públicas:

Os pesquisadores do projeto diagnosticaram uma situação extremamente crítica em relação à vegetação: restam apenas cerca de 3% de cobertura vegetal nativa na bacia. Segundo Roseli Torres, a maior parte está contida em fragmentos com áreas inferiores a 10 hectares, que por estarem isolados uns dos outros, comprometem sua manutenção. A bióloga destaca ainda que, nos levantamentos botânicos realizados no âmbito do projeto, a quantidade de árvores mortas encontradas nessas áreas fragmentadas é bastante elevada, muitas delas com sinais de queimadas de origem antrópica (relativa a ação humana).

Outro problema constatado refere-se aos fragmentos situados em condomínios fechados de alto padrão que, a pretexto de promoverem melhorias paisagísticas, causam alterações nos remanescentes (como introdução de espécies exóticas).

Com base nos dados levantados pelo projeto, os pesquisadores pretendem eleger uma região da bacia que seja prioritária para conservação e recuperação da vegetação. Além disso, faz parte das propostas de políticas públicas o manejo de parques públicos e a arborização urbana. De acordo com a pesquisadora do IAC, algumas dessas propostas já foram incorporadas em decreto municipal.

Segundo Perez Filho, a intenção é que os demais resultados do projeto tenham encaminhamento semelhante: “Espera-se que a prefeitura tenha conhecimento dos resultados e possa aproveitá-los no seu planejamento”. Contudo, o geógrafo revela que nem sempre é tarefa fácil trabalhar com o poder público. “O trabalho acadêmico é muito mais difícil de ser realizado quando se envolve um órgão público, que tem uma rotatividade de pessoas e políticas diferenciadas que ocorrem não só entre gestões, mas mesmo dentro de uma mesma gestão”, afirma.

– Leia mais:

Participação da comunidade garante sucesso de revitalização de rio em SP

Projeto Anhumas – Recuperação ambiental, participação e poder público: uma experiência em Campinas

Pessoas com doenças incuráveis podem ter vida com qualidade

A medicina tem como princípio básico a busca da saúde e bem estar dos indivíduos e conta com os avanços tecnológicos para desenvolver novas formas de tratamento e cura. Em casos de pacientes terminais ou portadores de doenças incuráveis, o uso da tecnologia pode levar a desconfortos e efeitos colaterais questionáveis, sem resultados positivos. Nesses casos, os cuidados paliativos são uma alternativa, já que minimizam a dor do paciente em prol da sua qualidade de vida. Esse serviço é realizado atualmente em 30 hospitais brasileiros, a maioria por grupos de profissionais nas áreas de medicina, enfermagem, psicologia, fisioterapia, nutrição e assistência social. Muito mais que o fornecimento de analgésicos, oxigênio e soro, os cuidados paliativos levam ao paciente e sua família conforto e acompanhamento físico, psicológico, social e espiritual.

O Hospital do Câncer IV, do Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, especializado nesse serviço faz em média 250 internações domiciliares por dia. Nesse sistema, o paciente é tratado em casa, e vai ao hospital para consultas a cada 15 dias. Quando o estado de saúde não permite, a equipe vai até ele. A qualidade de vida do doente que sai do ambiente hospitalar e volta para suas atividades diárias, em contato com sua casa, família e amigos tende a ser melhor. Essa pratica é a mais recomendada pelos profissionais que trabalham em cuidados paliativos. No HC IV existem também 56 leitos para os casos cuja internação é essencial.

Em fevereiro deste ano foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos que procura o reconhecimento dessa especialidade na área médica e sua viabilidade junto ao SUS. O órgão ainda não destina verbas diretamente para esse trabalho mas deveria, já que de acordo com a diretora do HC IV e sócia-fundadora da Academia Claudia Naylor, os cuidados paliativos representariam uma economia para o órgão em internações e uso de aparelhos, além da liberação de leitos.

