Internet é ferramenta para cidadania, mas serve mais a autopromoção

O número de pessoas conectadas à internet aumenta no país e oferece cenário para os debates políticos a serem travados nas próximas eleições. Para o professor Francisco Marques da UFBA, a internet possibilita a discussão de temas públicos e pode ser usada para o aprofundamento de temas divulgados em rádio e televisão, mas ainda está muito mais relacionada com autopromoção do que com cidadania.

Com o crescimento no percentual de brasileiros que acessam a internet, que passou de 2,9%, em 2000, para 12,2%, em 2004, a rede mundial de computadores desperta o interesse e passa a ser cenário possível para o debate político neste ano. Em artigo publicado recentemente, o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Francisco Marques, debate a questão e argumenta que a internet possibilita a discussão de temas públicos. Para as próximas eleições, ele afirma que o meio eletrônico será usado para o aprofundamento de temas divulgados em rádio e televisão.

Segundo Marques, a internet é um espaço que permite que várias pessoas, antes sem espaço, consigam expor suas opiniões e defendam seus interesses. “A internet tem a capacidade de influenciar na discussão da coisa pública quando, por exemplo, permite que vozes e entidades antes marginalizadas se agreguem e dêem vazão aos seus argumentos”, diz.

No âmbito das próximas eleições, Marques acredita que a internet dará aos candidatos a chance de expor em detalhes aos eleitores seus programas de governo, de criticar adversários e ainda receber apoio ou sugestões para a futura administração. Para os eleitores que desejarem fazer propaganda dos candidatos com os quais simpatizam, a rede mundial de computadores facilitará a distribuição de material publicitário. Por meio da internet os eleitores poderão obter os materiais de campanha e redistribuí-los. Para o pesquisador, a internet também modificou efetivamente a dinâmica interna dos partidos, pois agiliza a circulação de informações entre os vários diretórios.

Quanto ao público que busca informações sobre política na internet, Marques avalia que quem freqüenta os websites são aqueles que na maioria das vezes interessam-se pelos temas políticos. Na opinião dele, as pessoas que são politicamente engajadas estão predispostas a cadastrarem-se para receber informativos do partido ao qual são simpáticos. Dessa forma, as mensagens encaminhadas aos eleitores serviriam como um “reforço das idéias e convicções já alicerçadas”.

O artigo de Franscisco Marques, Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil, aborda a temática política e a internet e foi publicado na revista Opinião Pública, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, edição de abril/maio.

Acesso no Brasil cresceu, mas está abaixo do percentual mundial

Segundo o último levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), Information Economy Report 2005, apenas 12 em cada 100 brasileiros têm acesso à internet o que totaliza cerca de 22 milhões de pessoas. O documento mostra que o Brasil está na décima colocação em número de internautas. No total existem mais de 875,6 milhões de pessoas conectadas à rede mundial de computadores no mundo.

Os dados da ONU mostram que o crescimento da internet no Brasil nos últimos anos tem sido tímidos. Mesmo com a elevação do percentual de 2,9%, em 2000, para 12,2%, em 2004, o país ainda se mantém abaixo da taxa mundial de acessos.

Questionado sobre a real dimensão da internet para o resgate da cidadania, o pesquisador ressalta que o acesso de poucos brasileiros à internet é um problema grave. Todavia, Marques compara que “não é possível esperar que todos os cidadãos do país sejam alfabetizados para, só aí, desenvolver pesquisa de ponta e investir em universidades.” Ele destaca ainda que a internet se expandiu em poucos anos, quando comparada a outras tecnologias de comunicação como base.

O pesquisador acredita, que “as esperanças de democracia digital tendem a crescer se o acesso a estas tecnologias for incrementado”. Ele analisa, entretanto que, no que se refere à política instituicional, a internet no Brasil está sendo usada mais como meio de autopromoção do que uma real ferramenta de comunicação que diminua a distância entre cidadãos e governantes.

