Esquizofrenia limita entendimento de linguagem corporal

Compreender o significado de um movimento do corpo ou de uma postura frente a determinada situação é fácil para muitas pessoas. Mas pesquisas norte-americanas dão indícios de que pacientes que sofrem de esquizofrenia não têm a mesma capacidade de percepção social que aqueles que não têm a doença.

Compreender o significado de um movimento do corpo ou de uma postura frente a determinada situação é fácil para muitas pessoas. Mas pesquisas norte-americanas dão indícios de que pacientes que sofrem de esquizofrenia não têm a mesma capacidade de percepção social que aqueles que não têm a doença. Mesmo em níveis moderados ou tratados com remédios, esquizofrênicos não têm “fluência” na linguagem corporal, de acordo com pesquisadores da Universidade de Iowa.

O grupo formado por Nirav Bigelow, Sergio Paradiso e Nancy Andreasen, em artigo publicado na Schizophrenia Research de abril deste ano, mostrou, através de testes com vídeos, que indivíduos com a doença não conseguem diferenciar satisfatoriamente movimentos de alegria e tristeza, por exemplo.

Segundo Mario Rodrigues Louzã Neto, médico assistente e coordenador do Projeto Esquizofrenia (PROJESQ) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP, trata-se de um novo trabalho na direção do que já se conhece. Estudos prévios feitos por Paradiso e Andreasen – ambos professores de psiquiatria – já mostravam que pacientes com esquizofrenia têm problema em decifrar expressões faciais.

Para o professor brasileiro, o artigo tem importância porque aprofunda o conhecimento de onde residem essas falhas. “Existem casos de pacientes que não olham nos pontos essenciais, como nos olhos e na boca, para decodificar estado emocional de uma face”, exemplifica. “Como os códigos sociais são muito complexos, para criar meios de superar ou contornar essas falhas, é necessário que se entenda como elas ocorrem”, explica Mario Louzã.

O estudo norte-americano incluiu 14 pessoas sem esquizofrenia e 20 com esquizofrenia que estavam tomando remédio e tinham suaves sintomas moderados. Em um dos testes, participantes assistiram um vídeo de corpos humanos em movimento. As imagens eram manipuladas de um modo que as características faciais ou o formato dos corpos não podiam ser vistos. Ao invés disso, somente pontos de luz, atados às juntas, eram visíveis quando se moviam. Baseados na velocidade e no padrão dos pontos de luz, indivíduos com esquizofrenia e voluntários saudáveis foram levados a determinar se o movimento descrevia alegria ou tristeza. O estudo mostrou que indivíduos com esquizofrenia não podiam decifrar essas emoções.

Participantes do estudo também viram clipes com conteúdo de cenas complexas de situações sociais em que o rosto dos atores eram apagados. Os participantes assistiram, depois, as mesmas cenas com as faces. Pessoas com esquizofrenia não melhoraram suas performances pois, mesmo com as faces descobertas, não identificaram totalmente o humor das pessoas em cena.

O estudo aponta que o tratamento padrão para esquizofrenia não parece ser capaz de melhorar a percepção que ajuda a sociabilidade com os outros. A disfunção também não parece ter relação com o nível de inteligência. O próximo passo a ser dado pelos pesquisadores da Universidade de Iowa é examinar mais de perto como a medicação usada para tratar esquizofrenia afeta a percepção social e se diferentes medicações teriam diferentes efeitos. De acordo com Mario Louzã, hoje os medicamentos são mais eficazes e têm menos efeitos colaterais que os mais antigos – que causavam muitos tremores nos pacientes.

Além da medicação, o tratamento da esquizofrenia pode ser feito com reabilitação, através de terapias. Louzã cita o chamado social skill training, utilizado desde a década passada, em que mostram-se vídeos explicando a maneira de agir dos atores e os esquizofrênicos aprendem a identificar emoções e lidar com situações corriqueiras, banais para a maioria das pessoas.

Irradiação de alimentos é tema antigo, mas ainda controverso

O físico Alexandre Soares Leal, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), aponta benefícios da irradiação dos alimentos e atribui o receio que a população tem de consumir esses alimentos à constituição de um “imaginário negativo” ligado à questão nuclear. Já a ONG Public Citizen Brasil enumera vários perigos e problemas e questiona os benefícios da ampliação do uso dessa tecnologia no país.

