Exposições itinerantes de ciência despontam pelo país

Ministério da Ciência pretende ampliar o Programa Ciência Móvel e apoiar 20 unidades itinerantes de ciência até 2010, para atingir todos os estados da federação. Parte dessa iniciativa está no Museu de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado da Bahia, que inaugura em abril um museu itinerante.

O Museu de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) inaugura em abril o projeto Ciência Móvel. “A proposta do projeto é democratizar o conhecimento, levando informações principalmente para os municípios do interior que, em geral, não têm centros ou museus de ciências”, explica Adriana Cunha, diretora do museu. Para ela, o projeto aposta em uma concepção abrangente da educação científica que extrapola os limites da universidade.

Com financiamento da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado da Bahia e recursos próprios, o museu montou um ônibus dotado de equipamentos e experimentos de física, química, biologia, matemática e geologia que permitem a visualização de alguns conceitos teóricos e que privilegiam a explicação de fenômenos do dia-a-dia. Entre as atividades, todas gratuitas, estão sessões noturnas de vídeos científicos.

Em 2008, o projeto visitará os 24 municípios baianos que contam com um campus da Uneb, como Salvador, Camaçari e Teixeira de Freitas, e tem expectativa de atrair cerca de 50 mil visitantes. “Temos também uma atuação na capacitação de professores já que trabalhamos com materiais de baixo custo que podem ser levados para sala de aula”, completa Cunha.

A Pesquisa Nacional de Percepção Pública da Ciência, realizada em 2007 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), apontou que apenas 4% dos entrevistados haviam ido a um museu de ciência nos 12 meses anteriores à pesquisa. O principal motivo apontado por aqueles que não freqüentam esses espaços são que os museus não existem na sua região (35%), lacuna que as exposições móveis tentam preencher.

Para Ana Paula da Silva, coordenadora do Ciência Móvel do Espaço Ciência, em Pernambuco, os museus itinerantes são alternativas bastante eficientes, tanto no que se refere à relação custo-benefício, como também na facilidade de atingir populações distantes dos grandes centros. “Tais iniciativas impactam fortemente sobre as comunidades beneficiadas com esses projetos, podendo ali fazer germinar futuras vocações ou o gosto pelo estudo de ciências. Habitualmente o recurso para a educação na grande maioria dos municípios é aquém do necessário, portanto o museu itinerante supre uma lacuna deixada pelos gestores da educação”, avalia Luiz Marcos Scolari, coordenador do projeto Museu Itinerante, do Museu de Ciências e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul.

MCT e Ciência Móvel

Lançado em novembro do ano passado, o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional, mais conhecido como PAC da Ciência, traz um programa voltado exclusivamente ao apoio aos centros e museus de ciência. Além de ampliar e desenvolver a rede de popularização da ciência e promover uma articulação entre os museus do país, o programa tem como objetivo melhorar a distribuição regional desses espaços, hoje concentrados na região sudeste e sul do país, e incentivar as atividades itinerantes de divulgação.

Entre as metas traçadas para serem atingidas até o ano de 2010, destaca-se a ampliação do Programa Ciência Móvel, com a implantação de 20 unidades itinerantes de ciência, de forma a atingir todos os estados da federação. “Gostaríamos de contar com o apoio de empresas estatais e de secretarias e Faps estaduais nessa expansão”, aponta Ildeu Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCT.

O Programa Ciência Móvel, criado em 2004 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com o apoio da Academia Brasileira de Ciências, tem como objetivo estimular atividades itinerantes de divulgação científica. “Queremos atingir prioritariamente áreas que não têm acesso a centros e museus de ciência, como a periferia das grandes cidades e cidades do interior do país”, explica Moreira. Em seu primeiro edital, no valor de R$ 1,5 milhão, foram contempladas nove iniciativas, que contam hoje com veículos adaptados para levar equipamentos e experimentos de diversas áreas do conhecimento.

Outras iniciativas

Muitos projetos de exposições itinerantes como o da Uneb já estão em fase de consolidação por todo o país. Em Campinas, a Oficina Desafio, do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, conta com um caminhão que visita as escolas propondo problemas reais para serem solucionados com o desenvolvimento de um artefato. “A Oficina Desafio visa estimular três habilidades e competências principais: criatividade, trabalho em equipe e metodologia de desenvolvimento de projeto”, explica Marcelo Firer, coordenador do programa.

Mais ao sul, o Projeto Museu Itinerante, do Museu de Ciência e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul, um dos pioneiros do gênero, já visitou 75 cidades e recebeu cerca de 1 milhão e setecentos mil visitantes. “Nossa idéia é mostrar que fazer ciências não é algo enfadonho, mas sim divertido”, diz Scolari.

O Espaço Ciência, em Pernambuco, também investe em seu museu ambulante. O Programa Ciência Móvel, contemplado pelo edital do MCT, dá continuidade à experiência adquirida através do Programa Centros de Referência em Ciências, programa de interiorização desenvolvido pelo museu de 1995 a 2003. Para Ana Paula da Silva, coordenadora do projeto, os monitores têm papel fundamental nas atividades do Ciência Móvel. “São eles que levam o visitante ao questionamento sobre os experimentos interativos”, afirma.

O Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, também tem o seu Projeto Ciência Móvel, que funciona desde outubro de 2006. Marcus Soares, responsável pelo projeto, explica que no interior do caminhão são passados vídeos científicos e realizadas palestras e atividades que envolvem a arte de contar histórias. “Também oferecemos oficinas pedagógicas para professores dos municípios visitados”, enfatiza.

Em geral, os projetos tem tido uma avaliação positiva por parte dos participantes. “As pessoas ficam muito empolgadas e saem com mais perguntas do que elas tinham na entrada, o que é justamente o nosso objetivo”, conclui Silva.