Novos conceitos para sistemas de informação ajudam estrutura de empresas

Como fazer com que o fluxo de informações dentro de uma organização seja bem aproveitado? Segundo a pesquisadora Cecília Baranauskas, da Unicamp, é preciso pensar na organização como um sistema de informações que pode ser afetado pela comunicação. Ela faz parte de um grupo de pesquisadores que propõe o desenvolvimento de sistemas computacionais através da disciplina Semiótica Organizacional.

Cada vez mais empresas requerem que seus funcionários conheçam além do necessário para exercer suas funções e entendam tarefas relacionadas a elas. Pede-se também, com freqüência, que o funcionário colabore com idéias e sugestões para a melhoria dos sistemas produtivos da empresa. Nesse cenário, a comunicação torna-se fundamental para a construção do conhecimento na organização. Mas como fazer com que esse fluxo de informação seja bem aproveitado?

Segundo a pesquisadora Cecília Baranauskas, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é preciso pensar na organização como um sistema de informações, que pode ser afetado pela comunicação e pela interpretação das pessoas. “A prática e os procedimentos de trabalho fazem parte desse sistema, assim como a cultura da organização e os sistemas técnicos que as pessoas usam para fazer o trabalho também”, explica. Baranauskas faz parte de um grupo de pesquisadores que propõe o desenvolvimento de sistemas computacionais através da disciplina Semiótica Organizacional.

Segundo ela, dentro da Semiótica Organizacional, a informação é entendida em três camadas: na camada mais externa, há os níveis informais de comunicação. “Como as conversas de corredor durante o cafezinho”, exemplifica a pesquisadora. Na camada intermediária há os níveis formais da informação, como os procedimentos dentro de uma empresa: a gestão do material, e as normas de segurança, entre outros. Já na camada mais interna, há os sistemas técnicos da organização, como os sistemas computacionais. “É um entendimento da organização de fora para dentro”, completa Baranauskas.

A partir desse entendimento, o grupo de pesquisadores parte para a criação de projetos computacionais que farão parte do sistema de produção ou mesmo da comunicação entre os pares na organização. Baranauskas argumenta que como o produto final tem diferentes partes interessadas, os designers de interface deveriam adotar uma postura sensível a estas diferenças e oferecer um espaço de participação flexível que viabilizasse a colaboração de cada usuário, sem discriminação. “Tudo passa pela interface. Nós vivemos em sociedade e a tecnologia media nossas ações”, justifica.

​_​_Conferência Internacional

Pesquisadores de todo o mundo virão ao Brasil no próximo mês para discutir, durante a Conferência Internacional de Semiótica Organizacional, (Icos 2006), os fundamentos dessa disciplina. O evento acontecerá entre os dias 5 e 7 de julho, na Unicamp. Cecília Baranauskas, que faz parte da organização, diz que serão discutidos não só aspectos teóricos, mas também os benefícios práticos da teoria aplicada, com a apresentação de casos nas diversas áreas de aplicação.

Um dos trabalhos apresentará o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas numa indústria de papel a partir dos conceitos da Semiótica Organizacional. Outro abordará um guia para uma arquitetura de governança eletrônica, orientada para o serviço. Segundo a pesquisadora da Unicamp, essa é uma grande oportunidade de se difundir os conceitos da disciplina não só no país, como na América Latina. “Esta é a primeira vez que a Conferência vêm a um país em desenvolvimento”, explica.

A física explica amplitude dos sentidos

A amplitude na percepção de sentidos tem sido um mistério da psicofísica por mais de um século. Em artigo publicado este mês, os físicos brasileiros Osame Kinouchi e Mauro Copelli propõem uma explicação: o segredo estaria na interação entre as células sensoriais, e não nas propriedades de cada uma.

O vento que passa pelas folhas da árvore e o foguete que o vizinho estoura quando seu time faz gol; o vulto que se entrevê no quarto escuro e o passarinho no céu ensolarado… Somos capazes de detectar sensações com diversas ordens de magnitude. Este fato é tão integrado no nosso dia-a-dia que poucas pessoas o questionam. A verdade é que se trata de um dos grandes mistérios da psicofísica, que perdura há mais de 100 anos. Finalmente, através de um modelo computacional, os físicos Osame Kinouchi e Mauro Copelli acreditam ter desvendado a charada.