A irradiação de alimentos é um tema controverso. O físico Alexandre Soares Leal, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), aponta vários benefícios dessa tecnologia e atribui o receio que a população tem de consumir alimentos irradiados à constituição de um “imaginário negativo” ligado à questão nuclear. Já os membros da ONG Public Citizen Brasil alertam para os possíveis perigos decorrentes do uso da radiação nos alimentos e questionam os benefícios da ampliação do uso dessa tecnologia no país.

“Se você perguntar ’você comeria alimentos irradiados?’, a resposta invariavelmente será ’não’”, diz o físico Alexandre Soares Leal. A não aceitação por parte das pessoas decorre, entre outros fatores, da relação que se faz entre irradiação e radioatividade. Segundo ele, a contaminação radioativa pressupõe o contato físico com uma fonte radioativa, enquanto a irradiação é a energia emitida de uma fonte de radiação. Desta forma, os alimentos irradiados não se tornam radioativos, pois não contêm a fonte de radiação (apenas recebem a energia).

“Além do preconceito generalizado e da terminologia confusa – na França, por exemplo, a irradiação é chamada de ionização, para não ser confundida com radioatividade -, existem outros fatores que atrapalham a aceitação dos alimentos irradiados. Um deles é a ausência de informações sobre energia nuclear no Ensino Básico e Fundamental, ou mesmo no superior”, diz Leal, completando que, mesmo nos cursos universitários em que se pressupõe certo conhecimento do assunto (como os que usam técnicas de raio-X, por exemplo), os conceitos são frágeis e a diferenciação entre os termos, precária. “Outro problema é que a mídia, quanto trata o assunto, busca apenas o sensacional”, afirma.

O processo de irradiação consiste em submeter os alimentos, já embalados ou a granel, a uma quantidade controlada de radiações ionizantes (alfa, beta, gama, raios X e nêutrons), por um tempo prefixado. “É importante conhecer bem a dose e o tempo de exposição à radiação, os quais variam de acordo com o tipo de alimento”, ressalta a agrônoma Lucimeire Pilon, que faz doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) sob orientação de professores do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). Consegue-se, desta forma, retardar a maturação de frutas e legumes, inibir o brotamento de bulbos e tubérculos, eliminar ou reduzir a presença de parasitas, fungos, bactérias e leveduras, aumentando a vida útil dos alimentos e auxiliando na sua distribuição e comercialização.

Como nos demais métodos de conservação de alimentos (pasteurização, congelamento, etc), a irradiação ocasiona perdas de macro e micronutrientes, bem como variações na cor, sabor, textura e odor. Mas as alterações químicas provocadas nos alimentos são mínimas e nenhuma delas nociva ou perigosa, segundo o Cena/USP.

Já a organização não-governamental Public Citizen Brasil se posiciona como uma das críticas desta tecnologia e enumera vários problemas que podem decorrer da irradiação: desde a perda de vitaminas, que se intensificaria com o maior tempo de estocagem; passando pela possibilidade de serem produzidos novos compostos nos alimentos, associados entre outras coisas a câncer e a alterações genéticas em células humanas e de ratos; até o questionamento das instalações utilizadas devido ao risco de ocorrerem vazamentos e acidentes radioativos. A ONG afirma ainda que a tecnologia de irradiação beneficiará apenas os grandes agricultores de exportação, dificultando ainda mais a entrada dos pequenos agricultores no mercado externo.

Produtos no dia-a-dia sem rotulagem

Vários produtos irradiados, sobretudo especiarias, estão presentes no nosso dia-a-dia. Segundo Lucimeire Pilon, um exemplo são as especiarias usadas nos salgadinhos industrializados, tipo fandangos e batatinha frita. Contudo, poucas empresas informam no rótulo o uso desse procedimento.

