Angra-III reacende discussão sobre energia nuclear no Brasil

A construção da da usina de Angra-III ainda não foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética, mas continua o debate sobre benefícios e custos da energia nuclear e a possibilidade de o país adotar plano para instalar mais 7 usinas do mesmo tipo.

A inclusão da usina de Angra-III nas previsões do Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica, divulgado pelo governo em fevereiro, retoma a discussão sobre os benefícios e custos da energia nuclear. A construção da terceira unidade ainda não foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que também discute a possibilidade de o país adotar um plano para instalar mais sete usinas do mesmo tipo.

A geração de energia nuclear é criticada não apenas pelos por motivos econômicos, ambientais ou possibilidade de usos militares. A fábrica de enriquecimento de urânio, já existente em Resende (RJ), e que gera combustível para as usinas, também é alvo de críticas. Em contrapartida, alguns especialistas defendem os projetos nucleares como importantes alternativas energéticas para o país. Para o professor do Programa de Engenharia Nuclear da UFRJ Aquilino Senra, há três razões básicas que justificam a implementação de Angra-III. A primeira delas é a geração de recursos em vez das despesas contínuas com a manutenção dos equipamentos, adquiridos no final dos anos 1970. O professor afirma que só com esses aparelhos foram gastos US$ 750 milhões e a manutenção custa aos cofres públicos cerca de US$ 20 milhões por ano. A segunda é a preservação das equipes técnicas especializadas nesse tipo de tecnologia, que constituem uma competência nacional importante. E por último, Justificar a produção de urânio enriquecido no Brasil, com mais uma usina utilizando esse combustível.

Para colocar Angra III em atividade deverão ser gastos mais US$ 1,8 bilhão com a montagem da usina e seu descomissionamento (desmontagem e tratamento dos rejeitos após a desativação de um reator). Senra afirma que 70% desse valor deverá ser gasto no país e que a importância da energia nuclear cresce conforme aumenta o custo de outras fontes de energia, como o petróleo e a energia hidroelétrica. Há, porém, possíveis custos ambientais envolvendo a energia nuclear.

O professor emérito do Instituto de Física da Unicamp Rogério Cezar de Cerqueira Leite afirma que até o momento não foi resolvida a questão do lixo atômico e que os custos da eletricidade produzida pela via nuclear ainda são superiores àqueles relativos à hidroeletricidade. Além disso, ele ressalta que o Brasil ainda possui reservas de potencial hídrico em abundância.

Para Leite, se o país compra pacotes fechados, como é o caso de Angra-III, não há como desenvolver capacitação tecnológica própria. Segundo o professor, o Brasil deve desenvolver tecnologia nuclear e para isso só há um caminho: construir seus próprios reatores, que inicialmente poderão ser de pequeno porte. Sobre o urânio enriquecido usado como combustível para as usinas, ele defende o domínio da tecnologia no país, que já possui uma fábrica em fase final de comissionamento (tornar a unidade operacional, produzindo um produto de qualidade desejável), mas ainda não oficialmente inaugurada.

Enriquecimento de urânio A fábrica de enriquecimento de urânio construída em Resende (RJ) é resultado de um convênio entre a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), fornecedor da tecnologia. Formada por quatro módulos, a fábrica terá um custo total de R$ 450 milhões. A energia elétrica por fonte nuclear é obtida a partir do calor da reação do combustível (urânio), que ferve a água de uma caldeira, transformando-a em vapor. O vapor movimenta uma turbina que dá partida a um gerador produtor de eletricidade.

O Brasil, dono da sexta maior reserva de urânio do planeta, está entre os nove países detentores da tecnologia e da produção em escala industrial do urânio enriquecido. Segundo a assessoria de comunicação da INB, essa é a fase mais sofisticada e que agrega maior valor no ciclo do combustível nuclear, representando um salto tecnológico. Porém, o país ainda não tem capacidade de produzir o suficiente para atender a sua demanda interna. Em 2010, a produção de urânio enriquecido no Brasil deverá representar uma economia de US$ 16 milhões por ano, que pode chegar a US$ 26 milhões em 2015.

Leia mais:

Reportagem sobre Energia Nuclear