Estudo mapeia 1321 mortes por raios na década

A probabilidade de um homem morrer por um raio é dez vezes maior do que a de uma mulher, e a probabilidade de morrer por um raio quando jovem ou adulto é dobro da de uma criança ou idoso. Esses são alguns dos resultados do levantamento de mortes por raios da década – de 2000 a 2009 – feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

132 pessoas morrem em média por ano no Brasil devido a raios, um número muito superior ao que era registrado até o fim do século passado. A probabilidade de um homem morrer por um raio é dez vezes maior do que a de uma mulher, e a probabilidade de morrer por um raio quando jovem ou adulto é dobro da de uma criança ou idoso. Estar na zona rural ou na zona urbana também altera as chances de ser ou não atingido por um raio; na zona rural a probabilidade é dez vezes maior. Esses são alguns dos resultados do levantamento de mortes por raios da década – de 2000 a 2009 – feito pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo reuniu pela primeira vez informações de diversos órgãos brasileiros como o Inpe, o Departamento de Informações e Análise Epidemiológica do Ministério da Saúde, a Defesa Civil, veículos de imprensa e ainda dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“132 mortes por raios por ano é um número que está muito acima das expectativas que tínhamos, em torno de 100. O que mais impressiona é que 90% dessas mortes ocorreram em circunstâncias que poderiam ter sido evitadas se as pessoas tivessem mais informações”, comenta o coordenador do Elat, Osmar Pinto Junior. As 1321 pessoas que morreram atingidas por raios nesta última década têm em comum as atividades que praticavam quando foram atingidas pelas descargas atmosféricas. 19% das vítimas eram trabalhadores rurais que recolhiam animais ou trabalhavam em plantações com enxadas, pás e facões. Empatadas em segundo lugar, as circunstâncias mais comuns foram estar próximo de meios de transportes ou dentro de casa, cada uma correspondendo a 14% do total de casos. A categoria “embaixo de árvore” ficou em terceiro lugar, com 12%, seguida por campo de futebol, com 10%.

O estudo, segundo Pinto Junior, revela uma conclusão interessante: apesar de 85% das mortes terem ocorrido ao ar livre, quando esses dados são divididos em diferentes circunstâncias, a porcentagem de mortes para a categoria “dentro de casa” é muito maior do que o esperado. Esse fato mostra que ficar dentro de casa não é tão seguro quanto se pensava. A maioria das vítimas atingidas por raios dentro de casa estava ao telefone; ou descalça, em casas que possuem chão batido; ou ainda próxima de antenas, lâmpadas, geladeiras, janelas e televisões.

Em relação ao período do ano, 77% das mortes da década ocorreram no verão e na primavera, período do ano em que ocorrem cerca de 80% dos raios no Brasil. Somando os dados de toda a década, é possível perceber um fato curioso: os cinco dias que tiveram mais mortes foram de 16 a 20 de fevereiro, com 47 óbitos no total. Já o recorde de mortes em um único dia ocorreu em 5 de março de 2003, em que foram registrados 5 falecimentos. Às vésperas do feriado de carnaval, vale avaliar se esse é um período crítico para mortes por raios. E a resposta é: sim. Na última década, foram registradas 23 mortes por raios durante os 4 dias de carnaval.

O estudo também avalia as probabilidades de ser atingido e morrer por um raio em cada estado e região do Brasil, considerando a população e a incidência de raios. O Sudeste foi a região onde mais pessoas morreram (29%), mas a região que apresentou a maior probabilidade de morrer por um raio foi o Centro-Oeste (22 em um milhão). O estado de São Paulo teve o maior número de mortes na década, 240 (17% do total). Entretanto, como a população paulista é a maior do Brasil, a probabilidade de ser morrer por um raio nesse estado é de 6 em um milhão. A probabilidade mais alta de morrer por uma descarga atmosférica está nos estados de Tocantins (46 em um milhão) e Mato Grosso do Sul (43 em um milhão).

Já em relação aos municípios que lideraram o ranking de mortes da década, Manaus ficou em primeiro lugar, com 16 mortes; seguido por São Paulo, com 14 mortes; em terceiro lugar ficaram os municípios de Campo Grande e Rio de Janeiro, com 8 mortes cada, e em quarto, Brasília, com 7 mortes.