Segundo pesquisa divulgada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em meados de março deste ano, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de empreendedorismo. Apesar disso, o último levantamento do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) mostra que 56% das empresas paulistas encerraram as atividades antes dos cinco anos de vida. Especialistas no assunto apontam a falta de planejamento do negócio e de capacitação do empreendedor como os principais fatores que levam ao insucesso.
Para o coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), José Augusto Correa, a pesquisa divulgada pela GEM apresenta falhas, pois não dimensiona verdadeiramente o empreendedorismo mundial. Ele aponta, por exemplo, que as ações inovadoras realizadas dentro das empresas não são contabilizadas pelo levantamento, mesmo assim essas medidas são consideradas empreendedorismo.
Sobre a porcentagem apontada pelo Sebrae de empresas fechadas, Correa afirma que é preciso diferenciar ’aventura’ de ’empreendedorismo’ e detecta falhas que levam ao fracasso de muitas pequena e micro empresas. Ele argumenta que o negócio a ser aberto deverá ter “um traço de inovação” para ter boas chances, e exemplifica com uma idéia simples: “Um salão de cabeleireiro pode ser um bom negócio em um bairro aonde esse tipo de serviço ainda não seja ofertado. A inovação de um negócio pode até ser a oferta do melhor atendimento de determinado ramo”, declara. No entanto, muitos negócios são abertos sem a presença de qualquer inovação, inclusive por pessoas que não têm muitas informações sobre a área ou um perfil empreendedor.
Para ele, isso reflete uma tendência mundial da diminuição de postos de trabalho em função da terceirização de serviços, que tem como conseqüência a busca por negócios próprios. José Carlos Dornelas, consultor e especialista em empreendedorismo, faz uma análise diferente sobre o que leva à abertura de empresas. Em sua opinião, é o desemprego existente no país que não deixa opções aos profissionais e os faz montar negócios próprios como alternativa de renda.
Na opinião do coordenador do Centro de Empreendendorismo, ainda existe um outro elemento que compõe esse panorama: o Brasil é hostil à criação de novos negócios. Entre os motivos para essa afirmação ele aponta o excesso de burocracia para abrir e gerenciar uma empresa, a legislação trabalhista complicada e a falta de cultura que incentive pequenas iniciativas empreendedoras. No que se refere posição ocupada pelo Brasil no ranking de empreendedorismo, Dornelas, diferente de Correa, diz que o sétimo lugar demonstra a “criatividade e espírito empreendedor do brasileiro, sua vontade de arriscar e vencer”.
Planjamento aumenta chances de sucesso
Apesar das diferenças de avaliação sobre o que leva a abertura de empresas e sobre o ranking da GEM, tanto Correa, quanto Dornelas são enfáticos ao apontarem a necessidade de elaboração de um plano de negócios para os novos empreendimentos. “Ao verificar a viabilidade econômica do empreendimento, estudar a estrutura do mercado, risco do negócio e previsão de investimentos, a idéia pode nem sair do papel”, diz Dornelas, “dessa forma não se gasta dinheiro e tempo com algo que daria errado”, completa.
Para o Brasil ter um “empreendedorismo saudável”, Correa defende que o governo deve remover barreiras que limitam a livre entrada de capital privado no financiamento das empresas e a livre iniciativa. A redução da taxa de juros para que os investidores privados troquem as aplicações bancárias e optem por financiar negócios é outra medida recomendada por ele para a diminuição das mortes de empresas.
Mesmo considerando alto o índice de mortalidade de empresas, situado em 56%, o gerente de pesquisas econômicas do Sebrae/SP, Marco Aurélio Bedê, sinaliza que a redução da mortalidade de empresas contida na redução das estatísticas precisa ser evidenciada. A queda foi de 15 pontos percentuais, passou de 71%, na pesquisa finalizada em 2000/01, para 56%, no relatório de outubro de 2005.
“Os motivos dessa queda significativa no índice de mortalidade – analisa Bedê – está em uma série de políticas públicas, adotadas nos últimos dez anos, benéficas para as micro e pequenas empresas”. Entre as medidas citadas por ele estão: a adoção do estatuto nacional para as micro e pequenas empresas, simples federal e paulista, criação do banco do povo, além de liberação de crédito para as micro e pequenas empresas. Ele diz ainda que os empreendedores estão, lentamente, conscientizando-se da necessidade de buscar gerenciamento para o negócio.
O assessor em pesquisa e inovação, desenvolvimento de novos negócios e parcerias da Inova Unicamp, Carlos Tahin, lembra que confiabilidade, eficácia e atendimento são valores que passaram a fazer parte do sucesso empresarial. Na opinião dele, muitos profissionais são exímios na parte técnica da empresa, mas ruins como empreendedores por não terem conhecimento do mercado e não fazerem planejamento estratégico para a empresa. Segundo ele, sem visão empreendedora, dificilmente o negócio vai para frente.