Laboratórios lucram com banalização da hiperatividade

Venda do metilfenidato, medicamento indicado para crianças com hiperatividade (TDAH), cresceu 940% entre 2000 e 2004. Embora não haja explicação concreta para esse aumento, alguns especialistas creditam o aumento à melhor divulgação do transtorno, enquanto outros consideram que a indústria farmacêutica investiu pesado em marketing.

Uma pesquisa divulgada no início do ano pelo Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum), constatou que entre os anos de 2000 e 2004 a venda do metilfenidato, indicado para o tratamento de crianças hiperativas, teve um expressivo crescimento de 940%. Embora não haja explicação concreta, alguns especialistas creditam o aumento à melhor divulgação do transtorno pela mídia, enquanto que outros o consideram um reflexo de investimentos da indústria farmacêutica no marketing do produto.

“Não há nada que justifique um pico tão alto como esse, não se trata de uma pandemia”, comenta Antônio Barbosa, Coordenador do Idum e membro do Conselho Federal de Farmácia. Segundo ele, é comum aumentar a venda de alguns remédios sazonais, como os para a gripe nos meses de inverno, ou em situações emergenciais, como uma pandemia. Mas este não é o caso do metilfenidato. “Não foram os médicos que resolveram mudar seus procedimentos. Vemos que existe uma forte ação dos laboratórios sobre esses profissionais. Indiretamente, a prescrição é feita por essa propaganda”, reforça Barbosa.

Segundo ele, o ideal seria que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) agisse quando acontecem esses picos na venda de certos remédios, regulamentando as ações dos médicos e das indústrias. “O que consideramos mais grave neste caso é a falta de responsabilidade social, especialmente em se tratando de medicamentos para crianças”, diz.

O Transtorno de Déficit de Atenção – Hiperatividade (TDAH) é uma perturbação mental de base neurobiológica caracterizada pela desatenção, hiperatividade e a impulsividade. Nos últimos anos houve um crescente interesse da mídia em divulgar o TDAH. Por um lado, isso ajudou muitos pais a compreenderem o problema e ajudarem no tratamento dos seus filhos, entretanto, também banalizou o diagnóstico. “Hoje se rotula muito. Em uma sala de aula, metade das crianças é considerada disléxica e a outra metade, com TDAH. Parece que os normais estão fora da escola”, aponta a neurologista Sylvia Ciasca, pesquisadora do Departamento de Neurologia da Unicamp.

Tanto a escola como as instituições de saúde estão lidando com um conceito extremamente complexo de uma forma banal, sem muito rigor e “os laboratórios começaram a investir nesse filão”, lamenta a neurologista da Unicamp. A postura agressiva que a indústria farmacêutica tem assumido para aumentar a venda do medicamento acentua esse quadro preocupante.

Sylvia Ciasca coordena um grupo multidisciplinar de pesquisas sobre o TDAH em crianças, no Hospital das Clínicas da Unicamp, e alerta que o tratamento com o remédio só é eficiente se a criança tiver acompanhamento integral de outros profissionais, como psicólogos e pedagogos. “Nós não medicamos a criança sem que ela esteja inserida em um sistema multidisciplinar de tratamento. O acompanhamento facilita o parar de tomar o remédio”.

Márcia Maria de Toledo, psicóloga da equipe, explica que o tratamento depende ainda da idade da criança. “Na idade pré-escolar, a criança ainda está aprendendo habilidades sociais, nesse caso, o tratamento é mais voltado para os pais e professores e, de preferência, sem medicações”. A partir dos sete anos, Toledo defende que a criança tenha um tratamento multifacetado, que envolva os profissionais da saúde com os pais e os professores, que precisam atuar como co-terapeutas.

Em alguns casos, no entanto, a psicóloga acredita que o remédio seja imprescindível. “Mas ele tem que ser usado por pouco tempo, até a criança aprender a viver sem a medicação. O remédio só remove o sintoma”, adverte.

O metilfenidato age reduzindo os três sintomas básicos do transtorno: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Os efeitos colaterais conhecidos são a diminuição do sono e do peso, além de dores de cabeça. Mas eles devem ser passageiros e suportáveis, caso contrário, a medicação precisa ser 2019suspensa pelo médico. O remédio é eliminado do organismo em aproximadamente cinco horas.

