Quando o assunto é P&D no setor automotivo, a novidade é a crescente procura por centros de pesquisa e universidades no Brasil por parte da indústria automotiva internacional. Isso é o que revela um projeto de pesquisa realizado no Instituto de Geociências, da Unicamp.
Quando o assunto é Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no setor automotivo, a grande novidade é a crescente procura por centros de pesquisa e universidades no Brasil por parte da indústria automotiva internacional. Isso é o que revela o projeto de pesquisa “Mapeamento de competências e parcerias em P&D em Instituições de Pesquisa: pesquisa, metodologia e aplicação”, coordenado por Ruy Quadros, do Instituto de Geociências, da Unicamp.
Segundo ele, o Brasil já é utilizado como plataforma de exportação por multinacionais da indústria automobilística, mas há alguns anos o país vem se tornando também referência em P&D na área. Várias montadoras criaram ou estão instalando no país centros de design e engenharia destinados à criação de carros que serão produzidos aqui e no exterior, além de protótipos que vão influenciar o setor nos próximos anos.
O principal objetivo do projeto realizado foi “explorar as recentes mudanças na natureza do P&D na indústria automotiva brasileira”, tendo como foco a pesquisa cooperativa entre empresas e instituições de pesquisa e o outsourcing (terceirização). A pesquisa foi encomendada pela Renault, que visa a mapear as competências de pesquisa existentes nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil. “A Renault está de olho nos países emergentes, pois temos P&D mais baratos e flexíveis”, afirma Ruy Quadros.
O projeto da Unicamp, iniciado em abril de 2004 e concluido no segundo semestre deste ano, apresentou os resultados da aplicação de um questionário respondido por 40 grupos de pesquisa em tecnologias de materiais, com trabalhos relevantes para a indústria automobilística. A partir dele criou um banco de dados com informações sobre a atividade de pesquisa tecnológica nas instituições de pesquisa brasileiras, relevantes para a indústria automobilística, partindo de 265 grupos de pesquisa.
O estudo revelou que a contratação de universidades e institutos de pesquisa para a realização de atividades de P&D e serviços tecnológicos pela indústria automotiva é maior do que se pensava e continua aumentando. Só no setor automotivo, são cerca de quatrocentos contratos. Além disso, apontou que a pesquisa contratada por essa indústria concentra-se principalmente nas áreas de polímeros e compósitos, ligas metálicas e biomateriais. Embora o número de contratos seja expressivo, o estudo sinalizou que a procura por serviços tecnológicos é maior do que por pesquisa na indústria automotiva.
Outros dados interessantes constatados dizem respeito as pesquisas no setor automotivo, que se concentram, em termos regionais, no sudeste e sul do Brasil, sendo que a primeira região detém 68% dos grupos de pesquisa envolvidos. Ao mesmo tempo, 56% dos grupos pertencem a apenas seis universidades: USP/SP-SC, UNICAMP, UNESP, UFSC, UFSCar, UFRJ, sendo quatro delas paulistas. A maioria dos grupos está ligada à engenharia e engenharia mecânica.
O trabalho observou ainda que, embora crescente, a pesquisa cooperativa com as empresas do setor automotivo é frágil em termos de continuidade e profundidade: são raros os casos de contratos contínuos e de longo prazo, a maioria dos contratos é de um a dois anos. Há, porém, casos de contratos de longo prazo, de pesquisas financiadas pelo governo, como a Pematech/VW-UNESP, que é pesquisa em biomateriais, financiada pela FINEP e Agrostahl-USP, pesquisa em ligas metálicas, apoiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.
“Não tendo centro de pesquisa, a empresa demanda trabalho da universidade, em especial, na hora de implementar coisas novas, fora do parâmetro costumeiro. Serviços tecnológicos resolvem problemas que a engenharia interna da empresa não dá conta.”, constata Ruy Quadros. Na opinião dele, essa relação entre a empresa e a universidade fortalece ainda mais a inovação: “Estamos aplicando hoje um modelo mais moderno: a inovação em rede. Nesse caso, o laboratório de pesquisa está conectado à laboratórios de outras empresas/universidades. As fontes externas para a inovação são importantes para a exploração de oportunidades tecnológicas e de mercado”, conclui o professor.