Brasileira ganha prêmio internacional para mulheres cientistas

Pesquisadora da USP receberá bolsa de 40 mil libras para pesquisa com células tronco da polpa dental. Ela desenvolverá a pesquisa a partir de junho, no Kings College, em Londres e é a única brasileira premiada este ano pela “L’Oreal Unesco For Women in Science”, mas a quinta desde 1998.

A cada ano as mulheres vão se firmando na área científica. No último dia 2, mais um reconhecimento foi dado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a empresa de cosméticos L’Oreal com a divulgação do Prêmio para mulheres na Ciência. Entre as premiadas mais uma brasileira. Andrea Montesso, pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), receberá uma bolsa de estudos a ser desenvolvida na Inglaterra a partir de junho deste ano, na qual pretende identificar a origem, localização e propriedades das células-tronco presentes na parte interna dos dentes. Montesso foi selecionada entre 60 outras propostas devido ao valor científico e utilidade da pesquisa.

Ela vai estudar o potencial dessas células-tronco para formação de outros tecidos como o tecido ósseo, e para isso, as células da polpa dental serão comparadas com células-tronco já conhecidas como as da medula óssea e do cordão umbilical. A pesquisa será desenvolvida por sete meses, no King’s College, em Londres, sob orientação do cientista Paul Sharpe, referência mundial na área de bioengenharia dental. O valor total da pesquisa é de 45 mil libras (em torno de R$180 mil). Após o intercâmbio, a cientista volta ao Brasil para dar continuidade ao trabalho, criando na USP uma nova linha de pesquisa na utilização de células-tronco de origem dental para o tratamento das deformidades craniomaxilofaciais – causadas por acidentes, remoção de lesões extensas ou mesmo de origem genética. Atualmente, o tratamento dessas condições envolve cirurgias e enxertos ósseos do próprio paciente ou de fonte externa. Nos Estados Unidos, essas células da polpa dental já estão em estudo para tratamento de outras condições como, por exemplo, o mal de Parkinson.

Camundongos com estruturas celulares geneticamente modificadas e marcadas com coloração diferente serão utilizados na pesquisa. Quando cruzados, a pesquisadora pretende identificar a origem das características da polpa dos dentes dos filhotes através dessa diferença de cor. As células da polpa dental serão então separadas, clonadas e induzidas a formarem outras ​_células de osso, cartilagem, adipócitos (células que armazenam gordura) e células neurais. A pesquisadora espera identificar de onde as células vêm, onde se localizam no interior desse tecido e também qual é a capacidade de formação de diferentes tecidos que elas possuem. Isso tornará mais fácil isolar e trabalhar com as células-tronco. As limitações do estudo são as mesmas de outras pesquisas que trabalham com células-tronco adultas uma vez que essas são encontradas em quantidade restrita, difíceis de manter em cultura e seu potencial de diferenciação ainda é desconhecido.

Contribuição brasileira O júri do Prêmio da Unesco/L’Oreal é formado por 15 pesquisadores que recebem indicações de cientistas de todo o mundo e selecionam 15 pesquisadoras iniciantes (com menos de 35 anos) – categoria da vencedora deste ano – e cinco cientistas que se destacam na contribuição para sua área do conhecimento. Andrea Montesso é a quinta brasileira premiada, desde o início do evento, em 1998. No ano passado, foi a vez da física Bellita Koiller, a geneticista Mayana Zatz recebeu o prêmio em 2001 e a bioquímica Lucia Mendonça Previato, em 2004. Em 2005, a médica Michelle Lucinda de Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi reconhecida na categoria de jovens cientistas.

Este ano o prêmio envolveu a área biológica e a cientista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP esteve no júri. Em anos anteriores, quando as ciências exatas estavam em pauta, o país foi representado no júri pela doutora em física Márcia Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que fala da necessidade de se ensinar a ciência de forma mais interessante. “É importante acabar com os estereótipos de que as cientistas são nerds horrorosas, afinal, somos pessoas normais. Se o ensino de ciências se voltar para a sociedade irá continuar atraindo meninos, mas mais intensamente meninas, que tem uma visão de inserção social forte”, sugere.