O neurobiologista César de Moraes defende a necessidade do medicamento, independente de haver ou não acompanhamento. “Embora o ideal seja que a criança tenha um tratamento integral, com profissionais de diversas áreas atuando em conjunto, o risco de não tratar é muito maior que o risco de tratar somente com o medicamento. O metilfenidato, apesar de não curar, ajuda a melhorar os sintomas”. De acordo com ele, metade das crianças leva o transtorno para a vida adulta.

A Novartis, um dos laboratórios que fabrica o medicamento, acredita que o aumento das vendas se justifica pelo maior conhecimento dos profissionais da saúde sobre o transtorno e considera que, mesmo assim, o número de pacientes medicados é ainda muito pequeno. Segundo informou a assessoria de imprensa da indústria, eles estimam que 25.000 pacientes tenham sido tratados em 2005, mas, em contrapartida, dados de prevalência da doença (3% a 6% em crianças e 2% em adultos) apontam para cerca de 4 milhões de pessoas com TDAH no país. “Portanto, ainda que tenha havido aumento nas vendas, existem milhões de pacientes não diagnosticados ou não tratados”, informa.

Supercondutor pode trazer inovações para medicina e eletrônica

Cientistas do Grupo de Vidros e Cerâmicas, da Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus Ilha Solteira, desenvolveram uma fina película supercondutora chamada de filme. O material, feito de cerâmica, oferece resistência próxima a zero e pode ser utilizado em diversas áreas como a medicina e a eletrônica.

Fazer a energia elétrica chegar ao seu ponto de destino sem perdas é o objetivo do desenvolvimento dos materiais supercondutores. Cientistas do Grupo de Vidros e Cerâmicas, da Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus Ilha Solteira, deram um passo a mais nessa busca e desenvolveram uma fina película supercondutora chamada de filme. O material, feito de cerâmica, oferece resistência próxima a zero e pode ser utilizado em diversas áreas como a medicina e a eletrônica.

De acordo com o coordenador do grupo, o físico Cláudio Luiz Carvalho, para funcionar como um supercondutor, o filme precisa estar a 160°C negativos, porque em baixas temperaturas os elétrons estão mais organizados e podem se locomover livremente. “A essa temperatura as partículas não se chocam e caminham mais rapidamente”, afirma.

Um dos avanços que a pesquisa liderada por Carvalho traz em relação aos demais materiais supercondutores existentes é o tamanho do filme. “Como é muito pequeno, o filme pode ser utilizado em componentes eletrônicos e contribuir para o aumento da velocidade da transmissão de informações. Isso permite, por exemplo, a fabricação de computadores mais rápidos”, afirma.

O uso do filme na área médica também é promissor, segundo Carvalho. “Se produzidos com material supercondutor, os aparelhos de ressonância magnética poderão oferecer imagens muito mais nítidas”, afirma o pesquisador. Além disso, o material pode ajudar no desenvolvimento de dispositivos que mapeiam o cérebro com maior precisão. “Sabemos que o cérebro gera campos magnéticos muito difíceis de serem detectados e os aparelhos que podem ser desenvolvidos com o auxílio do filme supercondutor terão a capacidade detectar esses campos”, diz.

Outra inovação trazida pela pesquisa é o barateamento dos custos de produção. Segundo Carvalho, os materiais supercondutores mais conhecidos operam a 240°C negativos e precisam ser resfriados com gás hélio para atingir essa temperatura. Já o filme, que trabalha a -160°C, utiliza o nitrogênio, que é uma substância muito mais barata e é fabricada no Brasil, ao contrário do hélio.

Além do barateamento da substância utilizada como refrigerante, a equipe da Unesp desenvolveu o filme a partir de um novo processo de fabricação que reduz os custos de produção. Carvalho explica que para obter os elementos que compõem o filme, foi utilizado um processo químico seguido de um tratamento térmico adequado. “Por esse método, encontramos um meio eficiente e mais barato de obter as substâncias necessárias para a composição, ao contrário do processo utilizado antes, que era físico e necessitava de aparelhos caros para evaporar os elementos”, afirma o pesquisador.

Obstáculos

Como o filme supercondutor é feito de cerâmica, além de pouco maleável, ele se quebra facilmente. Porém a pesquisa continua para superar esses obstáculos. “Estamos contornando a situação e vamos desenvolver um filme mais maleável e que não se quebra facilmente”, diz Carvalho. Ele acredita que até o final do ano o grupo tenha uma versão final do produto que poderá ser comercializado para empresas e instituições. “Mas já estamos buscando parcerias e dispostos à integração com as indústrias, como acontece nos EUA”, diz.

