Controle biológico deve ser alternativa aos agrotóxicos

Pesquisadores têm se mobilizado para evitar o uso de agrotóxicos prejudiciais ao meio ambiente. Uma das alternativas debatida no final de setembro, no Fórum Permanente de Agronegócios da Unicamp, é o controle biológico de pragas e doenças em plantas.

O controle biológico de pragas e doenças em plantas, pode ser uma alternativa ao quadro exposto recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa: o Brasil é o terceiro maior consumidor de produtos agrotóxicos no mundo e o primeiro na América Latina. Evitar o uso de pesticidas químicos por meio da agroecologia foi tema no último Fórum Permanente de Agronegócios da Unicamp, realizado no final de setembro, por pesquisadores da Embrapa, Unicamp e Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Alguns pesquisadores têm se mobilizado para evitar o uso de agrotóxicos, considerados prejudiciais ao meio ambiente, onerosos e arriscados para muitos produtores. O controle biológico, visto como alternatica, consiste no emprego de um organismo (predador, parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos econômicos às lavouras. Trata-se de uma estratégia que pode ser utilizada em sistemas agroecológicos e na agricultura convencional. No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja uma prática generalizada entre os agricultores, há avanços significativos em alguns cultivos. Um exemplo de sucesso é o controle da lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus anticarsia. Essa prática foi lançada pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja em 1983 e, desde então, o produto foi utilizado em mais de dez milhões de hectares, proporcionando ao país uma economia estimada em cem milhões de dólares, sem considerar os benefícios ambientais resultantes da não-aplicação de mais de onze milhões de litros desses produtos.

Outros exemplos podem ser citados, como o vírus, desenvolvido no IAC, que acabou com a Tristeza do Citrus (laranja pêra), doença que prejudicou a economia da laranja, na região de Limeira. O controle biológico viral funcionou em um sistema de premunização, isto é, foi inoculado à planta o mesmo vírus causador da doença, mas enfraquecido. Isso protege a planta contra o ataque, semelhante ao funcionamento de um sistema imunológico. O controle biológico também pode ser feito por meio de bactérias, fungos e tricoderma. A Lixa do Coqueiro, por sua vez, é uma doença limitante à cultura do côco, pois enfraquece as hastes dos cachos do coqueiro. O fungo aplicado solucionou o problema na região nordeste, graças a uma aplicação mais prolongada e eficiente. No entanto, o fungo para controle biológico demanda maior tempo e manejo.

Segundo Marcelo Morandi, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, o homem tem papel fundamental nesse processo de controle biológico, por causa do manejo da cultura: “A redução das doenças e pragas que atingem as plantações pode acontecer pela ação de um ou mais organismos, dependendo do ambiente em que tudo acontece e o homem, manejando a produção, será responsável por isso”, afirma ele.

Adoção de controle biológico é limitada no Brasil

Por razões sociais, econômicas, legais e técnico-científicas, o uso do controle biológico para combater doenças em plantas ainda é restrito no país. Entre os principais fatores, estão a cultura do controle químico e a necessidade de tempo e manejo, o que leva os produtores a preferirem os agrotóxicos. Segundo Morandi, até mesmo a formação acadêmica do profissional de agronomia é deficitária nesse aspecto: “A graduação oferece poucas disciplinas sobre o assunto e enfatiza que o controle químico é a única alternativa para combate de pragas e doenças.”

Além do crescimento do uso de agrotóxicos, ainda há o problema da falta de equipamentos de segurança na hora de aplicar o produto, em especial, pelos pequenos agricultores. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, os trabalhadores do campo convivem cada vez mais com os agrotóxicos. A principal conseqüência é o aumento dos riscos de contaminação de produtos da agropecuária com resíduos químicos prejudiciais à saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que aproximadamente três milhões de pessoas são intoxicadas por ano em decorrência da utilização de agrotóxicos. Dessas, 220 mil morrem e 750 mil adquirem doenças crônicas.

Os agricultores poderiam utilizar com mais freqüência o controle biológico, mas não há campanhas de conscientização no campo e em contrapartida, as indústrias de pesticidas investem alto na divulgação de seus produtos, facilitando a comercialização. Os produtores, em sua maioria, desconhecem os problemas de contaminação ambiental pelos materiais químicos.

Conforme Morandi, não existe apoio ou incentivo fiscal ao desenvolvimento e uso de agentes de controle biológico e, tampouco, programas de financiamento que promovam P&D nessa área. Os produtos de controle biológico precisam evoluir bastante, pois ainda são artesanais, dificultam comercialização e possuem baixa vida de prateleira. Por isso e por causa da excessiva burocracia, ainda não há produtos registrados para controle biológico comercial no Brasil.