Em 2005, mais de 47% das bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foram destinadas a mulheres, que receberam quase R$ 240 milhões, enquanto os pesquisadores homens alcançaram a soma de mais de 300 milhões de reais em investimento. “O investimento em educação e divulgação é fundamental para que as mulheres cheguem à universidade, possam se dedicar à pós-graduação e, além disso, sejam informadas da possibilidade da carreira acadêmica que envolve a pesquisa”, finaliza Andrea Montesso.

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Edição da ComCiência sobre mulheres na ciência

Empresas privadas desenvolvem tecnologia militar para uso civil

O uso diversificado das tecnologias originalmente militares ocorre muitas vezes sem que as pessoas se dêem conta. A empresa nacional Atech Tecnologias Críticas surgiu no âmbito do Projeto Sivam e desenvolveu um sistema de monitoramento por sensores, com diversas finalidades civis, além do sistema Infopol, muito útil para o trabalho da polícia.

O uso diversificado das tecnologias originalmente militares ocorre muitas vezes sem que as pessoas se dêem conta. Poucos desconfiam que soluções como o Bilhete Único na cidade de São Paulo ou serviços de meteorologia partiram de uma empresa nascida com propósitos de defesa do espaço ocupado pela Amazônia. A empresa nacional Atech Tecnologias Críticas surgiu no âmbito do Projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) e desenvolveu também um sistema de monitoramento por sensores, com diversas finalidades civis, além do sistema Infopol, muito útil para o trabalho da polícia.

Os diretores da Atech, Cláudio Carvas e Giácomo Feres Staniscia, explicam que a empresa tem uma série de desenvolvimentos militares que acabaram aproveitados para o setor civil, as chamadas tecnologias duais. O Infopol, por exemplo, é um sistema de segurança pública composto por duas unidades, sendo que uma delas é responsável pela coleta de dados enquanto a outra analisa as informações exibidas em gráficos e mapas gerados pelo programa. Com os demonstrativos, a polícia é capaz de traçar o perfil da região analisada, com dados sobre a concentração populacional, a incidência e os horários de determinadas infrações, atualizados automaticamente. Assim, é possível fazer prognósticos e planejar ações de combate à violência nesses locais.

Outro benefício da tecnologia militar aproveitado pela polícia foi desenvolvido pela multinacional EADS. O sistema Tetrapol, utilizado em mais de trinta países e atualmente em implantação pela Polícia Federal brasileira, é um padrão de radiocomunicação 100% digital, capaz de localizar o usuário e acionar formas de socorrê-lo imediatamente por meio de uma rede de comunicação. O sistema será nacionalizado pela empresa Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), por meio de uma parceria com o Grupo EADS, envolvendo a transferência de tecnologia.

Além do emprego em operações cotidianas, o Tetrapol também é utilizado com sucesso no trabalho de segurança de eventos de porte, como reuniões de cúpula do G8 – sete países mais industrializados do mundo e a Rússia – (onde é utilizada desde 1996), Copa do Mundo de Futebol e segurança de grandes empresas privadas.

Uma das soluções duais mais recentes é um sistema de monitoramento que envolve tecnologias selecionadas como prioritárias pelo Ministério da Defesa (fusão de dados, sistemas de informação, sensores e integração de sistemas). A tecnologia desenvolvida pela Atech é muito útil no monitoramento de dutos, transmissão de energia, agricultura de precisão e em situações emergenciais, como incêndios e derramamento de óleo. Esse sistema evolui para a navegação automática de precisão com a aeronave não tripulada, ainda em desenvolvimento com fins tanto militares como civis.

Projeto levará computadores a aldeias indígenas

Três aldeias da etnia Tukano participarão de uma experiência piloto de implantação de centros de computadores em comunidades indígenas. O projeto faz parte do Programa de Inclusão Social e Digital do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em parceria com o Ministério da Educação, a Universidade de Brasília e a Fundação Nacional do Índio.

