Possibilidade de escassez estimula melhor aproveitamento do látex

O estado de São Paulo é o principal produtor de látex do Brasil e um dos maiores em produtividade mundial, embora o país ainda importe cerca de dois terços da matéria-prima. Duas pesquisas realizadas na na área Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) focalizam o tema.

O estado de São Paulo é o principal produtor de látex do Brasil e um dos maiores em produtividade mundial, embora o país ainda importe cerca de dois terços dessa matéria-prima para seu consumo. Os números explicam porque a ciência se preocupa com a cultura da seringueira (heveicultura), cuja renda é proporcional aos lucros gerados pela cana-de-açúcar: os seringais geram R$ 6.000,00 por hectare. Atualmente, São Paulo conta com 60 mil hectares de seringueiras, gerando 24 mil empregos diretos e indiretos no campo. Somam-se ainda três mil empresários heveicultores (exploradores de látex). Dê olho neste panorama, duas pesquisas realizadas na área de Agricultura Tropical e Subtropical, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sob coordenação do pesquisador Paulo Gonçalves, focalizam a heveicultura.

Das duas pesquisas, uma já foi concluída e trata da obtenção do melhor porta-enxerto (porção da planta que forma o sistema de raízes) para receber os clones (cópia da planta, idêntica à original) de seringueira recomendados para plantio no estado de São Paulo. A outra pesquisa, ainda em andamento, tem por objetivo conseguir o melhor sistema para explotar o látex da seringueira no território paulista, já que um dos principais problemas encontrados na heveicultura nessa região é o alto custo da extração da borracha, que envolve mão-de-obra especializada, reduzindo os lucros do produtor. O termo explotação do seringal compreende uma série de operações com a finalidade de obter o látex, sua retirada do seringal e conservação. De acordo com Paulo Gonçalves, a forma de retirada do látex da seringueira é uma das práticas mais importantes da cultura, fator determinante para a vida útil do seringal e sua produtividade. “Além disso, a extração responde por aproximadamente 60% dos custos totais de borracha produzida. Ou seja, o processo de obtenção é decisivo para o sucesso do agronegócio da seringueira”, afirma Gonçalves.

Diante dessa necessidade do setor, a pesquisa em andamento, realizada pelo pesquisador Juliano Quarteroli Silva, tem como principal objetivo identificar o melhor sistema de explotação do látex, para cada um dos dez diferentes clones de seringueira para a região oeste paulista. Esse sistema envolve a viabilidade econômica e aspectos fisiológicos, como a seca do painel, importante enfermidade que provoca baixo rendimento ou obstrução completa da produção de látex e deformação da casca da árvore. “Provavelmente, essa enfermidade pode ser causada pela adoção de sistemas de explotação com alta freqüência de sangria e altas concentrações de estimulante”, afirma o engenheiro agrônomo. Ele ressalta, porém, que as causas da síndrome ainda não foram esclarecidas.

Com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo e econômico de clones de seringueira, sob diferentes sistemas de sangria, a pesquisa envolve análise de vigor, produção, seca do painel e parâmetros econômicos. “Estamos estimando os custos totais, receita líquida e ganho líquido para cada clone por sistema de explotação”, diz Quarteroli, que iniciou as análises em março de 2006. A conclusão da pesquisa será em janeiro de 2008, mas já há resultados de melhores sistemas de sangria para três clones estudados.

Com base nos estudos, o aluno explica que as hipóteses científicas são que a redução da quantidade de sangrias, de acordo com os sistemas estudados, além de diminuir os custos de produção e, conseqüentemente, proporcionar maior ganho líquido, poderá diminuir o trauma às plantas, aumentar o tempo de regeneração do látex entre duas sangrias e reduzir enfermidades fisiológicas, como a seca do painel. “Um possível decréscimo da produção ocasionado pelos sistemas de baixa freqüência de sangria poderá ser minimizado com a adoção de um sistema de estimulação adequado”, avalia. Segundo Quarteroli, os estudos desenvolvidos, por enquanto, são restritos à SP, não podendo ser aplicado a outras culturas de seringueira do país, enquanto não houver pesquisas que comprovem sua eficiência em outros tipos de solo, clima e biodiversidade.

Especialistas alertam para escassez de látex no mundo

A seringueira é a maior fonte de borracha natural. Única entre os produtos naturais, a borracha natural é possuidora de elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste, propriedades isolantes de eletricidade, e impermeabilidade para líquidos e gases. É obtida das partículas contidas no látex, por meio de cortes sucessivos de finas fatias de casca, processo denominado de sangria.

A espécie H. brasiliensis é a fonte principal de borracha natural produzida no mundo. Sua produção mundial em 2005 foi de 8.682 mil toneladas, para um consumo de 8.742 mil toneladas do qual mais de 79% é originária do sudeste asiático, em países como a Tailândia (33%), Indonésia (26%), Índia (9%) e Malásia (13%). O Brasil, hoje, é responsável por cerca de 1% da produção mundial de látex.

No entanto, o cenário futuro de produção de seringueira não é nada otimista. A previsão de economistas internacionais, segundo Paulo Gonçalves, é de que as curvas de produção e consumo tendam a divorciar-se nesse milênio, quando o mundo, em 2020, estará produzindo cerca de 7,06 milhões de toneladas, diante de um consumo de 9,71 milhões de toneladas, representando séria escassez dessa matéria-prima no planeta.

Em razão de sua importância econômica para o Brasil e dessa preocupação entre pesquisadores, a seringueira também tem sido estudada, em diversos aspectos, por grupos de pesquisa da Embrapa e Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), com apoio da Fapesp e CNPQ.

Para saber mais sobre látex:

Instituto Agronômico de Campinas – Programa Seringueira

Ambiente Brasil