Em meio à epidemia de dengue no Rio de Janeiro, pesquisadores desenvolvem produtos capazes de atuar como repelentes do mosquito Aedes aegypti. Enquanto a Uenf aposta em um sabonete repelente, a Fiocruz e a Embrapa pesquisam inseticidas naturais.
A epidemia de dengue no estado do Rio de Janeiro já contabilizou mais de 43 mil casos da doença este ano. Até esta segunda-feira (dia 31), 67 mortes eram atribuídas oficialmente à dengue no estado. Atentos a essa realidade, pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) estão desenvolvendo um sabonete repelente que pode atuar como coadjuvante no combate à doença.
A equipe do Laboratório de Ciências Químicas da universidade, capitaneada por Edmilson José Maria, realiza a pesquisa desde outubro de 2007. O objetivo é obter um sabonete que tenha ação repelente de seis horas e baixo custo para a população.
“A fêmea do mosquito Aedes aegypti atua no período diurno e nossa intenção é a utilização de um sabonete repelente nesse horário para diminuir o tempo de ataque da fêmea e reduzir gradativamente o número de casos”, explica José Maria.
O pesquisador afirma que, ao contrário do uso de repelentes corporais, o banho já é um hábito incorporado, o que facilitaria a aceitação do produto. “Além disso, repelentes corporais, elétricos e inseticidas têm uma relação custo benefício elevada para o padrão da população brasileira”, avalia.
Segundo ele, o sabonete deve ser passado preferencialmente nas áreas do corpo que ficam descobertas, evitando mucosas e feridas, bem como a utilização por crianças com menos de seis anos e mulheres grávidas. “O produto terá as mesmas propriedades dos sabonetes tradicionais e poderá substitui-los em algumas circunstâncias, podendo ser usado em partes do corpo ou em toda sua extensão, dependendo do local onde a pessoa esteja”, explica José Maria.
O sabonete tem em sua composição, além de glicerina, óleos essenciais com comprovada ação repelente contra mosquitos e pernilongos, extraídos de plantas como o capim-limão, a citronela e o cravo-da-índia. “Faremos testes para verificar a eficiência também contra carrapatos”, diz. A fórmula conta ainda com outras substâncias, mantidas em sigilo, que ajudam a aumentar o tempo de ação do produto.
A idéia de produção de um sabonete repelente surgiu quando Edmilson José Maria passou a integrar o grupo de pesquisas sobre biodiesel da UENF e sugeriu a coleta do óleo de fritura usado em estabelecimentos comerciais e associações de moradores para suprir tais pesquisas. “A partir dessa idéia, preconizamos a utilização de parte desse óleo usado e do subproduto do biodiesel, a glicerina, para fazermos sabão, e, posteriormente, pensamos em agregar ao nosso produto substâncias repelentes a mosquitos e pernilongos”, conta.
No momento, o sabonete está em fase de testes com concentrações variadas para delineação do maior poder repelente. Os testes estão sendo efetuados em parceria com as áreas de bioquímica e biologia da universidade. “Nossos esforços estão concentrados somente nessa pesquisa para disponibilizarmos o produto final o mais rápido possível, preferencialmente antes do final do primeiro semestre”, informa Maria. “Nosso intuito é disponibilizar o produto para aquisição preferencial por órgãos públicos ligados à saúde e, posteriormente, pelo público em geral”, completa.
Os pesquisadores, que pretendem patentear o produto, estão abertos a novas parcerias para realização da pesquisa e também para a colocação do produto no mercado. O desenvolvimento de outros produtos com os mesmos efeitos também estão sendo analisados, como uma versão para lavagem de roupas, com maior poder repelente, cremes e adesivos autocolantes.
Larvicida: outra arma
O biolarvicida Bt-horus, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), também promete contribuir na luta contra o mosquito da dengue. O inseticida biológico, atóxico e eficaz contra as larvas de Aedes aegypti, foi desenvolvido em parceria com a empresa Bthek e consiste na utilização de uma bactéria. Misturada em uma solução, ela serve de alimento para as larvas do mosquito que, ao ingeri-la, tem seu intestino destruído e morrem.
O produto, inofensivo para outros organismos e de fácil aplicação pelos próprios moradores, já foi usado nas cidades de Rio das Ostras (Rio de Janeiro), São Sebastião (Distrito Federal), Três Lagoas (Mato Grosso do Sul) e Sorriso (Mato Grosso). Em todas, o índice de infestação pelo mosquito diminuiu. O Ministério da Saúde ainda não tem previsão para a utilização do produto.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também desenvolveu um inseticida natural para combater as larvas do mosquito da dengue. O novo biocida é feito a partir de uma substância da Piper solmsianum, planta da família das pimentas. Nativa da Mata Atlântica, a planta é atóxica e não deixa resíduos químicos. Colocado em reservatórios de água, o biocida mata as larvas de insetos. O estudo está em fase de testes de campo e levantamento de custo e o produto deve chegar ao mercado em até quatro anos.
Para saber mais:
“Um banho para vencer a batalha contra o mosquito da dengue“