Inmetro investe em P&D e novos programas de certificação

Para criar mecanismos que aumentem a competitividade da economia brasileira, o Inmetro está implantando novos programas e laboratórios. Entre as ações, estão a implementação de três programas de certificação: florestal, da cachaça e de software e serviços, além da ampliação da infra-estrutura laboratorial para firmar-se como instituição de P&D.

No comércio internacional, a adequação a padrões que certifiquem a qualidade e segurança dos produtos é ainda um obstáculo a ser superado pelo Brasil. Mercados de economia forte tendem a impor barreiras sanitárias mais rígidas e especificações técnicas restritivas, como aquelas relacionadas a substâncias contaminantes ou resíduos. Para criar mecanismos que aumentem a competitividade da economia brasileira, o Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) está implantando novos programas e laboratórios. Entre as ações, estão a implementação de três programas de certificação: florestal, da cachaça e de software e serviços, além da ampliação da infra-estrutura laboratorial do Inmetro, que busca firmar-se como instituição de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Para emissão de certificados de produtos florestais, o Inmetro vinculou-se a órgãos internacionais, como por exemplo, o Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) . A partir de padrões internacionais adaptados a cada região brasileira, o Inmetro identifica critérios e indicadores de sustentabilidade do manejo florestal, de modo a propiciar práticas que sejam ecologicamente adequadas, economicamente sustentáveis e socialmente justas. Nesse sentido, o instituto também passa a atuar como agente de proteção do meio ambiente.

Com relação à certificação da cachaça, além das barreiras técnicas, baseadas em normas e regulamentos internacionais, outro desafio desse programa são as exigências vinculadas a rotulagem, como teor alcoólico e de elementos cancerígenos. Nesse caso, a certificação dada pelo Inmetro visa a garantia de requisitos de saúde e segurança da sociedade, além de seu reconhecimento mundial como um produto legitimamente brasileiro. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Brasil produz cerca de 1,5 bilhão de litros de cachaça por ano, gerando cerca de 450 mil empregos. No entanto, apenas 1% do total produzido é exportado. A expectativa é de que a partir da certificação, essa porcentagem aumente.

Em fase de delineamento do programa, a certificação de software e serviços já tem como proposta inicial fortalecer e ampliar a penetração das empresas nacionais nos mercados internos e externos, transformando o Brasil em referência no cenário internacional. Segundo dados da instituição, apenas o mercado interno brasileiro de software, considerado insumo estratégico da cadeia industrial, é estimado em 7,7 bilhões de dólares.

Pesquisa e Desenvolvimento

De acordo com o físico Humberto Brandi, diretor de Metrologia Científica e Industrial, em nações desenvolvidas, as operações metrológicas correspondem a cerca de 5% do seu PIB, o que denota o caráter estratégico do investimento em P&D. Com intuito de firmar-se como instituição de P&D, o Inmetro concluiu recentemente as edificações do Parque Tecnológico de Xerém, em seu campus na região metropolitana do Rio de Janeiro. O parque é constituído pelo o conjunto laboratorial de P&D em metrologia, a incubadora de empresas e o centro de capacitação em tecnologia industrial básica.

Entre os laboratórios, o de química e o de materiais impulsionaram a implantação de padrões primários, bem como o desenvolvimento de procedimentos e de materiais de referência certificados de produtos.

De olho na exportação brasileira de 440 milhões de dólares em alimentos (2005), uma das missões da metrologia química é aumentar a confiabilidade das medições de resíduos de agrotóxicos. A outra, vinculada ao setor energético, está centrada nos bio-combustíveis, com vistas a criação de uma definição de padrões internacionais para o álcool, do qual o Brasil é o maior exportador do mundo. Ainda no âmbito da química, o desenvolvimento de materiais de referência certificados de compostos ambientais, fluidos biológicos, fármacos e medicamentos será fortalecido com as pesquisas do novo laboratório.

O investimento previsto para toda a atuação do Inmetro é de R$ 65 milhões para o laboratório de química e R$ 62,5 milhões para o de materiais. Além destes, o Inmetro pretende implantar mais dois laboratórios: o de telecomunicações (em parceria com a Anatel) e de vazão de gás e óleo (com a Petrobrás, TransPetro e Cenpre). Para cada um, o custo é estimado em R$ 100 milhões.

