Articular conhecimento científico e local é desafio do Projeto Rondon

Como sair de dentro das universidades, situadas na região mais rica do Brasil, sem pensar que os conhecimentos e valores das ciências são mais importantes do que tantos outros? Essa foi uma das questões que movimentou o “Fórum Permanente de Extensão Universitária. Projeto Rondon na Extensão da Unicamp”, no último dia 10 de abril.

Como sair de dentro das universidades, situadas na região mais rica do Brasil, sem pensar que os conhecimentos e valores das ciências são mais importantes do que tantos outros? Como acontece a relação entre o conhecimento científico e outras formas de conhecimento nos projetos de extensão-intervenção universitária? Essas foram questões que movimentaram o “Fórum Permanente de Extensão Universitária. Projeto Rondon na Extensão da Unicamp”, no último dia 10 de abril.

Os participantes do evento traçaram um panorama de avaliação da atuação das equipes de estudantes e professores e a integração entre os representantes do Ministério da Defesa (principal responsável pelo projeto) e o poder público dos municípios assistidos. A avaliação, em geral positiva pelos objetivos alcançados, foi marcada por algumas críticas. Segundo os professores coordenadores, as dificuldades de realização de um trabalho mais integrado com as comunidades locais e as disputas entre as forças políticas locais, dificultaram em grande parte as atividades.

Na ponta esquerda da mesa o Professor Paulo Araújo (IB) e na ponta direita, Francisco Ladeira (IGe).
Foto: Dário Crispim

Os objetivos do Projeto Rondon, com foco exclusivamente no universitário, colocam as comunidades como meros atores coadjuvantes desse processo. Entre os quatros objetivos do projeto, apenas o último cita as comunidades locais, quando assinala que deverá “estimular, no universitário, a produção de projetos coletivos locais, em parceria com as comunidades assistidas”. Nos três anteriores, enfoca-se a prioridade na formação do jovem universitário. Segundo o olhar de alguns pesquisadores, está aí a principal falha do projeto.

Com isso, pensa-se na formação do universitário como cidadão e na integração do universitário à realidade do país. O aprendizado dos alunos e dos professores é grandioso, mas o que fica de concreto para as comunidades depois que a equipe vai embora? Essa questão preocupa um dos rondonistas. Rafael Galeotti Lima, diz que voltou com a sensação de que a Universidade está de braços cruzados para futuros trabalhos com as comunidades.

Equipe de rondonistas. O Professor Francisco Ladeira à esquerda (de azul).
Foto: Dario Crispim

O professor Francisco Sérgio Bernardes Ladeira, do Instituto de Geociências da Unicamp (IGe) e coordenador da equipe que trabalhou no Município de Eirunepé, no Amazonas, relata que o objetivo de sua equipe não era mudar os costumes da população local, nem trabalhar apenas com o poder público local, mas sim em consonância com a comunidade. Ele destaca que há uma tendência do poder público tentar definir os caminhos que as equipes de rondonistas devem seguir, tirando assim, a autonomia de trabalho delas. No entanto, em sua fala, o pesquisador acrescenta que a maior dificuldade encontrada foi apontar as soluções para os principais problemas identificados nos municípios. “Ao entregar o relatório técnico, onde apontávamos as soluções para alguns problemas relacionados com o destino do lixo na cidade, as forças políticas antagônicas começaram a se digladiar”, conta Ladeira.

Na Unicamp, o Projeto Rondon é uma atividade coordenada pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual de Campinas (Preac). De acordo com a Preac, os objetivos das atividades de extensão “se destinam a repassar à sociedade os resultados das atividades de ensino e pesquisa na forma de projetos, cursos e serviços”. Essa definição de extensão exclui, ao pensar em repassar os resultados das pesquisas, as possibilidades de integração com o conhecimento local.

Para Paulo Ferreira de Araújo, coordenador da equipe que trabalhou no município de Tapiraí, no Vale do Ribeira – SP, uma dos maiores dificuldades de trabalho com as comunidades é o tempo. “Trabalhar com as comunidades leva muito tempo, às vezes, o período de um ano é suficiente apenas para conhecermos os costumes e a cultura local”, explica. Ao todo são quinze dias de Projeto Rondon, mas efetivamente, descontando os quatro dias da ida e da volta, acabam somando apenas onze dias. “O que se faz nesses poucos dias?”, questiona o pesquisador.

No pouco tempo de permanência em Tapiraí, destaca Araújo, que é professor do Instituto de Biologia da Unicamp (IB), “não tivemos a pretensão de criar algum conselho comunitário para atuar na área da saúde ou das contas públicas, por exemplo. Nosso trabalho concentrou-se em conhecer os conselhos comunitários que eles têm, como funcionam e quais são suas bases democráticas. Seria preciso mais tempo para atuar em conjunto com a comunidade”.

Araújo, que compôs a mesa “Avaliação da atuação do projeto Rondon no Vale do Ribeira – SP pelo Poder Público local e equipes da Unicamp”, destacou também os problemas de integração com a prefeitura de Tapiraí e sua equipe. A mesa, que contaria com dois participantes da prefeitura de Tapiraí (o Diretor do Departamento Municipal de Cultura e Turismo de Iguape-SP e o Diretor Municipal de Infra-Estrutura e Economia de Tapiraí), ficou marcada pela ausência desses representantes. “As dificuldades de permanência, as dificuldades de comunicação e a precariedade em infra-estrutura como alimentação e transporte são falhas que devem ser resolvidas para um maior sucesso do projeto nas próximas edições”.

Para saber mais:

Unicamp no Rondon

Site do Ministério da Defesa (Projeto Rondon)

Coordenador do Projeto Rondon fala de cidadania e de continuidade