Superinteressante muda linguagem para atrair leitores

Escrever ou reescrever? Formular um novo discurso ou reformular um discurso já existente? Essas são algumas das muitas perguntas que os jornalistas que escrevem sobre ciência se fazem todos os dias. Esclarecendo parte dessas dúvidas com a dissertação Gêneros do discurso, ciência e jornalismo: o tema da saúde em reportagens de capa da ’Superinteressante’, a pesquisadora Ariadne Mattos Olimpio debate elementos importantes para o jornalismo científico.

Escrever ou reescrever? Formular um novo discurso ou reformular um discurso já existente? Essas são algumas das muitas perguntas que os jornalistas que escrevem sobre ciência se fazem todos os dias. Esclarecendo parte dessas dúvidas com a dissertação Gêneros do discurso, ciência e jornalismo: o tema da saúde em reportagens de capa da ’Superinteressante’, a pesquisadora Ariadne Mattos Olimpio debate elementos importantes para o jornalismo científico. A dissertação foi defendida em junho, no Departamento de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo (USP).

A pesquisadora analisou as reportagens de capa sobre saúde da revista Superinteressante em três períodos distintos: 1988 e 1989; 1995 e 1997; e 2002 e 2003 sempre sob a ótica da análise do discurso. Segundo Olimpio, a escolha dessa publicação deveu-se ao fato de ser um veículo comercial, com uma tiragem grande (mais de 400 mil/mês) e certa tradição dentro do jornalismo científico. Já a opção pelo tema saúde relaciona-se com o interesse que desperta nos leitores. “Isso ocorre porque geralmente as notícias sobre saúde não só informam, mas também orientam o comportamento do leitor já que dão dicas sobre cura e prevenção de doenças”, diz.

Para analisar o texto da revista nos três períodos, a pesquisadora recorreu ao Círculo de Bakhtin. Usando conceitos como dialogismo, gêneros do discurso e polifonia, Bakhtin considera o diálogo a essência da linguagem. De acordo com ele, a linguagem constrói-se não somente com o interlocutor direto, mas também com os indiretos. Nesse sentido, quem fala também está dialogando com o que já foi dito em lugares e tempos diferentes. Desse modo, os sentidos dos enunciados sempre são construídos no diálogo.

Olimpio percebeu diferenças consideráveis no diálogo proposto pela revista Superinteressante nos três períodos analisados, principalmente no que diz respeito à forma de atrair o leitor. Segundo ela, no primeiro período os títulos foram mais impessoais e existiam poucas marcas dialógicas (formas de criar identidade com o leitor). Já no segundo período, palavras como “você” passaram a ser usadas com freqüência, característica acentuada no último período. “Essa foi uma das formas de criar uma identificação direta com o leitor”, diz a pesquisadora.

A mudança temática é outra forma de mudar o diálogo com o leitor. De acordo com Olimpio, o primeiro período foi marcado por notícias que tratavam da cura de doenças, já no último, o tema preferido é a prevenção, e por isso as notícias deixam de ser somente informativas, passando a orientar também o comportamento do leitor. “Há nesse aspecto, uma grande mudança no diálogo entre a revista e seu leitor”, afirma

Essas alterações são visíveis também nas fotos e ilustrações. De rebuscadas e bem elaboradas, as imagens tornaram-se mais simples e ligadas ao cotidiano. Por exemplo, no terceiro período é comum a presença de imagens de pessoas fazendo atividades triviais, como correr. “Assim, as fotos representam atividades que são recorrentes no universo do leitor”, diz Olimpio.

Apesar das diferenças, também há muitas semelhanças. A principal é a manutenção dos cientistas como principais fontes de informação. “Mais do que isso, o discurso científico é predominante em todos os períodos analisados”, diz a pesquisadora. Mas mesmo que as fontes se mantenham, a forma de transmitir a informação se transformou, de acordo com Olimpio. “Antes o discurso científico trazia explicações, no último período traz conselhos para a vida prática do leitor”, diz. Olimpio ainda observa que com o passar do tempo a Superinteressante passou a buscar cada vez mais fontes de fora do Brasil.

