Estudo da comunicação das bactérias pode auxiliar o combate de doenças

Químicos da Unicamp se associam a microbiologistas da USP para descobrir e isolar as substâncias químicas que as bactérias utilizam para se comunicar. O trabalho pode levar a meios de combate a doenças humanas, de animais e até pragas da lavoura.

O estudo dos mecanismos químicos de comunicação entre as bactérias traz uma chance importante de combater doenças e pragas extremamente resistentes, tanto na saúde humana quanto na agricultura e pecuária. É o que afirma o químico Armando Mateus Pomini, doutorando do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp.

Iniciado em 2005, o projeto de Pomini é pioneiro no Brasil e visa isolar as substâncias químicas que atuam como sinalizadoras (carregam uma informação de comando) em mecanismos comunicativos conhecidos como “quorum sensing” produzidos por bactérias que provocam doenças em plantas como a goiaba e o milho.

O quorum-sensing é uma estratégia eficaz de proliferação das bactérias. Pomini explica que, quando uma bactéria invade um organismo, como por exemplo o corpo humano, existe a tendência de o hospedeiro tentar eliminar ou se proteger deste invasor. Assim, se uma população pequena e frágil de bactérias iniciasse um ataque contra o organismo humano ela seria facilmente combatida. Por isso, esses microrganismos adotaram uma estratégia para avisar a colônia a hora mais propícia para atacar, ou seja, quando a população bacteriana for alta. Nesse momento, as bactérias emitem uma substância química como sinal de “autorização” do ataque. É como se existisse uma voz de comando que dissesse “agora somos numerosos e fortes, vamos atacar!”, essa ordem é a própria substância química responsável pela comunicação.

Segundo Pomini, esse estudo é importante uma vez que, bloqueado o mecanismo de comunicação intercelular, as bactérias se tornam muito mais suscetíveis à ação de medicamentos e bactericidas porque a estrutura organizacional da colônia fica minada.

O grupo de trabalho em quorum sensing é composto por uma equipe multidisciplinar de químicos e microbiologistas. A equipe é liderada pela especialista em química orgânica, Anita Jocelyne Marsaioli, do Instituto de Química da Unicamp e o grupo de microbiologistas é coordenado pelo biólogo Welington Luiz de Araújo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, em Piracicaba. Araújo é especialista em microbiologia aplicada à agricultura. A partir de amostras fornecidas por Araújo, Pomini as avalia através de um biossensor. A identificação das substâncias é feita principalmente através de técnicas de cromatografia gasosa. O estudo já identificou uma série de compostos químicos da classe das substâncias que usualmente atuam como sinalizadoras químicas.

A interdisciplinaridade é uma das características mais marcantes deste tipo de trabalho. Segundo Pomini, os químicos preenchem um vazio, uma vez que um dos problemas encontrados pelos microbiologistas é fazer o isolamento, síntese e a caracterização estrutural das substâncias que atuam como sinalizadoras químicas. Juntos, os dois grupos de profissionais podem levar a descobertas que bloqueiem a comunicação entre as bactérias e assim garantir mais saúde para pessoas, animais e até plantações.