A amplitude de sensibilidade é intrigante porque cada neurônio – células que recebem e transmitem estímulos sensoriais – só é sensível a uma faixa muito estreita de variação em intensidade. Por isso a psicofísica, disciplina que estuda como um organismo usa seus sistemas sensoriais para detectar eventos em seu meio, busca compreender essa amplitude, ou intervalo dinâmico. De acordo com Kinouchi, do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), e Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a resposta está na interação entre os neurônios e não em sua capacidade individual. Os resultados de sua pesquisa foram publicados este mês na revista científica Nature Physics (vol.2, pp. 348-352).

A pesquisa feita pela dupla de físicos é completamente teórica e se apoiou em simulações feitas em um computador de uso pessoal. O uso de modelos matemáticos para explicar fenômenos biológicos costuma ser visto com desconfiança por quem não é da área, mas são ferramentas que permitem o estudo de assuntos extremamente complexos, como o clima, organismos vivos, fenômenos populacionais ou mesmo a mente humana. Kinouchi e Copelli fizeram uma representação teórica de uma rede de elementos excitáveis, que corresponderiam aos neurônios. A simulação envolve o conhecimento sobre a relação entre os elementos, por exemplo, quando um deles é estimulado, quantos outros recebem a informação? Várias opções foram então investigadas pela simulação em computador, até ser identificada aquela que apresenta resultados semelhantes ao que se observa na realidade.

Ponto crítico

O segredo parece ser que uma rede de neurônios tem que operar próxima a uma transição de fase, ou criticalidade. Isso quer dizer, no caso dos neurônios, que uma célula estimulada deve transmitir a informação a por volta de uma outra célula. Às vezes menos, às vezes mais, mas em média não deve fugir muito dessa unidade. Um sistema chamado subcrítico tem uma razão entre atividade futura e prévia menor do que um. Ou seja, a atividade no tempo inicial é maior do que num momento futuro. Esses casos apresentariam pouca sensibilidade a estímulos fracos. Por outro lado, um sistema supercrítico causaria a saturação dos neurônios, que não seriam capazes de diferenciar as sensações fracas das fortes. O sistema no ponto de criticalidade permite que estímulos de intensidades muito diversas sejam registrados.

A ligação elétrica entre as células do sistema nervoso depende de uma substância chamada conexina. Um grupo de pesquisadores norte-americanos pesquisou a sensibilidade visual de ratos com deficiência na produção de conexina-36. Os resultados, publicados em 2002, mostram que a conexina é essencial para a visão de mamíferos. O efeito detectado nesses experimentos é coerente com o modelo de Kinouchi e Copelli. Para que ele seja validado, será necessário esperar resultados de mais pesquisa sobre o papel da comunicação elétrica entre neurônios nos sentidos de animais.

O princípio elucidado pelos físicos brasileiros pode ser usado para desenvolver sensores artificiais baratos com ampla sensibilidade. Embora estejam trabalhando em patentear essa aplicação, os autores ressaltam que não é a inovação que os motiva. Ao contrário, o que eles procuram é “entender melhor um problema básico da relação mente-cérebro, o modo de funcionamento de sistemas sensoriais biológicos e a possível função de sinapses elétricas no cérebro”.

Compreender como funciona o sistema sensorial tem grande importância, como ressalta o comentário sobre o artigo de Kinouchi e Copelli publicado na própria Nature Physics. Afinal, a sobrevivência de qualquer animal depende, em grande parte, da sua capacidade de ver, ouvir, tocar, sentir cheiros e gostos.

Proteção da natureza e seu estudo não precisam ser antagônicos

Na tentativa de assegurar a soberania nacional da biodiversidade, a Lei dos Crimes Ambientais criou entraves ao avanço do conhecimento biológico. O governo reconhece o problema, e iniciou diálogo com a comunidade científica para que o acesso aos recursos biológicos leve em conta as necessidades da prática científica.

Em 1998 foi formulada a Lei de Crimes Ambientais com o objetivo de reforçar a vigilância da biodiversidade brasileira, alvo da pirataria de organismos e substâncias de valor econômico. Na prática, no entanto, a legislação tem resultado em grande incômodo na prática científica, pois não diferencia o pesquisador de um biopirata e impõe obstáculos burocráticos (ver notícia na ComCiência). Uma nova proposta de regulamentação está sendo elaborada em conjunto com a comunidade científica, através do Comitê Técnico Assessor do Sistema de Informação em Biodiversidade, instituído este ano por decreto presidencial. O intuito é que o projeto de lei simplifique o processo de licenças para cientistas.

