Argila é utilizada para remover resíduos poluentes

Pensando na inovação de pequenas e médias empresas relacionada com a retirada de resíduos da indústria têxtil (corantes, metais pesados e materiais sólidos), a pesquisadora da Unicamp, Meuris Gurgel Carlos da Silva, desenvolve projeto piloto que utiliza argila para remover corantes que sobram dos processos das lavanderias. “O país não deve parar a indústria para que o meio ambiente seja conservado, mas buscar o equilíbrio entre o atendimento da necessidade humana e a preservação ambiental”, afirma.

O processo de tingimento de vestuários como o popular jeans produz resíduos, entre os quais metais pesados e corantes que são poluentes. Pensando na inovação de pequenas e médias empresas relacionada à questão ambiental, a pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, Meuris Gurgel Carlos da Silva, desenvolveu uma técnica que remove cerca de 90% de corante utilizando a argila como absorvente (que retém de substâncias como metais pesados). “O país não deve parar a indústria para que o meio ambiente seja conservado, mas buscar o equilíbrio entre o atendimento da necessidade humana e a preservação ambiental”, afirma.

A retirada simultânea de corantes e metais pesados está sendo analisada em projeto piloto desenvolvido em lavanderias de jeans na cidade de Toritama (região agreste de Pernambuco). Ainda não se sabe a quantidade de retenção desses materiais na argila, mas a pesquisadora afirma que em outros projetos, ela pôde verificar que a argila tem capacidade de retenção de até 90% de metais pesados como cádmio, níquel, zinco, cromo, chumbo e cobre.

Após o tratamento dos efluentes, a idéia é aproveitar a argila na construção civil. A engenheira esclarece que “há um limite legal aceitável para que o material seja empregado na fabricação de telhas e não cause danos à saúde”, já que o material conterá corantes. O aproveitamento da argila no tratamento de efluentes das indústrias de jeans foi considerada por ser um material residual da extração de gipsita (gesso), abundante (no Araripe) na região do Araripe (sertão de PE), região vizinha de Torirama, com reservas estimadas em 1,2 bilhão de toneladas do mineral, que representa 40% das reservas do mundo.

A escolha da região nordeste se deve também à carência de técnicas que tragam inovações para pequenas e médias indústrias. Toritama é conhecida como a capital do jeans, com aproximadamente 900 empresas de confecção e outras 56 que realizam os processos de lavagem, amaciagem, tingimento e descoloração do tecido. Há seis anos, os efluentes eram despejados sem tratamento no Capibaribe, rio que abastece 11 municípios do estado. Além disso, a região possui pouca disponibilidade hídrica para processos industriais como as lavanderias. Para enfrentar esses problemas, “a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Pernambuco (CPRH) realizou um trabalho para que as empresas não fossem fechadas, pois apesar de pequena (22 mil habitantes), a cidade fornece 14% do jeans do Brasil e a maioria da população vive em função da atividade têxtil”, explica Geraldo Miranda Cavalcanti, Diretor de Controle Ambiental da CPRH.

Para minimizar a poluição causada pela indústria têxtil a Agência pressionou as lavanderias para que adotassem medidas que minimizassem os danos ao meio ambiente e à saúde. Para tanto, algumas empresas optaram por corantes não metálicos, que não produzem efluentes tóxicos de classe I (os que provocam riscos à saúde pública e ao meio ambiente). Embora a CPRH afirme que a aderência das empresas é grande, não existe estimativa sobre a quantidade dos que empregam esse tipo de corante.

Meio ambiente A regulamentação das lavanderias de Toritama teve início em 2000 e o levantamento global de resíduos e efluentes está em fase de produção. O termo de ajustamento de conduta das empresas em relação às leis ambientais variou de acordo com o tamanho da indústria, com prazos que se estenderam até o ano passado, quando a Agência Estadual passou a fazer visitas periódicas para fiscalizar o procedimento das empresas. Segundo Cavalcanti, apesar da aplicação de multas e a ameaça de fechamento das lavanderias, há casos de empresários que querem cortar gastos e procuram cuidar dos efluentes apenas quando desconfiam da visita dos fiscais.

Embora não inclua os efluentes das lavanderias de Toritama, o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Industriais de Pernambuco (2003) aponta que restos de materiais têxteis contaminados ou não com produtos perigosos respondem por 0,37% do total de resíduos do Estado.

