Dois documentos, um do Banco Mundial e outro de um pesquisador da Unicamp, abordam crescimento, desigualdade e pobreza na América Latina e Brasil. Para o Banco Mundial, baixo crescimento, pobreza e desigualdade persistem na América Latina. Já o pesquisador da Unicamp, Rodrigo Octavio Orair, aponta que a desigualdade no Brasil diminuiu às custas do empobrecimento da população.
Dois documentos, um do Banco Mundial e outro de um pesquisador da Unicamp, abordam questões relativas ao crescimento, a desigualdade e a pobreza na América Latina e Brasil. Para o Banco Mundial, baixo crescimento, pobreza e desigualdade persistem na América Latina. Já o pesquisador da Unicamp, Rodrigo Octavio Orair, aponta que a desigualdade no Brasil diminuiu às custas do empobrecimento da população.
De acordo com o relatório Redução da pobreza e crescimento: círculos virtuosos e viciosos do Banco Mundial, o desenvolvimento na América Latina nas últimas décadas pode ser caracterizado por baixo crescimento com pobreza e desigualdade persistentes. Em 2005, a média de crescimento dos países da região foi de 4,2%, sendo que um quarto dos latino-americanos vivem com menos de U$ 2 ao dia. O relatório do Banco Mundial foi discutido e apresentado neste mês em Brasília e divulgado internacionalmente em fevereiro.
Além de trazer um diagnóstico sobre a situação na América Latina, o documento aponta medidas a serem tomadas pelos governos no sentido de impulsionar o crescimento e reduzir a pobreza. Segundo o relatório, a chave para a questão é o investimento em capital humano. Melhorar a infra-estrutura do ensino básico e médio e mais acesso a financiamentos para ensino superior são medidas citadas. Também são enumeradas políticas em setores como saúde e liberação de crédito, que interligadas entre governos municipais, estaduais e federais poderiam ser mais eficazes no combate à pobreza.
Brasil: redução da desigualdade com empobrecimento
Especificamente sobre o caso brasileiro, o pesquisador da Unicamp Rodrigo Octavio Orair concluiu uma pesquisa na qual afirma que a redução da desigualdade no Brasil ocorreu porque os rendimentos dos pobres mantiveram-se praticamente estáveis ao mesmo tempo em que caiu o rendimento do trabalho de uma parcela mais rica da população.
Segundo o levantamento do pesquisador, no período 1995 a 2004 os rendimentos do trabalho dos 50% mais pobres do país mantiveram-se basicamente os mesmos, passando de R$ 53,57 para R$ 53,32, respectivamente. O rendimento daquelas pessoas consideradas pobres passaram de R$128,10 para R$ 130,20, no período 1995 a 2004. Já o grupo da população com rendimentos de trabalho maiores teve queda no mesmo período, sendo que os ganhos formam de R$ 987,86 para R$ 847,56.
Orair constatou ainda que, principalmente no período 1999 a 2004, houve uma pequena redução da pobreza no país. Em valores absolutos, a população extremante pobre (rendimentos de até R$ 75), passou de 15, 38% para 13,03%. Na camada considerada pobre (rendimentos de até R$ 150), o percentual passou de 36,03% para 34,03%. Na avaliação dele, o agente dessas reduções foram os programas oficiais de transferência de renda. Orair destaca essa dependência dos programas por parte dessa população. O temor do pesquisador refere-se a possíveis mudanças nessa política, ocasionando cortes nos repasses de dinheiro. Segundo o pesquisador os repasses ajudam a diminuir a pobreza, porém eles não são suficientes.
Na opinião de Orair, os governantes precisam coordenar ações que propiciem o crescimento da renda, diminuição das desigualdades e pobreza. “Não adianta termos crescimento acelerado sem distribuição. Crescer o bolo para depois dividir faz parte do discurso da década de 70”, lembra. Entre as medida cabíveis também estão a elaboração de programas específicos para cada região, visto que cerca de dois terços da população pobre do país estão concentrados na região nordeste (Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Piauí, Alagoas e Maranhão) e no estado de Tocantins. Medidas como melhoria do ensino, políticas voltadas para o sistema de saúde e crédito para novos negócios também estão entre as sugestões do pesquisador.
Para realizar o trabalho, Orair analisou os dados gerados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no período de 1992 a 2004. A pesquisa faz parte da dissertação de mestrado intitulada Como crescimento e desigualdade afetam a pobreza, e apresentada ao Instituto de Economia da Unicamp neste mês.
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