Novo índice avalia sustentabilidade das empresas

O Índice de Sustentabilidade Empresarial lançado pela Bolsa de Valores de São Paulo busca avaliar o desempenho das empresas em termos de responsabilidade social e sustentabilidade financeira e ambiental. Vinte e oito delas foram selecionadas para integrar o índice. Nenhuma delas pertence aos setores de tabaco, armas ou bebidas alcoólicas, cuja possível inclusão ao índice gerou muita controvérsia durante seu processo de criação.

Desde o início de dezembro, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) conta com um novo índice aplicado ao mercado de ações – o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Esse é o quarto índice desse tipo que existe no mundo, e sinaliza uma tendência das bolsas de valores. O ISE visa destacar as empresas (e, conseqüentemente, valorizar suas ações) que, segundo avaliação da Bovespa, apresentam melhores desempenhos em termos de responsabilidade social e sustentabilidade financeira e ambiental.

Para este primeiro ano de existência do índice, 28 empresas foram selecionadas para integrar o índice. Nenhuma delas pertence aos setores de tabaco, armas ou bebidas alcoólicas, cuja possível inclusão ao índice gerou muita controvérsia durante o processo de criação do ISE.

O novo índice, de acordo com a Bovespa, atende a uma demanda crescente de investidores preocupados em aplicar seus recursos nos chamados investimentos socialmente responsáveis (SRI, sigla em inglês). “O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com responsabilidade social, sustentabilidade empresarial, e atuação na promoção de boas práticas no meio empresarial brasileiro”, afirma a Bovespa em documento explicativo sobre o novo índice. Para os investidores, o ISE também serve como uma referência para indicar quais ações, dentre as negociadas pela Bovespa, são mais seguras a longo prazo, já que empresas que seguem os critérios de sustentabilidade empresarial tendem a representar menor risco ao investimento.

As 28 empresas cujas ações fazem parte do índice (34 ações no total) foram eleitas a partir das respostas dadas a um questionário enviado às 121 companhias responsáveis pelas 150 ações mais negociadas na Bovespa. O questionário e a metodologia do índice foram elaborados pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (Gvces) a partir do conceito “triple bottom line”, que contempla critérios relacionados às dimensões econômico-financeira, social e ambiental da sustentabilidade empresarial. Foram também incluídas questões referentes a mais duas dimensões (totalizando 5 grupos de indicadores): governança corporativa e informações gerais sobre as políticas de sustentabilidade da companhia e a natureza dos produtos que comercializa. Enquanto a primeira trata, por exemplo, da participação de acionistas minoritários nas decisões da empresa, a outra dimensão aborda, entre outras questões, se tais produtos geram riscos à saúde de quem os consome.

Critério de não-exclusão gerou polêmica

Embora empresas de tabaco, armas e bebidas alcoólicas não estejam entre as 28 que integram o ISE, a não-exclusão prévia desses setores da avaliação feita pela Bovespa foi alvo de críticas por parte de entidades da sociedade civil organizada. A decisão de que, a princípio, qualquer empresa (dentre as 121 que participaram da avaliação) pudesse ser incluída no índice, independente da natureza do produto comercializado, foi tomada pelo conselho deliberativo responsável pela criação e acompanhamento do índice. Das 9 instituições que integravam inicialmente o conselho, apenas o Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas (IBASE) e o Ministério do Meio Ambiente eram a favor da exclusão a priori dos setores empresariais cujas atividades representassem riscos elevados à saúde ou ao meio ambiente.

Com a vitória do critério da não-exclusão prévia, o IBASE decidiu, em abril de 2005, retirar-se do conselho. Em nota de esclarecimento publicada à época, a entidade justificou sua saída argumentando que incluir determinados setores seria uma contradição em relação aos princípios de responsabilidade social que o índice almejava avaliar. Junto com o IBASE, outras entidades da sociedade civil organizada passaram a pressionar a Bovespa para que a decisão a favor da não-exclusão prévia fosse revertida.

Segundo a socióloga Paula Johns, coordenadora da Rede Tabaco Zero (RTZ), uma das organizações que liderou o movimento, “seria inaceitável e lamentável que o primeiro índice dessa natureza no país não levasse em consideração o produto comercializado pelas empresas que pleiteiam essa forma privilegiada de agregar valor aos seus papéis”. Apesar do critério de não-exclusão continuar valendo, a socióloga diz que a pressão exercida sobre a Bovespa fez com que o questionário do ISE enviado às empresas fosse modificado, dificultando que os setores tabagista, armamentista e de bebidas alcoólicas entrassem no índice devido ao acréscimo de perguntas relativas aos riscos a saúde e segurança oferecidos pelos produtos comercializados.

“Da forma como o primeiro questionário tinha sido elaborado, tenho certeza que a Souza Cruz (indústria de tabaco) estaria neste grupo”, afirma. “No final, o resultado do índice acabou sendo satisfatório para nós”, avalia a coordenadora da RTZ, referindo-se ao fato da indústria citada não estar entre as 28 que integram o ISE. Para ela, entretanto, ainda há um ponto importante que deve ser pleiteado para que o índice cumpra adequadamente seu papel: transparência. Segundo a socióloga, é preciso que os questionários respondidos pelas empresas sejam divulgados, para que a sociedade possa monitorar se as respostas dadas por elas correspondem de fato à realidade de suas práticas.