Silva afirma que as indústrias química, petroquímica, têxtil, de papel e celulose, pesticidas, tintas e medicamentos são os setores que se caracterizam por apresentar potencial poluidor significativo. Dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) quantificam que a região metropolitana de São Paulo, maior parque industrial do país, gera anualmente 2,5 milhões de toneladas de resíduos industriais e, desse valor, 188 mil toneladas são consideradas de classe I, das quais quase a metade (44%) é depositada de forma inadequada. O restante fica estocado ou recebe algum tratamento, sendo a incineração o mais comum.

Brasil é pioneiro no uso de um novo tipo de aparelho de absorção atômica

A Unesp de Araraquara começou a utilizar um novo aparelho que determina a maioria dos elementos da tabela periódica de diferentes amostras. Esse é o primeiro equipamento de espectrometria de absorção atômica de alta resolução e com fonte contínua que passa a ser usado nas Américas. Com ele, é possível determinar elementos tóxicos ou aqueles essenciais à saúde em água, sangue, plantas e alimentos.

O Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara, no interior de São Paulo, começou a utilizar um novo aparelho que determina a maioria dos elementos da tabela periódica de diferentes amostras. Esse é o primeiro equipamento de espectrometria de absorção atômica de alta resolução e com fonte contínua que passa a ser usado nas Américas. Existe uma unidade do equipamento operando no Japão e algumas na Europa.

Com este aparelho, é possível determinar elementos tóxicos ou aqueles essenciais à saúde em água, sangue, plantas, alimentos, etc. As análises também poderão ser aplicadas no controle de qualidade de produtos, como metais e petróleo e na determinação de poluentes no meio ambiente. “É possível analisar qualquer tipo de amostra, de rocha lunar até cabelo, desde que o foco seja determinar elementos da tabela periódica”, conta José Anchieta, do Departamento de Química Analítica do IQ. Porém, todas as amostras precisam estar naquilo que os químicos chamam de “solução”, ou seja, no estado líquido, para serem analisadas.

“Podemos determinar cada vez menos de alguma amostra”, enfatiza Anchieta sobre o diferencial deste espectrômetro em relação aos equipamentos mais antigos. Com ele, os pesquisadores poderão analisar elementos em quantidades bem mais baixas, ou seja, em concentrações mínimas, já que a sensibilidade do aparelho é bem maior e o detector é de alta resolução. Além disso, o equipamento utiliza apenas um único tipo de lâmpada (chamada de “arco curto de xenônio”), que emite todos os comprimentos de onda responsáveis por determinar os elementos da tabela periódica. Na técnica de absorção atômica convencional, com equipamentos mais antigos, era necessário utilizar lâmpadas específicas, dependendo do elemento que iria ser analisado.

O aparelho utiliza as propriedades de absorção de luz dos átomos para medir a sua concentração em uma solução. Esse procedimento acontece da seguinte forma: a amostra em solução é aspirada por um dispositivo e se transforma em aerossol (líquido disperso em gás) que, com a ajuda de um gás, é levado para o interior de um queimador. Na medida em que o aerossol entra em contato com a chama, os átomos da amostra passam para o seu estado fundamental. Sobre esses átomos é incidido um feixe de luz gerado por uma lâmpada de xenônio que gera um sinal de absorção. Esse sinal é medido e é proporcional à quantidade de átomos presentes na amostra.

Anchieta, juntamente com Joaquim Nóbrega, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e com Ana Rita Nogueira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Sudeste de São Carlos, encaminharam projeto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a compra do equipamento, produzido por uma empresa alemã. O equipamento custou cerca de US$ 50 mil.

Para Nogueira, o equipamento ampliará a confiabilidade dos resultados e a capacidade de detecção de elementos presentes em baixas concentrações. “Participamos do projeto como colaboradores e pretendemos avaliar o equipamento em pesquisas relacionadas à determinação de elementos em solos e plantas. Serão desenvolvidas novas alternativas para determinações importantes do ponto de vista de nutrição animal e vegetal, assim como maior controle ambiental, a partir de contaminantes em solos e águas”, explica a pesquisadora.

