Três aldeias da etnia Tukano participarão de uma experiência piloto de implantação de centros de computadores em comunidades indígenas. O projeto faz parte do Programa de Inclusão Social e Digital do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia em parceria com o Ministério da Educação, a Universidade de Brasília e a Fundação Nacional do Índio.
Três aldeias da etnia Tukano participarão de uma experiência piloto de implantação de centros de computadores em comunidades indígenas. O projeto faz parte do Programa de Inclusão Social e Digital do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a Universidade de Brasília (UnB) e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Essas instituições irão investir em equipamentos, capacitação e acompanhamento. O MEC é responsável pelas escolas e conteúdos das aulas na região onde serão colocados os computadores. A UnB já desenvolve um projeto de pesquisa com essa etnia e a Funai está viabilizando professores para a capacitação em informática. O Ibict será responsável pela disponibilização de ferramentas, produtos e serviços que forem considerados adequados para as comunidades, além do investimento em recursos humanos.
Os três centros são o começo da proposta de formação de um corredor digital no Alto Rio Negro, uma região no estremo noroeste do Brasil, na fronteira com a Venezuela e Colômbia, nas cabeceiras do rio Negro. A região é habitada por 22 povos, entre eles os Tukanos, que serão os primeiros a receber os computadores. Cada aldeia receberá até dez computadores para a formação dos centros. “O objetivo do projeto é levar até às comunidades participantes informação e tecnologia como ferramentas de apoio ao ensino e desenvolvimento cognitivo”, afirma Cecília Leite, responsável pelo Programa de Inclusão Social do Ibict.
E o que essa inclusão de um elemento característico da cultura do não-índio – o computador – representaria para os indígenas? Segundo Cássia Ferri, pesquisadora da área de educação da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o projeto pode ser positivo, uma vez que, pela própria concepção do que é cultura, não se pode dizer que a inclusão digital entraria em conflito com a preservação da cultura indígena. Ferri explica que culturas são modos de viver, agir e pensar coletivos e dinâmicos. “Não se pode pensar em preservar a cultura indígena como se esta não estivesse em constante movimento: os povos indígenas – assim como outros grupos culturais – ao se relacionar com outras culturas estão sempre escolhendo os aspectos que devem preservar, os que devem abandonar, e os que devem modificar”, analisa.
Ferri diz ainda que o projeto pode servir como instrumento para ampliar e socializar os elementos culturais que caracterizam os povos indígenas. De acordo com a pesquisadora, os movimentos em torno da educação escolar indígena se caracterizam pela luta por uma educação diferenciada, na qual a escola é caracterizada como um espaço de reflexão crítica e exercício da construção da autonomia indígena. “Esse não é um processo simples. A escola, tal como a conhecemos, é um elemento externo às culturas indígenas. Seu modo de funcionamento precisa ser recriado para se tornar um instrumento significativo para esses povos”, pondera. Dessa forma, ela afirma que o papel da tecnologia é se tornar mais um dos instrumentos que criam possibilidades para essa reinvenção da escola.
O líder representante da etnia que participará do projeto piloto, Álvaro Tukano, disse que os índios estão “famintos de tecnologia” e que a inclusão digital é muito importante para eles. Segundo ele, a inclusão digital não vai tirar as características e modo de vida indígena, mas sim aumentar a possibilidade de comunicação entre os índios. A pesquisadora da Univali concorda e também destaca que através dos computadores pode-se promover um diálogo intercultural entre crianças de diferentes escolas em diferentes pontos do país.
Ferri acrescenta que há outros investimentos prioritários a serem feitos nas aldeias indígenas, que implicam na sobrevivência da população, como a questão da demarcação de terra, a da saúde, da educação. “É preciso lembrar dos aspectos nutricionais e epidemeológicos que matam dezenas de crianças e adultos indígenas”, aponta. Entretanto, ela acredita que a tecnologia pode contribuir para melhorar esses aspectos levando mais informação aos povos beneficiados.
“O objetivo do programa é levar a informação científica e tecnológica, em linguagem adequada ao cidadão comum”, confirma Cecília Leite, do Ibict. “Temos uma grande interação com a academia e instituições de pesquisa, e agora, pretendemos contribuir para a ampliação da Sociedade da Informação no Brasil por meio de projetos que favoreçam a inclusão social e digital”, completa.