Softwares podem ampliar participação brasileira na astronomia mundial

A participação do Brasil em projetos e pesquisas internacionais de astronomia ainda é pequena. Mas isso pode mudar através de desenvolvimento de softwares científicos brasileiros para estudos em parceria com outros países.

A participação do Brasil em projetos e pesquisas internacionais de astronomia ainda é pequena. Mas isso pode mudar através de desenvolvimento de softwares científicos brasileiros para estudos em parceria com outros países. Esse foi um dos pontos discutidos na reunião realizada no final de maio no Observatório Nacional, em que se debateu o futuro da astronomia no Brasil.

O evento, intitulado “Uma espiadela no futuro da astronomia”, recebeu alguns dos mais importantes astrônomos e físicos do Brasil e do exterior para discutir o futuro da astronomia, e também discutir um projeto plurianual para amadurecer a área dentro do país e aumentar a presença brasileira no cenário mundial.

“A astronomia é uma área muito internacionalizada. Os grandes projetos e os grandes orçamentos se concentram nos Estados Unidos e na Europa. Fica difícil para o Brasil competir, considerando suas limitações financeiras, tecnológicas e de pessoal. Mas não é impossível”, afirma Luiz Nicolaci da Costa, astrofísico do Observatório Nacional e idealizador do evento.

De acordo com o pesquisador, a astronomia brasileira precisa se organizar tanto para a colaboração quanto para a competição internacional. “Precisamos criar um estrutura científica para a área no Brasil, para competirmos de forma saudável com os países europeus e com os Estados Unidos, e podermos colaborar com eles”, ressata.

O desenvolvimento de softwares científicos é um dos caminhos que o país pode seguir para ter uma participação maior no cenário astronômico mundial e se inserir em grandes projetos internacionais de forma mais expressiva. “Nós podemos competir através do desenvolvimento de softwares. Nesse campo não há necessidade de grandes insumos nem de uma base industrial ampla, mas sim de pessoal qualificado – e isso nós temos”, diz o astrofísico.

Um bom exemplo disso é um software desenvolvido no Observatório Nacional, apresentado no encontro, que está sendo usado no projeto Dark Energy Survey (DES). O DES é um projeto de colaboração internacional para construir uma câmara avançada que vai mapear 10% do céu em quatro bandas do espectro. Ou seja, o projeto vai realizar uma “varredura” no céu por 525 noites, possibilitando a geração de uma visão colorida do céu. O Observatório Nacional fará o processamento dos dados obtidos usando grades de computação e também fazendo um portal científico que facilite aos usuários acessar os dados e analisá-los.

“Os projetos em andamento atualmente (como o Dark Energy Survey), vão gerar um grande volume de dados, que precisarão ser processados, analisados e armazenados. Em algum tempo, aquela imagem do cientista que fica observando o céu através do telescópio vai cair em desuso, pois as pesquisas serão baseadas fortemente nesses dados. Antes, não tínhamos isso. Agora temos e a tendência é que isso cresça. Então, se faz muito importante para a astronomia o desenvolvimento de softwares para trabalhar com esses dados. E nesta área podemos contribuir”, explica Nicolaci.

Desafios

Um dos maiores desafios históricos que a astronomia brasileira enfrenta é financeiro. O orçamento para a área é muito baixo, o que dificulta a competitividade do setor. “Não podemos competir com projetos cujos investimentos superam US$ 1 bilhão no campo da astronomia”, aponta Nicolaci. Para o astrofísico, o caminho é estabelecer parceria com outros países, já que o Brasil não dispõe de dinheiro nem de base tecnológica para realizar grandes projetos sozinhos. Essa é uma tendência atual: os grandes projetos de astronomia – que geralmente precisam de um investimento financeiro e tecnológico muito grande – são levados a cabo por consórcios de vários países.

Outro grande desafio que a astronomia enfrenta no país é a desarticulação na área. “O Brasil possui cinco institutos de astronomia, ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que não são articulados. É tudo tão diluído que nem sabemos o orçamento total ou mesmo a grandeza dos projetos realizados aqui”, destaca o pesquisador.

Para tentar solucionar este problema, os pesquisadores dos diferentes institutos têm se reunido periodicamente no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e tentado ativar a comunicação entre os centros de pesquisa e promover sua união. Isso também foi debatido no encontro, que teve como um de seus objetivos promover a integração dos pesquisadores. “Precisamos ter uma integração estadual e nacional para impulsionar a área, e para incentivar investimentos e políticas para ela. Precisamos dessa união para podermos pensar o futuro da astronomia no Brasil”, conclui Nicolaci.