“A nossa equipe está sendo pioneira, porque estamos trabalhando com o equipamento mais moderno do mundo. O nosso grupo ganhará projeção e será possível ampliar as aplicações e propor novos métodos em química analítica”, diz Anchieta. Ele acredita que nos próximos 12 meses, o país contará com mais dois ou três equipamentos como este. O México também já adquiriu o equipamento, mas ainda não começou a operá-lo.

Sensores são usados como recursos na alfabetização de alunos cegos

Um aparelho de sensores sonoros é mais um recurso na alfabetização cartográfica de alunos cegos. Quando acoplado a maquetes e a um computador, o dispositivo possibilita que a percepção de objetos via tato seja acompanhada pela pronúncia do nome do objeto.

Pessoas cegas têm, em geral, uma grande dificuldade em relação à compreensão do espaço que vivem. Para que possam conduzir seu dia a dia de forma plena e com autonomia, eles precisam reconhecer as ruas da cidade e ter pontos de referência, além de observar as diferenças entre os ambientes que freqüentam, através de outros sentidos. Um aparelho de sensores sonoros, desenvolvido na Unicamp, pode ajudar nisso, e é mais um recurso que será usado na alfabetização cartográfica de alunos cegos.

Marco Chella e João Vilhete, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação, da Unicamp, desenvolveram o dispositivo. Trata-se de uma caixa com 30 sensores, que funcionam acoplados a um computador e a qualquer tipo de maquete, como a de um prédio, ou mesmo a de uma cidade. Esses sensores possibilitam que a percepção de objetos pelos alunos cegos via tato seja acompanhada pela pronúncia do nome do objeto. “A utilização de maquetes pode ajudá-los na compreensão espacial”, afirma Chella.

Os sensores podem ser distribuídos pela maquete de acordo com o interesse do usuário. O dispositivo é conectado à porta serial de um computador, no qual devem estar armazenadas as informações sonoras referentes aos objetos representados nas maquetes. “Nós usamos o programa SuperLogo para fazer essa conexão, mas outro programa pode ser usado”, explica Vilhete. O som é ativado quando o aluno pressiona o botão do sensor.

O aparelho é um dos resultados de dois anos de pesquisa, patrocinados pela Fapesp, para a geração de material didático para o apoio de portadores de deficiência visual. Ele foi desenvolvido visando alunos do ensino fundamental, mas pode, segundo Chella, ser usado também por outro público. “Professores e alunos com os conhecimentos básicos em informática e com uma preparação adequada são capazes de utilizar as diversas ferramentas desenvolvidas para a elaboração das maquetes com sensores”, afirma.

A intenção é que a maquete não seja estática e seja modificada pelo próprio aluno. “A idéia é que o aluno construa sua própria maquete e a modifique de acordo com sua vontade ou para seu melhor aproveitamento”, afirma Vilhete. O objeto de estudo pode ser a escola, a vizinhança ou mesmo a cidade do usuário.

O pesquisador explica que a metáfora do Logo é que o computador precisa ser ensinado pelo usuário, neste caso, o aluno cego. E para que o aluno ensine ao computador, ele precisa checar todo o conhecimento que ele próprio tem sobre o objeto de estudo. “Nesse momento, ele pode perceber falhas em seu entendimento do espaço, e as corrigir ou complementar” explica Vilhete. Ou seja, para programar o computador, o aluno precisa reavaliar sua compreensão do espaço a ser ensinado.

Segundo Chella, o dispositivo é mais um recurso para que alunos cegos ampliem seus conhecimentos sobre o espaço geográfico em que vivem e atuam. “Ao incorporar a essas maquetes recursos tecnológicos criamos um ambiente mais rico e lúdico, que estimula e motiva o aluno”, destaca. Os pesquisadores afirmam também que as atividades com as maquetes devem ser acompanhadas pelo reconhecimento do campo, para que o aluno se sinta mais seguro e também tenha autonomia para fazer as modificações que achar necessárias na maquete.

“Nossa intenção é desenvolver propostas de ambientes sonoros que descrevam a geografia do local e dê informações [sobre ele]”, revela Vilhete. “Esses dispositivos poderiam ser colocados em lugares públicos, como nos pontos de ônibus e universidades”, acrescenta. Segundo o pesquisador, esses recursos dariam mais autonomia a pessoas cegas, que contariam com mais uma opção informativa, além da tátil, obtida através da leitura em braile.