Preservação de energia

O embate recente entre usineiros e governo traz à tona não só o problema do álcool como combustível, mas retoma a discussão da utilização das fontes de energia no Brasil. Evitar o desperdício de energia seria uma das formas de minimizar o problema da escassez de fontes energéticas. “Nesse ponto os supecondutores podem trazer benefícios importantes”, afirma Carvalho. O pesquisador relata que já existem nos EUA testes de rede de distribuição de eletricidade com supercondutores.

Segundo dados obtidos no site da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a atual rede de distribuição no Brasil é composta basicamente por fios de cobre, um material que esquenta quando transporta eletricidade. Essa energia transformada em calor é desperdiçada e recebe o nome de perda técnica. A estimativa da perda técnica do fio de cobre é de 20%, já no filme supercondutor esse índice é próximo a zero.

Carvalho explica que o filme desenvolvido por sua equipe é voltado para equipamentos elétricos de pequeno porte, mas com o desenvolvimento e o barateamento das técnicas poderemos ter no futuro redes de distribuição de eletricidade com supercondutores. “Isso pode evitar o desperdício de muita energia”, afirma o pesquisador.

Casos de gripe aviária em outros países trazem prejuízos para o RS

O Rio Grande do Sul, segundo maior exportador de aves do Brasil, criou um Comitê para o Enfrentamento da Pandemia de Influenza Aviária (Gripe do Frango). O diagnóstico da doença em outros países já afeta a economia da região: a produção da indústria avícola teve uma diminuição de 10 a 15%, segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

O Rio Grande do Sul está se mobilizando para combater a ameaça da gripe aviária, doença causada pelo vírus H5N1. No estado, foi criado o Comitê para o Enfrentamento da Pandemia de Influenza Aviária, que tem como um de seus objetivos elaborar um plano de combate à doença. O estado é o segundo maior exportador de aves do Brasil, e o diagnóstico da gripe aviária em outros continentes já causa reflexos na economia da região.

Para Carlos Salle, professor da faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a ameaça da doença não afeta só a indústria, mas toda a população: “devemos levar em conta que a proteína de origem avícola está acessível ao bolso das camadas mais carentes da população brasileira e sua produção viabiliza o minifúndio, diminuindo o êxodo rural e o engrossamento dos cinturões de miséria em volta dos centros urbanos.”, afirma.

“A situação está propícia para a pandemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) está estimulando os países a se prepararem. O Comitê criado no Rio Grande do Sul é intersetorial: inclui as secretarias de saúde e agricultura, faculdades de Medicina e Medicina Veterinária, além da Defesa Civil”, conta a médica Marilina Bercini, do núcleo de doenças de transmissão respiratória da Vigilância Epidemiológica do Rio Grande do Sul. O Comitê intensificará as medidas de vigilância nas fronteiras, portos e aeroportos, além de coordenar, acompanhar e avaliar as ações técnicas e de mobilização social em todo o Estado. Ele será composto por uma coordenação executiva e por quatro subcomitês: vigilância em saúde e assistência, saúde animal e ambiental, laboratório e comunicação social e educação em saúde.

O diagnóstico da doença em países da Ásia e Europa já fez a produção da indústria avícola gaúcha ter uma diminuição de 10 a 15%, segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Salle, da UFRGS, ressalta que os países importadores não devem temer a carne que vem do Brasil, porque o processo de criação e comercialização de aves é bastante diferente daquele dos países asiáticos, onde foram encontrados casos da gripe aviária. “Aqui, ao contrário de lá, as aves industriais, frangos de corte e poedeiras comerciais são criados com o menor contato possível com os seres humanos, e a população brasileira adquire o produto já industrializado e não in natura. A carne de frango e os ovos são submetidos à inspeção veterinária federal, estadual e municipal antes de serem oferecidos ao mercado”, explica o professor da UFRGS.

Vacina O Instituto Butantan, em São Paulo, já começou as pesquisas para produzir as vacinas contra o vírus H5N1. Até o final do ano, a estimativa é que o país conte com 20 mil doses. Entre julho e agosto, ela começará a ser testada em humanos.

Os sintomas da gripe aviária são: mal-estar, tosse, garganta inflamada e febre. O vírus é mortal para as aves. Até agora, foram registrados casos de contaminação entre animais e de animais para humanos, mas ainda não foi diagnosticada nenhuma mutação do vírus que permita sua transmissão entre humanos. Segundo a OMS, 184 pessoas já foram contaminadas pela doença desde 2003, sendo que 103 dessas morreram.