Alexandre Soares Leal concorda: “No Brasil, é mais provável que existam ingredientes irradiados do que o alimento irradiado em si”. Para ele, as especiarias apresentam grande potencial de contaminação por microorganismos, sendo que muitas indústrias utilizam especiarias irradiadas sem identifica-las na embalagem. “Quem usa ingredientes irradiados faz isso porque acredita ser a melhor opção, mas não divulga porque teme a reação do mercado”, opina.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige que, na rotulagem dos alimentos irradiados, conste no painel principal a inscrição “alimento tratado por processo de irradiação”. Quando um produto irradiado é utilizado como ingrediente em outro alimento, esta informação deve ser apresentada na lista de ingredientes. A Anvisa estabelece que, no Brasil, os alimentos podem ser tratados por radiação desde que a dose mínima absorvida seja suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a dose máxima seja inferior à que comprometeria as propriedades funcionais e os atributos sensoriais do alimento. Organismos internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organizaão para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) também são favoráveis à técnica de irradiação de alimentos, autorizada em diversos países do mundo.

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Public Citizen Brasil

Cena/USP

Quadrinhos retratam a história dos judeus em Pernambuco

O álbum em quadrinhos Passos Perdidos, História Desenhada, fruto do livro da historiadora Tânia Kaufman, conta a trajetória dos judeus em Pernambuco e se destina ao público das escolas. A obra é um instrumento paradidático que, de forma lúdica, resgata um dos pontos importantes da cultura desse estado.

A trajetória da chegada dos judeus em Pernambuco, um marco importante na cultura deste estado, está mais acessível ao público infantil e jovem: o livro Passos Perdidos, História Recuperada: A Presença Judaica em Pernambuco , lançado em 2000, fruto da tese de doutorado da historiadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Kaufman, se transformou em um álbum de 71 páginas com histórias em quadrinhos.

A iniciativa é do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco (AHJPE) e contou com o apoio do governo do estado. A direção de arte e quadrinização ficaram nas mãos do sociólogo e também professor da UFPE, Amaro Braga. Este é o primeiro de uma coleção de cinco volumes. “O conteúdo desenvolvido na edição deste primeiro volume movimenta os personagens através da narrativa de uma avó que, seguindo a tradição judaica, tenta transmitir para os netos a história da comunidade que se instalou em Pernambuco nos primeiros anos do século XX”, explica Kaufman.

A historiadora conta que a intenção era levar o conteúdo do livro para um novo público, o das escolas. “Vislumbramos a necessidade de criar instrumentos paradidáticos para, de forma lúdica, levar informações sobre a cultura judaica a este novo segmento”.

No álbum, é possível conhecer como foi a chegada dos judeus, as tradições mantidas até hoje, como se deu a forma de integração com a população local (muitas vezes, por meio do comércio ambulante), o nascimento das lojas e as relações interpessoais dentro da comunidade judaica e com o resto da sociedade.

As imagens desenhadas, além de revelar os costumes judaicos, resgatam o histórico urbanístico de Pernambuco. Os desenhos foram feitos a partir de fotografias da época, tiradas em bairros onde os judeus viveram.

Na tese de Kaufman, ela salienta que quando os judeus encararam as migrações como um destino definitivo, tiveram maior disposição para mudanças individuais e coletivas, o que os fez reelaborar os limites entre o espaço do lar e o espaço público para as práticas religiosas. A construção do brasileiro judeu acabou se sobrepondo a do judeu brasileiro.

O obra em quadrinhos terá distribuição gratuita nas escolas públicas municipais do estado e será encaminhada para as secretarias de educação de Pernambuco, para bibliotecas e universidades públicas dos outros estados. A historiadora pretende fazer uma exposição do álbum em São Paulo no segundo semestre.

Primeira sinagoga das Américas

A constituição da primeira comunidade judaica em Pernambuco aconteceu no século XVI e ganhou força no período da dominação holandesa, durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1644), quando houve certa liberdade religiosa em meio ao predomínio católico no país. Em 1640, os judeus construíram a primeira sinagoga das Américas em Recife, a Kahal Zur Israel. Com a rendição holandesa, eles tiveram que deixar a cidade e a sinagoga foi demolida. Ela foi reconstruída recentemente e reaberta em 2001 como museu de cultura judaica e sede do AHJPE.