Hoje, para ter acesso ao material genético ou substâncias sintetizadas pelo organismo além de licença de coleta, o cientista precisa obter autorização à parte, dentro do mesmo processo administrado pelo Ibama. As amostras devem ser depositadas em instituições cadastradas como fiéis depositárias no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen). É preciso, no entanto, que o pesquisador comprove que a instituição é pública conforme a lei, que exerce pesquisa científica, que possui infra-estrutura e pessoal adequados. Além disso, é preciso descrever a forma de conservação das amostras, indicar orçamento para manutenção das coleções e anexar cópia do ato que delega a competência do Representante Legal da instituição. Os formulários e instruções para solicitação de licença estão disponíveis no site do CGen.

As licenças para coleta de material biológico junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) devem ser feitas com pelo menos 60 dias antes do início previsto para o trabalho de pesquisa e dá o direito de coletar material biológico e armazená-lo em instituição de pesquisa. João Alexandrino, do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro, acredita que o processo de obtenção de licença é necessário e excessivo apenas em alguns detalhes, como ter que provar a validade da instituição de pesquisa. “Se a Unesp está cadastrada como instituição de pesquisa, isso não deveria ser necessário”, argumenta.

O entomólogo Olaf Mielke, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), reconhece a importância da legislação, mas acredita que “ela tem que ser exeqüível para poder ser cumprida”. Ele alerta para os danos que as dificuldades de coleta podem causar ao ensino. “Com uma legislação restritiva não vejo como continuar a ministrar aulas práticas nas universidades brasileiras; e só com aulas teóricas certamente não se atinge o objetivo programado”. O descompasso ocorre porque a lei vigente não faz distinção entre pesquisadores e comerciantes da fauna nativa, o que segundo Eduardo Vélez, diretor do Departamento do Patrimônio Genético (DPG) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), é um equívoco.

O endurecimento da legislação, diz o diretor do DPG, veio como resposta à biopirataria, que existe e é um grave problema. Mas ele reconhece que as regras não são adequadas à atividade científica, e, por isso, em breve um novo projeto de lei será apresentado ao congresso. Vélez ressalta que nunca antes houve um comitê permanente que permitisse à comunidade científica manter vigilância sobre o Patrimônio Genético do Ibama, o que mostra que o governo atual reconhece a necessidade desse diálogo.

Por outro lado, o projeto de lei 6794/06, proposto pelo deputado João Campos (PSDB-GO), propõe um endurecimento ainda maior, ao incluir a pesquisa científica na Lei de Crimes Ambientais. O artigo define como crime “coletar, transportar, guardar, entregar, obter, vender ou doar espécime da flora ou fauna nativas, parte ou produto dele ou substância dele derivada como princípio ativo, para fim comercial ou científico, sem a autorização do órgão competente ou em desacordo com a obtida”. A pena prevista é reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Eduardo Vélez vê problemas com essa proposta. “A crimininalização relacionada à coleta de biodiversidade é tema complexo, não se resolve de modo simplista”, avisa.

Legislação inadequada? Célio Haddad, do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, defende que o especialista é quem melhor pode prever o impacto da coleta sobre os organismos que estuda. Neste sentido, ele acredita que as exigências do Ibama são muitas vezes descabidas e, por isso, os pesquisadores deveriam ter mais liberdade de ação, que já é fiscalizada pelos conselhos profissionais – em seu caso, o Conselho Regional de Biologia e seu correspondente federal. “Deveria ser possível obter licença provisória com um projeto-piloto simplificado, e formalizar a autorização após a coleta”, sugere.

É esse o espírito do projeto de lei em elaboração pelo Ibama, que será apresentado entre o fim deste mês e o início de julho. Vélez explica que instituições que trabalham rotineiramente com material biológico teriam licença permanente para coleta (desde que fora de unidades de conservação e de espécies não ameaçadas) e intercâmbio com instituições similares no exterior. Pesquisadores em instituições reconhecidas também teriam licença permanente, e prestariam contas em relatórios anuais.

O Diretor do Patrimônio Genético ressalta que é importante manter canais de diálogo propositivo, que conduza a um consenso. Ele frisa, porém, que os pesquisadores têm que reconhecer que as leis devem ser cumpridas. O zoólogo da Universidade de São Paulo (USP) Miguel Trefaut Rodrigues defende que “não se trata de defender liberdade irrestrita ao trabalho do cientista, mas de encontrar, através do diálogo, o equilíbrio entre medidas de controle que não prejudiquem o desenvolvimento científico do país”. Talvez uma concordância entre pesquisadores, legisladores e fiscalizadores esteja a caminho.