A ausência dos setores de tabaco, armas e bebidas alcoólicas não impede, todavia, que o ISE continue sofrendo algumas críticas. A lista de empresas integrantes do ISE contempla setores como papel e celulose, energia elétrica e siderurgia, cujas atividades causam impactos ambientais significativos e, portanto, possuem práticas questionáveis em termos de sustentabilidade.

Para saber mais:

Veja a lista das empresas componentes do ISE

Conheça a metodologia do ISE

Iemanjá atrai devoção católica

Flores e barcas repletas de oferendas (comidas, bebidas, espelhos, perfumes e bijuterias) são lançadas ao mar no Reveillon brasileiro. Na passagem do ano, mesmo quem não tem nenhuma religião acaba se vestindo de branco, pulando ondas, acendendo velas brancas e fazendo o seu pedido especial para Iemanjá, a Deusa do Mar. O curioso é que este Orixá não atrai apenas devotos de religiões afro-brasileiras, mas principalmente católicos, de classe média e com bom nível de escolaridade. Essa é uma das constatações da dissertação em Ciências da Religião na PUC-SP “Tenha fé, tenha confiança, Iemanjá é uma esperança: um estudo à luz da psicologia analítica do fenômeno do iemanjismo, entre os não devotos das religiões afro-brasileiras”, da psicóloga Estela Noronha.

Flores e barcas repletas de oferendas (comidas, bebidas, espelhos, perfumes e bijuterias) são lançadas ao mar no Reveillon brasileiro. Na passagem do ano, mesmo quem não tem nenhuma religião acaba se vestindo de branco, pulando ondas, acendendo velas brancas e fazendo o seu pedido especial para Iemanjá, a Deusa do Mar. O curioso é que este Orixá não atrai apenas devotos de religiões afro-brasileiras, mas principalmente católicos, de classe média e com bom nível de escolaridade. Essa é uma das constatações da dissertação em Ciências da Religião na PUC-SP “Tenha fé, tenha confiança, Iemanjá é uma esperança: um estudo à luz da psicologia analítica do fenômeno do iemanjismo, entre os não devotos das religiões afro-brasileiras”, da psicóloga Estela Noronha, orientada pelo professor Enio José da Costa Brito. O estudo analisou o sincretismo deste Orixá no universo religioso brasileiro, resultado da influência das tradições africanas, européias e indígenas.

A veneração a este Orixá vem ultrapassando os limites dos terreiros e vem crescendo no imaginário popular, como grande mãe e figura feminina. Ela aparece com a postura de uma santa católica, com as mãos para o céu, mas com a roupa colada no corpo, ressaltando suas curvas. “Sua grande popularidade se deve ao fato de resgatar valores importantes negligenciados pela sociedade patriarcal e pela sociedade cristã em geral, como a afetividade, a sensualidade e o erotismo inerentes nas relações humanas”, diz Estela Noronha. “Ninguém imagina um homem olhando para a estátua de Nossa Senhora Aparecida e exclamando que ela é uma delícia. Mas Iemanjá, mesmo sendo vivenciada como santa pelo catolicismo popular, permite tal projeção sem culpas ou qualquer traço de desrespeito”, explica.

Segundo a pesquisadora, o catolicismo popular está mais voltado para os pedidos imediatos (saúde, dinheiro, amor e prosperidade) e não apresenta a mesma rigidez da igreja tradicional. A psicóloga constatou que esse culto sinaliza a rebeldia às submissões hierárquicas e a crise de algumas instituições religiosas. “Essas pessoas buscam um sentido existencial individualista, centrado no cotidiano e na valorização do sentimento”, avalia.

Ter uma santa que simboliza o lado materno, mas também força e beleza, é muito importante tanto para a mulher quanto para o homem, porque ressalta a busca incessante por nós mesmos e pelo nosso oposto, de acordo com a pesquisa de dissertação. “O homem também tem o aspecto feminino dentro de si, e isso faz com que ele trabalhe melhor as relações, a afetividade e o sentimento”, comenta Estela Noronha.

A idéia de estudar a figura de Iemanjá surgiu quando a psicóloga passava férias em Cabo Frio, em 2002, e ficou espantada com o número de oferendas. Ela conta que nunca foi devota, mas quando começou a pesquisa acendeu uma vela a Iemanjá e depois ganhou uma imagem de um paciente. Para realizar a pesquisa de campo, Estela Noronha entrevistou apenas pessoas que não pertenciam às religiões afro-brasileiras ou se diziam ateus e que estivessem realizando algum tipo de oferenda na Praia Grande e na Praia da Ponta, em Santos, no litoral de São Paulo.

Iemanjá é popularmente cultuada em todo o Brasil no dia 31 de dezembro, mas há festas em sua homenagem também no dia 8 de dezembro, na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, e em 2 de fevereiro, em Salvador, na Bahia. O fenômeno tem crescido tanto que Iemanjá passou a ser celebrada também no lago artificial de Brasília e na lagoa da Pampulha, em Minas Gerais. “Hoje, ela não é apenas a rainha do mar, mas das águas”.

