Livro inédito aborda crenças sociais em domínios como a educação

O livro Auto-eficácia em diferentes contextos, organizado por Roberta Gurgel Azzi e Soely Polydoro, da Faculdade de Educação da Unicamp, que será lançado ainda este ano, aborda a teoria da auto-eficácia e sua importância, entre outras coisas, para o planejamento docente.

O livro Auto-eficácia em diferentes contextos, organizado pelas docentes da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, Roberta Gurgel Azzi e Soely Polydoro, é resultado de estudos brasileiros inéditos em teoria social cognitiva e está em fase final de revisão, previsto para ser lançado ainda este ano pela editora Alínea. Além de apresentar as idéias do psicólogo canadense Albert Bandura, pesquisador da Standford University – autor que se tornou referência para a teoria social cognitiva, cujo conceito central é a auto-eficácia -, o livro aborda em cada capítulo um domínio específico em que a teoria pode ser estudada, como por exemplo, a importância da auto-eficácia para o planejamento docente.

Segundo Bandura, auto-eficácia é a crença nas habilidades individuais de organizar e exercitar os recursos para administrar situações com vistas no futuro. Pesquisas realizadas na área comprovam a relação entre a crença de auto-eficácia do professor e os resultados conseqüentes na educação. Em relação à capacidade do professor em ensinar, por exemplo, é observado que, a partir de sua auto-eficácia, ele escolhe estratégias de ensino para manter o controle da aula.

Ainda de acordo com Bandura, a auto-eficácia dos professores aparenta ser um bom indicador de sucesso acadêmico do aluno. Para Polydoro, uma das organizadoras do livro, os estudos que relacionam a auto-eficácia e a docência também mostram que a capacidade do aluno pode estar ligada à promoção do ambiente educacional mediado pelo professor. Assim, a auto-eficácia influencia a motivação e o aprendizado.

O livro é dirigido a pesquisadores, profissionais e estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes áreas do conhecimento, com destaque para as áreas de psicologia, educação, saúde e esporte. “Os Estados Unidos possuem a maioria das publicações na área, sendo que em português existem poucos textos. Quando muito, alguns capítulos de livros abordam o tema. Será uma publicação inédita no Brasil”, afirma Polydoro, também coordenadora do Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação Superior (PES).

O PES atualmente desenvolve duas grandes pesquisas na área de auto-eficácia. Uma delas, “Investigando percepções de auto-eficácia no contexto educativo”, em fase de coleta de informação, foca as crenças do aluno, do professor do e gestor em organizar e executar determinadas ações. O corpus da pesquisa abrange tanto alunos no ingresso quanto no final dos cursos de licenciatura, e o estudo aborda como eles estão em termos de sua crença de auto-eficácia para a futura prática docente. “Até para pensar a formação do professor, que é uma das preocupações do PES”, diz Polydoro. O objetivo final desse estudo é possibilitar intervenções que favoreçam o aprendizado. Outro grupo em análise é de professores no início de carreira, de diferentes áreas do conhecimento como matemática, educação física ou idiomas estrangeiros.

A outra pesquisa, “A auto-eficácia nas produções de Albert Bandura: contextualizando contribuições”, traz para o contexto brasileiro a teoria de Bandura. Este projeto teve financiamento do Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão (Faepex) da Unicamp, que possibilitou viagem acadêmica aos Estados Unidos – durante a qual se coletou as obras do autor a serem estudadas -, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Estes apoios foram de extrema importância para reunir artigos de Bandura, o que permite hoje um estudo sobre as idéias do autor ao longo do tempo. Com o material que temos, dispomos de condições de conhecer bem sua obra. Ele em pessoa nos ofereceu muitas separatas de artigos que teríamos muita dificuldade em obter, alguns da década 50”, afirma Roberta Azzi. Espera-se, com este projeto, contribuir com a produção de textos que apresentem e problematizem as idéias e estudos deste autor, assinalando também sua contribuição em diferentes campos do conhecimento.

A maioria dos colaboradores do livro que está sendo finalizado é da FE, como Anita Liberalesso, Evely Boruchovitch e Márcia Brito, mas a coletânea também inclui autores de instituições portuguesas, como os professores Diana Vieira e Joaquim Luís Coimbra, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Destaca-se, ainda, o autor José Aloyseo Bzuneck, professor do Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina, brasileiro precursor na abordagem do tema da auto-eficácia docente relacionada à motivação. Ele é uma das referências no país em relação ao estudo da teoria social cognitiva, cujo conceito central é a auto-eficácia.

A teoria de Bandura

site que tem o maior conjunto de informações sobre a teoria, principalmente sobre o conceito de auto-eficácia, é de responsabilidade de outro especialista, Frank Pajares, professor da Emory University. Em seu site, é possível visualizar a amplitude de países e domínios envolvidos com o tema. Quando o grupo de pesquisadores brasileiros começou a se envolver cada vez mais com ele, também criaram um site agrupando informações sobre estudiosos do país, cujo principal objetivo é possibilitar o intercâmbio entre pesquisadores e áreas de estudo. “Este encontro possibilita o fazer ciência”, diz Polydoro.