Um dos próximos passos do Inmetro será promover concursos para pesquisadores, para agregar especialistas que desenvolvam atividades nas áreas de metrologia em: química, materiais, vazão e volume, eletricidade, mecânica, óptica, acústica e vibrações, térmica e telecomunicações

Política Industrial

De acordo com Brandi, as ações do Inmetro visam atender a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), do governo federal. Aspectos de segurança alimentar, por exemplo, ganharam caráter estratégico não só pelo fator da saúde, mas também por representar um agente competitivo. Em 2002, foram detectados traços de nitrofurano nos frangos exportados pelo Brasil. O antibiótico é uma substância proibida na União Européia (UE), em função da sua associação a riscos de câncer. Como zero de qualquer substância é considerado uma barreira não justa nas relações comerciais, foi desenvolvida pela UE uma metrologia, que mede uma parte em um trilhão, para medir o nitrofurano. Na ocasião, foram detectados 3 partes em um trilhão no frango brasileiro pela UE, o que obrigou o Brasil a desenvolver uma rastreabilidade (verificação do histórico produtivo) mais rígida para a produção das aves, para não perder mercado. “Nessa direção, a PITCE objetiva dar suporte as exportações, usando como uma das ferramentas a metrologia, que é base física da qualidade dos produtos”, argumenta o físico.

Profissionais e empresas devem responsabilizar-se por estresse no trabalho

A psicóloga Arlete Portella Fontes investigou o comportamento de líderes de equipes de manutenção de rede elétrica e concluiu que os profissionais mais velhos são mais eficazes na hora de enfrentar situações de estresse no trabalho. Na opinião dela, tanto profissionais como a empresa tem responsabilidade para diminuir a carga de estresse no âmbito do trabalho.

Como as pessoas enfrentam situações de estresse no campo profissional? Como os profissionais podem “envelhecer bem” dentro do ambiente de trabalho? Uma pesquisa concluída em maio pela psicóloga clínica e organizacional Arlete Portella Fontes tenta responder a essas perguntas. Os estudos dela apontam que as pessoas mais maduras são mais eficazes na hora de resolver situações de estresse no trabalho. Porém, a empresa tem papel relevante para diminuir os fatores que causam estresse (ou estressores).

Conforme as conclusões de Fontes, quanto mais velho o líder de uma equipe, mais capacidade para resolver os problemas, mesmo quando a situação mostrava-se estressante. A essa capacidade de lidar bem com situações de estresse a pesquisadora denominou auto-eficácia. Ela alerta, todavia, que a constatação de que as pessoas mais velhas pesquisadas têm se mostrado mais eficientes em situações de estresse não deve ser generalizada para a afirmação de que todas as pessoas maduras são mais eficazes que as demais.

Para realizar a pesquisa, Fontes analisou questionários respondidos por 71 líderes de equipes de serviço de rede de uma empresa de energia elétrica. Ela explica que escolheu esse tipo de profissional para entrevistar, porque a função exercida oferece risco de vida constante, o que acarreta em um inerente estresse de trabalho. A idade dos profissionais entrevistados variou entre 29 e 50 anos.

Fontes identificou ainda os três maiores causadores de estresse na amostra: fatores ligados à execução das tarefas, fatores de gerenciamento e organizacionais. O primeiro refere-se à rotina de exposição ao risco de vida enfrentado por esses profissionais que trabalham em cima de postes e próximos à fiação elétrica. O problema do gerenciamento refere-se à necessidade de os líderes de equipe contornarem problemas de relacionamento dentro do grupo de trabalho. Já os fatores organizacionais referem-se a aspectos como a política da empresa.

A pesquisadora explica que o estresse no trabalho surge quando há um desequilíbrio entre as exigências feitas ao trabalhador e as suas recompensas. Dessa forma, as empresas devem tomar providências no sentido de diminuir as situações de estresse. Para Fontes, é necessário adotar políticas que incentivem o profissional. “O trabalhador precisa ter estímulo e reconhecimento. São necessárias ações concretas que valorizem o esforço do profissional”, orienta.

Autoconfiança e habilidades técnicas para evitar estresse

Fontes acredita que pessoas confiantes na própria competência para resolver problemas, lidam melhor com situações estressantes. A capacidade técnica do profissional é outro fator que ajuda a enfrentar o causador do estresse. “Crença aliada ao conhecimento são aspectos importantes contra os estressores. De que adianta a vontade de resolver um problema se eu não tenho conhecimento técnico para isso?” questiona ela.

Ainda no que se refere ao papel do profissional, cada induvíduo tem habilidades auto-reguladoras, como automotivação, capacidade de estabelecer objetivos e tomar decisões que auxiliam no enfrentamento do estresse no trabalho. Dessa forma, o profissional precisa aprender a lidar com as próprias habilidades e, assim, encarar melhor as situações de estresse. A pesquisa concluída por Fontes faz parte da dissertação de mestrado apresentada por ela, em maio, à Faculdade de Educação da Unicamp. O título do trabalho é: “O enfrentamento do estresse no trabalho na idade adulta”.