Entretanto, muito já está sendo feito e a meta é que o controle biológico seja, em breve, o principal mecanismo para combate das doenças em plantas, já que está havendo aumento contínuo de controle biológico em todas as culturas, principalmente para agricultura convencional. Além disso, consumidores estão cada vez mais preocupados com o consumo de agrotóxicos. Soma-se a isso, o crescimento de mercado externo, maior interesse empresarial e iniciativas de financiamento por parte da Fapesp e do Sebrae.

Para saber mais sobre controle biológico:

www.planetaorganico.com.br/controle.htm

www.biologico.sp.gov.br/NOTICIAS/inf_fundag.htm

Projeto desenvolve metodologia e ferramenta para monitorar biotecnologia

As atividades de monitoramento em ciência e tecnologia vêm ganhando cada vez mais importância nos últimos anos, inclusive para subsidiar políticas públicas. Esse é o desafio de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), da Unicamp.

As atividades de monitoramento em ciência e tecnologia vêm assumindo um papel cada vez mais estratégico para a gestão da inovação, inclusive para subsidiar políticas públicas. Esse é o desafio de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), da Unicamp, em parceria com a Elabora, empresa do núcleo Softex, atendendo solicitação da Coordenação Geral de Biotecnologia e Saúde, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Monitorar é acompanhar o desenvolvimento de uma tecnologia, de uma área de conhecimento ou do comportamento de uma organização, de forma contínua ao longo do tempo. No caso do projeto da Unicamp, biotecnologia foi a área escolhida para ser monitorada. O trabalho focalizou o desenvolvimento de uma metodologia para subsidiar a implementação de ações em biotecnologia por parte do MCT, a partir da obtenção e tratamento de informações em diferentes bases de dados.

Para isso, além de discussões de cunho conceitual e metodológico, foi desenvolvido um software para o acesso, obtenção e tratamento de informações. O trabalho de captura de dados permitiu a coleta de mais de 32 mil patentes e de quase nove mil artigos, entre 1973 e 2003. Foram também levantadas e trabalhadas informações sobre a competência em biotecnologia existentes no país.

A partir do levantamento realizado, o projeto trouxe um conjunto de indicadores de monitoramento e ferramentas computacionais de acesso para constituir uma base de dados e fornecer um quadro da infra-estrutura do campo da biotecnologia, abrangendo indicadores sobre quem, onde, quando e quanto se produz, o quê se produz.

Segundo Maria Beatriz Bonacelli, coordenadora do grupo de pesquisa (Geopi) que desenvolve este trabalho, trata-se de uma grande planilha com vários tipos de busca. Ela explica que algumas análises de dados coletados revelaram, por exemplo, o destaque da Austrália em patentes na área, entre os anos 70 e 80, e o gasto bem maior com pesquisa e desenvolvimento desse país, quando comparado ao Brasil.

O monitoramento foi estimulado, na opinião de Bonacelli, pelo aumento da capacidade de processamento dos computadores, maior base de dados, expansão da internet e dos sites de busca. A coordenadora ainda argumenta que para trabalhos deste tipo, não basta uma varredura de dados, sem uma forma sistematizada e interpretativa de organizá-los.

A segunda fase do projeto, ainda em andamento, consiste no refinamento dos instrumentos de monitoramento, incluindo atualizações e expansões das redes de dados para atender às demandas dos atores do sistema de inovação. Isso envolve a capacitação de profissionais, ampliação da rede de busca, aperfeiçoamento dos procedimentos computacionais e aplicação da metodologia no campo da genômica.

Estratégia Nacional em Biotecnologia

Projetos de monitoramento vem ganhando importância nos últimos anos. Em 2005, por exemplo, foi realizado o estudo “Monitoramento em Biotecnologia” encomendado pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa trabalhou a dinâmica de pesquisa, desenvolvimento e inovação desta área, a diversidade de atores envolvidos e a atuação em setores como Saúde e Qualidade de vida, Agricultura e Meio ambiente, por meio de desenvolvimento acelerado de publicações científicas e de patentes.

Em julho de 2006 foi apresentada pelo governo brasileiro A Estratégia Nacional de Biotecnologia. Embora o projeto da Unicamp tenha sido elaborado anteriormente e nada tenha a ver oficialmente com esse programa, ele já demonstrou uma preocupação por parte do MCT em levantar dados importantes para implantação de políticas públicas e estratégias de inovação.

A Estratégia Nacional de Biotecnologia foi elaborada com a participação de quatro ministérios, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da Saúde (MS), da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Representantes do setor empresarial, da academia e da sociedade civil também estão envolvidos.

O intuito da estratégia é verificar as prioridades e ações do governo no segmento da biotecnologia, a fim de incentivar a competitividade brasileira, aumentar a participação do país no comércio internacional, acelerar o crescimento econômico e criar novos postos de trabalho. Fernando Mathias e Henry Novion, do Instituto Sócio Ambiental (ISA), no entanto, argumentam em recente artigo que a proposta ignora prioridades de interesse público e, portanto, não representa uma estratégia nacional.