O próprio Bandura produziu o Guide for Creating Self-Efficacy Scales, guia com elementos para a construção dos instrumentos de estudo, se preocupando não apenas com a teoria, mas com questões de metodologia. “Em suas obras, o autor destaca a relação de três elementos importantes para a análise da auto-eficácia: o ambiente, o comportamento e os fatores pessoais. A partir deste pressuposto, há a idéia de ‘agente humano’, ou seja, de que os indivíduos possuem capacidades que dão a eles condição de ser alguém atuante para tomar decisões, desenvolver e alcançar metas”, diz Polydoro.

Outros conceitos importantes na área são: a “auto-regulação”, que significa o monitoramento e o julgamento da ação, e a “modelação”, ou seja, o agente aprende também observando, não apenas através da participação direta. “A partir da idéia de auto-regulação, considera-se o desenvolvimento moral do individuo, tema em constante discussão na atualidade, ou seja, como as pessoas trabalham com as regras, normas e valores da sociedade, justificando suas ’saídas’”, afirma Polydoro.

Esses conceitos centrais da teoria social cognitiva serão tratados em outro livro em produção, denominado Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos, com previsão de publicação para início de 2007 pela Artmed. Esta obra, de caráter teórico, é organizada pelo próprio Albert Bandura e tem como autores, além de Roberta Azzi e Soely Polydoro, Frank Pajares, Fabian Olaz, Anna Edith Bellico da Costa e Fábio Iglesias.

Vacina contra HPV não descarta exames preventivos para as mulhere

Aprovada em agosto pela Anvisa, a nova vacina contra HPV está na pauta da mídia e dos congressos médicos. O que pouca gente sabe é que ela não descarta a necessidade de a mulher fazer exames preventivos e que um instituto brasileiro busca, sem muitos recursos, criar uma vacina nacional e mais barata.

No final de agosto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a entrada no país de uma vacina para prevenção do HPV (papiloma vírus humano), um dos fatores de risco para o câncer de colo de útero – doença que mata cerca de quatro mil mulheres anualmente no Brasil. A nova droga foi testada no país em 15 diferentes centros de pesquisa, que acompanharam mais de 3400 mulheres por cinco anos.

A nova vacina é profilática, ou seja, preventiva para mulheres que não tiveram nenhum contato com HPV. Ela não exclui, no entanto, a continuação de exames preventivos como o Papanicolau. “Se a mulher se vacinar e não fizer o Papanicolau, ao invés de se proteger, estará com maior risco de contrair o vírus”, afirma a oncologista e pesquisadora do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp Sophie Derchain.

O Ministério da Saúde ainda não sabe a viabilidade financeira dessa vacina, mas no mercado norte-americano ela é vendida a 120 dólares (em torno de 260 reais) e deve ser tomada em três doses (a segunda e a terceira doses são aplicadas no segundo e sexto mês após a primeira injeção). Enquanto isso, o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan, em São Paulo, busca desenvolver uma vacina nacional mais barata contra HPV.

Há um ano e meio Paulo Lee Ho, pesquisador do Butantan, estuda uma vacina feita com um fungo diferente do utilizado na vacina importada e com maior rendimento de produção. Segundo ele, os resultados são promissores, pois o grupo já conseguiu expressar a proteína L1, que estimula a formação de anticorpos contra o HPV, com rendimento similar ao que ocorre na vacina de Hepatite B, com custo de cerca de US$ 0,25 a dose (pouco mais de R$ 0,50).

O projeto nacional, no entanto, ainda busca financiamento e deverá levar ao menos mais quatro anos para ser concluído. Lee Ho acredita que o preço da vacina lançada agora no país deverá ser reduzido, principalmente devido a estudos com vacinas alternativas, como o do Butantan. “Como instituto público, nossa vacina, quando ficar pronta, chegará ao consumidor de forma gratuita pelo sistema público de saúde”, prevê o pesquisador.

A vacina importada foi descoberta por dois pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (EUA), Douglas Lowy e Jonh Schiller e licenciada por duas gigantes farmacêuticas, a Merck Sharp & Dohme, que lança o produto agora, e a Glaxo Smith Kline, que provavelmente lançará o seu em 2007. De acordo com o Diretor de Comunicação da Merck, João Sanches, a multinacional vai trabalhar em parceria com o governo brasileiro para que ela seja acessível. A nova droga tem eficácia no combate a quatro tipos de HPV (nomeados pelos cientistas como 6, 11 ,16 e 18), em mulheres entre 9 e 26 anos, que ainda não iniciaram sua vida sexual. Ainda estão em andamento estudos para avaliar a eficácia da vacina em homens de 16 a 26 anos de idade e mulheres de 27 a 45 anos. Sophie Derchain afirma que existem mais de cem diferentes tipos de HPV, muitos deles ainda sem nomeação pelos pesquisadores, só detectáveis através de exame.