A forma de citar o discurso da ciência também foi parecido. A forma utilizada é o discurso direto preparado, que cria um certo distanciamento com a fonte. Essa forma caracteriza-se pelo uso de aspas com frases ditas pelo cientista.

Outra forma de criar identidade com o leitor, é antecipar perguntas que o público pode fazer. Essas perguntas tornam o texto mais didático e mais atraente. “Essa também é uma característica encontrada de forma mais acentuada no último período analisado”, afirma a pesquisadora.

Respondendo a pergunta inicial desse texto, Olimpio considera o jornalismo científico uma formulação de um novo discurso com suas peculiaridades próprias. “Não é uma simples reformulação de discurso (do científico para o jornalístico), mas sim a produção de um novo enunciado”, diz.

ComCiência supera os 700 mil acessos em maio

Às vésperas de completar sete anos, o número de visitas à revista ComCiência vem aumentando vertiginosamente e, em apenas dois anos, a revista passou de 300 mil para mais de 730 mil acessos mensais em seus documentos, conforme último levantamento em maio de 2006. Todos os textos já publicados estão disponíveis para acesso.

Às vésperas de completar sete anos, o número de visitas à revista ComCiência vem aumentando vertiginosamente e, em apenas dois anos, a revista passou de 300 mil para mais de 730 mil acessos mensais em seus documentos, conforme último levantamento em maio de 2006. Todos os textos já publicados estão disponíveis para acesso, e neste último mês, os textos mais lidos foram “A esperança celular”, do diretor de redação da ComCiência, Carlos Vogt, “História do petróleo no Brasil”, da bióloga Germana Barata e “O petróleo e a agressão ao meio ambiente”, do jornalista Guto Paschoal.

Fonte: Locaweb

Há alguns anos, devido ao significativo aumento do número e do impacto internacional de pesquisas científicas realizadas pelas instituições de ensino superior e centros tecnológicos de nosso país, como o Laboratório Nacional de Luz Síncroton e a Embrapa, vem se tornando necessária a melhora na divulgação das descobertas científicas realizadas, para que as informações sobre elas sejam aproveitadas por todos os seguimentos de nossa sociedade em um menor espaço de tempo, o que tem feito crescer cada vez mais o campo da divulgação científica.

Duas iniciativas pioneiras que estão dando seus frutos no crescimento desse campo foram a criação do curso de especialização em jornalismo científico da Unicamp, em 1999, e do programa Mídia-Ciência, da Fapesp. Através dessas iniciativas, surge naquele mesmo ano a revista eletrônica ComCiência , comparada, já em 2004, por Wilson Bueno, estudioso da divulgação científica no Brasil, às tradicionais Ciência Hoje e Revista Pesquisa Fapesp. Com equipe de reportagem oriunda do curso de especialização em jornalismo científico da Unicamp, entre jornalistas, biólogos, lingüistas e cientistas sociais, a ComCiência buscou aprimorar-se ao longo dos anos no segmento de divulgação científica, e hoje ocupa, inclusive, um importante papel como fonte de pesquisa para docentes, pesquisadores, universitários e, devido aos textos acessíveis e à fácil leitura, a alunos do ensino médio e a pessoas interessadas em ciência de um modo geral.

Abordando temas variados como drogas, processos migratórios e nanotecnologia, a revista possui hoje, disponível para consulta 11 reportagens especiais e 77 edições, que englobam resenhas, entrevistas, reportagens e artigos de pesquisadores de diversas instituições. As edições mais procuradas, “Petróleo” (dezembro de 2002), “Células-tronco” (fevereiro de 2004) e “Brasil Negro” (novembro de 2003), ganham destaque, tendo em vista a atualidade desses temas e sua evidência na mídia.

Quanto a processos recentes de arquitetura da informação, a ComCiência passou por uma reformulação em seu layout, permitindo dessa forma uma melhor navegabilidade aos leitores. Outra preocupação da linha editorial da revista é manter o acesso livre, gratuito e sem vínculos comerciais, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.