Cálculo esclarece sobre comércio internacional e uso sustentável da água como commodity

Através do cálculo da quantidade de água que se utiliza para a produção de commodities (água virtual), pesquisadores do Núcleo de Estudos de População (Nepo), da Unicamp, podem entender melhor como funciona o comércio internacional entre os países que possuem escassez e os que possuem abundância de recursos hídricos. Trata-se de uma perspectiva inédita no gerenciamento de recursos hídricos que foi publicada no artigo Água Virtual: O Brasil como grande exportador de recursos hídricos, apresentado no XVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, que aconteceu no final do ano passado em João Pessoa, na Paraíba.

Através do cálculo da quantidade de água que se utiliza para a produção de commodities (água virtual), pesquisadores do Núcleo de Estudos de População (Nepo), da Unicamp, podem entender melhor como funciona o comércio internacional entre os países que possuem escassez e os que possuem abundância de recursos hídricos. Trata-se de uma perspectiva inédita no gerenciamento de recursos hídricos que foi publicada no artigo Água Virtual: O Brasil como grande exportador de recursos hídricos, apresentado no XVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, que aconteceu no final do ano passado em João Pessoa, na Paraíba.

A partir desse conceito, os pesquisadores sabem o quanto de água virtual os países exportam ou importam e procuram encontrar maneiras sustentáveis da utilização deste recurso. Segundo Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Nepo, sociólogo e doutor em demografia, o Brasil é um grande exportador de água virtual através da soja e da carne bovina. Em média, cada quilo de soja exige dois mil litros de água para ser produzido. Já o quilo da carne bovina exige 43 mil litros de água. Neste cálculo entram não só a água consumida diretamente pelo animal, que varia de 50 a 60 litros por dia, mas também a água utilizada na produção da alimentação do gado.

Carmo lembra que o Brasil é o segundo maior país detentor de água doce do mundo, atrás somente do Canadá, e por isso é lógico que utilize economicamente este recurso. A questão levantada pelo sociólogo é sobre a sustentabilidade a médio e longo prazo desse processo. “A expansão da produção de soja na Amazônia, por exemplo, traz conseqüências tanto sociais como ambientais”, diz. Além do desmatamento, a expansão da soja pode comprometer as fontes de água doce e ainda desarticula os pequenos agricultores que são incorporados pelos grandes latifúndios e se vêem obrigados a ir para os centros urbanos.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indicam que a exportação de água virtual vem crescendo ao longo dos últimos anos. Em 2002, o país exportou 52,2 bilhões de metros cúbicos (m3) de água virtual, em 2003 foram 65,5 bilhões m3 e no ano seguinte este número subiu para 73,8 bilhões. A pesquisa aponta para o fato de que a agricultura consome 60% do total de água utilizada no país, mais do que o consumo industrial e doméstico juntos.

O Instituto para a Educação da Água da Unesco e o World Water Council alegam que a política de comércio de água virtual alivia a pressão sobre os países que possuem poucos recursos hídricos, mas este comércio deve vir acompanhado de uma política de conscientização para o uso de produtos que demandem uma quantidade menor de água.

O consumo de produtos que necessitam de muita água para sua produção é alto no mundo, como por exemplo, a soja e o arroz. Já os produtos como o milho e a batata, que necessitam de menos água para produção, são menos consumidos. Carmo argumenta que uma das saídas para um planejamento sustentável da utilização de recursos hídricos é a reestruturação do cardápio. A própria globalização traz aspectos negativos nesse sentido, “a disseminação da comida tipo fast food, baseada em hambúrguer e refrigerante (produtos que demandam muita água para a produção), não é boa do ponto de vista do gerenciamento dos recursos hídricos”, diz o pesquisador

Outra saída para a sustentabilidade é o planejamento da agricultura. Isso significa que a agroindústria não deve somente se preocupar com lucro a curto prazo, como é o caso das plantações de soja na Amazônia. A longo prazo as conseqüências são a escassez de recursos hídricos e a depredação da biodiversidade. Roberto Carmo afirma ainda que o Estado deve estabelecer um planejamento para uma exploração racional desses recursos.

A pesquisa levanta também a questão da segurança hídrica, que é o mínimo de água que cada cidadão precisa diariamente. A ONU estabelece que este mínimo é de 100 litros por dia, mas o consumo médio no mundo varia de 50 a 150 litros ao dia. Esse número, no entanto, é polêmico: “em uma cidade grande com água encanada é difícil fazer esse cálculo e em muitos casos o consumo de água diário supera os 150 litros”, diz o pesquisador. Além disso, o consumo varia de acordo com a disponibilidade de água de cada país.

A segunda etapa da pesquisa começa este ano e se divide em duas frentes: em um primeiro momento os pesquisadores vão estudar o destino da soja que é exportada e qual a implicação direta na eficiência dos recursos hídricos; a segunda parte é o estudo da plantação de eucaliptos no cerrado, região que possui pouca água.