Novo método viabiliza medidas mais específicas para o colesterol

A partir do conhecimento de óptica não linear – uma das áreas da física da matéria condensada – pesquisadores do Instituto do Milênio de Fluidos Complexos desenvolveram uma técnica mais específica para medir o colesterol. O método detecta e quantifica a LDL (lipoproteína de baixa densidade) oxidada no sangue, que é a responsável por doenças cardiovasculares.

Já faz parte da memória discursiva popular que o alto nível de colesterol no sangue é um grande vilão da saúde. Na mesma direção, que a lipoproteína de baixa densidade (LDL) está associada ao colesterol ruim e a lipoproteína de alta densidade (HDL), ao bom. O que é pouco difundido é que a LDL na sua forma oxidada é a responsável pelo transporte e depósito de gorduras na camada interna das artérias – a arteriosclerose (fator que causa a doença cardíaca coronariana).

Pesquisadores do Instituto do Milênio de Fluidos Complexos (IMFCx) desenvolveram uma técnica para medir a fração da LDL oxidada no sangue, utilizando técnicas de óptica não linear, e continuam investigando os mecanismos de oxidação da lipoproteína. Atualmente, a verificação dos níveis de HDL, LDL e VLDL (lipoproteína de muita baixa densidade) pode ser feita por meio de um exame de sangue, contudo, as técnicas existentes não são capazes de verificar a quantidade da LDL oxidada.

Além da detecção e quantificação dos níveis da LDL oxidada no sangue, o método desenvolvido viabilizará a pesquisa dos “mecanismos que levam à oxidação e às formas de contorná-la, por meio da física, biologia e medicina”, afirma o físico Antonio Martins Figueiredo Neto, coordenador do IMFCx. Por exemplo, uma das pesquisas relaciona a periodontite (doença do periodonto, caracterizada por inflamação das gengivas), ao aumento da LDL. O pesquisador explica que a doença periodontal leva à oxidação dessa proteína.

Segundo o pesquisador, a LDL sofre oxidação por meio de ataque de radicais livres, que, por sua vez, podem ser favorecidos pelo tabagismo, poluição e estresse. Uma vez oxidada, a lipoproteína representa o principal fator de diversas doenças cardiovasculares porque o sistema imunológico do corpo humano não a reconhece mais como algo próprio dele e inicia-se uma reação imunológica que está na base do processo de desencadeamento dessas doenças. Além disso, a LDL oxidada induz a formação de agregados moleculares, que formam placas nas paredes das artérias. A ruptura de alguma placa pode gerar um trombo (formação sólida no interior do vaso sanguíneo) e, em conseqüência, alguma doença cardiovascular.

Enquanto a HDL conduz o colesterol da corrente sangüínea para ser metabolizado no fígado e nesse processo auxilia a limpeza das artérias, pois transporta seus resíduos ali depositados, a LDL (assim como a VLDL) transporta o colesterol do fígado para os tecidos.

Com a técnica, denominada varredura Z, é possível diferenciar as propriedades físicas da LDL nativa (não oxidada) e oxidada de uma amostra de sangue, por meio dos índices de refração não linear. Apesar da técnica já estar desenvolvida, ainda não foi patenteada e não está disponível para exames.

Colesterol e doenças cardiovasculares

O colesterol é necessário ao organismo, uma vez que participa de alguns processos de geração de energia nas células, assim como da produção de hormônios sexuais, de enzimas digestivas e da membrana que envolve as células e da absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), essenciais ao organismo. As vitaminas A e E, por exemplo, previnem os danos causados pela oxidação dos ácidos graxos e pelos radicais livres, protegendo o organismo, seja no envelhecimento ou na deterioração da capacidade funcional.

Por outro lado, estatisticamente, há uma correlação entre os altos índices da LDL e baixos níveis da HDL com o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, que agem no sistema circulatório afetando o funcionamento do coração, dos vasos sangüíneos e dos vasos linfáticos. Enfarte do miocárdio, angina de peito, arteriosclerose e o acidente vascular cerebral são as enfermidades mais comuns. No Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares causam 300.000 óbitos por ano.

O Instituto do Milênio de Fluidos Complexos

O IMFCx é uma rede multidisciplinar de pesquisas sobre as propriedades dos fluidos não convencionais – considerados pelos físicos como matéria mole: cristais líquidos, fluidos magnéticos e de interesse biológico – e suas aplicações na produção industrial e na medicina. De acordo com o coordenador do Instituto, o estudo de sistemas de natureza biológica, como o sangue e seus componentes, está apoiado em conhecimentos multidisciplinares e técnicas experimentais da física da matéria condensada, em desenvolvimentos recentes da física estatística e em métodos e recursos computacionais.

Sediado no Instituto de Física da Universidade de São Paulo desde outubro de 2005, o IMFCx recebe apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Além das pesquisas, IMFCx tem como missão ampliar a comunicação entre os setores industriais, acadêmicos e educacional.