Estatísticas

Em todo o mundo, cerca de 630 milhões de homens e mulheres estão infectados pelo HPV. A transmissão do vírus é feita pelo contato genital com a pessoa infectada e por via sanguínea, de mãe para filho, na hora do parto, ou pelo contato com objetos contaminados, como toalhas, roupas íntimas, vasos sanitários e banheira. A maioria das infecções desaparece sem tratamento, porém 99,7 % dos casos de câncer do colo do útero estão relacionados a essas infecções, daí a preocupação dos médicos e a necessidade de detecção precoce. Nos casos mais graves, o HPV pode causar cânceres cervical, vaginal e vulvar; e nos homens pode causar câncer de pênis ou ânus. As conseqüências da infecção, no entanto, acabam sendo menores neles, pois as verrugas que se formam, são mais visíveis e facilitam o diagnóstico e tratamento precoce.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é a quarta causa de morte por câncer em mulheres, registrando 19 mil novos casos anualmente.

Livro traça perfil da vulnerabilidade social em Campinas e Santos

Foi lançado este mês no Núcleo de Estudos de População (NEPO), da Unicamp, o livro Novas Metrópoles Paulistas – População, Vulnerabilidade e Segregação, organizado pelo demógrafo José Marcos Pinto da Cunha. A publicação é o resultado dos dois primeiros anos de um projeto de pesquisa, desenvolvido pelo núcleo, que estuda as regiões metropolitanas de Campinas e Santos.

Foi lançado este mês no Núcleo de Estudos de População (NEPO), da Unicamp, o livro Novas Metrópoles Paulistas – População, Vulnerabilidade e Segregação, organizado pelo demógrafo José Marcos Pinto da Cunha. A publicação é o resultado dos dois primeiros anos de um projeto de pesquisa, desenvolvido pelo núcleo, que estuda as regiões metropolitanas de Campinas e Santos. Com 28 co-autores, o livro traça um perfil das duas regiões e levanta questões relacionadas à demografia como a desigualdade social, o crescimento populacional e o planejamento urbano entre outras.

O conceito de vulnerabilidade foi escolhido como eixo teórico de toda a pesquisa por permitir que se trabalhe não somente com as necessidades da população, mas também com os recursos que ela dispõe para enfrentar as privações vivenciadas. Segundo Cunha, a idéia de vulnerabilidade está associada com um risco potencial, como por exemplo a pobreza, e a capacidade de resposta das famílias analisadas em situações semelhantes. “Além disso, o conceito de vulnerabilidade possui um caráter multifacetado em que deve-se levar em conta diversos elementos como a inserção no mercado de trabalho, a debilidade das relações sociais e o grau de acesso aos serviços públicos”, diz Cunha.

Ainda com relação à idéia de vulnerabilidade, existem três aspectos a serem considerados: o primeiro é o capital físico, que inclui moradia, terra, máquinas, animais, bens duráveis e o próprio capital financeiro. O segundo é o capital humano, que engloba o trabalho como sua característica principal e o valor a ele agregado pelos investimentos em saúde e educação. O terceiro é o capital social, que inclui as redes de reciprocidade, confiança, contatos e acesso à informação.

O caso de Campinas

No capítulo A Vulnerabilidade Social no Contexto Metropolitano: O Caso de Campinas os autores (José Marcos Pinto da Cunha, Alberto Jakob, Daniel Hogan e Roberto Carmo) demonstram como o conceito é aplicado para observar as metrópoles. Em Campinas, o rápido crescimento populacional, de 300 mil em 1970 para quase 1 milhão em 2000, provocou uma série de transformações no que diz respeito ao acesso aos serviços de básicos e de infra-estrutura.

A partir desse contexto, os autores identificaram as zonas de vulnerabilidade do município. Considerando o capital físico, foram detectados quatro regiões distintas: uma periferia situada ao sul, onde a situação é precária; outra periferia ao norte, com uma precariedade menos acentuada que a do sul; a periferia mais próxima ao centro, onde as condições são satisfatórias; e a região central que possui as melhores condições.

Levando em consideração o capital humano, as periferias mais distantes continuam tendo as piores condições, principalmente as do norte e sul da cidade. Em direção ao centro, a situação é melhor.

Já o capital social é aquele que mais apresenta diferenças se comparado às duas categorias anteriores. Como este aspecto considera as redes de proteção social e os serviços disponíveis, muitos lugares das periferias mais distantes possuem alguns serviços e não se enquandram em situações críticas. A partir dessa análise, os autores identificaram quais são as zonas de vulnerabilidade do município. Esse tipo de levantamento não só pode se tornar referência para outras pesquisas, mas também auxiliar políticas públicas.

Através de análises como essa, o livro traça um perfil das regiões metropolitanas de Campinas e Santos e nos ajuda a entender melhor como funciona as dinâmicas sociais presentes nessas localidades. “O conceito de vulnerabilidade mostra-se um método poderoso de análise das metrópoles, já que seu caráter multifacetado abre um leque enorme de possibilidades”, diz Cunha.

Com tiragem de 500 exemplares e apoio da Fapesp e do CNPq, o livro está sendo distribuído para universidades, bibliotecas e instituições de pesquisa.