No dia 30 de setembro, véspera do dia mundial de cuidados paliativos, a prefeitura de São Paulo fechou uma casa de cuidados paliativos alegando necessidade de redução de custos aliada à baixa demanda de pacientes – 39, desde junho do ano passado, quando foi inaugurada. Segundo depoimento da superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal, Érica Letícia Rodrigues, publicado na Folha de São Paulo, a prefeitura dará assistência domiciliar aos pacientes, que poderão receber os cuidados também na enfermaria desse hospital.

Clínicas particulares por sua vez, não economizam. Em Campinas existe um centro especializado em oncologia infantil que oferece às crianças internadas além do acompanhamento psicológico e atividades lúdicas, aulas das disciplinas escolares e até cursos de informática.

Cuidados na UTI neonatal

Os cuidados paliativos não ficam restritos à oncologia. No Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM -Unicamp), trabalha uma equipe na neonatologia desde 2002. Nesse caso, os cuidados paliativos começam com a chegada do recém nascido à UTI, onde os profissionais não procuram adiar a morte do bebê e nem prolongar sua vida, mas que ela aconteça no tempo certo. É permitido que a família passe o maior tempo possível ao lado do recém nascido, podendo em alguns casos levá-lo para casa. Às famílias que se dispõe, o CAISM oferece acompanhamento psicológico e reuniões de esclarecimento até três meses depois do óbito. Entre janeiro de 2003 e setembro de 2005, o grupo atendeu a mais de 130 bebês, e teve um retorno de 40% das famílias. Um número expressivo para a médica responsável pelo grupo de cuidados paliativos Sílvia Monteiro da Costa. Segundo ela, é nas reuniões de família que os pais entendem as razões do falecimento do bebê.

Nesse hospital também atua há mais de dez anos uma equipe de cuidados paliativos na enfermaria de oncologia, cujo trabalho já foi tema da tese de doutorado da oncologista Nancy Mineko Koseki, em 2002. A pesquisadora propôs a capacitação de profissionais de saúde dos municípios do entorno de Campinas, para que os casos considerados primários (sem necessidade de cirurgia ou internação) pudessem ser cuidados por agentes do próprio município e fossem encaminhados ao CAISM apenas os de maior complexidade.

Até essa época, além de atender aos internos, a equipe de cuidados paliativos fazia visitas domiciliares a pacientes residentes em cidades do entorno, o que desfalcava o corpo técnico da enfermaria e implicava em custos para o hospital. Esse modelo foi implantado em quatro cidades do entorno mas, segundo a pesquisadora, a descontinuidade política e a resistência dos profissionais de saúde impediram o prosseguimento da proposta. O trabalho foi inclusive premiado por um laboratório farmacêutico, no primeiro semestre de 2005.

A equipe de cuidados paliativos em oncologia do CAISM atua apenas com os internos do hospital, que atualmente ocupam seis, dos quinze leitos dessa enfermaria. Os pacientes que recebem os cuidados em casa são acompanhados pelo Serviço de Atendimento Domiciliar da prefeitura municipal, e totalizam mais de 300, representando 60% do total dos pacientes cadastrados nesse programa.

Mesmo com os avanços da tecnologia, a previsão da OMS divulgada no site oncoguia.br é que, até 2015 surgirão 15 milhões de novos casos de câncer por ano, e nove milhões de mortes. A medicina deve estar preparada para atuar em cuidados paliativos, mas para isso é preciso investimento. “Para ampliar o serviço de cuidados paliativos no Brasil, só depende de vontade política” – conclui Claudia Naylor.

Sem esperar o governo

Um projeto idealizado por missionários da igreja católica pretende erguer em Campinas até 2007 um centro para pacientes terminais, através de doações da comunidade e de empresas. O Centro de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos Lotedhal (que em aramaico significa “não temas”) vai comportar 40 leitos, 60% deles para pacientes do SUS e vai funcionar através de trabalho de voluntários que receberão treinamento e capacitação. A obra está em andamento há dois anos, em um terreno próximo ao Santuário Nossa Senhora Desatadora dos Nós e apesar de ser de iniciativa católica, não exclui pacientes de outros credos.