Para mais informações veja:

Política para bioindústria desconsidera aspectos socioambientais

Falta de informação impede que vasectomia seja mais praticada

Pesquisa realizada na USP revela que os homens submetidos à vasectomia estão satisfeitos com o método simples, rápido e gratuito de esterilização. Mas a cirurgia ainda é pouco realizada no país quando comparada a métodos femininos de contracepção.

O que muda na vida do homem após uma vasectomia? Pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP revela que a maioria (97%) dos que fizeram a cirurgia estão satisfeitos. Apesar de simples e disponível no SUS, a vasectomia ainda está bem aquém (em números) quando comparada à esterilização feminina. Só no ano passado, pouco mais de 14 mil vasectomias foram realizadas no serviço público enquanto que a laqueadura foi responsável pela internação de mais de 37 mil mulheres. Para a enfermeira Nádia Maria Marchi, autora da pesquisa, a falta de informação e o machismo contribuem para este quadro.

Nos últimos anos, houve um aumento considerável na procura por esse tipo de cirurgia no Brasil. Em 2002, foram 5824 procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, em 2005, este número mais do que dobrou chegando a 14334 – metade delas realizada no estado de São Paulo.

Desde 1997 a vasectomia é oferecida gratuitamente no SUS e indicada para homens acima de 25 anos, com dois filhos vivos ou nos casos onde a gravidez leve ao risco de vida. Não há uma estimativa do número total de vasectomias no país, já que o Ministério da Saúde não tem controle do serviço privado. A última Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada em 1996, apontou que só 2,6% das mulheres em idade reprodutiva tinham companheiros vasectomizados.

Em todo o mundo estima-se que 5% dos casais tenham aderido a esse método de contracepção, sendo que as porcentagens mais altas ocorrem em países como a Nova Zelândia e Reino Unido (ambos com 18%), Canadá (16,2%), Estados Unidos (14,9%) e China (10,2%). Em países da África, Europa Oriental e América Latina a prevalência de vasectomia é de cerca de 1%.

O pequeno número de solicitações de vasectomia tem relação com a falta de acesso dos homens a informações adequadas e serviços de boa qualidade, assim como aos preconceitos e idéias equivocadas em relação a seus efeitos sobre a virilidade masculina. Além disso, os homens esbarram ainda no menor número de métodos de contracepção para eles. Enquanto só contam com essa cirurgia ou preservativo, as mulheres têm a sua disposição uma variedade maior de escolhas que passam pelo DIU, a camisinha feminina, a pílula anticoncepcional e a do dia-seguinte, o adesivo e controle hormonal, além da cirurgia de ligadura de trompas. O maior número de opções para as mulheres parece ser um retrato do machismo existente na sociedade, mas os médicos alegam que as diferenças na anatomia e fisiologia dos dois sexos, ainda não permitiram que os cientistas desenvolvessem uma droga capaz de, por exemplo, parar a produção de espermatozóides sem rejeição do organismo e com boa eficácia. “O organismo da mulher é mais fácil de ser controlado” relata o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia Luciano Favorito.

Alternativa benéfica

Mais de 200 homens residentes na cidade de Campinas (SP) submetidos à vasectomia, entre os anos de 1998 e 2004, e registrados no Ambulatório de Planejamento Familiar da Secretaria de Saúde da cidade foram pesquisados por Nádia Marchi. Mais da metade deles (52,7%) optou pela cirurgia por ser um método mais fácil, simples e rápido que a esterilização feminina (ligadura de trompas). De fato, após essa cirurgia o homem pode voltar dirigindo pra casa.

Ao todo, 212 pacientes da rede pública de Campinas foram questionados sobre as conseqüências da cirurgia em suas vidas. A maioria era católica, não branca, vivia com a companheira, com ensino fundamental concluído, renda per capita de até R$ 300 e com idades entre 30 e 39 anos quando fez a vasectomia. Grande parte decidiu pela cirurgia por conta própria, por considerarem já possuir um número ideal de filhos e ser a vasectomia segura e infalível na contracepção. Além disso, muitos relataram que o sexo ficou melhor e mais tranqüilo depois da cirurgia já que a possibilidade de gravidez passou a ser nula, justamente o contrário do que a grande maioria pensa. É preciso que o governo e a mídia divulguem campanhas de esclarecimento da população, para quebrar as lendas em torno da cirurgia.“O principal benefício do homem que faz vasectomia é a melhora da qualidade de vida sexual, que passa a ser mais tranqüila, sem prejuízos à virilidade do homem.” conclui Luciano Favorito.