Três aldeias da etnia Tukano participarão de uma experiência piloto de implantação de centros de computadores em comunidades indígenas. O projeto faz parte do Programa de Inclusão Social e Digital do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a Universidade de Brasília (UnB) e a Fundação Nacional do Índio (Funai).

Essas instituições irão investir em equipamentos, capacitação e acompanhamento. O MEC é responsável pelas escolas e conteúdos das aulas na região onde serão colocados os computadores. A UnB já desenvolve um projeto de pesquisa com essa etnia e a Funai está viabilizando professores para a capacitação em informática. O Ibict será responsável pela disponibilização de ferramentas, produtos e serviços que forem considerados adequados para as comunidades, além do investimento em recursos humanos.

Os três centros são o começo da proposta de formação de um corredor digital no Alto Rio Negro, uma região no estremo noroeste do Brasil, na fronteira com a Venezuela e Colômbia, nas cabeceiras do rio Negro. A região é habitada por 22 povos, entre eles os Tukanos, que serão os primeiros a receber os computadores. Cada aldeia receberá até dez computadores para a formação dos centros. “O objetivo do projeto é levar até às comunidades participantes informação e tecnologia como ferramentas de apoio ao ensino e desenvolvimento cognitivo”, afirma Cecília Leite, responsável pelo Programa de Inclusão Social do Ibict.

E o que essa inclusão de um elemento característico da cultura do não-índio – o computador – representaria para os indígenas? Segundo Cássia Ferri, pesquisadora da área de educação da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o projeto pode ser positivo, uma vez que, pela própria concepção do que é cultura, não se pode dizer que a inclusão digital entraria em conflito com a preservação da cultura indígena. Ferri explica que culturas são modos de viver, agir e pensar coletivos e dinâmicos. “Não se pode pensar em preservar a cultura indígena como se esta não estivesse em constante movimento: os povos indígenas – assim como outros grupos culturais – ao se relacionar com outras culturas estão sempre escolhendo os aspectos que devem preservar, os que devem abandonar, e os que devem modificar”, analisa.

Ferri diz ainda que o projeto pode servir como instrumento para ampliar e socializar os elementos culturais que caracterizam os povos indígenas. De acordo com a pesquisadora, os movimentos em torno da educação escolar indígena se caracterizam pela luta por uma educação diferenciada, na qual a escola é caracterizada como um espaço de reflexão crítica e exercício da construção da autonomia indígena. “Esse não é um processo simples. A escola, tal como a conhecemos, é um elemento externo às culturas indígenas. Seu modo de funcionamento precisa ser recriado para se tornar um instrumento significativo para esses povos”, pondera. Dessa forma, ela afirma que o papel da tecnologia é se tornar mais um dos instrumentos que criam possibilidades para essa reinvenção da escola.

O líder representante da etnia que participará do projeto piloto, Álvaro Tukano, disse que os índios estão “famintos de tecnologia” e que a inclusão digital é muito importante para eles. Segundo ele, a inclusão digital não vai tirar as características e modo de vida indígena, mas sim aumentar a possibilidade de comunicação entre os índios. A pesquisadora da Univali concorda e também destaca que através dos computadores pode-se promover um diálogo intercultural entre crianças de diferentes escolas em diferentes pontos do país.

Ferri acrescenta que há outros investimentos prioritários a serem feitos nas aldeias indígenas, que implicam na sobrevivência da população, como a questão da demarcação de terra, a da saúde, da educação. “É preciso lembrar dos aspectos nutricionais e epidemeológicos que matam dezenas de crianças e adultos indígenas”, aponta. Entretanto, ela acredita que a tecnologia pode contribuir para melhorar esses aspectos levando mais informação aos povos beneficiados.

“O objetivo do programa é levar a informação científica e tecnológica, em linguagem adequada ao cidadão comum”, confirma Cecília Leite, do Ibict. “Temos uma grande interação com a academia e instituições de pesquisa, e agora, pretendemos contribuir para a ampliação da Sociedade da Informação no Brasil por meio de projetos que favoreçam a inclusão social e digital”, completa.